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terça-feira, maio 10, 2011

para que matar o sapos?

A NATUREZA PEDE SOCORRO
(por Vinícius Ausier Campos - 12 anos)
...
A natureza pede socorro,
Sem ela eu morro.
Os carros a matam sufocada,
As serras a matam cortadas.
Os mares ficam sem peixes
As florestas sem animais.
O que será que eu faço,
Para ajudar a natureza que é demais!
Eu coleto, eu reciclo, o que faço?
Faço de tudo para ajudar o mato.
Madeira só reflorestada,
Desenho em papel, uso os dois lados.
Mas, o que eu não entendo,
Para que matar os sapos?
Voltando ao assunto,
A natureza pede socorro,
Sem ela eu morro.

quarta-feira, março 16, 2011

a progressiva cegueira da civilização humana

TRAGÉDIAS NATURAIS EXPÕEM PERDA DA NOÇÃO DE LIMITE

Nas catástrofes atuais, parece que vivemos um paradoxo: se, por um lado, temos um desenvolvimento vertiginoso dos meios de comunicação, por outro, a qualidade da reflexão sobre tais acontecimentos parece ter empobrecido, se comparamos com o tipo de debate gerado pelo terremoto de Lisboa, no século XVIII, que envolveu alguns dos principais pensadores da época. A humanidade está bordejando todos os limites perigosos do planeta Terra e se aproxima cada vez mais de áreas de riscos, como bordas de vulcões e regiões altamente sísmicas, construindo inclusive usinas nucleares nestas áreas. A idéia de limite se perdeu e a maioria das pessoas não parece muito preocupada com isso. 
por Marco Aurélio Weissheimer

No dia 1° de novembro de 1755, Lisboa foi devastada por um terremoto seguido de um tsunami. A partir de estudos geológicos e arqueológicos, estima-se hoje que o sismo atingiu 9 graus na escala Richter e as ondas do tsunami chegaram a 20 metros de altura. De uma população de 275 mil habitantes, calcula-se que cerca de 20 mil morreram (há estimativas que falam em até 50 mil mortos). Além de atingir grande parte do litoral do Algarve, o terremoto e o tsunami também atingiram o norte da África. Apesar da precariedade dos meios de comunicação de então, a tragédia teve um grande impacto na Europa e foi objeto de reflexão por pensadores como Kant, Rousseau, Goethe e Voltaire. A sociedade europeia vivia então o florescimento do Iluminismo, da Revolução Industrial e do Capitalismo. Havia uma atmosfera de grande confiança nas possibilidades da razão e do progresso científico.

No Poème sur le desastre de Lisbonne, (“Poema sobre o desastre de Lisboa”), Voltaire satiriza a ideia de Leibniz, segundo a qual este seria “o melhor dos mundos possíveis”. “O terremoto de Lisboa foi suficiente para Voltaire refutar a teodiceia de Leibniz”, ironizou Theodor Adorno. “Filósofos iludidos que gritam, ‘Tudo está bem’, apressados, contemplam estas ruínas tremendas” – escreveu Voltaire, acrescentando: “Que crimes cometeram estas crianças, esmagadas e ensanguentadas no colo de suas mães?” 
Rousseau não gostou da leitura de Voltaire e responsabilizou a ação do homem que estaria “corrompendo a harmonia da criação”. "Há que convir... que a natureza não reuniu em Lisboa 20.000 casas de seis ou sete andares, e que se os habitantes dessa grande cidade se tivessem dispersado mais uniformemente e construído de modo mais ligeiro, os estragos teriam sido muito menores, talvez nulos", escreveu.
Já Kant procurou entender o fenômeno e suas causas no domínio da ordem natural. O terremoto de Lisboa, entre outras coisas, acabará inspirando seus estudos sobre a ideia do sublime. Para Kant, “o Homem ao tentar compreender a enormidade das grandes catástrofes, confronta-se com a Natureza numa escala de dimensão e força transumanas que embora tome mais evidente a sua fragilidade física, fortifica a consciência da superioridade do seu espírito face à Natureza, mesmo quando esta o ameaça”. 
A tragédia que se abateu sobre Lisboa, portanto, para além das perdas humanas, materiais e econômicas, impactou a imaginação do seu tempo e inspirou reflexões sobre a relação do homem com a natureza e sobre o estado do mundo na época. Uma época, cabe lembrar, onde os meios de comunicação resumiam-se basicamente a algumas poucas, e caras, publicações impressas, e à transmissão oral de informações, versões e opiniões sobre os acontecimentos. Nas catástrofes atuais, parece que vivemos um paradoxo: se, por um lado, temos um desenvolvimento vertiginoso dos meios de comunicação, por outro, a qualidade da reflexão sobre tais acontecimentos parece ter empobrecido, se comparamos com o tipo de debate gerado pelo terremoto de Lisboa.
A espetacularização das tragédias e a perda da noção de limite
Em maio de 2010, em uma entrevista à revista Adverso (da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o geólogo Rualdo Menegat, professor do Departamento de Paleontologia e Estratigrafia do Instituo de Geociências da UFRGS, criticou o modo como a mídia cobre, de modo geral, esse tipo de fenômeno.
“Ela espetaculariza essas tragédias de uma maneira que não ajuda as pessoas entenderem que há uma manifestação das forças naturais aí e que nós precisamos saber nos precaver. A maneira como a grande imprensa trata estes acontecimentos (como vulcões, terremotos e enchentes), ao invés de provocar uma reflexão sobre o nosso lugar na natureza, traz apenas as imagens de algo que veio interromper o que não poderia ser interrompido, a saber, a nossa rotina urbana. Essa percepção de que nosso dia a dia não pode ser interrompido pelas manifestação das forças naturais está ligada à ideia de que somos sobrenaturais, de que estamos para além da natureza”.
Para Menegat, uma das principais lacunas nestas coberturas é a ausência de uma reflexão sobre a ideia de limite. É bem conhecida a imagem medieval de uma Terra plana, cujos mares acabariam em um abismo. Como ficou provado mais tarde, a imagem estava errada, mas ela trazia uma noção de limite que acabou se perdendo. “Embora a imagem estivesse errada na sua forma, ela estava correta no seu conteúdo. Nós temos limites evidentes de ocupação no planeta Terra. Não podemos ocupar o fundo dos mares, não podemos ocupar arcos vulcânicos, não podemos ocupar de forma intensiva bordas de placas tectônicas ativas, como o Japão, o Chile, a borda andina, a borda do oeste americano, como Anatólia, na Turquia”, observa o geólogo.
Não podemos, mas ocupamos, de maneira cada vez mais destemida. O que está acontecendo agora com as usinas nucleares japonesas atingidas pelo grande terremoto do dia 11 de março é mais um alarmante indicativo do tipo de tragédia que pode atingir o mundo globalmente. O que esses eventos nos mostram, enfatiza Menegat, é a progressiva cegueira da civilização humana contemporânea em relação à natureza. A humanidade está bordejando todos os limites perigosos do planeta Terra e se aproxima cada vez mais de áreas de riscos, como bordas de vulcões e regiões altamente sísmicas. “Estamos ocupando locais que, há 50 anos atrás, não ocupávamos. Como as nossas cidades estão ficando gigantes e cegas, elas não enxergam o tamanho do precipício, a proporção do perigo desses locais que elas ocupam”, diz ainda o geólogo, que resume assim a natureza do problema:
"Estamos falando de 6 bilhões e 700 milhões de habitantes, dos quais mais da metade, cerca de 3,7 bilhões, vive em cidades. Isso aumenta a percepção da tragédia como algo assustador. Como as nossas cidades estão ficando muito gigantes e as pessoas estão cegas, elas não se dão conta do tamanho do precipício e do tamanho do perigo desses locais onde estão instaladas. Isso faz também com que tenhamos uma visão dessas catástrofes como algo surpreendente". 
A fúria da lógica contra a irracionalidade
Como disse Rousseau, no século XVIII, não foi a natureza que reuniu, em Lisboa, 20.000 casas de seis ou sete andares. Diante de tragédias como a que vemos agora no Japão, não faltam aqueles que falam em “fúria da natureza” ou, pior, “vingança da natureza”. Se há alguma vingança se manifestando neste tipo de evento catastrófico, é a da lógica contra a irracionalidade. Como diz Menegat, a Terra e a natureza não são prioridades para a sociedade contemporânea. Propagandas de bancos, operadoras de cartões de crédito e empresas telefônicas fazem a apologia do mundo sem limites e sem fronteiras, do consumidor que pode tudo. 
As reflexões de Kant sobre o terremoto de Lisboa não são, é claro, o carro-chefe de sua obra. A maior contribuição do filósofo alemão ao pensamento humano foi impor uma espécie de regra de finitude ao conhecimento humano: somos seres corporais, cuja possibilidade de conhecimento se dá em limites espaço-temporais. Esses limites estabelecidos por Kant na Crítica da Razão Pura não diminuem em nada a razão humana. Pelo contrário, a engrandecem ao livrá-la de tentações megalomaníacas que sonham em levar o pensamento humano a alturas irrespiráveis. Assim como a razão, o mundo tem limites. Pensar o contrário e conceber um mundo ilimitado, onde podemos tudo, é alimentar uma espécie de metafísica da destruição que parece estar bem assentada no planeta. Feliz ou infelizmente, a natureza está aí sempre pronta a nos despertar deste sono dogmático.
Fonte: Carta Maior | Meio Ambiente, 12/03/2011

quarta-feira, julho 28, 2010

adaptação

O inseto e a orquídea

Há um inseto específico para cada orquídea, e quando eles se encontram acontece um tipo de amor entre eles, interação, integração perfeita, cópula, ainda que nem a flor e nem o inseto saibam o que signifique ou mesmo entendam o tipo de amor que se desenvolve entre eles. Um inseto certo para cada flor então adaptada para ele. Daí, algo acontece, algo maravilhoso em consequência desse encontro, instante quando muitas coisas se desencadeiam no universo em função do momento primoroso, do vôo em busca e a espera da flor. Plasticidade de corpos e órgãos exatos juntando perfeição, dimensões, cores, conteúdo e formas.
Consiste isso, pode-se dizer, numa adaptação.
As orquídeas, as flores (em geral, as plantas) têm esse poder, de evoluir diante da suprema necessidade natural da criação da vida. O amor é vida, em plenitude e perfeição.
Eis o sentido do acontecimento entre seres aparentemente estranhos: recriar a vida, continuar a gerar o que resulta no esplendor das múltiplas variedades de beleza na Natureza, aqui realizada por insetos e orquídeas.
Se ele, o inseto, encontra a orquídea certa não há nada que impeça dele conquistá-la. Seus componentes delicados, seus elementos vitais permanecerão conectados por poucos segundos, que significarão uma eternidade. A incrível beleza desse encontro é particularmente um privilégio dessas espécies, absolutamente preservado no puro instinto do inseto e na fortuita “entrega” evolutiva da orquídea.
Pois é, a Natureza expõe em tudo sua consigna. Um momento de pura beleza independe das diferenças, dos preconceitos, de medos do desconhecido, das muitas exigências humanas que dificultam que se complete a evolução e a adaptação dos seres para a vida.

terça-feira, julho 20, 2010

poema re-lido

A Flor e a Fera

Chamam isso de romântico, seja.
Um tanto Quixote no mundo,
Tolo sentimento que balança
Hoje um tanto fora do comum.

Ainda penso sonhar bem ao lado,
Sentir e entender essa flor inteira.
Ao ficar longe... permanecer nela,
Se acordar sem... virar chama acesa.

Imagino seu acolhimento por horas,
Como é difícil essa fera em mim.
Um prazer singular transpira dela,
Bate no peito uma pausa que demora.

Quando muito parecer estranho,
Enfio as mãos pelos pés, efeito!
São idéias do coração à cabeça,
Dar no paraíso sem saber o jeito.

Conhecê-la melhor nos temporais.
Despetalar seu cheiro em peças,
Rever como é tanto voltar a vê-la
E que nem é direito dizer jamais.

Assim amar ao cultivar essa flor,
Cuidando por receber um sim...
De conhecer do jeito mais simples,
A insuportável natureza em mim.

segunda-feira, junho 07, 2010

racionalidade ambiental (I)

A Capitalização da Natureza e as estratégias fatais do desenvolvimento sustentado*
por Enrique Leff
* trecho do livro Racionalidade Ambiental.

As estratégias de apropriação dos recursos naturais do Terceiro Mundo no marco da globalização econômica se reconfiguraram nas perspectivas da sustentabilidade. Ante a impossibilidade de assimilar as condições de sustentabilidade e os princípios que orientam a construção de uma nova racionalidade ambiental, a política de desenvolvimento sustentado vai desativando, diluindo o pervertendo as perspectivas abertas pelo conceito crítico do ambiente a um desenvolvimento alternativo. Se nos anos 1970 a crise ambiental tornou necessário que se colocasse um freio antes que o colapso ecológico fosse alcançado, a partir dos anos 1980 o discurso neoliberal anunciou a desaparição da contradição entre ambiente e crescimento. Os mecanismos de mercado são postulados como o meio mais correto de assimilação das condições ecológicas e dos valores culturais ao processo de crescimento econômico. Na perspectiva neoliberal, desaparecem as causas econômicas dos problemas ecológicos. A crise ambiental não é mais um efeito da acumulação de capital, mas resultado do fato de não haver outorgado direitos de propriedade (privada) e atribuído valores (de mercado) aos bens comuns. Uma vez estabelecido o anterior – afirma o discurso do desenvolvimento sustentado -, as leis clarividentes do mercado se encarregariam de ajustar os desequilíbrios ecológicos e as diferenças sociais, a equidade e a sustentabilidade.
                O discurso do desenvolvimento sustentado promove o crescimento econômico negando as condições ecológicas e termodinâmicas que estabelecem os limites e possibilidades de uma economia sustentável. A natureza está sendo incorporada ao capital mediante uma dupla operação: de um lado, procura-se internalizar os custos ambientais do progresso atribuindo valores econômicos à natureza; ao mesmo tempo, instrumentaliza-se uma operação simbólica, “um cálculo de significação” (Baudrillard, 1974) que recodifica o homem, a cultura e a natureza como formas aparentes de um mesma essência: o capital. Assim, os processos ecológicos e simbólicos são reconvertidos em capital natural, humano e cultural, para serem assimilados pelo processo de reprodução e expansão da ordem econômica, reestruturando as condições da produção mediante uma gestão economicamente racional do ambiente.[1]
                A ideologia do desenvolvimento sustentado libera o mercado, desencadeando um processo incontrolado e desregulado de produção, um delírio da razão econômica, uma mania de crescimento (Daly, 1991). O discurso da sustentabilidade aparece assim como um simulacro que nega os limites do crescimento para afirmar a corrida desenfreada em direção à morte entrópica do planeta. Afirma-se, assim, um processo que se aparta de toda lei de conservação ecológica e reprodução social para dar curso a um processo que desborda toda norma, referência e sentido para controlá-lo. O discurso da sustentabilidade opera uma estratégia fatal, uma inércia cega que se precipita em direção à catástrofe. O discurso de Baudrillard se reflete e encontra seu referente no discurso do desenvolvimento sustentado e em suas manifestações da crise ambiental quando afirma que:

Estamos governados não tanto pelo crescimento, mas por crescimentos. Nossa sociedade está fundada na proliferação, em um crescimento que continua apesar de não poder medir-se diante de nenhum objetivo claro. Um sociedade excrescente cujo desenvolvimento é incontrolável, que ocorre sem considerar sua autodefinição, onde a acumulação de efeitos vai de mãos dadas com a desaparição das causas. O resultado é um congestionamento sistêmico bruto e um mau funcionamento causado por um hipertelia: por um excesso de imperativos funcionais, por uma sorte de saturação [...] As próprias causas tendem a desaparecer, a se tornar indecifráveis, gerando a intensificação de processos que operam no vazio. Enquanto existir uma disfunção do sistema, um desvio das leis conhecidas que governam sua operação, sempre existirá a perspectiva de transcender o problema. Mas, quando o sistema se precipita sobre seus pressupostos básicos, desbordando seus próprios fins, de maneira que não é possível encontrar-se nenhum remédio, não estamos contemplando mais uma crise e sim uma catástrofe [...] O que chamamos de crise é de fato a antecipação de sua inércia absoluta (Baudrillard, 1993: 31-2).

                O capitalismo engoliu o mundo, mascarou-o e velou-o em sua própria imagem, levado por “essa estratégia exponencial na qual as coisas, privadas de sua finalidade ou de sua referência, se reiteram em um tipo de jogo no abismo”. A hipereconomização do mundo gerou uma

revolução nas coisas que não se dá mais em sua superação dialética, mas sim em sua potencialização, em sua elevação à potência dois, a potência n, dessa ascensão aos extremos na ausência de qualquer regra de jogo [...] Parece que as coisas, tendo perdido sua determinação crítica e dialética, só puderam se redobrar em sua forma exacerbada e transparente [que] nos leva para um êxtase que é também o da indiferença (Baudrillard, 1983: 38, 46).

                O que está em ato nessa excrescência do Mundo Objeto não é a celebração do gasto, a manifestação exacerbada da pulsão à dissipação na qual Bataille via o destino governado pelo excesso, por “uma organização aventureira, eventualmente absurda, um projeto de energia devastadora, um antieconomia, um prodígio, um desafio à natureza conservacionista” (1983: 86-7). Trata-se de uma compulsão ao consumo que, contra o princípio da escassez da economia, desborda a ideologia do progresso. A questão não se apresenta como um dilema do sujeito – do controle racional diante da falta de medidas do desejo -, e sim da própria racionalidade econômica, cujo falso princípio de racionalização da escassez o conduz a todos os excessos, a que perverte a ética iluminada pelo pensamento da complexidade e da natureza ecologizada.
                A retórica do desenvolvimento sustentado reconverteu o sentido crítico do conceito de ambiente em um discurso voluntarista, proclamando que as políticas neoliberais haverão de nos conduzir para os objetivos do equilíbrio ecológico e da justiça social pela via mais eficaz: a do crescimento econômico guiado pelo livre mercado. Esse discurso promete atingir seu objetivo sem uma fundamentação a respeito da capacidade do mercado em dar seu justo valor à natureza, desmaterializar a produção, reverter as leis da entropia e atualizar as preferências das gerações futuras. Isto leva a questionar a possível sustentabilidade do capitalismo (M. O’Connor, 1994), quer dizer, do irrefreável impulso em direção ao crescimento da racionalidade econômica e sua impotência para deter a degradação entrópica que gera. A racionalidade econômica resiste à sua desconstrução e arma um simulacro no discurso do desenvolvimento sustentado, uma estratégia de simulação, um jogo falaz de perspectivas – trompe l’oeil -, que burla a percepção das coisas e perverte toda razão e ação no mundo em relação a um futuro sustentável. O discurso do desenvolvimento sustentado volta como um bumerangue, decapitando o ambiente como conceito que deve orientar a construção de uma nova racionalidade social. A estratégia discursiva da globalização se converte em um tumor semiótico e gera a metástase do pensamento crítico; dissolve a contradição, a alteridade, a diferença e a alternativa, para oferecer-nos em seus excrementos retóricos uma revisão do mundo como expressão do capital. O ambiente já não apenas refuncionalizado para valorizar e reintegrar suas externalidades dentro da racionalidade econômica que o gera, ao mesmo tempo que o rechaça. O ambiente é reapropriado pela economia, fragmentando e recodificando a natureza como elementos do sistema: do capital globalizado e da ecologia generalizada.
                Não faltou quem quisesse ver na origem comum de seus conceitos a via para reintegrar a economia ao sistema mais amplo da ecologia, pelo reconhecimento de sua idêntica raiz etimológica: oikos. Mas essa operação hermenêutica de sua tática semiótica não poderiam unificar os sentidos diferenciados dentro dos quais foram construídos os paradigmas da economia e da ecologia, assim como as diferentes cosmovisões e significações culturais em que se desenvolveram os saberes sobre a vida e a produção, nem dissolver as estratégias de poder da economia que dominaram a ecologia. O discurso do desenvolvimento sustentado colonizou a natureza, convertendo-a em capital natural. A força de trabalho, os valores culturais, as potencialidades do homem e sua capacidade inventiva se transmutam em capital humano. Tudo é redutível a um valor de mercado e representável pelos códigos do capital. O capital clona identidades para assimilá-las a uma lógica, a uma razão, a uma estratégia de poder para a apropriação da natureza como meio de produção e de reprodução da racionalidade econômica. Dessa maneira, as estratégias de sedução e de simulação do discurso do desenvolvimento sustentado constituem o mecanismo extra-econômico por excelência da pós-modernidade para manter o domínio sobre o homem e a natureza.
                O capital, em sua fase ecológica, está passando das formas tradicionais de apropriação primitiva, selvagem e violenta dos recursos da comunidade – a rapina do Terceiro Mundo denunciada por Pierre Jalée (1968) -, dos mecanismos econômicos de intercâmbio desigual entre matérias-primas dos países subdesenvolvidos e produtos tecnológicos do Primeiro Mundo (Amin, 1973, 1974; Emmanuel, 1971), a uma estratégia discursiva que legitima a apropriação dos recursos naturais e ambientais que não são diretamente internalizados pelo sistema econômico. Através dessa operação simbólica, a biodiversidade é definida como patrimônio comum da humanidade, as comunidades do Terceiro Mundo como um capital humano e seus saberes como recursos patenteáveis por um regime de direitos de propriedade intelectual. O discurso da globalização aparece assim como um olhar guloso mais do que como uma visão holística; em lugar de aglutinar e dar integridade à natureza e à cultura, fragmenta-as como partes constitutivas do desenvolvimento sustentado para globalizar racionalmente o planeta e o mundo sob o princípio unitário do mercado. Essa operação simbólica submete todas as ordens do ser aos ditames de uma razão global e universal. Dessa forma, prepara as condições ideológicas para a capitalização da natureza e a redução do ambiente à razão econômica. As estratégias fatais do discurso do desenvolvimento sustentado resultam em seu pecado capital: sua gula infinita e insaciável.
                As políticas de desenvolvimento sustentado procuram conciliar os lados opostos contrários da dialética do desenvolvimento: o meio ambiente e o crescimento econômico. A tecnologia seria o meio instrumental que poderia reverter os efeitos da degradação entrópica nos processos de produção, distribuição e consumo de mercadorias (o monstro devora seus próprios desejos e os reintegra às suas entranhas; a máquina anula a lei natural que a cria). O discurso do crescimento sustentado ergue uma cortina de fumaça que mascara as causas da crise ecológica. Ante o aquecimento global do planeta, é ignorada a degradação entrópica produzida pela atividade econômica – cuja forma mais degradada é o calor – e nega-se a origem antropogênica do fenômeno ao qualificar seus efeitos como desastres “naturais”. Dessa maneira, o discurso do desenvolvimento sustentado não significa apenas mais uma volta na porca da racionalidade econômica, mas um salto mortal, um vôo e um aperto na razão: seu móvel não é internalizar as condições ecológicas da produção, e sim postular o crescimento econômico como um processo “sustentável”, sustentado nos mecanismos do livre mercado e na tecnologia, que seriam meios eficazes para garantir o equilíbrio ecológico e a justiça ambiental.
                O desenvolvimento sustentado chegou a proclamar seu triunfo antecipado, baseado nas possibilidades de “desmaterializar a produção”.[2] A tecnologia foi chamada para dissolver a escassez de recursos fazendo a produção repousar em um uso indiferenciado de matéria e de energia (Barnet e Morse, 1963); os demônios da morte entrópica seriam exorcizados pela eficiência tecnológica. A racionalidade tecnológica foi, por sua vez, transferida ao campo da tecnologia. A ecoeficiência e o manejo ecossistêmico se converteram em instrumentos idôneos para a gestão do desenvolvimento sustentado, ampliando o espaço biosférico para estender os limites do crescimento econômico. O sistema ecológico funciona como uma tecnologia de reciclagem e diluição de contaminantes; a biotecnologia inscreve os processos da vida no campo da produção, refuncionalizando o espaço que dá suporte à produção e ao consumo de mercadorias.
                As políticas de desenvolvimento sustentado se inscrevem nas vias de ajuste que a economia neoliberal aportaria à solução dos processos de degradação ambiental e ao uso racional dos recursos ambientais; ao mesmo tempo, responde à necessidade de legitimação da economia de mercado, que em seu movimento inercial resiste ao estampido que lhe foi determinado pela sua inércia mecanicista. Como se fosse uma bola de neve, na queda verifica-se a adesão de uma capa discursiva com a qual se tenta deter seu colapso, sem horizontes nem perspectivas, que fecha as vias para a desconstrução da ordem econômica antiecológica e impede o trânsito no sentido da nova ordem social, guiada pelos princípios da sustentabilidade ecológica, da democracia participativa e da racionalidade ambiental.
                As estratégias fatais de capitalização da natureza penetraram o discurso oficial das políticas ambientais e seus instrumentos legais e normativos. Com base nos objetivos comuns do desenvolvimento sustentado, convocam-se todos os setores sociais (governo, empresários, acadêmicos, cidadãos, camponeses, indígenas) para uma operação de concertamento e participação na qual se integram as diferentes visões e mascaram-se os interesses contrapostos em um olhar especular, convergente na representatividade universal de todo ente no reflexo do capital argentário. Assim, dissolve-se a possibilidade de dissentir diante do propósito de um futuro comum, uma vez que o desenvolvimento sustentado é definido, em boa linguagem neoclássica, como uma contribuição igualitária do valor que os diferentes fatores da produção adquirem no mercado.[3]
                Essa estratégia discursiva procura codificar e reconverter a cultura e a natureza dentro da lógica do capital. Do mesmo modo, tenta levar as disputas sobre os sentidos da sustentabilidade e da expropriação dos recursos naturais e culturais das populações para um esquema combinado, em que seja possível dirimir os conflitos em um campo neutro. Através desse olhar especular (especulativo), pretende-se que as populações indígenas se reconheçam como capital humano, que ressignifiquem seu patrimônio de recursos naturais e culturais (sua biodiversidade) como um capital natural, que aceitem uma compensação econômica negociada pelo dano ou pela cessão de seu patrimônio de recursos naturais e genéticos às empresas transnacionais de biotecnologia. Esta seriam as instâncias encarregadas de administrar racionalmente os “bens comuns da humanidade” em benefício do equilíbrio ecológico e de garantir a distribuição eqüitativa de seus benefícios, de lograr o bem-estar da sociedade atual e o das gerações futuras. Da valorização dos custos ambientais se passa à legitimação da capitalização do mundo como forma abstrata e norma generalizada das relações sociais. Esse simulacro da ordem econômica, que levita sobre as relações ecológicas e sociais de produção, pretende libertar o homem das cadeias da produção para reintegrar seu corpo exausto à metástase da ordem simbólica em que se configuram os desígnios do desenvolvimento sustentado.
                Assim, as estratégias do capital para reapropriar-se da natureza vão degradando o ambiente em um mundo sem referentes nem sentidos, sem relação entre valor de troca e a utilidade do valor de uso. A economia do desenvolvimento sustentado funciona dentro de um jogo de poder que outorga legitimidade à ficção do mercado, conservando os pilares da racionalidade do lucro e do poder de apropriação da natureza fundado na propriedade privada do conhecimento científico-tecnológico. As estratégias fatais da globalização econômica conduzem a uma nova geopolítica da biodiversidade, da mudança climática e do desenvolvimento sustentado.

[1] “As condições da produção não são apenas transformadas pelo capital. Devem, também, ser transformadas através do discurso [...] Uma vez completada a conquista semiótica da natureza, torna-se imperativo o uso racional e sustentável do ambiente. Ali está radicada a lógica subjacente dos discursos do desenvolvimento sustentável e da biodiversidade” (Escobar, 1995: 202-3).
[2] Este foi o projeto prometéico empreendido pelo Wuppertal Institute e pelo World Resources Institute com o propósito de reduzir o uso de recursos naturais por unidade de produto graças ao aumento da eficiência tecnológica e à mudança na estrutura da demanda.
[3] Esse discurso conciliador pretende reunir todos os grupos de interesse para alcançar consensos e dirimir conflitos socioambientais, sem perceber, que embora existam interesses e posições negociáveis, existem outros fatores que não poderão harmonizar-se no “concerto” dos protagonistas do drama atual da desigualdade social e da insustentabilidade.

segunda-feira, abril 05, 2010

sexualidade desnaturada

Sexualidade humana é totalmente desnaturada
Nossa espécie é a única, entre os mamíferos, que desconhece o ciclo
Por Contardo Calligaris

Robert Wright publicou dois meses atrás um livro, "The Moral Animal" (Pantheon Books). Não fosse hoje a tradução de um seu recente artigo no Caderno Mais! (págs. 6-4 e 6-5) o subtítulo do livro –"Eis porque somos do jeito que somos"– seria, aliás, suficiente para jogar a coisa no lixo sem tardar. Pois revela um artifício barato para nos adormecer. Convidado a descobrir o porquê, o leitor talvez esqueça de perguntar: mas somos mesmo do jeito que diz o senhor Wright?
Este escolheu, como é de praxe, autoridades presumíveis para escrever frases elogiosas na contracapa do seu livro: por exemplo – conhecidos no Brasil– Frank Sulloway, autor de "Freud Biólogo da Mente" e Peter Kramer, autor de desprezível best seller pseudomédico: "Escutando o Prozac".

De fato, Wright tem em comum com Sulloway um interesse pela biologia como campo onde os fenômenos psíquicos deveriam se explicar. Mas sua escolha de Peter Kramer é mais reveladora.

Kramer ficou famoso por propor o uso de um antidepressivo, o Prozac, como panacéia de nosso tempo, transformador da subjetividade. Chegou até imaginar um futuro diferente para uma humanidade prozaquiana e sorridente.

Wright não deveria gostar de Kramer. Ele é demasiado convencido de que nossa natureza é feita de genes para apreciar as promessas da quimioterapia intervencionista. Mas a aliança com Kramer se dá de outro jeito. Ambos participam de um clima geral onde triunfa a convicção que o real, biológico ou químico que seja, oferece ou oferecerá as respostas para todos os problemas.
Nada surpreendente. Nossa cultura deixa aos poucos de se referir a valores simbólicos, exalta a autonomia do indivíduo, mas chora sobre os belos tempos das certezas perdidas e conclama, com razão, que faltam critérios éticos. A época em que vivemos oferece duas opções substitutivas: em vez de critérios, encontramos imagens positivas ou negativas de homens e mulheres com os quais é recomendado se identificar ou não.

Em vez de sabedorias tradicionais, encontramos a autoridade do que é apresentado como a irresistível evidência do real, biológico, científico. Assim, parte da dita "comunidade homossexual" recebeu como ótima notícia a hipótese da existência de um gene da homossexualidade. Os lugares-comuns racistas de nossa cultura acharam, satisfeitos, fundamento no retorno dos testes de inteligência (cuja "cientificidade" está contestada há várias décadas).

O texto de Wright publicado neste número do Mais! vai nos dizer qual é a diferença científica entre homens e mulheres. O "gênero", Wright anuncia, não é uma construção cultural. Ele não vai perder tempo com incertas influências sociais, conjunturas familiares ou conflitos de ideais; vai nos dizer como as coisas estão assim por "natureza". Na verdade, ele vai promover ao estatuto de verdades naturais os lugares-comuns ideológicos que lhe parecem representar a realidade.

Se Wright tivesse tomado conhecimento dos trabalhos de Robert Stoller (de "Sex and Gender", Science House, 1968, até o último, "Presentations of Gender", Yale Univ. Press), talvez descobrisse que a patologia é às vezes de melhor conselho do que uma duvidosa normalidade.
Stoller mostrou que o sexo biológico de um sujeito não é constitutivo da identidade sexual. É possível ser homem ou mulher biologicamente (cromossomos, genitais externos etc.) e, apesar disso, se viver como do sexo oposto.

Esta vivência é a identidade de gênero, que se constitui a partir de uma série de fatores culturais, que ele enumerou cuidadosamente: a designação do sexo do recém-nascido pelos pais, a influência das atitudes dos pais, os padrões de manejo de seu corpo e as sensações, corporais e genitais, que confirmam ou não a designação pelos pais.

Estes fatores nunca teriam sido inventariados se Stoller não tivesse dedicado parte de seu trabalho clínico ao estudo de transexuais. Ele foi forçado a constatar a existência (e a relevância) de fatores determinantes da identidade de gênero, outros que o sexo biológico.

Além da diferença entre sexo biológico e identidade de gênero, se perfila um problema. Nem o sexo biológico, nem a identidade de gênero comandam as condutas sexuais de um sujeito.
Em suma, a mãe natureza (que, segundo Wright, misteriosamente coincide sempre com a tia evolução) mal dá conta do sexo anatômico. E este é apenas um fator lateral na constituição da identidade de gênero. A escolha de origem sexual e a orientação de nossas fantasias sexuais é outra história.

Quando Wright defende a idéia de uma diferença "natural" entre homens e mulheres, fala ou uma ingenuidade ou uma besteira. Que homens e mulheres sejam anatomicamente diferentes, já nos demos conta. Que as diferenças psíquicas entre eles como conjuntos estejam inscritas nos genes e decorram dos sexos anatômicos, aparece simplesmente falso.

Mas a maior prova da natureza ideológica e não-científica do trabalho de Wright é interna a seu discurso. Para Wright, a natureza é a evolução. Mas ele invoca a evolução para justificar uma espécie de metafísica natural das diferenças nos papéis sexuais e sociais. Parece que a evolução parou, é sempre conjugada ao passado (por exemplo: "durante a evolução, era geneticamente custoso...").

Por que parou, parou por quê? Um pensamento evolucionista consiste em pensar as mudanças, por inscritas geneticamente que sejam. Mas as mudanças são, para Wright, só as que já aconteceram, "nos tempos da evolução".

Tomamos sua tese central. Wright parte da idéia de que as mulheres são mais reservadas sexualmente que os homens, sabidamente mais caçadores, porque as mulheres reproduzem menos e portanto devem cuidar mais da qualidade dos genes dos parceiros. Os homens adoram jogar genes ao acaso, para as gerações futuras.

A pretensa constatação inicial (que as mulheres são menos promíscuas) é antes de mais nada um preconceito. Desta constatação preconceituosa, Wright deduz uma teoria fantasiosa do desejo sexual, o qual serviria aos imperativos de uma boa seleção genética para a continuação da espécie.

Ora, podemos até imaginar Henrique 8º transando com Ana Bolena e se excitando com a réplica que Hollywood lhe atribuiu: "Vou te encher de filhos”. Certamente o desejo sexual pode se sustentar com as imagens da procriação. Mas será que alguém se excita pensando nos genes que lança para a posteridade? Imagino que Wright se defenderia dizendo que a determinação do desejo pelas leis da evolução se situa aquém ou além da consciência. Embora eu pense que desejo minha parceira pelos seus belos olhos, essas fantasias estão sempre ao serviço superior de minha genética paixão de melhorar a visão das gerações futuras. E maldito seja quem deseja mulher míope!

Wright poderia ter refletido um instante no fato, banal, que a sexualidade humana tem justamente a propriedade de ser completamente desnaturada. Nossa espécie é a única, entre os mamíferos, que desconhece o ciclo; as mulheres não são férteis durante a menstruação, como fêmeas de mamíferos no cio, e a excitação sexual não depende nada da reprodução.

O próprio evolucionismo não é nenhuma norma ou lei da natureza, é a interpretação de uma contingência histórica da competição entre as espécies. A evolução darwiniana não implica nenhuma finalidade interna os seres, humanos ou outros. Mas a posição de Wright desliza de Darwin a Lamarck: ele começa por considerar a evolução selecionando as espécies que melhor se perpetuam e reproduzem e acaba imaginando que as regras da boa reprodução dirigem a sexualidade.

Ou seja, começa com Darwin (a evolução seleciona) e acaba com Lamarck (a função da perpetuação da espécie cria nossa sexualidade e nossa vida social como um órgão). Pode ser que a espécie humana seja ou venha a ser perfeitamente suicida. Certamente não pode ser que nossa compreensão de nós mesmos seja decidida pelas necessidades da reprodução.
Caso contrário, entra-se em uma armadilha teórica: como é que não dispomos de um gene ecológico que nos faça preservar nosso ambiente? Os genes da boa evolução podem ou não ser malthusianos?

Os feminismos que Wright discute e contesta em seu artigo são um adversário aparentemente fácil. Talvez defendam mesmo posições ideológicas pouco compatíveis ou contraditórias com as formas do desejo feminino em nossa cultura.

Quando, por exemplo, MacKinnon declara que cada relação heterossexual é um estupro, faz política e não ciência. Mas sua afirmação, pelo que deixa entrever de uma contradição - não resolvida entre dimensões diferentes da fantasia sexual feminina, carrega mais verdade do que o texto de Wright. Opor às afirmações feministas, por extremas e sintomáticas que sejam, um moralismo banal camuflado de inelutabilidade evolucionista, é estúpido demais.

sábado, junho 27, 2009

natureza

A Flor e a Fera

Chamam de romântico...
Ainda mais apaixonado.
Todo sentimento que balança
Um tanto fora do comum
Então, esse amor pela flor.

Se fico longe... penso nela.
Se acordo sem... chamo.
Se sinto falta... planto, rego até vê-la...
É difícil essa fera em mim, natureza!
O prazer é singular, transpira...
Bate no peito a pausa que demora.

O que acontece de estranho,
Ao enfiar as mãos pelos pés
Passar do coração à cabeça
Dar no paraíso sem saber onde!
Conhecê-la melhor dentro do tempo
E despetalar seu cheiro em peças.

Vejo como é bom estar vivo,
E que nem é certo dizer jamais.
Assim mesmo digo na pele...
Eu amo a flor, tenho amor a paz.
Sinto-me feliz ao seu lado,
Insuportável natureza em mim.

terça-feira, outubro 28, 2008

Valor Ambiental

O Valor da Natureza

Gustavo Souto Maior*

Qual o valor dos serviços prestados pela Natureza ? A princípio é infinito. A economia mundial entraria rapidamente em colapso sem a existência de solos férteis, água de boa qualidade e ar limpo. Porém, "infinito" muito rapidamente pode se transformar em "zero" nas equações utilizadas por administradores públicos e em decisões políticas. Assim, valores mais consistentes e concretos são necessários para se evitar decisões econômicas não sustentáveis, que possam degradar os recursos naturais e os serviços que os ecossistemas geram.

Com esse objetivo, uma equipe de treze pesquisadores, a frente o cientista Robert Costanza, da Universidade de Maryland, estimou o valor econômico de 17 serviços que o meio ambiente pode proporcionar (regulação hídrica, de gases, climática e de distúrbios físicos, abastecimento d' água, controle de erosão e retenção de sedimentos, formação de solos, ciclo de nutrientes, tratamento de detritos, polinização, controle biológico, refúgios de fauna, produção de alimentos, matéria-prima, recursos genéticos, recreação e cultura), em 16 biomas espalhados pelo mundo. Informações dispersas em mais de uma centena de estudos de valoração econômica de bens e serviços ambientais foram agrupadas e analisadas, e ao final o resultado encontrado para o valor médio dos serviços proporcionados pela Natureza, nos ecossistemas pesquisados, foi de US$ 33 trilhões ao ano.

A tentativa de se estimar o valor corrente total dos serviços ambientais em questão tem uma série de limitações, admitidas por Costanza e seus colaboradores. Primeiro, vários biomas e diversas categorias de serviços ambientais ficaram de fora do trabalho, já que não são ainda adequadamente pesquisados e objeto de valoração econômica. O próprio Cerrado, cujos estudos de valoração econômica ainda são muito recentes, não foi considerado. Mais estudos sendo disponibilizados, o valor total aumenta.

Segundo, em muitos casos os valores encontrados são baseados em levantamentos da "disposição a pagar" da sociedade por serviços ambientais, levantamentos esses nos quais se firmam alguns dos métodos de valoração econômica do meio ambiente. Aqui, o perigo é que os cidadãos possam estar desinformados quanto à importância dos bens e serviços ambientais, e assim suas preferências não incorporarem adequadamente preocupações sociais, econômicas e ecológicas, entre outras, o que pode resultar em valores inconsistentes.

Pode-se questionar a tentativa de dar um valor à atmosfera, ou às rochas e ao solo no suporte aos ecossistemas, pois sem dúvida alguma o valor, nesses casos, é incomensurável. Entretanto, como bem aponta o estudo, é de fundamental importância investigar como modificações na quantidade e qualidade dos vários tipos de capital natural e de serviços ambientais podem acarretar impactos no bem-estar humano.

Levanta-se a questão de que a valoração de bens e serviços ambientais é tampouco correta, já que não podemos dar valor a bens "intangíveis", como a vida humana, paisagens, ou benefícios ecológicos de longo prazo. Porém, na verdade valoramos bens e serviços "intangíveis" todos os dias, ao estabelecermos, por exemplo, padrões para construção de estradas, pontes, e similares: nesse caso valoramos a vida humana, já que estamos gastando mais dinheiro em construções que salvarão vidas. A realidade é que a sociedade valora o meio ambiente todos os dias. Qualquer decisão quanto ao uso da terra envolve estimativas de valor, mesmo quando valores monetários não são utilizados.

Argumenta-se que devemos preservar os ecossistemas por razões morais, não lhes cabendo atribuir nenhum tipo de valor econômico. A preservação seria uma questão afeta aos direitos de todas as espécies, tendo a ver com as nossas obrigações morais para com as futuras gerações. Os bens e serviços ambientais seriam fins em si próprios, e não um instrumental para se obter determinado objetivo, no caso o desenvolvimento. Ora, se todos os bens têm direito à existência, presume-se que não é possível optar por um em detrimento de outro, estando, assim, todas as perdas moralmente condenadas. Porém, a realidade é que a sociedade tem que fazer opções. Sendo assim, ciente de que nem tudo pode ser salvo e mantido intacto, é essencial optar entre formas de intervenção que tenham a melhor relação custo/benefício. Nesse ponto é que a valoração econômica de bens e serviços ambientais pode prestar um relevante papel.

Deve-se ter em vista que o desenvolvimento econômico está intimamente ligado a aumentos no nível de bem-estar da sociedade, resultantes da produção e consumo de bens e serviços tradicionais, os quais dependem de diversas funções dos recursos naturais, como matérias-primas, capacidade de suporte de ecossistemas, assimilação de resíduos e biodiversidade. O meio ambiente faz parte da função de produção de grande quantidade de bens econômicos, cuja obtenção seria impossível sem o seu concurso.

Cabe destacar que a economia de bens e serviços ambientais possui características diferentes da economia tradicional. O uso dos recursos ambientais, por exemplo, gera custos e benefícios que pouco são apreendidos em um sistema de mercado, muito embora os recursos tenham valor econômico. Embora o valor econômico dos recursos ambientais não seja observável no mercado por meio de preços, o meio ambiente tem um valor, na medida em que seu uso altera o nível de produção e consumo da sociedade, já que o bem-estar das pessoas é medido tanto pelo consumo de bens e serviços tradicionais, como pelo consumo de bens de origem recreacional, política, cultural e ambiental.

Pelo fato de não serem quantificados e transacionados em mercados, os bens e serviços ambientais têm muito pouco peso nas decisões políticas. Esta negligência pode ter como conseqüência o comprometimento da sustentabilidade da vida na Terra, já que os ativos ambientais não possuem substitutos.

Apesar dos diversos problemas de ordem conceitual e empírica inerentes à produção de uma estimativa dessa ordem, o trabalho de Costanza pode ser importante para se estabelecer uma primeira aproximação da magnitude relativa dos ecossistemas globais, e para estimular debates e pesquisas em valoração de bens e serviços ambientais. Contudo, talvez o maior mérito do trabalho é a comparação que permitiu ser feita entre os valores existentes do Produto Interno Bruto global e o valor econômico médio dos serviços ambientais prestados pelos 16 biomas pesquisados: para o meio ambiente o resultado encontrado foi de US$ 33 trilhões anuais, enquanto que no mesmo ano o PIB global somava cerca de US$ 18 trilhões. Ou seja, o valor dos serviços ambientais era quase o dobro do encontrado para o PIB. Conclusão: os serviços ambientais têm uma posição destacada na contribuição para o bem-estar humano no nosso planeta.

A economia não pode continuar a ser vista como um sistema fechado e isolado, no qual existem fontes inesgotáveis de matéria-prima e energia para alimentar o sistema, onde o processo de produção converte todos os insumos em produtos sem deixar resíduos indesejáveis, e no consumo todos os produtos desaparecem como num passe de mágica, sem deixar vestígios. Ou seja, a economia não pode insistir em considerar o meio ambiente como mero coadjuvante.

*Gustavo Souto Maior é mestrando em Gestão Econômica.

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