sexta-feira, julho 15, 2011

mitos que se foram perpetuando nas escolas e faculdades

O DESPERTAR DOS MÁGICOS: OS MITOS DA ECONOMIA CONSERVADORA
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As teorias dos economistas conservadores foram totalmente desmentidas pela crise. Eles deveriam estar escondidos cheios de vergonha. Mas não é isso que acontece. Muito pelo contrário. Os economistas conservadores ganharam mais força. Por quê? A razão é que os mitos em que fundamentam as suas posições são profundamente enraizados numa cosmovisão básica, de uma grande quantidade de pessoas, para não dizer da maioria das pessoas. Os mitos sobre a economia que se foram perpetuando nas escolas de economia, fundiram-se com as crenças mais ingênuas e perigosas dos nossos tempos.
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Os economistas conservadores saíram desacreditados pela crise. Ao fim e ao cabo eles prometeram igualdade, prosperidade e até um mundo menos doente do ponto de vista ambiental. A única coisa que nos deram foi um colapso econômico gigantesco, com desemprego e pobreza. Deveriam estar escondidos cheios de vergonha.
Mas não é isso que acontece. Muito pelo contrário. Os economistas conservadores ganharam mais força. Por quê? A razão é que os mitos em que fundamentam as suas posições são profundamente enraizados numa cosmovisão básica, de uma grande quantidade de pessoas, para não dizer da maioria das pessoas.
Na arca de mitos em que se fundamenta a economia conservadora ou neo-clássica, existem três particularmente importantes. Não importa quanta evidência empírica de sentido contrário você possa encontrar, nunca poderá convencer os fiéis desses dogmas. De qualquer forma, aqui lhes oferecemos algumas pedras para atirar às brilhantes vitrinas em que têm essas crenças.
O primeiro mito está baseado na ideia de que o mundo da economia forma um sistema autônomo que regula a si mesmo. A metáfora mais bem sucedida (e perigosa) é que a economia é uma espécie de máquina. E como se regula, há que deixá-la trabalhar sem perturbar a sua dinâmica.
A teoria econômica passou mais de 200 anos a tentar provar que de fato o sistema econômico se auto-regula e que, portanto, não necessita de intervenção do governo nem da esfera da política. A evidência de crises recorrentes poderia ter sido suficiente para provar o contrário. Mas, confrontados com histórias de crise, os neoclássicos podiam sempre argumentar que foram causadas justamente por intervenções irresponsáveis dos governos.
O debate deslocou-se para o mundo dos modelos matemáticos. O programa de investigação dos economistas era simples: construir um modelo matemático capaz de reproduzir as condições em que as forças de mercado conduzem ao equilíbrio. Mas o modelo mais sofisticado e refinado da teoria econômica neoclássica demonstrou que, em geral (salvo exceções aberrantes) o sistema de mercado é instável. Então, para onde quer que se olhe: ou história econômica ou modelos matemáticos puros, a verdade é que a ideia de mercados auto-regulados que conduzem ao equilíbrio não tem nenhuma base racional.
O segundo mito é que a economia de um governo é como uma casa. E tal como uma família tem de medir o seu consumo, o governo também tem que restringir o gasto para baixar o montante dos seus rendimentos. Desta visão vem a ideia de que em tempos de crise, tal como o faria uma família, há que apertar o cinto. É o que recomendam constantemente os chamados falcões da austeridade fiscal no debate sobre a política fiscal em todo o mundo.
A realidade é diferente. Para começar, as famílias não podem estabelecer cargas fiscais e coletar receitas através de impostos. Nem vi famílias que vivam centenas de anos, que incorram num déficit constante e que acumulem dívida, como fazem os governos. Normalmente as dívidas domésticas têm de ser resolvidas de uma forma ou de outra.
No limite, os governos podem emitir moeda, algo que os particulares também não podem fazer. Alguns dirão que precisamente para evitar abusos se deu autonomia ao Banco Central. Mas se você observar com cuidado o comportamento da Reserva Federal dos EUA pode constatar que a política monetária não se assemelha nada ao comportamento de uma família.
O terceiro mito é que cada classe social ou grupo recebe como remuneração aquilo com que contribui para a economia. Essa crença é a que está mais profundamente enraizada nas pessoas e atravessa o espectro de todas as classes sociais. Parece que em algum lugar no imaginário coletivo habita a lenda de que o rendimento das pessoas é proporcional à sua contribuição para o produto nacional. O corolário é que a ordem econômica é justa, mas a realidade é que nada na teoria econômica dá sustento a esta ideia. A distribuição de rendimento não está determinada por qualquer lei ou outro mecanismo econômico.
Simplesmente e apenas depende das relações de poder.
Isso não significa que as variáveis econômicas não sejam importantes. Pelo contrário. São muito mais importantes do que se pensa quando se coloca uma das lentes deste mito pernicioso que tudo distorce. O saldo fiscal, a inflação, a criação de moeda e nível salarial, tudo isso merece uma atenção cuidadosa, sem mitologias e crenças mais relacionadas com a bruxaria do que com o pensamento racional.
Os mitos sobre a economia que se foram perpetuando nas escolas e faculdades de economia, fundiram-se com as crenças mais ingênuas e perigosas dos nossos tempos. Talvez essas crenças tenham mais a ver com aquelas Forze elementari sobre as quais escreveu Gramsci na sua análise sobre o fascismo.
(*) Traduzido por Paula Sequeiros para o Esquerda.net
Fonte: Carta Maior | Economia, 15/07/2011

a credibilidade dos órgãos jornalísticos não é meramente um assunto doméstico

A globalização da ética de imprensa
"Não são apenas o capitalismo selvagem e a especulação financeira que rasgam fronteiras. As preocupações humanitárias em geral e a ética jornalística em particular também se globalizam como valores universais. É a isso que Murdoch terá de prestar contas. E com isso ele talvez não contasse", escreve Eugênio Bucci, professor da ECA-USP e da ESPM, em artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo, 14-07-2011.
Eis o artigo.
O fechamento do tabloide inglês The News of the World, que vendia 2,6 milhões de exemplares, deu a largada para a principal discussão sobre ética de imprensa no mundo globalizado. A partir de agora está claríssimo: a conduta dos órgãos encarregados de informar a sociedade é uma pauta supranacional. Não é apenas o capital que viaja em segundos de um continente para outro. Não são apenas as massas trabalhadoras que migram clandestinamente para disputar empregos em terras estrangeiras. Não é apenas a indústria da diversão que alcança simultaneamente os olhares de povos distantes entre si. Agora ficou evidente: a credibilidade dos órgãos jornalísticos não é meramente um assunto doméstico, ela floresce e sucumbe na arena global.
Já veremos por quê. Antes façamos uma recapitulação sumária do que se passou.
Esse jornal, The News of the World, tinha 168 anos de idade. Desde 1969 pertencia à News Corporation, o megaconglomerado internacional, com faturamento na casa dos US$ 33 bilhões ao ano, controlado pelo australiano Rupert Murdoch. Vivia de bisbilhotagem, luxúria e algum sangue. Vivia muito bem, apesar do lento declínio em circulação, que vinha de décadas. Sua fórmula editorial ia dos aposentos da família real em Londres às estripulias transoceânicas dos astros do show business, passando por bestialidades a granel.
Há poucos anos, seus métodos "jornalísticos" passaram a ser contestados. No site da Press Complaints Commission - instituição encarregada da autorregulamentação da imprensa britânica - há queixas de escutas clandestinas contra ele. Na esfera policial também houve investigações. Um jornalista do News of the World, Clive Goodman, chegou a ser preso em 2007.
Tudo isso não é novo, portanto. Mas até então se acreditava que os crimes registrados eram desvios individuais, casos isolados, como se diz. Agora se viu que não. Os crimes são mais sérios e muito mais numerosos. Segundo apontam as investigações, seriam mais de 4 mil os telefones grampeados pelo jornal. Estamos falando, portanto, da industrialização do grampo. Gerenciar milhares de escutas clandestinas é uma operação de monta: requer equipes treinadas, orçamentos bem planejados, estruturas próprias. Os inquéritos vão dando conta de que o News não era uma redação jornalística - era uma agência de arapongas assalariados.
Descobriu-se mais. Além de grampear celebridades - o que já constitui uma ilegalidade inaceitável, que se situa fora do campo do jornalismo -, o jornal teria invadido celulares de pessoas comuns, que não dependem do estrelato para inflar seus cachês. Grampeou parentes de soldados mortos. Grampeou até a adolescente Milly Dowler. A garota estava desaparecida - soube-se depois que já tinha sido assassinada - quando detetives contratados pelo News apagaram mensagens de seu celular, o que causou nos familiares a impressão de que ela ainda estava viva. Com isso o caso ganhou uma sobrevida - e, em consequência, a cobertura do caso, liderada pelo News of the World, também ganhou sobrevida. Lucrativa.
Essas revelações estarreceram a Inglaterra. O tabloide era um serial killer da privacidade de gente comum. Anunciantes caíram fora. Os protestos se generalizaram. Murdochfechou o semanário, na tentativa de estancar a sangria de reputação e de salvar um objetivo maior: ele queria comprar a totalidade da BSkyB, um poderoso grupo de canais a cabo do qual já é sócio. A tentativa não deu certo. O quadro só se complicou. Andy Coulson, ex-diretor do News of the World e porta-voz de David Cameron, o primeiro-ministro britânico, até janeiro de 2011, foi preso na sexta-feira passada. Só foi liberado sob fiança. O ex-primeiro ministro Gordon Brown diz que também foi grampeado. A crise do tabloide virou uma crise no Parlamento. Políticos de correntes várias passaram a contestar em público as pretensões do dono da News Corp., a tal ponto que, ontem mesmo, Murdoch anunciou que desistiu da compra da BSkyB. Ele está acuado.
Na Inglaterra e no mundo.
Aí é que entram as razões da internacionalização desse debate. O escândalo dos grampos virou notícia no mundo todo porque o conglomerado de Murdoch está no mundo todo - e se ele faz por aí o que parece ter feito em Londres, isso diz respeito a todos nós. Ontem pela manhã a Rádio CBN noticiou em primeira mão no Brasil que o senador democrata Jay Rockefeller pretende investigar o grupo de Murdoch nos Estados Unidos. Um dos jornais que mais se destacaram na cobertura dos bueiros da News Corp. - depois do diário inglês The Guardian - é o americano The New York Times, que vem sofrendo uma concorrência frontal do Wall Street Journal, comprado, em 2007, por ninguém menos que Murdoch. Na Newsweek desta semana, o jornalista Carl Bernstein - autor, ao lado de Bob Woodward, da série de reportagens sobre o escândalo de Watergate, publicadas no Washington Post, que levaram a renúncia de Richard Nixon, em 1974 - lança a pergunta que só ele pode fazer: será que esse escândalo não é o Watergate de Murdoch?
O sentimento geral foi bem sintetizado pela revista The Economist de quinta passada: "Se ficar provado que os diretores da News Corporation agiram contra a lei, eles não deveriam mais comandar nenhum jornal ou estação de TV. Deveriam estar na cadeia". Isso vale para qualquer país. No mundo de hoje, as práticas dos tabloides ingleses viraram tema do interesse público internacional.
Sim, isso mesmo. Existe um interesse público internacional, ainda que difuso, rarefeito, pouco institucionalizado. Não são apenas o capitalismo selvagem e a especulação financeira que rasgam fronteiras. As preocupações humanitárias em geral e a ética jornalística em particular também se globalizam como valores universais. É a isso que Murdoch terá de prestar contas. E com isso ele talvez não contasse.
Fonte: IHU | Notícias, 14/07/2011 

quinta-feira, julho 07, 2011

"é o ícone, a maravilha, a identidade não só do habitante local, mas de todos os peruanos"

Machu Picchu comemora seu centenário com festa

Machu Picchu (Peru), 7 jul (EFE).- O Peru comemora nesta quinta-feira os cem anos de apresentação ao mundo de Machu Picchu, e o faz com uma festa nas ruínas que são ao mesmo tempo a imagem internacional do país e a encarnação da identidade peruana.
O Governo peruano batizou oficialmente o ano de 2011 como "o do descobrimento de Machu Picchu para o mundo", e durante os últimos meses realizou desde exibições de xadrez com as ruínas de fundo até visitas de estrelas de Hollywood e meio a uma longa lista de atividades que nesta quinta-feira chegam a seu ponto culminante.
A cerimônia principal contará com a presença de boa parte do Governo central, como o presidente Alan García, um dos grandes incentivadores das celebrações.
Está previsto um grande espetáculo cênico e audiovisual aproveitando a noite na cidadela, um ato pensado para televisão e dirigido pelo diretor de cinema Luis Llosa, mais uma mostra da promoção que as celebrações pelo centenário buscam.
Uma boa razão para a publicidade é que Machu Picchu, com os cerca de 800 mil visitantes em 2010, representa 70% da receita turística do Peru, o que ajuda na preservação e nos cuidados da imagem internacional do entorno.
"Uma pessoa pode até não conhecer o Peru, mas já ouviu falar em Machu Picchu como um dos pontos mais importantes da América do Sul", afirmou o diretor do Parque Arqueológico de Machu Picchu, Fernando Astete.
Outra mostra desta importância é a data escolhida para as celebrações: em vez do dia 24 de julho, data em que o americano Hiram Bingham chegou a Machu Picchu em 1911, o Governo decidiu celebrá-la em 7 de julho, quando a cidadela inca foi escolhida como uma das novas sete maravilhas do mundo.
Mas Machu Picchu não é só a principal imagem pela qual o Peru é conhecido no mundo, também representa para grande parte dos peruanos um orgulho no qual eles gostam de se ver refletidos.
"É o ícone, a maravilha, a identidade não só do habitante local, mas de todos os peruanos", afirmou Luis Flórez, o prefeito de Cuzco, porta de entrada para Machu Picchu.
Flórez dirigiu na quarta-feira em Cuzco sua própria celebração pelo centenário de Machu Picchu, uma cerimônia com a participação de prefeitos vindos de todo o país para homenagear as pessoas que colaboraram no estudo e na promoção da cidade inca.
O ato teve danças e música tradicional da serra peruana e inclusive um dos discursos principais foi feito na língua quíchua pelo presidente da Academia Maior da Língua Quíchua, Fernando Formosa, em uma clara reivindicação da essência andina de Machu Picchu.
Alguns moradores criticam o fato de duas celebrações distintas pelo centenário, uma limenha e outra de Cuzco, e justificam que enquanto a cidadela é sucesso turístico existem povoados próximos ainda vivendo extrema pobreza.
"Há povoações e comunidades próximas às quais não chega um único centavo, não têm água potável e o esgoto corre a céu aberto", lamentou Américo Rivas, natural de Cuzco e estudioso da vida de Agustín Lizárraga, um agricultor da região que chegou a Machu Picchu nove anos antes de Bingham.
Outros, no entanto, como o prefeito de Cuzco, preferem deixar a eterna batalha entre Lima e o interior do país de lado e apelam ao caráter universal de Machu Picchu.
"Na realidade (Machu Picchu) não só honra a nós peruanos é também um patrimônio da humanidade, o que o transforma em um privilégio para os moradores de Cuzco também", afirmou Flórez. EFE
Leia também:
Fonte: Yahoo Brasil Notícias, 07/07/2011

terça-feira, julho 05, 2011

se quiser saber pra onde vou, pra onde tenha...

O sol

(Milton Nascimento)
Ei, dor!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada
Ei, medo!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada...
E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou...
Ei, dor!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada
Ei, medo!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada...
E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou
É pra lá que eu vou...
E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou...
Caminho do Sol, eh!.
E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou...
E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou
É pra lá que eu vou...

os hippies leem os manuais

Breve comentário sobre o debate do estímulo

por Paul Krugman
Um breve comentário sobre o fato de eu estar prematuramente correto a respeito do problema das proporções insuficientes do estímulo: talvez você ache que hippies como eu estavam apoiando suas opiniões em algum tipo de versão louca, selvagem e nada ortodoxa das leis da economia, enquanto as pessoas sábias e ponderadas que defendiam US$ 787 bilhões como um montante ideal recorriam às análises tradicionais.
Mas o que ocorria era exatamente o contrário. A defesa de um estímulo muito maior era inspirada pelos manuais mais básicos de macroeconomia e podia ser justificada também por modelos econômicos mais extravagantes, mas ainda tradicionais.
Em comparação, a ideia de um estímulo bem menor tinha como base uma combinação de improviso, intuição e simbolismo político: sem ter como base prova nenhuma, os governantes acreditaram que um estímulo maior acabaria inquietando o mercado de títulos, e/ou que um empurrão temporário seria suficiente para restaurar a tão importante confiança, ou que seria politicamente crucial manter o montante total abaixo da marca de US$ 1 trilhão. (Que diferença faria se nossa álgebra funcionasse na base 12?)
Em outras palavras, a sabedoria – conforme entendida pelo público – estava em rejeitar análises econômicas criteriosas em favor do tato, e só atinar para o fato de que a análise estava correta depois que tivessem se passado alguns anos de desemprego em massa. Os hippies leem os manuais; as Pessoas Muito Sérias confiam na análise detalhada das tripas de um animal, ou algum outro ritual do tipo.
Fonte: Estadão | Blogs, 01/07/2011

segunda-feira, julho 04, 2011

“vivemos uma era da ‘memória total’"

A era da memória total e do esquecimento contínuo

Nossos arquivos de memória estão se tornando digitais, constata Erick Felinto. Criatura simbólica, o ser humano tem relações mediadas, e aquelas “face a face” não podem ser consideradas mais autênticas do que as mediadas tecnologicamente 

por  Márcia Junges

Na opinião do pesquisador Erick Felinto, “vivemos uma era da ‘memória total’, já que a digitalização dos suportes trouxe capacidades inauditas de armazenagem de informação”. Por outro lado, existe um excesso de informação e uma rapidez que produzem “esquecimento contínuo e um apagamento do passado. O que acontece, também, é que todos os ‘arquivos’, toda nossa memória, estão assumindo a forma do digital”. Estas ponderações fazem parte da entrevista a seguir concedida por e-mail à IHU On-Line. Felinto critica o fato de as relações “face a face” serem consideradas mais autênticas do que aquelas mediadas tecnologicamente, classificadas por vezes como “ilusórias”: “Isso é de uma ingenuidade absurda. O ser humano é uma criatura simbólica. Suas relações com o mundo são, desde sempre, ‘mediadas’. Minhas relações sociais nas redes podem ser tão ou mais intensas (ou superficiais) quanto minhas conexões ‘presenciais’”. Sobre as tecnológicas que pretensamente teriam revolucionado o mundo, é enfático: “Todas as tecnologias foram de algum modo ‘revolucionárias’, especialmente no contexto histórico de sua emergência. O desenvolvimento da escrita é tão (ou possivelmente mais) ‘revolucionário’ que o surgimento da internet”.
Erick Felinto é graduado em Comunicação Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, e doutor em Letras pela UERJ, onde atualmente leciona. Cursou pós-doutorado na Universidade de Kunst, em Berlim, Alemanha. Com Ivana Bentes escreveu Avatar: o Futuro do Cinema e a Ecologia das Imagens Digitais (Porto Alegre: Sulina, 2010). Outras de suas obras são A religião das máquinas: ensaios sobre o imaginário da cibercultura (Porto Alegre: Sulina, 2005); Silêncio de Deus, Silêncio dos Homens: Babel e a Sobrevivência do Sagrado na Literatura Moderna (Porto Alegre: Sulina, 2008) e A Imagem Espectral: Comunicação, Cinema e Fantasmagoria Tecnológica (São Paulo: Ateliê, 2008).
Confira a entrevista. 
IHU On-Line – Em seu ponto de vista, quais são as tecnologias que revolucionaram o mundo?
Erick Felinto – O termo “revolucionário’ é próprio de uma abordagem tipicamente marqueteira e propagandística que caracteriza boa parte da literatura não acadêmica (e também, infelizmente, acadêmica) sobre o tema das tecnologias comunicacionais. Todas as tecnologias foram de algum modo “revolucionárias”, especialmente no contexto histórico de sua emergência. O desenvolvimento da escrita é tão (ou possivelmente mais) “revolucionário” que o surgimento da internet. E já está exaustivamente estudado como a retórica popular sobre a invenção tecnológica repete os mesmo chavões de um período histórico ao outro: o que se fala hoje sobre a internet é muito semelhante ao que se falou sobre o telégrafo no século XIX. Nesse sentido, procuro evitar expressões como essa, que produzem uma cegueira histórica danosa aos estudos de comunicação e tecnologia. Contudo, se em vez disso falarmos em transformações culturais tecnologicamente motivadas, então teremos, antes de qualquer coisa, que atentar para o caráter cíclico dessas mudanças. Essas “revoluções” parecem acontecer em ondas históricas de desenvolvimento, o que põe em cheque o discurso de “novidade radical” com que as tecnologias costumam ser apresentadas. Isso não significa que não existam novidades nem mutações radicais, mas elas são um traço contínuo da história humana – quiçá mesmo da história natural. A instauração das tecnologias digitais nos apresenta, porém, um traço interessante e singular. Eles produziram uma espécie de cesura histórico-tecnológica, no sentido em que todo tipo de informação – imagética, sonora, textual – passou a ser constituído em modo digital. 
Uma língua universal
A “digitalização” do mundo é um acontecimento extremamente importante, pois atinge desde nossa visão da comunicação até nossa percepção sobre a vida, agora traduzida também em forma binária (o código genético, mapeado, por exemplo, no projeto genoma humano). Se quisermos entrar no domínio do imaginário, poderíamos especular que o digital realiza um antigo sonho da Filosofia: a criação de uma mathesis universalis, de uma língua universal capaz de traduzir tudo em bits e bytes. Desse modo, em lugar de falar de tecnologias que revolucionaram o mundo, prefiro assinalar essa peculiaridade do paradigma digital, que afeta de modo abrangente uma série de diferentes tecnologias.
Na base dessa perspectiva que prefiro adotar está uma concepção de história totalmente não linear, marcada por saltos e rupturas (ou “catástrofes”, como já se afirmou) em vez de continuidades. A história das tecnologias demonstra esse aspecto descontínuo da nossa experiência temporal. Ray Kurzweil  defende uma teoria da evolução tecnológica caracterizada por transformações exponenciais ou longo da história. Ou seja, atualmente, num espaço de 40 anos, testemunhamos mais transformações do que se processou na duração inteira dos dois séculos antecedentes.
IHU On-Line – Sob quais aspectos essas tecnologias são revolucionárias e ainda prometem mudar ainda mais a vida dos sujeitos contemporâneos?
Erick Felinto – Como eu disse na resposta anterior, acho que essa expressão tremendamente problemática, e toda tecnologia desencadeia transformações radicais nos sujeitos que a vivenciam. Julian Jaynes, um psicólogo hoje quase que inteiramente esquecido, que tinha vínculos com a Escola de Toronto, desenvolveu a interessante tese de que a consciência não é um fenômeno “naturalmente” humano, e que tem, na verdade, uma data de nascimento e uma origem histórica (por volta de 3 mil anos atrás). A emergência da consciência, para ele, estava de algum modo conectada ao desenvolvimento da escrita, que teria auxiliado num processo de distanciamento do sujeito em relação a seu próprio self. Reformulando o que já foi dito: toda tecnologia é “revolucionária” porque reconfigura a cultura e os processos de subjetivação. No arquivo Flusser , em Berlim, descobri um texto inédito do filósofo no qual ele estabelece uma brilhante reflexão sobre toda a cultura ocidental a partir da invenção da roda (e dos automóveis). Mais importante que enumerar tecnologias particulares, é estarmos atentos para o tipo de reconfiguração que os aparatos próprios de nosso momento histórico estão produzindo. Nesse sentido, podemos afirmar que o computador, a internet e o paradigma tecnológico digital estão cooperando para uma profunda reconfiguração do que entendemos por “ser humano”. Não é à toa que o tema do “pós-humanismo”  é um dos mais populares, hoje, no âmbito das ciências humanas. A separação entre o natural e o artificial – se é que ela realmente existiu algum dia – está para ser dramaticamente problematizada. Há fortes indicações de que o futuro trará uma reinvenção do humano, na qual a tecnologia será literalmente “incorporada” por nós, de tal modo que as fronteiras entre homem e máquina poderão se esfumaçar radicalmente. Se isso é positivo ou negativo, está aberto à discussão.
IHU On-Line – Numa cultura caracterizada pela comunicação de massas, qual é o lugar da memória e do esquecimento?
Erick Felinto – Não estou seguro de que nossa cultura ainda seja caracterizada pela “cultura de massas”. O digital problematizou esse conceito (mas não acabou com ele, como alguns parecem pensar), de modo que já não podemos falar hoje tranquilamente de uma “sociedade de massas”. Da multiplicação de emissores, graças a plataformas como blogs ou redes sociais, a fenômenos como a “Cauda Longa”, de Chris Anderson, as tecnologias digitais perturbaram amplamente a ideia de uma cultura de massas. Agora, é fato que os temas da memória e do esquecimento terão papel fundamental nos anos vindouros. Flusser, McLuhan, Benjamin, assim como outros pensadores das mídias mais recentes (por exemplo, Wofgang Ernst ou R. L. Rutsky), tomam essas questões como eixos fundamentais de suas reflexões. Vivemos uma era da “memória total”, já que a digitalização dos suportes trouxe capacidades inauditas de armazenagem de informação. Contudo, paradoxalmente, esta também é a era do esquecimento, marcada pela volatilidade da informação (e também das relações sociais). Se para Nietzsche, o excesso de memória era um grave problema para o homem do ressentimento, hoje talvez possamos afirmar que estamos realizando um projeto nietzscheano (ainda que de forma bastarda). O excesso de informação, a rapidez com que as coisas se processam produz um esquecimento contínuo e um apagamento do passado. O que acontece, também, é que todos os “arquivos”, toda nossa memória, estão assumindo a forma do digital.
Para usar uma metáfora tipicamente barroca, a internet pode ser imaginada como um “palácio da memória”. Desde a Antiguidade, temos notícia do ensino de técnicas de memorização baseadas na ideia da criação de “palácios” mentais nos quais se “armazenariam” as informações desejadas na forma de imagens e cenas (para uma excelente história dessas técnicas de memorização e dos “palácios da memória”, ver o livro de Frances Yates, The art of memory). Hoje, a internet funciona como nosso grande repositório da memória (em formas visuais, auditivas, escritas...), mas nosso maior problema passa a ser, agora, como, em meio à gigantesca névoa de dados que nos cerca, chegar à informação que é realmente relevante para nós, filtrando todo o inessencial. 
IHU On-Line – O que podemos compreender por imaginário da cibercultura?
Erick Felinto – Imaginário é um conceito complexo e profundo, que pode ser definido de muitas diferentes maneiras. Para simplificar, digamos que um imaginário é, ao mesmo tempo, um repositório de imagens e uma “faculdade” de criação de imagens. Em outras palavras, um imaginário é uma tradução do mundo em imagens, compostas por mitos, símbolos, representações mentais. Uma forma rápida de definir o que seria o “imaginário da cibercultura” é explicar que nossa relação com os aparatos nunca é unicamente (ou mesmo prioritariamente) racional. Símbolos e mitos atuam frequentemente como mediadores de nossa relação com as máquinas, inclusive (e talvez especialmente) com os aparatos da cibercultura, como o computador. Aliás, poucas tecnologias foram tão poderosas em gerar imaginários como o computador, que aparece ao longo de nossa história – por exemplo, na ficção científica – como entidade dotada de vida autônoma, por vezes benéfica, por vezes maléfica. A história dos autômatos, como bem ilustra o belo estudo de Philipe Breton, À l'image de l'homme, mostra nossa relação contraditória com esses seres, que em nossas ficções frequentemente se voltam contra seus criadores. O mito de Frankenstein tem aqui um papel estrutural. Mas eu diria que o imaginário da cibercultura tem raízes fortemente religiosas, e explico isso melhor numa das respostas seguintes.
IHU On-Line – Analisando especificamente as tecnologias “mobilidade”, “computação em nuvem” e “objetos inteligentes”, que tipo de imaginário tecnológico pode ser constatado em nossa sociedade?
Erick Felinto – Essa pergunta confunde algumas categorias. Em primeiro lugar, “mobilidade” não é uma tecnologia, mas sim um aspecto relevante do paradigma tecnológico dominante na contemporaneidade. O fato de que os computadores e sistemas inteligentes podem estar em toda parte, a miniaturização dos aparatos e a possibilidade de conexão constante compõem o cenário tecnológico contemporâneo e fazem do tema da mobilidade um eixo importante. Mas obviamente, a mobilidade não é uma “tecnologia”. Em segundo lugar, ainda que esses três fenômenos possam se manifestar em conjunto, não há ligação direta necessária entre eles – e, portanto, não se compreende porque deveríamos tomá-los como balizadores especiais para uma definição do “imaginário tecnológico da nossa sociedade”. Se existe alguma relação importante entre os três termos é o fato de que nosso atual paradigma tecnológico é caracterizado pela ubiquidade. Não existe mais centro, não há mais uma “visibilidade” específica do tecnológico (que muitas vezes opera por trás de caixas pretas ou fora do alcance de nossos olhos). A noção de “internet das coisas” me parece, nesse sentido, extremamente reveladora. Imaginemos um mundo de máquinas diminutas operando por toda parte, todas conectadas entre si e desfrutando de uma espécie de “inteligência compartilhada”. Esse é um futuro bastante provável que nos aguarda e que mostra a profunda relação entre os aspectos materiais e imateriais da cultura tecnológica contemporânea – algo que nem sempre se percebe com a necessária profundidade.
IHU On-Line – O que é a religião das máquinas a que se refere em seu livro? Como essas máquinas ajudam a compor o imaginário da cibercultura? 
Erick Felinto – A religião das máquinas é um título fantasioso, inspirado, por sua vez, num livro bastante fantasioso e estranho, La réligion des géants et la civilisation des insectes, de Denis Saurat. Ele pode ser lido tanto como uma imagem ficcional (imaginemos que as máquinas inteligentes desenvolvam uma cultura e criem sua própria religião...) quanto como indicador de um aspecto essencial do imaginário tecnológico contemporâneo: sua relação com a religião. Como já apontaram diversos autores, a cibercultura é pródiga em produzir mitos de cunho espiritual, como a ideia da internet como “Nova Jerusalém Celestial” ou do internauta como “anjo eletrônico”. Os vínculos da tecnologia com a religiosidade são bastante antigos, como demonstra o estudo de David Noble, The religion of technlogy. Desde pelo menos a Idade Média, ela é entendida no âmbito de um projeto de transcendência da condição humana, de modo a nos aproximar de Deus ou mesmo suplantá-lo. Um dos aspectos mais interessantes do mito bíblico da Torre de Babel (mas muito pouco estudado) é sua dimensão tecnológica. Os homens desenvolvem uma nova técnica para construir a torre e se acercar de Deus no céu. Mas com isso ameaçam o domínio da autoridade divina e são afligidos com a diferenciação linguística. Esse mito tem ressonâncias muito relevantes nos dias de hoje. Se prestarmos um pouco mais de atenção nas grandes fábulas contemporâneas da cibercultura, em suas representações ficcionais, vamos perceber claramente uma teia de valores ou noções religiosas ligadas ao mundo tecnológico. O filme Matrix, que analiso no primeiro capítulo do livro, é um excelente exemplo disso.
IHU On-Line – O que explica a postura de idolatria, euforia e inclusive de ingenuidade de algumas pessoas em relação às tecnologias como a internet, por exemplo? 
Erick Felinto – Ela se explica, pelo menos em parte, por nossa colossal ignorância histórica. O discurso da “revolução tecnológica” se funda numa mitologia da transcendência que surge quando esquecemos o passado e deixamos de relativizar o “novo”. De fato, acho que o problema de muitos estudos sobre a cultura tecnológica, hoje, é sua extrema limitação de escopo – tanto em termos temporais (a assustadora ignorância de muitos pesquisadores em relação à história da tecnologia e da cultura) quanto de foco (o olhar é quase sempre microscópico, incapaz de enxergar os problemas numa dimensão panorâmica). A função de pensadores do “risco” – ou “proféticos”, como os define um amigo meu – é buscar esse olhar panorâmico que muitas vezes nos falta. Esses pensadores (Flusser é um bom exemplo) assumem muitos riscos e podem certamente cometer muitos erros. Contudo, até mesmo seus erros são frequentemente interessantes e reveladores. Bruno Latour, um pensador a quem muito admiro, escreveu com Antoine Hennion um texto sobre Walter Benjamin no qual critica radicalmente o famoso ensaio A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. O texto é sintomaticamente intitulado How to make mistakes at so many things at once – and become famous for this. Mesmo concordando com algumas das reprimendas dos autores a certas teses de Benjamin no ensaio, considero o artigo de Latour equivocado. Se Benjamin cometeu muitos erros – e ficou famoso por causa deles –, foi porque assumiu grandes riscos em seu pensar. E esses riscos e seus equívocos abriram o caminho para vários pensadores e teóricos depois dele. Como diz a célebre sentença de Bernardo de Chartres, “somos anões nos ombros de gigantes, mas por isso enxergamos melhor e mais longe”.
No Brasil, a pesquisa e o texto acadêmico no campo da comunicação vêm assumindo uma feição tecnicista e microscópica que acaba nos limitando a tabular números, analisar questionários e quantificar dados. Tudo isso é muito importante, mas o que marca a excelência num domínio do saber é o surgimento desse pensamento do risco, capaz de lançar sobre a realidade olhares mais vastos e mais fundados numa sinfonia de diferentes saberes articulados. Enquanto por aqui ficamos exaustivamente discutindo os limites legítimos e os fundamentos epistemológicos do “campo da comunicação”, em outros cenários acadêmicos estão se descortinando fascinantes novos temas e objetos de pesquisa ligados às mídias e à cultura das mídias. Para mim, um dos campos de pesquisa mais intrigantes que se descortinou nos últimos anos (com origem na Alemanha) é a chamada “arqueologia da mídia” (Archäologie der Medien). Creio que ela representa um antídoto importante contra a amnésia histórica que caracteriza boa parte da pesquisa sobre os meios hoje, mas pouquíssima gente no Brasil sabe sequer de sua existência.
IHU On-Line – O que pensa sobre a crítica de alguns teóricos que consideram que as redes sociais promovem uma ilusão de contato?
Erick Felinto – Não creio que se trate de ilusão. Aliás, por que razão devemos dizer que as relações “face a face” são “autênticas” e as mediadas tecnologicamente (nas redes sociais, por exemplo) são “ilusórias”? Isso é de uma ingenuidade absurda. O ser humano é uma criatura simbólica. Suas relações com o mundo são, desde sempre, “mediadas”. Minhas relações sociais nas redes podem ser tão ou mais intensas (ou superficiais) quanto minhas conexões “presenciais”. E meus contatos e relações fundamentais no dia a dia se dão tanto com seres humanos quanto com os aparatos e objetos que me cercam. Está mais do que na hora de revermos o humanismo rasteiro e o antropocentrismo ingênuo que operam, muitas vezes, no fundo das nossas interpretações do mundo. Ser humano é ser profundamente artificial e ter, desde sempre, uma relação visceral com a tecnologia.
Fonte: IHU Online 368 Ano XI, 04/07/2011

é a gota de água que transborda o copo

A Teoria do Caos e o Meio Ambiente

por Roberto Naime*

 A gente imagina que caos é anarquia, falta de organização, algo assim. Mas a teoria do caos, conforme proposta de JAMES GLEICK (Caos, criação de uma nova ciência, Rio de Janeiro, Campus, 1989), tem outra conceituação. Os sistemas naturais apresentam mudanças significativas na maneira como funcionam mesmo quando permanecem dentro do mesmo padrão global, de forma que certas fronteiras críticas que definem este padrão não podem ser transpostas sem que este equilíbrio seja ameaçado.
Traduzindo para exemplos simples e de fácil compreensão poderíamos dizer que é a gota de água que transborda o copo, ou de como a movimentação das asas de uma borboleta em Pequim, altera a condição dos ventos em Cuiabá. Coisas que aparentemente não tem nenhum sentido, mas estão relacionadas por equilíbrios frágeis e complexos.
Tem fatos naturais que não guardam as mesmas leis de organização que estamos acostumados a saber, não tem geometria, não são passíveis de descrições por algoritmos matemáticos lineares ou logarítmicos, mas nem por isso deixam de existir. São as chamadas ordens naturais não-lineares ou fractais ou nem compreendidas.
Na análise dos impactos ambientais existem vinculações com o espaço, o tempo e a ciclicidade. Isto implica interação com o equilíbrio endógeno (interno) e exógeno (externo). É como quando alguém adoece. Uma dor de estomago atrapalha muito qualquer outra atividade e interfere no conjunto da saúde.
Nesta paisagem ocorre de forma indiscutível, a intervenção da questão política como cenário de fundo para muito, ou quase tudo que ocorre no planeta.
Existem relações ainda não completamente descritas entre várias ocorrências da civilização, com fatores de clima, condições naturais ou interferências antrópicas, que desequilibram o meio natural. Podem se citar exemplos bem prosaicos e ao nosso alcance, como as monoculturas e as ações históricas dela decorrentes. Que tornam os ecossistemas muito vulneráveis ou frágeis.
De fato, muitas das conexões demonstradas tiveram conseqüências registradas e demonstradas sobre eventos históricos, mas não é possível afirmar que a abordagem reducionista aplicada, limitando os fatores para explicar os fatos, possam resistir a análises mais completas.
Complexidade é isto, são inúmeros fatores, geralmente muito além do que a gente possa citar ou analisar e que estão envolvidos com a ocorrência. Todo mundo associa a gordura com os níveis de colesterol, e está certo. Mas não é o único fator, tem sedentarismo, e vários outros itens que a medicina cita.
Conseguir vincular todos os itens relevantes e as relações entre eles numa análise de impacto ambiental é um grande desafio, bastante difícil de atingir mesmo que se tenha extrema boa vontade.
Na visão de mundo apresentada por várias religiões orientais antigas, é destacada a experiência de viver a unidade em um corpo integrado física e mentalmente, vale dizer emocionalmente. O mesmo pode ser dito para a maioria das intervenções antrópicas sobre o meio natural. Deve resguardar sua unidade tanto fisiológica quanto funcional.
Para estas escolas do pensamento humano, enquanto a sociedade humana viver dicotomias que precipitam comportamentos desintegrados, a vida será entendida como um processo de aquisições sem compromisso. E sabemos que não é assim, talvez nossa maior festividade seja o compromisso celebrado quando um homem e uma mulher casam. Talvez tenha que ser assim com o mundo um dia.
Apenas a sensação de integração entre a vida e os sentimentos que são criados ou propagados pelas vivências é que poderão transformar o prazer de ter no prazer de ser, conforme já amplamente demonstrado por CRISTOPHER LASCH em 1986, no seu livro “The minimal self” (O mínimo eu).
O aprofundamento desta discussão talvez possa ser resumido na conscientização de que novos paradigmas geram novas formas de visão e abordagem. Deste processo resultam novos valores éticos e humanos que vão se tornar relevantes em todas as dimensões da vida.
(*) Dr. Roberto Naime, colunista do Ecodebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Fonte: EcoDebate, 09/06/2011

terça-feira, junho 28, 2011

"não acredite que tem realmente a ver com análises econômicas"

O forte desejo de purgar

27 de junho de 2011 | 15h39
por Paul Krugman
No ano passado foi a OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento das Nações Unidas; agora é a vez do BIS – Banco de Compensações Internacionais. E novamente, senhores muito sérios de uma organização internacional parecem determinados a encontrar razões para um aperto da política monetária em face de uma forte depressão econômica que continua persistente.
O BIS cita os preços cada vez mais altos das commodities e o implícito aumento da inflação com base nos spreads bancários. No caso de informes como este, contudo, a questão é que foram escritos e aprovados por comissões, o que significa que se baseiam em dados retroativos – e com certeza, os spreads bancários e a inflação dos preços das commodities estão narrando uma outra história no momento presente.
O informe da comissão afirma também que a produção potencial vem sendo permanentemente reduzida pela depressão econômica, afirmando em particular que “a destruição de capital humano devido ao desemprego a longo prazo” pesará no crescimento. Você pode achar que esta é uma das razões para adotar medidas urgentes com vistas a o nível de desemprego de longo prazo. Mas não.
E, inevitavelmente, constam também do informe os supostos paralelos com a década de 70. Salvo os próprios dados do BIS, nada sugere que exista algum paralelo, absolutamente. Existe uma única comparação (o Custo Unitário do Trabalho, ou ULC na sigla em inglês).
Note a diferença em escalas. Nos anos 70 havia uma importante espiral de preços dos salários; desta vez não há nada disso. Mas tanto faz.
E O BIS ainda emite uma série de alertas vagos sobre como as taxas de juro baixas desencorajam o comportamento responsável.
Algo está ocorrendo, e não acredite que tem realmente a ver com análises econômicas. Como outros, o BIS está claramente engajado num “Calvinball” monetário, criando regras e conceitos de improviso para justificar um aperto monetário, sejam quais forem as circunstâncias. Parece que há uma profundo desejo de infligir sofrimento, purgar o que há de imprestável ou qualquer coisa do gênero.
É assustador. E o mundo irá sofrer por isso.
Fonte: Estadão | Blogs, 27/06/2011

segunda-feira, junho 27, 2011

tema para uma atenção maior por parte da comunidade universitária

A Pós-Graduação nas Ciências Humanas e o paradigma da Medicina na era da especialização

por Celio Juvenal Costa*
As palavras que se seguem poderão soar conservantismo, serem até reacionárias, pois se trata de uma reflexão que nada contra a correnteza do que se pratica hoje nas universidades brasileiras. Assumo o risco de ser conservador neste momento, pois o contexto atual de formação dos mestres e doutores, atuais e futuros professores de nossas faculdades e universidades, é revelador de uma tendência que coloca em xeque a própria essência do termo universidade. A palavra de ordem hoje parece ser: especializar cada vez mais e mais cedo para se produzir um saber cada vez mais específico e competente.
Carlo Ginzburg, o autor de O Queijo e os Vermes, no texto intitulado Sinais: raízes de um paradigma indiciário,ao analisar o método mais conseqüente para o historiador, afirma: “Nas discussões sobre a ‘incerteza’ da medicina, já estavam formulados os futuros nós epistemológicos das ciências humanas”. Como não é intenção nesse momento discutir o posicionamento de Ginzburg, até porque o autor faz referência a outro teórico, só faço tomar emprestado essa relação entre ciências humanas e medicina para auxiliar na reflexão sobre a dicotomia, sempre permanente na academia, entre especialização e formação geral.
Salta aos olhos, hoje em dia, o grau de especialização que a medicina alcançou nos últimos tempos. Na área de traumatologia, por exemplo, dificilmente encontramos, em clínicas mais sofisticadas, um ortopedista que atenda pacientes que reclamam de dores em várias partes do corpo. Com certeza, há médicos especializados em pés, outros em joelhos, outros em dores lombares e assim por diante. Não está distante o dia em que encontraremos especialistas de joelho diferenciados, um para ligamentos, outro para menisco, outro para tendão etc. Sem dúvida, a crescente especialização nas várias áreas médicas traz inúmeros benefícios, pois um determinado problema tem como assistente um profissional que é profundo conhecedor daquele problema. Inclusive hoje já é bastante comum as pessoas em geral desconfiarem de profissionais das áreas médicas que ainda não se especializaram o suficiente.
No entanto, em nível mundial, existe, atualmente, uma discussão de fundo ético, sobre a validade dessa crescente especialização. Como exemplo desta verdadeira polêmica – infelizmente de primeiro mundo somente – temos o último livro da trilogia de Noah Gordon, intitulado Doutora Cole. Os dois primeiros livros de Gordon – O Físico e Xamã – são uma espécie de história da medicina nos séculos XII e XVIII, sob a forma de romance em que os personagens principais são membros de uma família de médicos que tinham o dom especial de prever a morte. Em Doutora Cole, ambientado nos anos noventa do nosso século, a primeira médica da história da família discute exatamente a polêmica acerca da especialização na medicina, polêmica traduzida pela sua opção em deixar sua especialidade e, com isso, abrir mão de um ótimo ganho anual, para ser médica de família numa cidade do interior dos Estados Unidos. A opção feita pelo autor entre as duas possibilidades do exercício da medicina torna-se clara quando a personagem principal do livro não se arrepende da decisão tomada a partir do momento que descobre que as doenças, em geral, que as pessoas apresentavam estavam sempre ligadas a um histórico familiar que não envolvia somente aspectos biológicos. Talvez a “incerteza” da medicina resida exatamente aí: na não certeza absoluta que quanto mais especializado for o profissional, melhor médico será. O que se passa hoje em nossas faculdades e universidade brasileiras não parece ser muito diferente dessa “incerteza” da medicina.
Assistimos nos últimos anos um crescente aumento dos cursos de mestrado e doutorado nas ciências humanas. Antes, praticamente só havia cursos de pós-graduação no eixo Rio-São Paulo; hoje o Brasil todo tem seus mestrados e doutorados, resultado natural da qualificação de professores durante as décadas de oitenta e noventa que, ao retornarem para suas universidades, passaram a vislumbrar a possibilidade de criar novos programas. Nos últimos anos, com a criação e a organização das agências nacionais de fomento e avaliação – Capes e CNPq – e o grande número de pós-graduações no Brasil, verificou-se a diminuição do tempo para os alunos integralizarem seus cursos. Com o recente aumento na oferta de cursos de doutorado, os prazos para a conclusão do curso de mestrado diminuíram praticamente na mesma proporção. Já se fala oficiosamente em diminuir também os prazos para o doutorado em virtude das pós-graduações se caracterizarem como programas conjuntos, onde é comum o aluno fazer os dois cursos no mesmo lugar. Outro fator determinante para o encurtamento da duração das dissertações e teses é a cobrança sistemática que as agências oficiais de fomento e avaliação fazem aos próprios programas de pós-graduação. Professores e alunos devem ter, segundo parâmetros pré-estabelecidos, uma gama de atividades que, somadas, indicam o grau de produtividade do programa e o habilita ou não a continuar existindo e recebendo financiamentos, bolsas, incentivos etc.
Nas universidades, até independente dos programas de pós-graduação, os professores estão submetidos a uma contínua avaliação de suas atividades, cuja produtividade o habilita a subir alguns degraus na carreira – como nas universidades estaduais do Paraná -, ou a ter um acréscimo ao seu salário – como nas universidades federais -. Sem pretender fazer uma análise profunda dessa realidade, o fato é que às vezes tem-se a impressão de que os professores têm que disputar, ano a ano – ou bienal, trienal, dependendo da universidade -, uma espécie de ATPtour[1] ou seja, têm que defender seus “pontos” de anos anteriores para não cair no ranking e ser penalizado. A palavra de ordem nas nossas universidades hoje em dia parece ser “corrida pela quantidade”; quantidade de artigos, bancas, eventos, cargos.
Paralelamente a esses novos instrumentos de quantificação e avaliação do desempenho docente, mas fazendo parte do mesmo contexto, encontra-se uma lógica de motivação pragmática da formação dos futuros cientistas e professores universitários. Os programas de Iniciação Científica, os grupos PET, os inúmeros projetos de pesquisa, ensino e extensão que são desenvolvidos em nossas universidades estão contribuindo positivamente para a inserção no mundo da ciência de milhares de estudantes que, desde cedo, tomam gosto pela carreira acadêmica e, quando chegam nos cursos de pós-graduação, encontram-se realmente bem preparados para fazer suas pesquisas. Como conseqüência deste fato, a média de idade dos novos mestres e doutores tem caído muito nos últimos anos. Hoje, em departamentos de universidades que há quinze anos atrás contavam com dois ou três doutores, a grande maioria já atingiu ou está na iminência de atingir esse grau acadêmico. Praticamente não há intervalos entre o final da graduação e o doutorado.
Pois bem! Apesar de comungar com a idéia de que é necessário que as nossas universidades e agências de fomento continuem investindo maciçamente na qualificação docente, resultando num incremento cada vez maior no número de mestres e doutores, gostaria de chamar a atenção para algo que me parece passar um tanto despercebido nesse processo. A “corrida” pela pós-graduação gera necessariamente, por parte do pós-graduando, uma opção por determinado tema, linha de pesquisa ou autor, que comumente se torna objeto de pesquisa tanto no mestrado como no doutorado. Com certeza, o resultado dessa formação é bastante satisfatório tendo em vista aquela especialidade escolhida. Com certeza também, os produtos excedentes da pesquisa – eventos, artigos, futuros projetos – serão da mais alta qualidade e merecedores de mais investimento. Essa especialização continua firme depois da pós, pois o recém mestre ou doutor, ao entrar ou retornar para uma universidade, vai continuar desenvolvendo suas atividades científicas no âmbito da especialidade, criando ou alargando grupos de pesquisa, orientando alunos da graduação etc.
No entanto, o resultado dessa especialização para o exercício da docência, principalmente na graduação, é que me preocupa. O aumento da especialização das ciências humanas acontece na proporção da desvalorização – consciente ou não – do professor que tem uma formação mais ampla, geral, universal.[2] Todos os professores, até por dever de ofício enquanto pesquisadores, acabam se tornando especialistas em algum tema e, a partir de dado momento, dedicam sua vida acadêmica ao desenvolvimento de estudos relativos àquele tema. No entanto, a grande maioria dos professores que tiveram sua qualificação em décadas passadas, são aqueles que têm uma formação mais geral e universal o que compreende um domínio competente do vasto campo de atuação.
Pensemos, por exemplo, o curso de Pedagogia e, mais especificamente, a área de Fundamentos da Educação. As disciplinas que compreendem essa área devem fornecer ao aluno uma visão histórica, filosófica, sociológica e psicológica da educação, comumente desde a antiguidade clássica até os dias atuais. Ora, deste vasto universo, os professores elegem, naturalmente, um tema para ser pesquisado com profundidade e por longos anos. No entanto, os professores que têm uma formação mais geral conseguem transmitir o conteúdo específico de uma dada disciplina sem perder a didática e a competência, pois, entendem que até para conseguir dar conta de um tema específico de pesquisa devem possuir uma visão de conjunto, uma visão universal. Um tema de pesquisa geralmente compreende uma pequena parte de uma disciplina, sendo que o restante dela obriga que o professor se preocupe com uma formação mais genérica para o pleno exercício de sua profissão.
O fato preocupante no atual contexto consiste em que a formação genérica dos nossos professores acaba sendo deixada de lado em prol da precoce e contínua especialização dos atuais e futuros professores das “safras” mais recentes. A conseqüência para a docência, principalmente nas salas de graduação, é a dificuldade em se trabalhar com tranqüilidade e competência toda uma gama de conteúdos que vai além daquilo em que se especializou. Não sou idealista a ponto de achar que todos os professores teriam que ter uma formação universal apurada, como a que encontramos em autores clássicos. Não posso, porém, me contentar com uma realidade que, em nome da produção em série de jovens cientistas em universidades, desloque para um segundo plano a formação ideal para o exercício da docência. Sempre nos colocamos como críticos do ensino fundamental que esfacela o conteúdo das disciplinas como se fossem gavetinhas separadas e que não proporcionam ao aluno uma visão inter e multidisciplinar. Raramente somos críticos de nós mesmos: ao não refletirmos sobre a especialização precoce e contínua de nossos professores universitários, corremos o risco de também criarmos tantas gavetinhas quanto nossas pesquisas permitirem.
A especialização na medicina já encontra resistência em algumas partes do mundo. Ninguém, em sã consciência, nega os efeitos altamente benéficos das pesquisas médicas resultantes das especialidades. No entanto, o que se critica é a lógica que está por detrás, ou seja, o enxergar o homem não como um conjunto orgânico, biológico, psicológico e social, mas como uma somatória de partes que podem ser tratadas separadamente. Essa lógica é a do capital. Essa lógica permite que os médicos, quanto mais especialistas forem, quanto mais competentes se mostrarem, mais ricos se tornam, mais status adquirem e mais se distanciam da grande maioria das pessoas que não possuem recursos para um tratamento tão sofisticado.
A lógica pragmática da produção precoce e contínua dos cientistas especialistas com certeza trará ótimos resultados para a ciência no Brasil, mas isto impede a preocupação com o reverso da medalha, pois há que se preocupar também com a formação dos nossos professores. O profissional da educação, cada vez mais especializado, está se tornando também um bom professor? Creio que a resposta a essa pergunta pode revelar uma situação no mínimo preocupante. A resposta, porém, a essa pergunta pode sugerir, também, que esse tema receba uma atenção maior por parte da comunidade universitária.

(*) Celio Juvenal Costa é Professor do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá e Doutor em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba. Publicado originalmente na REA, nº 06, novembro de 2001, disponível em http://www.espacoacademico.com.br/006/06celio.htm
[1] Associação dos Tenistas Profissionais. O chamado ranking de entrada é estabelecido pelos pontos conseguidos nas últimas 52 semanas e devem ser defendidos no ano seguinte para não cair e deixar de ser convidado a participar de grandes e milionários torneios. Se um tenista ganha um torneio num ano e perde no ano seguinte, ele não só deixa de ganhar os pontos correspondentes ao campeão, mas perde aqueles que conquistou no ano anterior. Uma observação pertinente e justa se faz necessária: essa “metáfora” não é originalmente idéia minha e sim de um amigo igualmente preocupado com a questão tratada aqui.
[2] Ao não querer reeditar a histórica polêmica nos cursos de licenciatura é que não adjetivo como generalista o perfil do professor que se opõe ao especialista.
Fonte: Revista Espaço Acadêmico, 25/06/2011 

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