quinta-feira, setembro 30, 2010

era mais fácil ser...

Uma revolução intelectual

por José Luis Fiori
“Enquanto se pensava que com as leis de Newton e as que lhe sucederam podíamos compreender o universo, o diálogo com as outras civilizações era um diálogo de professor e aluno, aluno primário.” 
Ilya Prigogine, “Nome de Deuses”, Ed. UNESP, 2002, p:64

Na segunda metade do Século XX, o físico norte-americano, Thomas Kuhn, e o químico russo, Ilya Prigogine, revolucionaram a epistemologia e a história da ciência, colocando uma pá de cal sobre a visão positivista do conhecimento, e colocando um ponto de interrogação definitivo sobre todas as teorias mecanicistas e deterministas, a respeito do mundo físico, do cosmos e das sociedades humanas. 

Para Thomas Kuhn, o avanço da ciência não é acumulativo, nem se dá de forma linear e contínua. Pelo contrário, se dá de forma descontínua e através de grandes rupturas, ou “revoluções científicas”, que assinalam um momento de “mudança de paradigmas”, que são definidos por Kuhn, como uma maneira particular de olhar o mundo, que articula de forma coerente, problemas, conceitos, métodos de pesquisa e critérios de verdade, que só são válidos dentro de determinadas comunidades específicas, e durante períodos determinados de tempo.

Por outro lado, Ilya Prigogine se rebelou contra o determinismo e o mecanicismo das teorias de Isaac Newton e Albert Einstein, e demonstrou que a irreversibilidade do tempo, a desordem e a incerteza são elementos essenciais e construtivos, do mundo físico e biológico. Ou seja: Kuhn defende a historicidade da ciência e dos seus critérios de verdade; e Prigogine defende a importância da “flecha do tempo” e das “escolhas”, para a construção do futuro de um universo físico e de uma sociedade humana, que são rigorosamente imprevisíveis. 

Por analogia, também é possível falar da existência de “paradigmas”, e de “revoluções intelectuais”, no campo do pensamento social, onde se formam e se transformam os valores, conceitos e critérios de verdade, que as sociedades humanas utilizam para interpretar o seu passado e o seu presente, e para descodificar e responder às incertezas do seu futuro. São modelos, enfoques e crenças que atravessam o pensamento acadêmico e o pensamento político – de esquerda e de direita - e também fazem parte do senso comum e da formação da opinião publica. 

Estes “paradigmas sociais”, também são válidos apenas para certas comunidades específicas, e durante um certo período, por mais longo que ele possa vir a ser. Com o passar do tempo e das mudanças sociais, entretanto, estes paradigmas “societários” perdem fôlego, se esclerosam, e acabam sendo superados por novas “visões do mundo”, mais capazes de compreender e enfrentar os desafios criados pela chegada do futuro.

Pois bem: tudo indica que a América Latina e o Brasil estão vivendo um destes momentos de “revolução intelectual”, e de mudança da sua forma de olhar para si mesmo e para o mundo. De um lado, o que se vê, é um “paradigma intelectual” em franco declínio, incluindo algumas idéias e teorias de esquerda e de direita, que já não dão conta das transformações do continente, e do Brasil, em particular. Seus conceitos e seus debates parecem velhos e repetitivos, e por isto, filtram as novidades trazidas pelo futuro, de forma extremamente reativa, defensiva e medrosa.

Alguns “intelectuais orgânicos” deste velho paradigma vivem fascinados pela idéia do “fim”, seja da democracia, do capitalismo, das espécies, ou da própria terra; outros, estão sempre lamentando as “imperfeições constitutivas” da sociedade latino-americana, tão distantes dos seus modelos ideais de sociedade civil, de classe social, de partido político, ou mesmo, de estado e de capitalismo, E quase todos vivem atormentados com medo do populismo, do corporativismo, do nacional-desenvolvimentismo, do estatismo, entre tantos outros fantasmas do passado. Sem se dar conta que este conceitos e algumas de suas velhas teorias sociológicas e econômicas perderam aderência aos fatos, e já não demonstram nenhuma eficácia como ferramentas analíticas, e como instrumentos estratégicas, voltados para a construção do futuro.

Apesar disto, entretanto, ainda não se pode falar do aparecimento e da existência de novas teorias consistentes, e o próprio continente latino-americano ainda não superou alguns de seus grandes desafios sociais e econômicos. Mas com certeza já se pode falar de uma “revolução intelectual” e de um novo “paradigma”, porque já se consolidou uma nova maneira do continente olhar para si mesmo, para o mundo e para os seus desafios, assumidos como oportunidades e como escolhas, que devem ser feitas, a partir de sua própria identidade, e de seus próprios interesses. 

Certa vez, Jean Paul Sartre disse que “era mais fácil ser escravo do que senhor”, e talvez, de fato, seja mais fácil pensar como escravo, do que como senhor. Mas depois desta “revolução intelectual” da America Latina, já não há mais necessidade de ninguém seguir pensando como escravo, ou mesmo, como aluno primário das “civilizações superiores”.

(*) José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
Fonte: Carta Maior | Debate Aberto, 30/09/2010.

face a uma derrota eleitoral

A mídia comercial em guerra

por Leonado Boff

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Sou profundamente a favor da liberdade de expressão, em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais” onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.
Esta história de vida me avaliza a fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o presidente Lula e a midia comercial, que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o presidente e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.
Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como famiglia mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo o Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discussão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.
Na sua fúria, quase desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido à mais alta autoridade do pais, ao presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.
Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica, produzindo.
Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e nãocontemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence (p.16)”.
Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.
Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vêm Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coronéis e de “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.
O povo, cansado de ser governado pelas classes dominantes, resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.
Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda. Antes, havia apenas desenvolvimento/crescimento, que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituídas e com salários de fome. Agora, ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.
O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico, que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela Veja (que faz questão de não ver…), protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.
O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocolonial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista? Ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas, para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes.
Esse Brasil é combatido na pessoa do presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construído com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.
*Leonardo Boff é teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.
** Colaboração de Danilo Pretti Di Giorgi, para o EcoDebate, 30/09/2010
Fonte: Portal EcoDebate.

sexta-feira, setembro 24, 2010

“semear e colher chuva”

Cresce a luta pela água nos Andes

O Perú é o país que mais sofre com o aquecimento global no mundo. O Equador não fica atrás. Sobe a temperatura, as arcas congeladoras estão a derreter, mas depois há repentinas quedas de temperatura. A situação ameaça plantações e estilos de vida milenares. Por Silvina Heguy, Clarín/IHU.
A terra está a secar - cresce a luta pela água nos Andes
“Aqui o pasto não cresce como antes”, dizem os habitantes de Cuzco, Perú, cujos hábitos de vida e tradições culturais estão ameaçados por causa das alterações climáticas. Foto Wikimedia Commons

Gumercinda Catunta há muito tempo que anda com a intenção de “semear e colher chuva”. Mas quando vai pedir ajuda às autoridades de Pampamarca obtém sempre a mesma resposta: não há recursos.
Gumercinda repete o seu pedido na praça do povo da província de Cuzco, no Perú. Tem 41 anos, três filhos e está parada sob o monumento que recorda que estas terras são as de Tupac Amaru e da sua companheira, Micaela Bastidas.
São as terras que fazem parte do país que mais sofre os efeitos da mudança climática no mundo e onde nem a ajuda do Estado, nem dos países responsáveis pelo aquecimento global, chega.
A mais de 3.800 metros acima do nível do mar, a falta de água, a retracção das arcas congeladoras, as temporadas de estio, as repentinas quedas de temperatura, as épocas de chuvas cada vez mais curtas e intensas, os frios cada vez mais frios e o calor cada vez maior são as manifestações mais concretas da mudança climática, essas variações do tempo atribuídas directa ou indirectamente à actividade humana.
Gumercinda fala enquanto uma banda de música se faz ouvir dentro da municipalidade deste povoado situado a cerca de duas horas do centro turístico de Machu Picchu, anunciando a saída de um casamento que segue com um enxame de parentes e amigos, e uma nuvem de papel picado, a única nuvem que se vê a milhares de quilómetros.
A mudança climática ameaça a vida da maneira como foi vivida durante anos na região de Cuzco.
“Antes sabíamos quando semear porque começavam as chuvas. Antes havia três mananciais de onde tirávamos a água para regar. Eles já não existem mais, mas há novas pragas e as batatinhas estragam”, enumera Roberto Lazo, um dos moradores que participa num projecto que envolve 6.500 famílias com a finalidade de procurar formas de adaptação à mudança climática. A Associação Ararina está encarregada de transmitir 24 técnicas não poluentes orientadas a melhorar a produtividade do solo, o uso da água e a sua conservação.
“Há três anos que as temperaturas são tão frias que nossos filhos adoecem de coisas nunca vistas. Além de sofrer de desnutrição, morrem de pneumonia”, conta Gumercinda.
A cerca de duas horas de Pampamarca está Espinar, outra província peruana que faz parte da região de Cuzco. “Aqui o pasto não cresce como antes” e a Puna seca está cada vez mais seca.


A parte alta das montanhas que rodeiam as comunidades camponesas está castanha escuro. “Antes havia neve, vastos pastos. Mas sem gelo já não há água”, explica Adriano Paucara, um dos moradores.
O Perú e o Equador são os dois países da América Latina que têm “geleiras tropicais”, superfícies geladas entre o Trópico de Câncer e o de Capricórnio e que, segundo os estudos científicos, estão a desaparecer.
Para além da retracção e do avanço destas massas geladas ser um processo natural, a intervenção humana modificou este ciclo. E sem glaciares não há água e sem água não há vida. Então, a luta pela água não é um prenúncio de ficção-científica.
Um estudo de 2007 realizado pela Comunidade Andina prevê que na América Latina as tensões em torno da água envolverão entre sete milhões e 77 milhões de pessoas.
Isto acontece no Perú, onde cidades como Espinar têm apenas duas horas diárias de água.
Este país já perdeu 40% dos blocos gelados nos últimos 30 anos e quase a mesma proporção se derreteu no Equador. Os dois países estão entre aqueles destinados a receber o fundo de compensação e para a adaptação à mudança climática lançado na Cúpula de Copenhaga. Mas pouco se avançou.


Os fundos serão o tema de Dezembro próximo, durante a Conferência de Cancún. Mas, por enquanto, nem o dinheiro nem as negociações chegam a estas terras altas dos Andes. Apenas os camponeses, as Ong's e a cooperação internacional.
Adriano Paucara é um dos poucos que já semeia e colhe chuva. Graças a fundos da Oxfam a Ong regional Associação Projecção, construiu um reservatório de água e um sistema de irrigação por aspersão que faz com que sua parcela seja um ponto verde entre tanto seco. Um modelo que procura copiar outros povoados. A 4.400 metros, em Camanoccla, há seis meses que este sistema está ser também implantado.
“Não há pasto como antes. O sol queima como nunca. Antes caminhávamos a pé descalço, mas agora precisamos de calçados. Há frios repentinos que acabam com as plantações. Vêm furacões e doenças para as crianças”, conta um dos moradores da comunidade formada por 500 famílias. Neste ano, “30 anjinhos foram ao céu. Não suportaram o frio e a pneumonia que antes não havia, mas que agora existe”.
Artigo de Silvina Heguy, Clarín / IHU, traduzido pelo Cepat, publicado em outrapolitica.wordpress.com.
Fonte: esquerda.net, Artigo | 23 de setembro 2010

quinta-feira, setembro 23, 2010

valoração dos serviços ambientais

O valor econômico da biodiversidade

por Paulo R. Haddad

O Estadão divulgou, na semana passada, um resumo do estudo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em que se apresentam as vantagens para a sociedade de manter e preservar os seus ecossistemas diante das alternativas de seu uso predatório. O relatório do Pnuma, além da parte conceitual, traz uma série de exemplos de países e regiões que se beneficiaram do uso racional e responsável de seus recursos ambientais.
O argumento central do estudo é de que o meio ambiente presta diversos serviços para a sociedade, quando adequadamente conservado ou preservado. Os serviços ambientais são benefícios derivados da natureza que podem ser: diretos (alimentos, por exemplo) ou indiretos (ciclo de nutrientes ou filtragem das águas, por exemplo); e tangíveis (matérias-primas, por exemplo) ou intangíveis (prazer estético ou experiência espiritual, por exemplo). Podem ser providos localmente (turismo) ou em escala global (sequestro de carbono). Podem ser dispersos (serviços medicinais da floresta tropical) ou importantes para as futuras gerações (manutenção da biodiversidade).
Converter serviços ambientais em fluxos monetários que gerem renda e emprego de maneira sustentável é o grande desafio que se apresenta para um processo de desenvolvimento de regiões ricas em biodiversidade, como é o caso da Amazônia.
O estudo mostra, por meio de diferentes e múltiplos casos, como a avaliação dos serviços ambientais a partir de informações científicas é um passo essencial para a melhor gestão do capital natural do País e de suas regiões. Destaca que, para reduzir a invisibilidade econômica das perdas da biodiversidade, é preciso identificar o que ocorre quando os ecossistemas são degradados ou quando há perdas de serviços ambientais e, em seguida, estimar o seu equivalente monetário. Essa estimativa vem na sequência de um processo de avaliação que começa, em geral, com as mudanças nas políticas públicas – como os impactos do novo Código Florestal, por exemplo.
O valor econômico total dos serviços ambientais será igual ao seu valor de uso direto (insumos e produtos), mais seu valor de uso indireto (ciclo de nutrientes, proteção das bacias hidrográficas), mais o seu valor de opção para usos futuros, mais o seu valor de existência (fauna e flora como objeto de valor intrínseco). Dessa forma se coloca a questão de como alocar ativos ambientais que têm usos alternativos para as gerações presentes e as gerações futuras.
Os recursos podem ser preservados, ou seja, nenhum uso humano é permitido na sua exploração. Eles podem ser conservados, ou seja, a ação antrópica pode ocorrer, desde que sejam mantidos os serviços e a qualidade dos recursos naturais ao longo do tempo. Assim, há um grande espectro de opções de conservação, principalmente quando se levam em consideração os demais objetivos de desenvolvimento (geração de emprego e renda, redução da pobreza absoluta e da pobreza relativa, etc.) e os respectivos trade-offs, que se definem, economicamente, a partir de seus custos e benefícios relativos para a sociedade.
Além do mais, a introdução dos serviços ambientais nos mercados apresenta diversos obstáculos de implementação. Destaca-se a definição de um mecanismo pelo qual os fundos gerados pelos serviços beneficiem de fato as populações locais (os povos das florestas, por exemplo) e não apenas governos e intermediários.
De qualquer forma, o relatório do Pnuma deixa claro que uma das fragilidades das políticas ambientais no Brasil é a de utilizar demais os mecanismos de comando e controle de baixa efetividade e pouco os instrumentos econômicos, numa sociedade em que, frequentemente, as pessoas tendem a mudar seu comportamento em razão dos estímulos com que se deparam.
Paulo R. Haddad, Professor do IBMEC/MG, foi Ministro do Planejamento e da Fazenda
Artigo originalmente publicado em O Estado de S.Paulo.
Fonte: EcoDebate, 23/09/2010

segunda-feira, setembro 20, 2010

acesso à água e saneamento básico

IBGE: Apenas 62,6% das moradias urbanas têm acesso simultâneo a água, esgoto e coleta de lixo

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Apenas 62,6% dos domicílios urbanos brasileiros têm acesso à rede de água, esgoto e à coleta de lixo. Se a análise focar exclusivamente o abastecimento de água, este índice sobe para 93,5%, e se abranger apenas o percentual de domicílios com acesso a serviços de esgotamento sanitário por rede coletora, o índice fica em 68,3%.
A constatação é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Síntese de Indicadores Sociais 2010, com dados relativos ao ano de 2009. O estudo foi divulgado no dia 17/9.
Segundo o levantamento, que associa a qualidade de vida ao acesso simultâneo a esses três tipos de serviço, ainda há muito o que melhorar para alcançar níveis mais altos de qualidade de vida para boa parte da população brasileira. Em 1999 o índice – relativo a domicílios urbanos brasileiros com acesso simultâneo a rede de água, esgoto e coleta de lixo – estava em 57,2% dos domicílios, e no ano de 2003, em 59,6%.
O estudo reitera que quanto menor o rendimento da família, pior é a situação em que ela se encontra em termos de acesso a saneamento básico. Para a classe de rendimento médio até meio salário mínimo per capita, 41,3% dos domicílios tinham esses serviços oferecidos de forma simultânea. Essa proporção vai crescendo para cada classe até chegar em 77,5% para as famílias cujo rendimento per capita é de mais de dois salários mínimos.
Na análise por regiões identificou-se grande desigualdade. Enquanto na Região Norte apenas 13,7% do total dos domicílios tinham acesso aos serviços simultâneos de saneamento – baixando para 10% nos domicílios mais pobres – , na Região Sudeste, onde os domicílios apresentam a melhor situação do país, esse índice sobe para 85,1%.
Na Região Nordeste, a proporção foi de 37% dos domicílios, percentual que baixa para 27,9% quando o foco é direcionado às famílias com rendimento até meio salário mínimo. As regiões Sul e Centro-Oeste apresentaram índices de 62% e de 40,7%, respectivamente, de acesso simultâneo aos três serviços de saneamento.
O estudo aponta que nesse quesito houve “uma melhora diferenciada entre as regiões” ao longo dos últimos dez anos. Na média, o Brasil teve um aumento de 9% no total de domicílios urbanos com serviços de saneamento. A Região Nordeste apresentou um crescimento bem mais expressivo no indicador: 46%.
O IBGE observou ainda que 93,5% dos domicílios brasileiros têm acesso a serviço de abastecimento de água por rede geral. Esse percentual é bem próximo ao registrado nas regiões do país, com exceção do Norte, onde cerca de um terço dos domicílios é beneficiado pelo serviço. As regiões Sudeste (97,1%) e Sul (95,4%) são as que se encontram em melhor situação. A Região Nordeste vem em seguida, com 92,3%, e depois a Centro-Oeste, com 92,0%.
No que se refere à rede de coleta de esgotos, o IBGE considera também a fossa séptica como forma de tratamento, o que coloca as residências com esse tipo de recurso entre os 68,3% de domicílios com acesso a serviços de esgotamento sanitário.
O estudo mostra, porém, que essa média esconde importantes diferenças regionais. Na Região Norte, apenas 16,6% dos domicílios tinham acesso ao serviço público de esgotamento sanitário. Na Região Nordeste, nem metade conta com esse tipo de serviço básico. A Região Sudeste foi a que apresentou o melhor resultado, com 90,7% dos domicílios tendo acesso a esgotamento sanitário por rede geral.
O acesso a uma rede de esgoto vem se ampliando ao longo da última década. Em 1999, a ausência desse tipo de serviço abrangia 36,4%. Em dez anos, caiu para 31,7%. No Nordeste, a queda foi mais acentuada e chegou a 11,4 pontos percentuais. Estava em 67,2% e caiu para 55,4% em 2009.
A coleta de lixo – feita diretamente no domicílio – está praticamente universalizada no Brasil, presente em 98,5% dos domicílios. A variação entre as regiões também é pequena e tem apenas o Nordeste abaixo da média nacional, com 95,8% de acesso ao serviço.
O estudo do IBGE contempla apenas as áreas urbanas, porque é nessas regiões onde estão localizados 85% dos domicílios brasileiros.
Reportagem de Pedro Peduzzi, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 20/09/2010

domingo, setembro 19, 2010

memórias afetivas

Gravidade Amorosa
por Afranio Campos
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   Hoje, parei para lhe reparar pelo prisma solar da tarde, num olhar diferente do trivial, como se percebesse atravessando a janela da razão e seguindo aos poucos os raios da emoção adormecida, e saí de mim sustentado nos traços de partículas de poeira em suspensão, quase invisível, quase inexistente, não fosse a claridade que transpunha as suas curvas, dobras das pernas, cabelos e vínculos imateriais com a paisagem poente. O plano de cores saía do céu cobrindo as folhas ao redor grafitando um véu, ora refazendo o parapeito da janela ora acentuando os riscos do assoalho e suas ripas inteiriças, polidas, exalando um aroma remoto de jasmim; assim era o pêndulo de luz invasora, no entorno de minha visão da sua imagem transitiva na minha imaginação sem gravidade.
   Cada qual com seu cada qual... Vivemos assim, ainda mais próprios nas ações e independentes da opção do que somos. Um farto sorriso de código dava a senha da nossa passagem de ida e volta, e as nossas palavras estalavam na química corporal, na pronta magia das retinas que aproximava um sussurro: “Que seja amor”.
   Girávamos, peões sem fio, soltando a leveza da alma em conquista por incêndios sem pedidos de socorro. Experimentar do melhor vinho, e do que se pede num momento tão especial, um ritual de dança da chuva, sem querer previsão, só para molhar o coração semi-árido.
   Também, havia um estio mútuo de sensações, um silêncio demorado, até chegar a esse ponto... Os meneios assanhavam os espelhos da vontade interior acordando as dezenas de digitais ainda frias, nos embarcando numa viajem cega e egoísta por esses sentimentos, ao estarmos juntos por escolha de uma solução melhor, de um instante do outro, ignorando todo o resto no percurso, cruzando os pés pelas mãos e outras preciosidades sem mais.
   Sem nenhuma dúvida sobramos nas corredeiras tortuosas da permissão, ainda mais desarrumados. Após um ensaio pouco afinado penetramos nossas galáxias internas, quando acabamos calados alinhavando os presentes trocados sem notar a chegada do futuro. Paramos defronte de uma estação de intenso movimento sem querer evitar os verdadeiros instintos. Repetimos de tudo no tempo restante imitando-nos numa mímica improvisada, como se pudéssemos ser mais verdadeiros sem as palavras, e de qualquer outra maneira tudo pareceria estranhamente antigo, como seria se fizéssemos o óbvio. O verbo móvel do corpo dizia tudo do seu jeito dançando a música que só nós ouvíamos, ainda que faltasse alguma nota ofuscada pelo barulho vindo de fora. Uma hora depois descobrimos nossa perfeita sintonia.
   Nem é preciso explicar o que sentimos. O impulso saltou da ausência da língua, a presença abreviou-se no outro, nada podia conter o espontâneo que se revelou no criar de situações indizíveis, no construir de figuras nas nuvens usando o nada, algo fluiu, água na peneira, na sonoridade da nossa voz, no respirar profundo e sereno que veio em seguida. O sabor absoluto dos gestos dados estava no traço dos umbigos mudos. Tudo se tornou uma promessa indubitável, ainda que não dita ou presumida, apenas reconhecida pelo outro naturalmente aceito.
   Concordamos por um sinal afirmativo, arquétipos em acordo, transpiramos e renascemos através de passos em harmonia, buscando sentir o calor e a presença da esperança chegando em navios de cascos maduros, aliados da energia afetuosa envolvente das estrelas por guia. Sabemos o que alimenta e move cada célula num raio de segundo em nossas veias; depois desse encontro mantivemos uma comunicação que ainda nos regula na ida e, nos traz suavemente de volta os benefícios da experiência amorosa, no melhor sentido da nossa inevitável brevidade.

sexta-feira, setembro 17, 2010

a natureza do espaço híbrido

Favelização das cidades
por Ari de Oliveira Zenha
"Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem."
Manuel Bandeira
 
O capitalismo tem transformado sistematicamente as cidades em mega cidades e mais ainda, em hipercidades com população superior a 20/30 milhões de habitantes.
O desenvolvimento urbano que o capitalismo impõe ao mundo desde o seu surgimento historicamente teve e tem como centro reprodutor e de atuação as cidades. É aí que o capital se instala como modo de produção. Os assentamentos urbanos têm evoluído urbanisticamente trazendo consigo grandes núcleos urbanos que vão, na medida em que crescem, transformando estes – núcleos urbanos – numa fusão e apropriação em seu entorno das regiões rurais. Já é comum andarmos quilômetros e quilômetros dentro deste complexo de imbricamento, não sabendo aonde termina a região urbana e começa a rural, é o que os urbanistas chamam de hibridação rural/urbana.
O que tem ocorrido mais intensamente desde o inicio da década de 1980 é que, as grandes cidades aonde se localizavam as chamadas cidades industriais, têm assistido ao desaparecimento maciço das fábricas tendo como resultado a desindustrialização destas, é a urbanização sem industrialização. Este processo dual e contraditório – crescente urbanização sem crescimento econômico e emprego – tem colocado para o mundo o crescimento desmesurado da favelização urbana.
Na cidade de São Paulo as favelas, em 1970, eram de 1,2% de sua população, passando em 1993 para 19,8%, crescimento vertiginoso e explosivo de uma média anual de 16,4% ao ano na década de 1990.
Este processo de desertificação industrial não é recente no modo de produção capitalista, já ocorreu na Inglaterra nos primórdios do capitalismo e ocorreu e ocorre até hoje em todo o mundo capitalista.
O aumento generalizado da favelização é gritante no mundo, é mais intenso nos países em desenvolvimento e nos países do Terceiro Mundo aonde o crescimento urbano vem ocorrendo de forma alarmante, descontrolada e miserabilista.
O capitalismo neoliberal concebido a partir de 1970 patrocinado pelo Consenso de Washington - 1989 - colocou a situação ainda mais grave e angustiante para a maioria da sua população, expandindo vertiginosamente as favelas e cortiços. Os favelados compõem 6,0 % da população urbana nos países desenvolvidos e chega a 78,2% nos países menos desenvolvidos.
Num levantamento realizado em 2003 pela UN-Habitat coloca o Brasil com 36,6% de sua população urbana vivendo em favelas e cortiços, representando quase 52 milhões de pessoas. A maior favela do mundo encontra-se no México com quatro milhões de habitantes. Na cidade do Rio de Janeiro 23 favelas encontram-se dentro desta e 77 são periféricas.
Na cidade de São Paulo a pesquisadora Suzana Taschner diz o seguinte: “(...) o governo do Partido dos Trabalhadores (PT), a partir de 1989, tentou regularizar e melhorar a ‘imensa cidade ilegal’ dos pobres. Embora as reformas do PT tenham produzido alguns resultados admiráveis, infelizmente, com as melhorias o submercado imobiliário se consolida na favela. Terrenos e casas tornam-se bens de consumo e o preço dispara”. Os resultados do empreendimento do PT foram os surgimentos da “favela dentro da favela”, onde surgem os cortiços, onde se alugam quartos aos mais pobres dentre os pobres, como diz Mike Davis.
Nas favelas da cidade do Rio de Janeiro, devido à falta de espaço urbano (terra), aparece a procura crescente por aluguel de cômodos. Segundo Suzana Taschner com a verticalização das favelas mais antigas surgem prédios de quatro a seis andares, em geral para serem alugados.  
Ao mercantilizar a terra urbana dos favelados, o sistema capitalista mundializado, de forma imperativa e implacável os considera como lixos humanos, pois para o capitalismo a existência do ser humano não passa de mais uma mercadoria a ser comercializada no grande mercado globalizado. 
Diante disso o primeiro e mais famoso empreendimento de condomínios fechados (arquitetura do medo) construído no Brasil chamado Alphaville é uma verdadeira cidade na periferia, “cercada e americanizada na grande São Paulo”. Segundo Mike Davis, citando a brasileira Teresa Caldeira, diz o seguinte: (...) “a segurança é um dos principais elementos da publicidade e obsessão de todos os envolvidos”. Na prática, isso tem significado justiça com as próprias mãos contra criminosos e vadios invasores, enquanto a juventude dourada da própria Alphaville pode fazer loucuras; um morador citado por Caldeira afirma: “(...) a lei existe para os mortais comuns, não para os moradores de Alphaville”.     
Outro exemplo está na cidade do Rio de Janeiro onde um condomínio fechado (vertical) encravado no bairro nobre da Barra da Tijuca é todo cercado por muros altos e cercas eletrificadas, ocupa bem dizer todo um quarteirão e seus proprietários vivem em uma verdadeira concha apartada do mundo real. Este condomínio tem campo de golfe, pista de Cooper, piscinas, restaurante, lojas de conveniência, heliporto, sauna, academia de ginástica, cercas eletrificadas, segurança 24 horas, garagem para quatro carros, na sua grande maioria importado e blindado.
Nos fins de semana o heliporto chega a ficar congestionado, pois helicópteros descem e sobem levando seus moradores para suas mansões cinematográficas em Angra dos Reis (RJ). Tudo é vigiado 24 horas por câmeras e seguranças. Só para ilustrar, quando se vai utilizar a parte de piscinas, restaurante, academias, etc., o trabalhador que controla a entrada nesses recintos, está vestido como um serviçal com roupas que fazem lembrar os serviçais da nobreza inglesa. As trabalhadoras que servem aos usuários das piscinas vestidas todas de branco dos pés à cabeça, estão impecáveis para os requisitos e deleite de luxo e limpeza de seus moradores burgueses e da alta classe media.
O servilismo dos trabalhadores destes condomínios é constrangedor, pois eles se colocam em uma posição de inferioridade, de submissão e de serventia aos desejos e caprichos de seus moradores, chegando com isso, às raias do absurdo a que um ser humano pode se sujeitar. Em várias mesas a língua falada é o inglês. Os salões de festa são todos com ar condicionado, ou seja, enquanto seus moradores fazem suas festas (durante o dia) a uma temperatura de 20 a 23 graus, do lado de fora a temperatura está próxima aos 40 graus. Mas, por ironia, a vista que se tem ao se alcançar os fundos desse condomínio é contrastante: ao longe, nas encostas, nos morros, está a maior favela do Rio de Janeiro e do Brasil, a favela da Rocinha, como querendo dizer: olhem, estamos aqui!
Ari de Oliveira Zenha é economista.
Fonte: Caros Amigos | Matéria, 15/09/2010.

quarta-feira, setembro 15, 2010

aquela manhã de...

Renascimento
.
Dei uma pausa esperando e não achei porquê
Saltei dos pensamentos e caí do berço em febre
Para escrever sobre emoções que nem sei dizer
.
Acendi a tosca manhã ao puxar o cobertor do dia
Pintei um quadro imaginário sob os pés pousados
E mãos de recém-nascido abriu a porta talhada
.
Quis mais da sobremesa que a vida me servia
Uma vez provado os sabores nada mais seria igual
Saberia lamber cada gota sentindo o que evoluiu
.
Minha percepção alimentou uma nova vibração
Por dentro e por fora partindo o que era rijo
Renovando cada célula em suas íntimas relações
.
Fiz um instrumento mais prático para a viajem
Parecendo conhecer os planos que perseguia
Mal sabia que tudo era mais que uma miragem
.
De repente uma paisagem de céu jogava vidros
Chorei ao rodar os quatro cantos do velho mundo
Em cada parada conheci uma razão para onde ir
.
Sofria o meu espaço interior elevado em graus
Arremessei os fardos das dores que me ardiam
Pude amanhecer em ares que soprariam sonetos

valoração da biodiversidade!

A solução para o impasse florestal é econômica

por Karen Alvarenga Windham-Bellord

.
Depois de ler inúmeros artigos criticando ou elogiando o relatório do deputado Aldo Rebelo que propõe a revisão do Código Florestal, em andamento no Congresso Nacional, me veio à cabeça a célebre frase com a qual Bill Clinton praticamente venceu as eleições presidenciais de 1992 nos Estados Unidos: “It is the economy, stupid!”
A questão mais importante na discussão da reforma do Código Florestal não é o meio ambiente ou a avidez de produção do agronegócio, mas a necessidade de dados econômicos.
As sugestões de alteração na legislação florestal constantes no relatório mencionado introduziriam maior “flexibilização” legal, ao possibilitar anistia para aqueles que promoveram desmatamentos ilegais ocorridos até julho de 2008 em áreas de preservação permanente; inexistência de obrigação de instituir e manter reserva legal para imóveis com até quatro módulos fiscais; estabelecimento da competência dos municípios para autorizar desmatamentos; e necessidade de os estados realizarem Programas de Regularização Ambiental como condição essencial para que se possa exigir dos proprietários a recuperação das áreas por eles degradadas.
Todas essas modificações parecem favorecer os proprietários rurais, ansiosos para expandir a fronteira agrícola na Amazônia, no Cerrado e em outras áreas de interesse ambiental. Dessa forma, eles produzirão e exportarão mais grãos ou carne.
Os ambientalistas se encontram nervosos e pasmados com a falta de dados científicos referentes aos impactos negativos dessas mudanças nos biomas brasileiros. Eles têm se manifestado contrariamente à “falta de senso” da revisão do Código Florestal em artigos científicos e jornalísticos, cartas, entrevistas, blogs e networks sociais.
Todavia, ainda não houve um debate informado por elementos referentes à economia ecológica e aos ativos e passivos ambientais que serão criados nos setores da economia brasileira devido a tais mudanças na legislação florestal.
Há 20 anos, economistas vêm realizando estudos sobre a valoração da biodiversidade, desenvolvendo indicadores e fórmulas para calcular quanto custaria, por exemplo, a perda de nascentes que fornecem água potável para comunidades locais e a perda de polinizadores para a agricultura local devido à destruição de habitats. Outra grande utilidade de tais pesquisas é informar tomadores de decisões entre diferentes formas de utilização da terra. Uma maneira de decidir se os empreendimentos valem a pena economicamente é realizar um cálculo básico sobre a realização de empreendimentos econômicos em substituição a ecossistemas saudáveis. Assim, adiciona ao valor gerado pelo serviço ambiental, o valor necessário para a recuperação de tal serviço caso ele seja destruído pelo empreendimento, subtraindo o valor gerado pelo empreendimento em prol da sociedade. Se o resultado final for positivo, o empreendimento não deverá ser realizado. Se o resultado for negativo, o empreendimento é viável economicamente.
Conforme o relatório sobre a economia dos ecossistemas e da biodiversidade para formadores de políticas nacionais e internacionais (TEEB, 2009), um exemplo famoso dessa estimativa foi a decisão política de proteger e restaurar as bacias hidrográficas de Catskill e Delaware, principais fornecedores de água potável para a cidade de Nova York. A prefeitura, entre outras medidas, reservou US$ 300 milhões por ano até 2017 para adquirir propriedades próximas às bacias e conter o desenvolvimento econômico que causa enchentes e poluição. A análise de custo-benefício se concentrou em apenas um serviço prestado pelo ecossistema, qual seja, o valor gerado pelo fornecimento de água potável através da filtragem realizada pelos mananciais e economizou para a cidade cerca de US$ 6 bilhões que teriam sido gastos na contratação de serviços de purificação da água, caso as atividades de degradação continuassem.
Investir em recursos naturais torna-se ainda mais vantajoso se for considerada a multiplicidade de serviços prestados por ecossistemas saudáveis, tais como, regulação do clima, prevenção de riscos ambientais e produção de fibra e alimentos.
Após o desastre do tsunami, em 2004, no sul da Tailândia, por exemplo, há considerável interesse na não destruição, reabilitação e restauração de manguezais que antes serviam como barreiras naturais contra tempestades costeiras e que haviam sido substituídos por outras atividades.
Assim, no sudoeste da Tailândia, os órgãos ambientais decidiram por não aprovar uma indústria de camarão que seria localizada em um manguezal porque, ao fazerem as contas, chegaram à conclusão de que os benefícios econômicos advindos da preservação do manguezal eram maiores que os ganhos que a indústria de camarão proporcionaria. Ou seja, os valores que seriam gastos pelo poder público para construir proteções artificiais contra tempestades e substituir as rendas geradas para as comunidades locais seriam muito maiores que os valores gerados pela empresa de camarão com tributos e empregos.
Voltando ao Brasil, as áreas protegidas na Amazônia, conforme elucidam Portela e Rademacher (2001), por meio de seus serviços ambientais, geram benefícios locais e nacionais que ultrapassam 50% do que é obtido com atividades de agriculturas familiares. Amend (2007) também conclui em seus estudos que se as áreas protegidas na Amazônia fossem substituídas por pecuária extensiva, haveria uma geração de receita três vezes menores que os valores gerados com a preservação de tais áreas.
Assim, para que os políticos tomem uma decisão acertada em relação à melhor legislação florestal, seriam necessários a identificação dos serviços prestados pelos ecossistemas brasileiros a serem degradados e o cálculo de quanto custaria para restaurar tais serviços. Vários estudos pelo mundo afora em relação às áreas florestais concluíram que os benefícios advindos de ecossistemas protegidos superam em muito o custo de protegê-los e o custo de substituir alguns dos serviços prestados pelo ecossistema por serviços fornecidos por empresas públicas e privadas.

Karen Alvarenga Windham-Bellord é advogada e Ph.D pela Universidade de Cambridge, Inglaterra.
Artigo originalmente publicado no Valor Econômico.
Fonte: EcoDebate, 15/09/2010

terça-feira, setembro 14, 2010

consagração da banalidade

A banalização do banal
por Carlos Vogt
.
Entre os muitos sinais de que o novo, no modernismo, trazia já, em si, os elementos de sua superação, um deles pode ser destacado, até porque é emitido de um lugar, de um topos cultural, menos esperado, mais discreto talvez e por isso, quem sabe, mais surpreendente.
Ele vem da linguística e de sua concepção tal como proposta no Curso de linguística geral, publicado em 1905 por obra de discípulos do mestre suíço, Ferdinand Saussure, reunindo em livro aulas, palestras e conferências que o autor, ele próprio, não teve tempo, em vida, de organizar.
E aqui vai o sinal de uma primeira ausência: Saussure é autor de um livro que ele não escreveu mas cujas ideias revolucionaram os estudos da linguagem humana e de todos os sistemas de signos. Daí que, ao fundar a linguística moderna, Saussure funda também a semiologia e lança as bases para os estudos de todos os sistemas de significantes em qualquer tipo de linguagem, tendo como princípio de sua organização a função comunicativa.
A segunda ausência, esta agora parte integrante e constitutiva da teoria, diz respeito à noção de valor do signo linguístico. Para Saussure, o valor do signo linguístico é relacional, não é uma coisa em si, não é uma substância. É na relação de um signo com outros, dentro do sistema a que ele pertence, que ele vale por alguma coisa que ele representa, mas que ele não é.
Desenha-se aqui, como consequência dessa noção relacional do valor do signo, o princípio de classificação e de organização dos fenômenos de comunicação, princípio que domina todo o estruturalismo, do ponto de vista teórico e metodológico, e que consiste em procurar estabelecer as regras de funcionamento de um dado sistema de significações pela estrutura das relações de oposição entre os elementos significantes que integram o referido sistema.
A linguística tem como objeto explicar como se dá a relação som/sentido, isto é, como uma cadeia material de sonoridades com propriedades mecânicas e físicas específicas produz sentidos e significados cuja natureza é imaterial, sem nenhuma relação de motivação necessária entre um nível e o outro.
O fenômeno da significação da linguagem humana e de todos os sistemas semiológicos é, assim, explicado negativamente, por uma ausência: a de ser o que ele não é. Isto é, para que a linguagem realize plenamente a sua função maior, que é a comunicação, ela nega sua materialidade física e afirma a imaterialidade do que ela significa nos atos de fala e de enunciação que entrelaçam a comunidade dos falantes numa rede de reconhecimentos e de estranhamentos que formam a dinâmica da vida em sociedade. Portanto, a linguagem é, para forçar o paradoxo, o que ela não é.
Essa visão negativa, relacional, da linguagem e da comunicação será fortalecida, ainda mais, com o advento da informática, da internet e da rede mundial de computadores e de seus vários produtos sociais como o são, entre outros, os sites, os blogs e o Twitter.  
Com eles ganha força o conceito de rede social, sobretudo com as últimas formas de organização da comunicação rápida, veloz e instantânea, baseada numa limitação cada vez maior do número de caracteres a serem utilizados pelos adeptos, em número crescente no mundo todo, dessa nova espécie de tribalismo virtual.
Com o processo de semiotização da vida social no mundo contemporâneo, processo caracterizado pela substituição da coisa pela sua representação, isto é, pela sua imagem, pelo seu signo e no qual as tecnologias de informação e comunicação, as TICs, têm um papel fundamental , vem se constituindo também uma espécie de nova metafísica, uma metafísica não do ser, mas de seu simulacro, não do mundo real e das ideias de sua concepção, mas da virtualidade da forma de suas apresentações. Breve, uma metafísica da imagem.
Associe-se a isso a velocidade dos dados e informações e tem-se, com o instantaneísmo, a presentificação do tempo e do espaço feitos agora em imagens de simultaneidade que se oferecem a uma nova forma de percepção, sem perspectiva, porque sem passado, sem passado, porque sem distância, sem distância, porque sem futuro de possibilidades.
Se tudo cabe no cenário familiar da sala de jantar, da biblioteca, do escritório, da caminhada pelas ruas, da viagem de carro, de ônibus, de navio, de avião, entrando pela janela da TV, do computador, do laptop, do celular, tendemos também a estar em toda parte e em lugar nenhum, não como uma nova espécie de divindade jansenista, mas como uma ausência tecida nos intervalos dos nós que amarram a rede, feita do vazio relacional que nos constitui, no jogo dinâmico, veloz e fugaz das representações, em imagem, não do que somos porque isso já não saberemos , mas do que somos levados a ser e logo a deixar de ser.
Um dos aspectos característicos da sociedade contemporânea, sublinhado pelo fenômeno das redes sociais, é o da banalização da privacidade, homólogo, de algum modo, ao da banalização da violência, já tão apontado, descrito e analisado como traço marcante do cotidiano de nossas vidas.
O Twitter, independente das utilizações práticas e boas que dele se podem fazer, como as que, por exemplo, permitem uma grande otimização dos serviços na administração pública, é uma consagração da banalidade e uma banalização da privacidade.
Consagra o banal porque registra para as tribos de seguidores a “planitude” infinita do sem-importância de que todos somos investidos em boa parte de nosso dia-a-dia. Acordamos, levantamos, vamos ao banheiro, escovamos os dentes, tomamos café, saímos, conversamos, trabalhamos, bebemos, comemos, vamos ao cinema, deitamos, dormimos, namoramos, e por aí vai. Não é viver que é banal. A banalização da vida é tentar fazê-la brilhar só pelo banal, erigindo-o, nas tribos, em mantras de revelação pela boca do sacerdote cuja eminência é, no momento, mais evidente, ou, o que dá no mesmo, cuja evidência é mais eminente.
Nesse sentido, é ilustrativa a mini-crônica de humor da coluna de Tutty Vasques publicada n’ O Estado de S.Paulo, caderno “Metrópole”, p. C-12, do dia 19/08/10, intitulada “Você conversa com o seu pillow?”, que abaixo transcrevo:
Se você é desses que de vez em quando vai dar umas voltinhas no Twitter e volta com a impressão de que não sabe andar nessa bicicleta, calma! Na maioria das vezes, a falta de intimidade com a linguagem das redes sociais é até louvável num ambiente sem cerimônia ou privacidade. Muita coisa que você lê ali e não entende não é mesmo da sua conta.
Quer ver só?
Dia desses, me embrenhei nas novíssimas mídias eletrônicas pra ver se aprendia a ganhar dinheiro com isso. Cheguei ao Twitter de Eike Batista já nos finalmente da conversa fiada do bilionário: “Vou bater mais um papinho com meu Pillow” sem duplo sentido, por favor!
Como nunca tinha ouvido aqui no Brasil alguém chamar travesseiro de “Pillow” (ainda mais com inicial em caixa alta), resolvi pesquisar no Google a respeito. Descobri um certo Pillow Talk, travesseiros que, por meio de sensores, se comunicam a grandes distâncias, permitindo que namorados sintam a presença e até o batimento cardíaco um do outro quando dormem em cidades diferentes.
Daí a você começar a imaginar se a namorada do Eike Batista está viajando é um pulo que, sinceramente, parece coisa de maluco, né não? Sei lá se ele tem namorada, caramba!
À banalização do banal segue-se a banalização da privacidade a tal ponto que, há algum tempo atrás, foi noticiado em todo o país, por diferentes meios de comunicação, o caso do casal de jovens adolescentes que se expuseram e expuseram pelo twittcam uma relação sexual, sem outro propósito, ao que parece, se não o de tratar esse ato de grande intimidade na praça pública das trivialidades corriqueiras e das banalidades virtuais.
Não sendo apenas isso, o que serão também as redes sociais?
.
Fonte: Com Ciência | Editorial

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