Fechamento de livrarias
Lembro que comecei a ler aos 5 anos, e meus pais, com iniciativas de Odete, minha mãe, vez ou outra me presenteava um livro. Muitos deles ficaram pela longa história dos meus interesses pelos assuntos e estudos, locais de leitura como a casa de vovô Abigail, onde ainda recordo dos livros de Machado de Assis, e outros descansados por lugares esquecidos, mas colecionei grande parte deles guardando em caixas e acomodando-os nas várias estantes, deixadas ou levadas em mudanças feitas nesses sessenta anos, repositórios que tive para meus queridos e importantes livros, estantes adquiridas ou montadas artesanalmente por minhas mãos de pretenso marceneiro.
Lia todos os livros com curiosa atenção para encontrar o final da estória, a essência do romance, do saber armazenado e entendia que por mais tempo que tivesse para conhecer os mundos, os conteúdos organizados ou criados ali deixados, a alma das palavras e das coisas, as tecnologias, o imaterial, os personagens, seria uma aventura para a vida inteira.
Este relato de um assíduo leitor, que sempre fez o acompanhamento, a aquisição e leitura indo à locais sagrados para ver e pegar uma edição, olhar a capa e tocar as páginas de um outro novo livro impresso, é um registro de quem viveu e pode perceber um momento que fica a cada ano mais distante, caminhar o interior de uma grande e boa livraria. Nos anos 70, anos de estudos na Escola de Economia, folheava bons livros na Civilização Brasileira da Avenida 7, era a minha preferida. Visitava o primeiro andar para buscar e consultar livros que estavam fora de meu orçamento. Tomei a Civilização como exemplo de um tempo, passeava muito pela Cultura, e fiquei chocado com a diminuída dela dentro do Shopping Salvador. E hoje leio sobre o fechamento das livrarias Saraiva. Triste fim. Minha migração pelos sebos de Salvador se dava por horas, na época, e o Brandão era meu melhor canto de trocas, e fiz excelentes achados por lá. É uma longa história.
O fenômeno do fechamento das livrarias físicas está ocorrendo já faz algum tempo. Acredito que se dê por dois motivos, primeiro, por haver cada vez menos leitores, decorrente de, por um lado, da baixa qualidade da educação que não estimula os novos potenciais interessados na leitura. Por outro, a imensa disponibilidade de fontes de informação, papers, textos variados, livros, documentos, todos em formatos diferenciados e baixados gratuitos na internet.
Segundo, a transferência das antigas livrarias e editoras para o mundo virtual, com o surgimento do mercado através de sites e aplicativos que cada vez mais se faz aperfeiçoado e crescente, é um fato. Essa modalidade se firmou, como se viu com o boom do delivery de produtos e materiais impressos nesse infindável período de pandemia.
Nada contra a essa tendência, cabe o mercado editorial e de livros se adaptar, haverá espaço para os impressos sim, mas seletivo, embora não vendidos da mesma maneira que antes. O último livro que comprei foi o do escritor Mário Vargas Llosa, O Chamado da Tribo, pela Amazon.
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