Aprendi
Desde cedo aprendi
A andar na corda bamba
Nadar no mar com ondas
Atravessar o rio
Montar um cavalo
Cair da bicicleta
O trapézio sem rede de proteção
A respirar fundo no pulsar do coração
Lamber as feridas
Limpar a casa
Criar galinhas
Ir ao teatro
Entrar no cinema
Pintar uma tela
Tocar violão e guitarra
Tentar o piano
Ver os filhos crescerem
Comer frutas no pé
Roer a corda e sair do novelo
Sentir a dor daquele medo
Pensar sem mas
Tecer comentários
Ser rebelde antes de ficar vermelho
Saber as cores do prazer
Que se faz sexo sobre caixas de papelão
Que abraço é forte e a língua no beijo
Riscar com giz e carvão
Ser tudo ou nada por inteiro
Morrer se não for verdadeiro
Mentir em autodefesa
Fazer e ter de saber perder
Descobrir desejos em segredo
Que descer é mais rápido pelo corrimão
Bater uma não tem preço
Suportar uma dor de dente
Chorar por besteira
Ver a papeira
Deixar a saudade na gente
Comer apenas o pão
Rezar na emoção
Amar entre tantos nãos
Seguir as estrelas na escuridão
Fugir no senão
Pedir ajuda mesmo que não venha
Acreditar na revolução
Fazer as pazes só que não
Remar em canoa
Cuidar da dor de cotovelo
Do frio na nuca
Medir a pressão
Beber bem pouco da cicuta
Esclarecer dúvidas
Perder a razão
Aceitar a inevitável morte da razão
Os princípios que sobem e descem
Ver um amigo na televisão
O valor do frete
Do trabalho
Como crescer sem mãe
Me conhecer sem roupa
Reconhecer você
Ser pai de novo
Ter irmãos distante
Obrigações irritantes
Alimentar a imaginação
Dormir e sonhar acordado
A ler e escrever com cinco anos
Que qualquer presente envelhece
E o tempo passa rápido
Nos meus sessenta anos
Que a história é outra
quando se conta de verdade
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