quarta-feira, janeiro 05, 2011

desejos sem obrigações

Ano-Novo, vida nova

Voto para o ano novo: que encontremos jeitos de desejar sem transformar nosso desejo em obrigação
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por Contardo Calligaris
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Uma leitora, que me autoriza a citar seu e-mail, mas prefere que seu nome não seja mencionado, pergunta: "Gostaria de saber sua opinião sobre parceiros que simplesmente somem, desaparecem mesmo, sem deixar rastro. Cancelam telefones, e-mail, conta no Skype e somem, sem se despedir, sem nem mesmo um MSN. E não falo de um relacionamento de alguns dias, mas de anos. Oito para ser mais precisa. Nem falo de um adolescente, mas de um homem de 57 anos.
Ele foi trabalhar no Oriente Médio, num alto cargo, a empresa fechou e ele desapareceu. Não morreu, não foi sequestrado por terroristas. (...) O que leva alguém a agir assim? Obrigações econômicas não estão em jogo".
A cada ano, mundo afora, há centenas de milhares de pessoas que somem e nunca mais dão notícias a familiares e amigos.
Quando se trata de adultos sem obrigações jurídicas (dívidas ou pensões alimentícias, por exemplo), a polícia descobre, eventualmente, o novo paradeiro ou a nova identidade de quem sumiu, mas só o próprio desaparecido pode autorizá-la comunicar estas informações aos parentes e amigos de sua vida, digamos assim, "anterior".
No passado, nesta página, se me lembro direito, já assinalei o fato de que, estranhamente, em geral, quem some não vai longe: acaba numa cidade parecida com a que ele abandonou, a poucos quilômetros de distância. Também, na maioria dos casos, o desaparecido reconstrói uma vida próxima da vida da qual ele fugiu - encontra um ofício parecido com o que ele praticava e cria uma família similar à que deixou.
Essa "constância" nos surpreende porque imaginamos que, em regra, alguém suma por querer uma vida nova. Por alguma razão, o caminho gradativo, que consistiria em se despedir, fazer as malas, fechar as contas etc., pareceria impraticável ou insuficiente aos olhos de nosso fugitivo: talvez ele tenha esperado demais e sua paciência excessiva (para com os outros ou para consigo mesmo) exija, de repente, uma explosão, um corte sem conversa alguma. De qualquer forma, supomos (ingenuamente) que, se alguém decidiu sumir, foi para mudar radicalmente.
De fato, como disse antes, os desaparecidos acabam reconstruindo uma vida parecida com a anterior ao seu sumiço, e isso nos leva à conclusão oposta: talvez quem some não queira mudar de vida - então, ele some por quê?
Conheci pouquíssimos que sumiram, mas conheço muitos que expressam a vontade de sumir. Todos explicam sua vontade da mesma forma: trata-se de fugir de exigências impossíveis de serem satisfeitas. Mas, cuidado: "Eles me pedem demais" é a tradução projetiva de "eu me peço demais". Quem foge das exigências do mundo está quase sempre fugindo das exigências que seu próprio desejo lhe coloca.
Vamos agora ao que acontece com quem decide sumir apenas para alguém - um familiar (se não a família inteira) ou um parceiro.
Às vezes, é justificada a sensação de que, sem um sumiço, uma relação se eternizaria pela simples dificuldade de qualquer um dos dois reconhecer que acabou. Onde está a covardia, e onde a coragem? Não sei. Talvez haja covardia em não conseguir declarar que um amor terminou, assim como talvez haja covardia na incapacidade de escutar essa declaração. Há a covardia de quem some e também de quem sobra, quando ambos parecem precisar do sumiço de um dos dois para aceitar que a história chegou ao fim.
Há covardia também em fingir que a relação continua, quando ela já morreu. Alguém, aliás, pode sumir para fugir de sua própria covardia, que o mantém calado, ou para fugir da covardia do outro, que não quer ouvir uma frase de despedida.
Seja como for, muitas vezes, alguém acaba uma relação e some porque o que era (e talvez ainda seja) seu desejo se transformou numa exigência intolerável.
Funciona assim: um dos jeitos de nos autorizarmos a querer o que desejamos consiste em transformar nosso desejo numa obrigação. Desejar é mais fácil (embora menos alegre) quando imaginamos desejar a mando de algum outro. O problema é que esse desejo, facilitado por ser mandatário, logo aparece como uma exigência da qual, eventualmente, vamos querer fugir.
Meu voto para o Ano Novo: que nos preocupemos menos em mudar nossas vidas e encontremos jeitos de conseguir desejar o que já desejamos sem transformar nosso desejo em obrigação.
Fonte: Blog Contardo Calligaris, 30/12/2010

Eric mandando vê..., filho de peixe é peixe!

"O Brasil não tem inflação de demanda."

Apesar de otimista, Conceição alerta para perigo de desindustrialização*
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A economista mais conhecida do Brasil, a portuguesa Maria da Conceição Tavares, espera uma administração Dilma Rousseff bem diferente da de Lula. "Dilma não se parece com o Lula. Ela tem perfil de gerente, enquanto Lula usa a habilidade política para fazer ziguezagues. Ela deve ter uma linha mais reta de tocar o governo". Na visão de Conceição, o caráter gerencial da presidente da República não é uma qualidade negativa, pelo contrário. "Ela não brinca em serviço e não vai deixar ninguém pisar em ramo verde", diz, usando uma expressão bem lusitana.
Conceição, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acha difícil prever como Dilma se comportará politicamente, mas crê que a presidente não terá dificuldades em lidar com o ministério e nem mesmo com o Congresso, onde a oposição perdeu terreno. "Ela vai saber 'apertar os cravos' [dos ministros e dos políticos] devagarinho e na hora certa."
Ela não está pessimista em relação ao novo governo, mas ressalta duas preocupações que constituem desafios no curto e longo prazos, na sua opinião.
No curto prazo, ela chama a atenção para a concorrência internacional desvairada no pós-crise, com forte impacto sobre a balança comercial do país. "A questão envolve a necessidade da adoção de uma nova política de substituição de importação para frear a desindustrialização de setores da economia nacional", recomenda. A nova política passaria a exigir das multinacionais maiores índices de nacionalização na indústria de partes, peças e componentes, principalmente dos setores automotivo e eletroeletrônico.
No plano social, de mais longo prazo,  Conceição torce para a presidente criar um fundo com recursos do pré-sal para federalizar as políticas públicas universais mais importantes de educação e saúde. "Não basta procurar erradicar a miséria. Sem avanço na educação e na saúde continuaremos subdesenvolvidos", adverte.
A economista acredita que 2011 será um ano difícil, dada a situação europeia, que representa um terço do comércio exterior brasileiro. "Não temos só o dólar desvalorizando. Há várias moedas com tendência a desvalorização, do euro ao yuan, o que aumenta brutalmente a concorrência externa, principalmente quanto temos o real sobrevalorizado."
Nesse contexto, a estagnação da economia americana não deve afetar tanto o Brasil, mas prejudica o país, porque pode levá-lo a ficar muito dependente da Ásia. "Se continuarmos dependentes da Ásia [com destaque para a China], vamos continuar com a balança comercial ligada ao primário exportador. Não é legal ficar dependente de um único continente, sobretudo um país global como o nosso", avalia Conceição.
"O novo governo tem que preparar a indústria para enfrentar os dumpings que protegem as indústrias dos países desenvolvidos, além da formação de uma cadeia asiática de integração das indústrias da China, Japão, Índia e Coreia do Sul, todas dominando alta tecnologia e dispostas a invadir o planeta com seus produtos. A América Latina não dispõe de tecnologia para enfrentar os asiáticos. É preciso avançar também na inovação."
A chegada de multinacionais de todas as origens e procedências no Brasil, inclusive chinesas, tem disseminado a instalação no país de verdadeiras linhas de montagem dependentes de importação de peças, partes e componentes, denuncia Conceição. O Ministério do Desenvolvimento, Comércio e Indústria (Mdic), pasta para a qual foi nomeado Fernando Pimentel ["um economista muito capaz"], deve agir para conter esse processo agravado com o câmbio atual. "Não basta os juros caírem para reduzir a entrada de dólares especulativos. A coisa é mais complexa."
Ela vê necessidade de o governo regular alguns procedimentos das multinacionais no balanço de pagamentos, onde o elo mais fraco é a balança comercial. "A remessa exagerada de lucros e dividendos [que cresce brutalmente] fragiliza muito o balanço de pagamentos. O governo deveria elevar a tributação do Imposto de Renda sobre essas operações para coibir abusos das empresas estrangeiras", sugere.
O controle de capitais é um instrumento que deve continuar a ser usado para pôr fim à entrada desenfreada do dinheiro especulativo, afirma a economista. "Temos dólar sobrando e as reservas têm custo. O próprio FMI reconhece hoje as benesses dessas medidas de controle, seja taxando o dinheiro na entrada ou adotando a quarentena." Ela prega ação conjunta da Fazenda e do Mdic para colocar as contas externas no rumo do equilíbrio e restaurar a competitividade dos produtos nacionais.
Ela não espera que Dilma promova um arrocho fiscal. Também não vê a política monetária afrouxando do dia para a noite. "É possível que o juro básico não baixe muito este ano, por causa da pressão inflacionária. Não vejo, porém, a inflação disparando, pois há deflação na maioria dos países. O choque de preços de alimentos é sazonal. E é de custo. O Brasil não tem inflação de demanda." No médio prazo, ela aposta que a Selic vai recuperar a trajetória de queda, como é a vontade da presidente.
Conceição faz coro à maioria dos economistas, que espera um Brasil crescendo menos em 2011. "Se a Dilma conseguir manter a economia crescendo 5% ao ano, está muito bom", diz ela.
(*) Reportagem de Vera Saavedra Durão e publicada pelo jornal Valor, 05-01-2011.
Fonte: IHU, 05/01/2011

mistura de estímulo à exportação e proteção interna

Perspectivas da economia mundial em 2011
por Walden Bello – Sin Permiso
Em contraste com suas previsões otimistas, no final de 2009, de uma recuperação sustentada, o humor dominante nos círculos econômicos liberais no final de 2010 é sombrio, para não dizer apocalíptico. Os falcões fiscais ganharam a batalha política nos EUA e na Europa, para alarme dos defensores do gasto público, como o prêmio Nobel Paul Krugman e o colunista do Financial Times, Martin Wolf, que consideram as restrições orçamentárias como a receita mais segura para matar a incipiente recuperação nas economias centrais.
Mas ainda que os EUA e a Europa pareçam presos a uma crise mais profunda no curto prazo e à estagnação no longo prazo, alguns analistas falam de um “desacoplamento” do Leste Asiático e de outras áreas em desenvolvimento em relação às economias ocidentais. Essa tendência iniciou em 2009 na esteira do programa de estímulos massivos da China, que não só restabeleceu o crescimento chinês de dois dígitos, como tirou da recessão e levou à recuperação várias economias vizinhas, desde Singapura até a Coréia do Sul. Em 2010, a produção industrial asiática recuperou a sua tendência histórica, “quase como se a Grande Recessão nunca tivesse ocorrido”, segundo The Economist. 
A Ásia está seguindo realmente um caminho separado da Europa e dos Estados Unidos? Estamos realmente assistindo a um desacoplamento?
O triunfo da austeridade
Nas economias centrais, a indignação com os excessos das instituições financeiras que precipitaram a crise econômica deram lugar à preocupação com os déficits públicos massivos em que os governos incorreram para poder estabilizar o sistema financeiro, frear o colapso da economia real e enfrentar o desemprego. Nos Estados Unidos, o déficit se situa acima de 9% do PIB. Não é um déficit descontrolado, mas a direita norteamericana conseguiu a façanha de que o medo do déficit e da dívida federal pesasse mais no espírito da opinião pública do que o medo do aprofundamento da estagnação e do aumento do desemprego. Na Inglaterra e nos EUA, os conservadores fiscais conseguiram um mandato eleitoral claro em 2010, enquanto que, na Europa Continental, uma Alemanha retornando ao crescimento anunciou ao resto da eurozona que não seguiria subsidiando os déficits dos membros mais fracos das economias meridionais ou periféricas, como Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal.
Nos EUA, a lógica da razão deu lugar à lógica da ideologia. O impecável argumento dos Democratas de que o gasto público em estímulos à economia era necessário para salvar e criar postos de trabalho não conseguiu resistir ao assalto da tórrida mensagem Republicana, segundo a qual um maior estímulo público, acrescido dos 787 bilhões de dólares do pacote de Obama em 2009, significaria um passo mais na direção do “socialismo” e da “perda da liberdade individual”. Na Europa, os keynesianos argumentaram que o relaxamento fiscal não só ajudaria a Irlanda e as economias meridionais com problemas, como também a poderosa maquinaria econômica alemã, pois essas economias absorvem as exportações da Alemanha. Do mesmo modo que nos EUA, os argumentos racionais sucumbiram às imagens sensacionalistas, neste caso ao retrato midiático de uns esforçados alemães subsidiando hedonistas mediterrâneos e esbanjadores irlandeses. A contragosto, a Alemanha aprovou pacotes de resgate para a Grécia e a Irlanda, mas só sob a condição de que gregos e irlandeses fossem submetidos a selvagens programas de austeridade, descritos por nada menos que dois ex-ministros alemães no Financial Times como medidas antissociais “sem precedente na história moderna”.
O desacoplamento ressuscitado
O triunfo da austeridade nos EUA e na Europa, sem dúvida alguma, eliminará essas duas áreas como motores para a recuperação econômica global. Mas a Ásia encontra-se em um caminho diferente? Ela pode suportar, como Sísifo, o peso do crescimento global?
A ideia de que o futuro econômico da Ásia se desacoplou do das economias do centro não é nova. Esteve na moda antes da crise financeira derrubar a economia norteamericana em 2007-2008. Mas se revelou ilusória quando a recessão atingiu os EUA, país do qual a China e outras economias do Leste Asiático dependiam para absorver seus excedentes. Entre fins de 2008 e início de 2009, a Ásia foi atingida repentina e drasticamente. São desse período as imagens televisivas de milhões de trabalhadores chineses migrantes abandonando as zonas econômicas costeiras e regressando para o campo.
Para enfrentar a contração econômica, a China, tomada de pânico, lançou o que Charles Dumas, autor de Globalisation Fractures, caracterizou como um “violento estímulo interior” de 4 bilhões de yuanes (580 bilhões de dólares). Isso significava cerca de 13% do PIB em 2008 e constituiu “provavelmente o maior programa da história deste tipo, incluídos os anos de guerras”. O estímulo não só restituiu o crescimento de dois dígitos; também transmitiu às economias do Leste asiático um impulso recuperador, enquanto Europa e os EUA caíam na estagnação. Essa notável inversão é o que levou ao renascimento da ideia do desacoplamento.
O governante Partido Comunista da China reforçou essa ideia ao sustentar que se produziu uma mudança de política que prioriza o consumo interno em relação ao consumo orientado para a exportação. Mas se observamos o quadro com mais atenção, vemos que isso é mais retórica que qualquer outra coisa. Com efeito, o crescimento orientado para a exportação segue sendo o eixo estratégico, algo que é sublinhado pela continuada negativa chinesa de valorizar o yuan, uma política destinada a manter competitivas suas exportações. A fase de incentivo do consumo interno parece ter acabado e a China fala agora, com o observa Dumas, “em processo de mudança massivo, desde o estímulo benéfico da demanda interior até algo muito parecido ao modelo de 2005-2007: crescimento orientado para a exportação com um pouco de reaquecimento”.
Não só analistas ocidentais como Dumas tem chamado a atenção sobre esse regresso ao crescimento orientado para a exportação. Yu Yongding, um influente tecnocrata que trabalhou como membro do comitê monetário do Banco Central chinês confirma que, de fato, se voltou à prática econômica habitual: “Na China, com uma razão comércio/PIB e exportações/PIB que excede já, respectivamente, 60% e 30%, a economia não pode seguir dependendo da demanda externa para sustentar o crescimento. Desgraçadamente, com um enorme setor exportador que emprega milhões e milhões de trabalhadores, essa dependência se tornou estrutural. Isso significa que reduzir a dependência e o excedente comercial da China passa por saturar mais do que por ajustar a política macroeconômica”.
O regresso ao crescimento orientado à exportação não é simplesmente um assunto de dependência estrutural. Tem a ver com um conjunto de interesses procedentes do período da reforma, interesses que, como diz Yu, “se transformaram em interesses corporativos que lutam duramente para proteger o que tem”. O lobby exportador, que junta empresários privados, altos executivos de empresas públicas, investidores estrangeiros e tecnocratas de Estado, é o lobby mais poderoso de Beijing neste momento. Se a justificativa oferecida para o estímulo público foi derrotada pela ideologia nos EUA, na China a argumentação igualmente racional em defesa do crescimento centrado no mercado interno foi aniquilada por interesses materiais setoriais.
Deflação global
O que os analistas como Dumas chamam de regresso da China ao tipo de crescimento orientado à exportação se chocará com os esforços dos EUA e da Europa para impulsionar a recuperação mediante um crescimento orientado à exportação simultaneamente com a adoção de barreiras à entrada de importações asiáticas. O resultado mais provável da promoção competitiva dessa volátil mistura de estímulo à exportação e proteção interna por parte dos três setores que encabeçam a economia mundial em uma época de comércio mundial relativamente menos próspera não será expansão global, mas sim deflação global. Como escreveu Jeffrey Garten, antigo subsecretário de Comércio no governo Bill Clinton:
“Ainda que se tenha prestado muita atenção à demanda de consumo e industrial nos EUA e na China, as políticas deflacionárias que envolvem a União Europeia, a maior unidade econômica do mundo, poderiam afetar negativamente o crescimento econômico global... As dificuldades de levar a Europa a redobrar seu desempenho nas exportações ao mesmo tempo que em EUA, Ásia e América Latina estão posicionando suas economias para vender mais em todo o mundo, não poderia senão exacerbar as tensões, já suficientemente altas, nos mercados de divisas. Poderia levar a um ressurgimento das políticas industriais patrocinadas pelos estados, cujo crescimento já pode ser observado em todas as partes. Tomados em conjunto, todos esses fatores poderiam propagar o incêndio protecionista tão temido por todos”.
A crise da Velha Ordem
O que nos aguarda em 2011 e nos próximos anos, adverte Garten, são momentos de “turbulência excepcional, a medida que o ocaso da ordem econômica global tal como a conhecemos avança de modo caótico e, talvez, destrutivamente”. Garten destila um pessimismo que está tomando conta cada vez mais de boa parte da elite global que outrora anunciava a boa nova da globalização e que agora a vê se desintegrar literalmente ante seus próprios olhos. E esta ansiedade fin de siècle não é monopólio dos ocidentais. Ela é compartilhada pelo influente tecnocrata chinês Yu Yongding, que sustenta que o “impulso do crescimento chinês praticamente esgotou seu potencial”. A China, economia que conseguiu cavalgar a onda globalizadora com maior êxito, “chegou a uma disjuntiva crucial: se não implementar penosíssimos ajustes estruturais, poderá perder subitamente a força de seu crescimento econômico. O rápido crescimento econômico foi obtido a um custo extremamente alto. Só as próximas gerações conhecerão o verdadeiro preço a ser pago”.
A esquerda na presente conjuntura
Diferentemente das medrosas apreensões de figuras do establishment como Garten e Yu, muitas pessoas da esquerda vêem a turbulência e o conflito como a necessária companhia do nascimento de uma nova ordem. E, com efeito, os trabalhadores estão se mobilizando na China e já obtiveram aumentos salariais significativos com greves organizadas em empresas estrangeiras ao longo de 2010. Os protestos também eclodiram na Irlanda, Grécia, França, Portugal e Grã Bretanha. Mas, ao contrário da China, na Europa os trabalhadores estão marchando para manter direitos perdidos. O certo é que, nem na China, nem no Ocidente, nem em parte alguma são os resistentes portadores de uma visão alternativa à ordem capitalista global. Ao menos não ainda.
(*) Walden Bello é professor de Ciências Políticas e Sociais na Universidade das Filipinas (Manila), membro do Transnational Institute de Amsterdam e presidente de Freedom from Debt Coalition, assim como analista sênior em Focus on the Global South.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Fonte: Carta Maior, 03/01/2011

aquecimento global é um assunto “frio” ?

Ambientalistas e cientistas estão preocupados com queda do interesse público pelas mudanças climáticas

Environmentalists and scientists are worried about falling public interest in climate change
Grupos ambientalistas tentam tornar a mudança climática atraente – A quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera continua crescendo, mas o interesse público pela mudança climática está diminuindo. Os ambientalistas estão buscando novas formas de tornar o assunto mais atraente. Mas as táticas de choque podem ser um tiro pela culatra.
A mudança climática costumava sair nas manchetes. Mas hoje em dia o assunto parece ter sumido do radar. Reportagem de Axel Bojanowski, no Der Spiegel.
Líderes mundiais negociaram recentemente um novo acordo do clima na Conferência da ONU para a Mudança Climática em Cancun, México, mas o interesse do público pelo assunto foi limitado. Foi uma diferença marcante em relação à conferência climática de Copenhague, em dezembro de 2009, que foi considerada de importância histórica às vésperas do encontro, para depois fracassar de forma espetacular. O roubo de e-mails da Universidade de East Anglia prejudicou muito a imagem da pesquisa climática pouco antes da cúpula.
Ambientalistas e cientistas estão preocupados com uma queda massiva do interesse público pelo assunto durante o último ano. Agora eles estão buscando novas estratégias para mudar essa tendência. Eles estão procurando as chamadas “bombas mentais” – imagens muito fortes emocionalmente, que reduzem um problema complexo a uma mensagem essencial.
Fontes de sangue
Algumas organizações ambientais estão colocando suas apostas no fator do choque. Um comercial de uma campanha da organização ambientalista 10:10, com sede na Inglaterra, mostra um professor inflando dois alunos que não acreditavam em cortar suas emissões de carbono, com fontes de sangue espirrando por toda a sala. Outros vídeos da 10:10 dão o mesmo destino a funcionários de escritório e jogadores de futebol recalcitrantes. Mas a campanha fracassou – ela gerou protestos massivos e foi rapidamente retirada.
Um anúncio de TV do Greenpeace que tinha como alvo a multinacional Nestlé teve mais sucesso. O Greenpeace queria que o vídeo, no qual uma barra de chocolate se transforma no dedo ensanguentado de um gorila, fosse entendido como um símbolo dos danos à floresta tropical, onde a coleta de óleo palmeira para produzir chocolate destrói os habitats dos grandes símios. Depois que o vídeo causou uma reação considerável, a Nestlé prometeu parar de usar produtos que prejudiquem as florestas tropicais.
Anúncios de TV como o do Greenpeace atraem a atenção por um tempo curto, mas não são suficientes para deter a tendência da mídia de ignorar os assuntos climáticos, confirma Sebastian Metzger da organização co2online de Berlim, que mede regularmente o interesse do público pelo tema usando seu “barômetro do clima”.
“Cha-a-a-ta”
Os pesquisadores do clima confirmam um declínio perceptível nesse interesse. Hans Joachim Schellnhuber, diretor do respeitado Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto no Clima, lembra que seu telefone costumava tocar sem parar sempre que havia condições climáticas extremas. Agora quase ninguém liga, diz ele.
O aquecimento global é um assunto “frio” em termos de mídia, explicou recentemente um editor do jornal diário Tagesspiegel num programa de TV alemão. Na mesma linha, o grande jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung perguntou ironicamente em relação à cúpula de Cancun: “Espere, isso não tinha alguma coisa a ver com o clima?”
Enquanto os jornalistas debatem se o assunto da mudança climática se adequa à mídia, o New York Times citou um diretor de filmes de ciência que chamou a pesquisa sobre o clima de “cha-a-a-ta” e “provavelmente o assunto mais entediante que o mundo científico já apresentou ao público”. O problema de comunicação nessa área pode ser resolvido, mas exige que a pessoa ou o grupo certo encontrem a abordagem adequada para atingir o público.
O Greenpeace não parece ser esse grupo. Embora a organização esteja atraindo doações recordes, apenas 1% dos alemães associam o Greenpeace à proteção climática, reclama um especialista da organização ambientalista. O tópico é difícil de transmitir, disse ele, acrescentando que o Greenpeace tem uma nova campanha que deve finalmente atingir o “consumidor Zé da Silva médio”.
Estratégia falha
Uma pesquisa feita com 13 mil pessoas em 18 países, apresentada pela rede de televisão pública internacional alemã Deutsche Welle no Fórum Global de Mídia em Bonn em junho, sugere que os cidadãos comuns estão menos interessados na mudança climática do que se imaginava. A pesquisa mostrou, por exemplo, que apenas um em cada três holandeses estão preocupados com a mudança climática – embora a Holanda seja especialmente considerada uma área de risco por causa do aumento do nível do mar.
A revista científica britânica Nature identificou dois motivos para esta perda de credibilidade. Um deles foram os erros, que vieram a público há mais ou menos um ano, no relatório do clima da ONU de 2007. O outro foi o escândalo conhecido como “Climagate”, que envolveu o roubo de e-mails de pesquisadores do clima na Universidade de East Anglia. O vazamento de correspondência revelou a grande divisão entre os cientistas, que fazia com que eles escondessem alguns dados e defendessem seus próprios resultados a todo custo.
O pesquisador de comunicação Martin Ludwig Hofmann da Universidade Ostwestfalen-Lippe de Ciências Aplicadas acredita que o escândalo causou um sério prejuízo. “A estratégia de comunicação até lá dependia principalmente da credibilidade dos cientistas”, diz Hofmann. O London Times considerou os danos de relações públicas piores do que o da BP depois do vazamento de óleo no Golfo do México.
Sexo, emoção e um novo Messias
Os ambientalistas inventaram várias abordagens para tornar o tópico da mudança climática atraente novamente. A Spiegel Online apresenta um resumo de suas ideias.
* Uma mensagem emotiva: ambientalistas de cabelos longos em botes de borracha entraram numa área de caça a baleias no norte do Pacífico, capturando imagens de baleias sangrando até a morte por ferimentos de arpão. Essas fotos serviram de base para a campanha “Salve as Baleias” do Greenpeace. Foi uma “bomba mental” que encontrou um alvo direto, e as fotos de baleias tornaram não só a campanha, mas também o Greenpeace mundialmente famosos.
Mas o que funcionou para a conservação das baleis não deu certo para a proteção climática – todos os motivos simbólicos propostos fracassaram. Um urso polar sozinho num pedaço de gelo flutuante é “distante demais das pessoas”, diz Metzger da co2online. A imagem de uma nuvem de furacão – que Al Gore usou para divulgar seu filme “Uma Verdade Inconveninente” – só faz sentido em algumas regiões do mundo. O impressionante gráfico em formato de taco de hóquei das temperaturas globais, chamado assim por causa do aumento drástico na época da Revolução Industrial, é controverso entre os cientistas. Imagens de pessoas sofrendo desastres ambientais esbarram no problema de que há muita incerteza em relação ao aquecimento global ter sido de fato responsável por determinadas catástrofes. E as fotos de células solares ou turbinas eólicas não são “suficientemente comoventes”, diz Klaus Merten, pesquisador de comunicação na Universidade de Münster.
* Sexo: Talvez a arma mais potente da propaganda também possa ser usada para a proteção climática. Um experimento inicial mostrou uma pesquisadora atraente posando de maiô em frente ao gelo do Ártico. “A mudança climática é atraente” também foi o tema de vários grupos de trabalho no Fórum Global de Mídia em Bonn.
A Índia até conseguiu transformar um símbolo sexual num ícone para a proteção climática. O Shiva Lingam de gelo, uma enorme estalagmite de gelo nas cavernas Amarnath no norte da Índia, é reverenciado como um símbolo de fertilidade. Grandes veículos noticiosos do país começaram a reportar o aquecimento global desde que o símbolo fálico congelado começou a derreter.
* Um novo tipo de jornalismo: ativistas pelo clima começaram a direcionar milhões para financiar programas de treinamento para jornalistas ambientais, com o objetivo de encorajar o chamado “jornalismo de causa”. Esse tipo de jornalismo está “praticamente morto na Europa”, diz Markus Lehmkuhl, especialista em mídia na Universidade Livre de Berlim. O jornalista científico britânico Alexander Kirby alerta que os jornalistas que permanecem neutros em relação ao assunto podem prejudicar a causa da proteção climática, mas muitos de seus colegas se recusam a assumir um lado. O jornal suíço Neue Zürcher Zeitung, por exemplo, teme que a linha que separa o jornalismo científico da propaganda possa se tornar confusa. Owen Gaffney, diretor de comunicações na Academia Real de Ciências da Suécia, aconselha que, em vez de deixar que a mídia reporte sobre a mudança climática, os cientistas devem estabelecer seus próprios canais de mídia, de preferência online. “Temos mais credibilidade do que os jornalistas e precisamos tirar vantagem disso”, diz Gaffney.
* Debate crítico: O pesquisador de comunicações Klaus Merten critica as conferências ambientais como o Fórum Global de Mídia em Bonn, que, segundo ele, costumam parecer festas particulares. Ele acredita que o debate corre o risco de se reduzir e acabar, e diz que é limitante quando todos fazem parte de um grupo pequeno que nunca discorda: “as críticas dão espaço para a criatividade”. Os ativistas pela proteção climática também arriscam prejudicar sua causa quando tentam apresentar a si mesmos como totalmente objetivos, sugere Merten. “Os ambientalistas têm seus próprios interesses, como qualquer um, e eles devem revelá-los”, diz – do contrário, arriscam sua credibilidade.
* Pense pequeno: “Muitas pessoas ainda veem a catástrofe climática como algo abstrato que não têm consequências concretas”, diz Hofmann, pesquisador de comunicação. Ele recomenda uma abordagem em três etapas: isolar um problema individual causado pelo clima, reduzir esse problema a um aspecto, e então criar uma área-alvo que pode funcionar como um objetivo para medidas de proteção climática. Campanhas para “salvar a floresta tropical” foram bem sucedidas com este método, concentrando-se na perda de habitat dos orangotangos. “As pessoas querem ajudar os macacos, então apoiam a conservação das florestas”, explica Hofmann. Metzger também acredita que é necessária uma nova abordagem, uma com “menos lições e mais incentivos para tomar atitudes”. “Precisamos falar sobre soluções, não sobre problemas”, disse Ken Caldeira, pesquisador ambiental na Universidade Stanford nos EUA, na conferência em Bonn.
* Fale menos: A Anistia Internacional vem demonstrando durante os últimos 50 anos que também é possível ter sucesso usando métodos mais silenciosos. Enquanto os ativistas ambientais estavam ocupados tentando causar uma comoção, a organização de direitos humanos conseguiu um sucesso considerável enfatizando a modéstia. “Fato e ato” é o lema da organização – sem exageros, sem um foco único e permitindo aos membros decidirem por si mesmos em que áreas querem ajudar. “Em comparação”, diz Merten, “as organizações ambientais às vezes parecem corporações estéreis”.
* A busca por um novo messias: Assim como Martin Luther King Jr. despertou o movimento pelos direitos civis, a causa climática precisa de seu próprio messias, diz o pesquisador ambientalistas Andreas Ernst da Universidade Kassel. A mensagem análoga desse messias pode ser algo parecido com “Eu tive um pesadelo”, sugere Ernst. Al Gore, que ganhou um prêmio Nobel da Paz por seu filme que sacudia os espectadores para fora da complacência, pareceu exercer esse papel com sucesso por algum tempo, mas desde então ele desapareceu da vista do público.
* Uma nova linguagem científica: Os pesquisadores do clima começaram a montar novas organizações para comunicar melhor seus dados. Um pioneiro é o Centro de Serviço Climático (CSC) em Hamburgo, uma nova instituição de pesquisa de nível federal. O Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA tem planos para estabelecer uma organização semelhante, e os pesquisadores do renomado instituto australiano CSIRO sugeriram até mesmo compor uma “instituição nacional de comunicação” para coordenar melhor a comunicação dos resultados dos pesquisadores do clima para os políticos e cientistas.
O Painel Intergovernamental da Mudança Climática também quer um uso mais cuidadoso da linguagem. O órgão internacional enviou aos cientistas um código de conduta para suas interações com os jornalistas. Os cientistas devem evitar usar palavras como “risco” e “incerteza” em suas entrevistas, diz o documento, para evitar mal-entendidos – e evitar prejudicar ainda mais o movimento de proteção climática.
Tradução: Eloise De Vylder
Reportagem do Der Spiegel, no UOL Notícias.
Fonte: EcoDebate, 05/01/2011

o que tornou possível esse giro na economia...

Brevíssima história de 40 anos de políticas neoliberais
Muitos especialistas dizem que a ideologia neoliberal iniciou nos anos 80 com Reagan, Thatcher e a Escola de Chicago. Mas o que tornou possível esse giro na economia política? Que elementos, que novas forças podem explicar essa mudança ideológica e as desigualdades que a seguiram? Como os poderes que tomam decisões políticas foram sendo postos gradualmente nas mãos de um corpo de tecnocratas neoliberais que pontificavam sobre as limitações dos governos? Responder a essas questões passa por reconhecer que este processo durou décadas.
por Marshall Auerback - Sin Permiso
Um assíduo leitor de New Deal 2.0 faz uma aguda questão:
“Há uma questão que nunca consigo responder. Muitos especialistas dizem que a ideologia neoliberal iniciou nos anos 80 com Reagan, Thatcher e a Escola de Chicago. Mas sigo sem entender o que tornou possível esse giro na economia política. Que elementos, que novas forças nos anos 80 podem explicar essa mudança ideológica e as desigualdades que a seguiram?"
Todos esses temas são muito dignos de exploração e eu, quero dizer desde logo, não posso fazer justiça a eles com uma resposta de duas linhas. É melhor recomendar o soberbo livro de Yves Smith, Econned. O livro proporciona uma excelente explicação histórica do modo como algumas teorias infundadas, mas amplamente aceitas, levaram à execução de políticas que geraram o atual estado de coisas. Também ilumina a capacidade dessas filosofias para ressuscitar mesmo quando se acumulam provas conclusivas contra elas. Documenta não só a crescente degradação dos economistas profissionais neoclássicos (e sua concomitante tendência a reduzir a soma da experiência humana a uma série de equações matemáticas), mas também a maneira pela qual fundações muito bem financiadas subvencionaram universidades e think tanks que, por sua vez, legitimaram e validaram essas filosofias charlatanescas.
A ideia de que governos democraticamente eleitos devem servir-se de políticas fiscais discricionárias para contraestabilizar as flutuações do ciclo do gasto público chegou a ser visto como algo muito próximo ao socialismo. Os poderes que tomam decisões políticas foram postos gradualmente nas mãos de um corpo de tecnocratas neoliberais que pontificavam sobre as limitações dos governos e reforçavam as posições fiscalmente pró-cíclicas, ou seja: reforçavam a contração discricionária quando os estabilizadores automáticos levavam a grandes déficits orçamentários como resultado da frágil demanda não-pública.
Essa mudança em nossas políticas públicas foi acompanhada por um processo de tomada de controle dos juristas em uma longa marcha através do poder Judiciário. Foi um esforço patrocinado pelas grandes empresas, centrado exclusivamente no tema da desregulação, e culminou com um esforço titânico para revogar as reformas do New Deal, limitar o poder dos sindicatos e do próprio governo (salvo em matéria de Defesa, cabe assinalar, que organizou seu próprio e formidável exército de lobistas).
Responder a questão colocada por nosso leitor passa por reconhecer que este foi um processo que durou décadas e que veio acompanhado de enormes somas de dinheiro e de vasto exército de forças empresariais, jurídicas e políticas, empenhado em frustrar qualquer alternativa progressista. O processo inteiro ocorreu em um período de aproximadamente 40 anos. Flexibilização da regulação e da supervisão; uma crescente desigualdade que levou às famílias a se endividar para manter o nível de gasto; cobiça e exuberância irracional e liquidez global excessiva: todos esses são sintomas do mesmo problema.
Mas como tudo começou? A análise que o grande economista Hyman Minsky realizou no final de sua vida é particularmente potente, porque permite ver essas mudanças a partir de uma vasta perspectiva histórica. Minsky chamou a situação de saída da II Guerra Mundial de “capitalismo paternalista”. Ela se caracterizava por um “enorme Tesouro público” (cujo custo equivalia a 5% do PIB) dotado de um orçamento que oscilava contraciclicamente a fim de estabilizar a renda, o emprego e os fluxos de lucros; um Banco Central ao estilo de um “enorme banco” que mantinha baixas as taxas de juros e intervinha como emprestador último de recursos; uma ampla variedade de garantias estatais (seguro de depósitos, respaldo público implícito ao grosso das hipotecas); programas de bem estar social (Seguridade Social, ajuda às famílias com filhos dependentes, ajuda médica); estreita supervisão e regulação das instituições financeiras; e um leque de programas públicos para promover a melhoria da renda e a igualdade de riqueza (tributação progressiva, leis de salário mínimo, proteção para o trabalho sindicalmente organizado, maior acesso à educação e à habitação para pessoas de baixa renda).
Além disso, o Estado jogava um papel importante em matéria de financiamento e refinanciamento (por exemplo, a corporação pública para financiar a reforma de imóveis e a corporação pública para o crédito destinado à compra de imóveis) e na criação de um mercado hipotecário moderno para a compra de imóveis (baseado em um empréstimo de tipo fixo amortizável em 30 anos), sustentado por empresas patrocinadas pelo Estado. Minsky reconheceu o papel desempenhado pela Grande Depressão e pela II Guerra Mundial na criação de bases para a estabilidade financeira. Nas palavras de Randy Wray:
“A Depressão pulverizou e expulsou o grosso dos ativos e passivos financeiros: isso permitiu às empresas e às famílias saírem com pouca dívida privada. O ciclópico gasto público durante a II Guerra Mundial criou poupança e lucro no setor privado, enchendo os livros de contabilidade com dívida saneada do Tesouro (60% do PIB, imediatamente depois da II Guerra). A criação de uma classe média, assim como o baby boom, mantiveram alta a demanda de consumo e alimentaram um rápido crescimento do gasto público dos estados federados e dos municípios em infraestrutura e em serviços públicos demandados pelos consumidores metropolitanos.
A elevada demanda dos entes públicos e dos consumidores trouxe por sua vez consigo a possibilidade de se cobrir o grosso das necessidades das empresas para financiar o gasto interno, incluindo os investimentos. Assim, durante as primeiras décadas que se seguiram à Segunda Guerra, o capital financeiro desempenhou um papel muito menor. A lembrança da Grande Depressão gerou relutância em relação ao endividamento. Os sindicatos pressionavam e, frequentemente, obtinham mais e mais compensações, o que permitiu o crescimento dos níveis de vida, financiados em sua maior parte somente com a renda dos trabalhadores”.
Na década de 1970 tudo isso começou a mudar, como é bem explicado em Econned. O gasto público começou a crescer mais lentamente que o PIB; os salários ajustados à inflação se estancaram a medida que os sindicatos perdiam poder; a desigualdade começou a crescer e as taxas de pobreza deixaram de cair; as taxas de desemprego dispararam; e o crescimento econômico começou a desacelerar.
Nos anos 70 assistimos também aos primeiros esforços sustentados para fugir das restrições impostas pelo New Deal, a medida que as finanças respondiam para aproveitar as oportunidades. Com o desastroso experimento monetarista de Volcker (1979-82), muitos dos velhos vestígios do sistema bancário estabelecido pelo New Deal foram arrasados.
O rito de inovações se acelerou a medida que foram se adotando muitas práticas financeiras novas para proteger as instituições do risco da taxa de juros. A despeito de todas as apologias feitas sobre os anos de Volcker a frente da Federal Reserve, o certo é que suas políticas de juros altos assentaram as bases do atual sistema financeiro baseado no mercado, incluídas a titulação hipotecária, a inovação financeira na forma de derivativos para cobrir o risco das taxas de juros, assim como muitos dos veículos financeiros “extra contábeis” que proliferaram nas duas últimas décadas. Legislou-se para criar um tratamento fiscal muito mais favorável aos juros, o que, por sua vez, estimulou as compras alavancadas para substituir ativos por dívida (como a tomada de controle empresarial financiada com dívida que seria servida pelos futuros fluxos de receita da empresa assim controlada).
Os excedentes orçamentários dos anos Clinton – outro exemplo de ascendência de uma filosofia neoliberal que fugiu da política tributária e determinou a primazia da política monetária – restringiram a demanda agregada, encolheram as receitas e criaram uma maior dependência da dívida privada como meio de sustentar o crescimento e as receitas. Esse foi claramente facilitado por inovações que ampliaram o acesso ao crédito e mudaram os critérios das empresas e dos lares para definir o nível de endividamento prudente. O consumo conduzia o timão e a economia voltou finalmente aos rendimentos dos anos 60. Regressou o crescimento robusto, agora alimentado pelo déficit do gasto privado, não pelo crescimento do gasto público e da receita privada. Tudo isso levou ao que Minsky chamou de capitalismo dos gestores do dinheiro.
Esse é o contexto histórico básico que veio se desenvolvendo nos últimos 40 anos. E essa é, provavelmente, uma resposta que vai mais além do que nosso amável leitor queria, mas sua questão não é daquelas que possa ser respondida laconicamente.
(*) Marshall Auerback é analista econômico, pesquisador do Roosevelt Institute, colaborador da New Economic Perspectives e da NewDeal 2.0.
Tradução para SinPermiso: Casiopea Altisench
Tradução para Carta Maior: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior, 04/01/2011

terça-feira, janeiro 04, 2011

"bolas de algodão no ar... e cheiro insuportável"

A febre do gás nos EUA

por Alfonso Daniels | enviado especial à Pensilvânia
"Na segunda-feira, veio a névoa. Havia um caminhão junto ao poço de gás lá embaixo, no vale. Podíamos ver a névoa saindo dali. Ao entardecer, dirigimos pela estrada e parecia haver bolas de algodão no ar. O cheiro era insuportável", contou Carol Jean Moten, uma afro-americana de 52 anos que vive na pequena localidade rural de Rae, no sudoeste da Pensilvânia, nos Estados Unidos, comentando que a contaminação é tanta que é preciso usar água engarrafada até para tomar banho.
Assim como Moten, muitos habitantes da região denunciam a poluição do ar e dos aquíferos desde que a febre do gás tomou conta do lugar, no coração do Marcellus Shale – uma formação rochosa a mais de 1.000 metros de profundidade. Acredita-se que o lugar contenha a segunda maior reserva de gás natural do mundo, acessível apenas há poucos anos, graças a novas tecnologias de extração. 
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Alfonso Daniels/Opera Mundi 
Moten, que mora em Rae, é contra a presença da empresa na região
Das colinas cobertas por bosques frondosos, pastos e fazendas pitorescas, agora podem-se ver por todo lado depósitos pintados de verde ao lado de poços de gás, tubulações e enormes torres perfuradoras. Mesmo assim, o tema só saltou ao primeiro plano há pouco tempo, quando se soube que o diretor estadual de Segurança, James Powers, contratou uma empresa particular para espionar grupos contrários à exploração, apoiados pelo ator hollywoodiano Mark Ruffalo. Powers, supostamente, passaria informações obtidas com espionagem a empresas de energia. O escândalo levou à sua demissão.
"Estamos recebendo queixas de saúde de pessoas que atribuem os problemas às perfurações de gás, como dores de cabeça, náuseas, agravamento de asma e, às vezes, sangramento do nariz. Alguns fazendeiros também denunciam a morte de animais. Podem ser milhares de pessoas afetadas, mas ainda desconhecemos a real extensão do problema", afirmou o especialista em saúde pública Conrad Dan Volz, da Universidade de Pittsburgh, ao Opera Mundi.
"Há dois anos, mal havia infraestrutura de gás nesta região. Desde então, foram perfurados mais de 2 mil poços de gás na Pensilvânia e, no futuro, espera-se que sejam perfurados até 7 mil por ano. Agora, isto é o Velho Oeste, a mentalidade do faroeste no leste dos EUA. O governo federal realmente precisa intervir para controlar o que está acontecendo", acrescentou.
Os ativistas contrários ao gás acusam as empresas de contaminar o ar e os aquíferos, a maior fonte de água potável do estado, por causa da infiltração de gás e substâncias tóxicas usadas na fratura hidráulica, ou fracking. Nesse processo de extração, são injetados milhões de litros de água a alta pressão com areia e produtos químicos tóxicos, provocando miniterremotos que liberam o gás. Nova York, por exemplo, decretou uma moratória de prospecções de gás Marcellus no estado até que seja esclarecido o impacto do fracking sobre a água.
As autoridades da Pensilvânia admitem ter descoberto cerca de 500 violações ambientais no estado, entre elas a infiltração de gás metano na água corrente de uma dezena de casas em uma localidade no noroeste do estado no ano passado. Mas reduzem a importância desses problemas lembrando que toda indústria pesada implica riscos e garantindo ter recursos suficientes para controlá-la.
Ron Gullas, ex-trabalhador do setor petrolífero de 55 anos, que comprou uma fazenda na década de 90 perto do lugar onde vive Moten, não está satisfeito. Há oito anos, ele firmou um acordo de arrendamento com a empresa Range Resources, pioneira na extração de gás, que depois perfurou quatro poços, incluindo o segundo poço Marcellus, em sua propriedade. Um acordo do qual ele se arrepende. 
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Alfonso Daniels/Opera Mundi 
Para Gullas, o acordo de arrendamento com a Range Resourses não valeu a pena

"Tenho tido problemas desde quando eles chegaram. Tenho um pequeno lago onde pescava, mas de repente a água escureceu e tudo morreu. A água da torneira também mudou, quando você escova os dentes, a boca fica com um sabor metálico. Até hoje a água cheira mal, isso não acontecia antes", comentou Gullas, furioso, ao lado dos depósitos de gás situados em uma colina que domina sua fazenda, denunciando as autoridades estaduais por ignorarem seu caso. 
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Quando nos despedíamos, apareceu seu vizinho, Emile Alexander, que vive há 35 anos na fazenda do outro lado da estrada. "O que está acontecendo é um escândalo, estão contaminando toda a água. A água de um poço aqui ao lado se encheu de gás metano", afirmou ele assim que se aproximou, negando que isso possa se explicar por causas naturais. "Os problemas começaram com o início das perfurações de gás, em 2007. Havia tanto gás que a água do poço chegava a ferver. Era possível escutar a vários metros de distância."
Matt Pitzarella, representante da Range Resources, empresa pioneira na região e que opera na propriedade de Ron Gullas, reconheceu que ocorreram acidentes, mas garantiu que são casos excepcionais. "O problema é que estamos no lugar onde nasceu a indústria do carvão, e aqui as pessoas temem que sejamos o segundo advento do carvão de um século atrás. A Pensilvânia tinha problemas de qualidade da água de seus poços muito antes de chegarmos, mas agora nos culpam por tudo", disse ao Opera Mundi.
Pitzarella afirmou que apenas uma parte ínfima dos poços de gás teve um impacto negativo sobre a qualidade da água potável e citou uma pesquisa estadual realizada no ano passado afirmando que 43% dos poços de água da região não cumpriam os requisitos de qualidade recomendados, graças em parte à construção fora dos padrões. "Isso não quer dizer que sejamos perfeitos. Trata-se de um processo industrial e há acidentes, mas, em comparação com outras indústrias, estamos nos saindo muito bem." 
Alfonso Daniels/Opera Mundi 
Apesar de impulsionar a economia da região, a indústria impactou negativamente a região
O impacto positivo dessa indústria na região é claro. Os hotéis e restaurantes estão lotados por milhares de trabalhadores especializados vindos de outras partes do país, e alguns fazendeiros até criaram pequenas empresas para prestar serviços às companhias exploradoras, incluindo a reparação de estradas. Entre eles está Ron Romanetti, de 65 anos, dono de uma bela fazenda de 60 hectares onde cultiva milho e cria gado. Ele tem dois poços de gás em sua propriedade e criou uma empresa que já tem nove empregados para alugar maquinaria pesada às companhias de gás.
"Os direitos começam em 12,5%. Quando chegaram, aluguei o terreno por 100 dólares o hectare, mas tem gente que chega a cobrar 5 mil dólares por ano. É como ganhar na loteria", afirmou Romanetti, diante de sua enorme casa rústica que domina a propriedade. Quando lhe perguntei sobre as queixas de alguns vizinhos, ele negou com a cabeça: "Quem reclama não faz ideia do que está falando. Muitos compraram propriedades, mas depois descobriram que não tinham os direitos minerais sobre elas, e por isso agora estão irritados. Estão perfurando centenas de metros sob a terra, não creio que a água injetada volte para cima. Eu, pelo menos, não fui afetado." 
Fonte: Opera Mundi, 03/01/2011

segunda-feira, janeiro 03, 2011

transição de uma lógica econômica e tecnológica para outra

“Precisamos de um socialismo ecológico”, afirma economista mexicano
Enrique Leff não é um velho hippie ou um ecologista fanático. Mas para o economista mexicano, é impossível discutir economia hoje sem levar em conta a crise ambiental e as mudanças climáticas. Um dos maiores expoentes da corrente “ecomarxista”, Leff é doutor em Desenvolvimento pela Universidade de Sorbonne, leciona Ecologia Política na Universidade Autônoma do México e coordena a Rede de Formação Ambiental para a América Latina e Caribe do programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUD). Ele conversou com o Opera Mundi em Manaus durante o TEDx Amazônia, conferência independente realizada em Manaus. 
Divulgação 


Leff: a transição de uma lógica econômica e tecnológica para outra, com princípios ambientais 
O senhor costuma dizer que a humanidade errou. Como esse erro gerou a atual situação, em sua opinião, uma “insustentabilidade da vida”? 
A civilização ocidental gerou uma forma de compreensão que transforma o mundo em objeto, não respeitando a essência da natureza e do ser humano. As religiões judaico-cristãs pensavam o ser humano como criação divina, mas com direito de intervir sobre todos os seres vivos, com quase uma obrigação de subjugar a natureza. Depois houve muitos momentos de construção desse pensamento, como a fundação da metafísica, da filosofia grega. Ali se começa a pensar o mundo não como um ser complexo, mas como entes, coisas. É também o começo da fragmentação do mundo – não se via mais a vida em termos de processos complexos, interatuantes, interdependentes. E começava também uma obsessão de unidade do mundo, de ideias universais. Isso permanece ao longo de todo esse trajeto que vai desde a concepção originária da metafísica até a ciência moderna. 
No fundamento da ciência moderna essa lógica se perpetua? 
Sim. A ciência não é o conhecimento universal. É um modo de produção de conhecimento. Mas foi idealizada pela modernidade como a forma suprema de criação de conhecimento. E pretende gerar um controle; é a ideia de controlar a natureza. A ciência pretendeu e pretende ainda chegar a um conhecimento objetivo da vida. Com isso, gerou também uma ideia de progresso, de que o destino dos seres humanos teria que ser um processo sempre crescente. Com todas essas ideias de fundo, vem o mito da ciência capaz de gerar conhecimentos sem a intervenção das paixões, dos interesses dos cientistas ou de grupos sociais. 
Quando essa lógica passa da ciência para a economia? 
No período da revolução industrial, dois fatos foram determinantes. O primeiro, a construção do novo modo de produção com a máquina de vapor, transformou a lógica do trabalho, surgindo o trabalhador desumanizado, destinado a produzir. Ao mesmo tempo, ciência econômica imaginada estava sendo estabelecida. Karl Marx fez uma crítica de uma lucidez maravilhosa e profunda para desentranhar onde que estava a relação social de dominação no modo de produção, que se pensava neutra... 
Como uma lei natural. 
Sim, como algo natural. Não se pensou que era uma relação de dominação, mas que o capital era mais forte que a força de trabalho, e assim se equilibravam as forças de produção para gerar uma produção de bem-estar. Uma falácia. A partir disso, a ciência e a tecnologia foram usadas para manter o capital produtivo, para salvar as crises cíclicas do capital. E finalmente a força de trabalho começou a ser substituída por uma aplicação direta da ciência convertida em tecnologia. Ou seja, não tem nem o humano. Hoje, o grande suporte do capital não é mais a força de trabalho. Isso gerou uma artificialidade, que é a economia completamente isolada da natureza. Não quer dizer que ela não utiliza a natureza, mas que utiliza a natureza já tratada como objeto, retirada dessa trama complexa que faz com que a biosfera continue a funcionar como um planeta vivo. 
Onde Marx errou? 
Marx foi o maior pensador crítico, mas nenhum pensamento é um pensamento final. Não conseguiu chegar nisso que agora chamamos de ecomarxismo, ou a segunda contradição: o capital estava se construindo sobre a destruição de suas bases ecológicas de sustentação. Estava objetivando, fragmentando a natureza, rompendo ciclos ecológicos necessários para manter a oferta de natureza de que a economia precisa. O que a economia fez foi explorar em demasia o trabalho, mas ao mesmo tempo, exauriu a natureza. Podemos dizer que Marx estava inserido no seu tempo. Em 1860 se acreditava que a natureza conseguiria se recuperar sempre. Não é o caso hoje. Mais de 100 anos depois, podemos fazer a crítica e avançar em uma conceitualização ainda mais complexa do que esse modo de produção gera. É por isso que precisamos de um socialismo ecológico, com foco na mudança dessa racionalidade econômica. Não é só uma questão do protelariado tomar os meios de produção, não é uma mudança de mãos do mesmo processo, é uma transformação profunda dessa racionalidade econômica. 
Então, um marxista hoje tem que considerar a questão ambiental? 
Sem dúvida. Hoje não se pode continuar a ser marxista sem pensar nessa contradição entre capital e natureza. O aquecimento global é gerado pela economia, não é uma coisa natural. É isso que ninguém compreende. Nem mesmo os cientistas, os políticos que discutem o aquecimento global. Precisamos entender que não é só uma questão da economia estar produzindo escassez da água, de recursos naturais, mas que está gerando a morte entrópica do mundo. 
Como mudar essa racionalidade? 
O primeiro passo é baixar a ciência do pedestal. A ciência construiu coisas maravilhosas, mas é só um modo de produção de conhecimentos. Não é o único, a vida humana gerou outros modos de compreensão do mundo. A academia não somente tem que ir para a interdisciplinaridade dentro da academia, mas debater os princípios científicos com outros princípios, como os saberes tradicionais. Hoje em dia há um grande debate se devemos seguir construindo pelas potencialidades da ciência e da tecnologia, ou se deve haver uma ética para normalizar essas potencialidades, porque a ciência gera grandes possibilidades, construiu a bomba atômica, o genoma humano que pode agora produzir seres vivos... É disso que estamos falando, é uma questão ética. 
Outro conceito que você aponta nesse novo paradigma é o da alteridade... 
A ciência gerou uma unificação do mundo através da dominação do sistema de mercado, a globalização econômica. Cria hábitos e formas de viver unificadas. A desconstrução desse modelo de produção deve pensar a produção a partir de potenciais ecológicos de cada território. A articulação entre a conformação de um território natural e uma cultura gera um mapa de modos diferenciados de produção que não podem ser unificados pela lei do mercado. Devemos conviver nessas diferenças. Mas a alteridade é um conceito ainda mais forte. A ciência diz que vamos construindo sobre as certezas que ela descobre, o que é errado. A verdade, se aceitarmos nossa condição de seres humanos, de seres simbólicos, é que nós não vamos nunca atingir um momento de totalidade, de sapiência absoluta. 
Fonte: Opera Mundi, 26/12/2010

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