A VELHICE DOS MENINOS
DO PT
por Gina Menezes
Foi um misto de nostalgia e surpresa ao deparar
dia desses com o senador Jorge Viana (PT-AC), quando pude constatar o óbvio e
inegável poder do tempo sobre ele. Aos 53 anos, nem de longe é o “menino do
PT”, como era tratado pelo então rival Edmundo Pinto. Pena que Pinto não viveu
o suficiente para ver Viana se transformar no quinquagenário bem sucedido, nem
o poder que detém há 20 anos. Parece óbvio essa conclusão infantil, mas não é.
Ao ver os cabelos prateados do meu herói da
adolescência, pude constatar que necessito de novos “heróis”. Pena que o
próprio Partido dos Trabalhadores acreano não reconheça isso. Há duas décadas,
vejo o partido reinventar e reutilizar suas lideranças sem dar espaço as novas.
Lendo na imprensa local a notícia de que o deputado estadual Ney Amorim, 34
anos, não levará o nome a disputa pela pré-candidatura a Prefeitura de Rio
Branco, entreguei os pontos de vez.
Continuaremos a ter como estrelas os senhores
petistas, que caminham a passos largos para os 60 anos e repetem, sem nenhuma
originalidade, o adversário Flaviano Melo, aquele que levará na biografia o
feito de ter tentado com que o PMDB no Acre nascesse e morresse com ele mesmo.
O PT vai pelo mesmo caminho, porque os “meninos” se recusam a acreditar que a
perpetuação de poder é utopia e imortalidade é sonho aquém da nossa realidade
mundana.
A notícia que mencionava Ney Amorim era assinada
pela assessoria de imprensa do próprio PT. O parlamentar nem se dignou a deixar
que a assessoria dele assinasse a nota. Para que? Se a ideia foi mesmo do PT
nada mais justo que o partido assinasse. Amorim pode não entender de momento
político, mas entende de direito autoral.
Não é certo a idéia contraditória de tentar a
perpetuação no poder pelas mãos de meia dúzia de pessoas. Incrível
coincidência: quando Jorge Viana foi eleito prefeito de Rio Branco, em 1990,
contava 31 anos de idade. Praticamente a mesma idade de Amorim, sendo que Viana
jamais havia desempenhado mandato parlamentar. Ney está no segundo, como
deputado estadual.
Naquela época, na distante década dos 1990, aos
13 anos, eu não faltava aos comícios. Praticamente obrigava minha
irmã mais velha a me levar para ver o lindo e, juro, achava Jorge Viana
alto, um homenzarrão. Ele povoava meus sonhos de adolescente como sua
inteligência, juventude e beleza. Tão logo pude votar, comecei e continuei
votando nele e nos seus também inteligentes amigos da Frente Popular do Acre.
Hoje, aos 31 anos, caminho pelos corredores da
Assembléia Legislativa do Acre, onde trabalho, dividida entre confusão e
decepção. O petista “jovem” da vez, Ney Amorim, que tem quase a mesma idade que
a minha, não consegue espaço, tampouco recebeu o legado de “menino do PT".
Como assim? Minha geração endeusou os meninos que se tornaram cinquentões para
que eles usurpassem os direitos dela? Na nota escrita por algum colega meu, o
deputado Amorim afirma que não quer ser prefeito. Ou ele foi obrigado a
concordar com isso ou ele não merece mesmo ser prefeito. A decepção é enorme. Seria
a mesma coisa que eu, como jornalista, me negasse a ser correspondente
internacional. Contrasenso puro.
Existe um falso absoluto no Acre de que apenas o
PT pode indicar cabeça de chapa na Frente Popular do Acre. Todos os demais
partidos, incluindo o sempre eterno aliado e subserviente PCdoB, não passa de
coadjuvante. Por onde ando não se leva a sério que Perpetua Almeida com sua
explosão de popularidade possa ser candidata a prefeita de Rio Branco, porque
cometeu o erro fatal de não ser petista ou menina do PT.
O deputado federal Henrique Afonso, 47 anos, que
ajudou a fundar a Frente Popular do Acre, apesar de ser só um pouquinho mais
novo que os “meninos do PT", não têm o direito sequer de cogitar a ser
candidato a prefeito. Se ele o faz com a cara e a coragem, como vem fazendo, é
tido como um fanfarrão, piadista. Por quê? Coisas que a vã filosofia política
não explica.
Henrique Afonso está no PV, mas foi no PT que se
criou politicamente e de onde foi banido por motivos que não se explicam
inteiramente. A única coisa que sei é que pode até ter sido “menino” na mesma
época que Jorge e Tião Viana, foram do mesmo PT, mas não foi aceito como da
mesma “turma”, portanto, está desclassificado segundo os manda chuvas da Frente
Popular.
O engraçado é pensar que o conselho regente da
FPA é formado por petistas. Enquanto os petistas reservam espaço dentro como
quem reserva água no deserto, a oposição vai se beneficiando dessa
infantilidade política. Exemplo disso é o ex-deputado federal Fernando Melo,
pré-candidato a prefeito de Rio Branco pelo PMDB, com apoio do senador Sérgio
Petecão (PSD), outro dissidente. A propósito, se dizia que Petecão não tinha
luz própria e que deveria se conformar com o eterno posto de coadjuvante. Os
199.956 votos do senador Petecão mostraram que a análise da Frente Popular,
especialmente do PT, estava errada.
Alguém pode questionar o que tenho a ver com
isso. Mas tenho muito, pois, a exemplo de milhares de adolescentes, sonhei com
a FPA, que agora vejo correr o risco de morrer caso não haja alternância de
poder dentro da própria coligação. Pelo tempo perdido com esse sonho de
adolescentes, peço: criem novas lideranças e nos façam sonhar outra vez.
Não venham argumentar sobre a capacidade ultra
especial de Jorge Viana, Tião Viana, Gilberto Siqueira, Francisco Carioca e os
demais iluminados cinquentões que dominam o ambiente político da Frente
Popular. Não duvido da capacidade deles, mas peço que não duvidem da capacidade
dos outros. Nem uma pesquisa cientifica me foi apresentada mostrando que Ney
Amorim, Perpetua Almeida ou Henrique Afonso é menos capacitado. E mais: título
acadêmico, mesmo que seja como professor de história pela Universidade Federal
do Acre, como o de Carioca, não podem suprimir, competir ou servir de
embasamento para contestar a voz popular que elegeu o não tão alfabetizado
Sérgio Petecão.
Gina Menezes é jornalista
Fonte: Blog Altino
Machado, 07/09/2011
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