por Karina L. Angeletti e Pablo Lavarello
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(*) Texto em português publicado
originalmente no IHU-Online. A tradução é
do Cepat.
A reformulação do Plano de Estudos do curso de Licenciatura em Economia da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Nacional deLa Plata proposta por parte das
autoridades do Departamento de Economia deixa uma vez mais postergado o debate
sobre qual deveria ser a formação dos economistas em um país como o nosso [a
Argentina]. Nos últimos 30 anos esta Faculdade esteve enviesada para uma
formação segundo a qual se procura explicar como é possível alcançar o máximo
de bem-estar da sociedade a partir de uma concepção utópica de mercado.
A reformulação do Plano de Estudos do curso de Licenciatura em Economia da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Nacional de
Qualquer desvio que houver entre
essa concepção utópica e o funcionamento real dos mercados é considerado uma
“distorção” que deve ser corrigida mediante a abertura, a desregulação e a
liberalização da economia. Apenas naqueles casos pontuais em que existem
“falhas de mercado” (exemplo: a presença de bens públicos) se justificaria
algum tipo de política.
A proposta de reforma feita pelas
autoridades da Faculdade consolida esta visão, transformando em opcionais as
poucas matérias ainda existentes que permitiriam explicar os problemas
econômicos a partir de outras perspectivas. Assim mesmo, se elimina a
Sociologia como matéria, se reduz a uma única disciplina obrigatória a história
econômica e se envia para cursarem a Faculdade de Humanidades aqueles
estudantes que considerarem necessário ampliar a temática.
Ao mesmo tempo em que se reduzem
estes conteúdos, procura-se interpretar os conflitos reforçando a formação na
Teoria dos Jogos. Embora se mantenha uma forte formação em ferramentas
econométricas e matemáticas, as falências de uma formação teórica crítica
desperdiçam seu potencial para se colocar questões e contrastar hipótese. A
formação do graduado perde densidade teórica e se torna ahistórica e associal,
aprofundando as falências que o plano vigente possui.
A preeminência desta visão, que
denominamos de Teoria Econômica Padrão (TEE), leva a uma espécie de
esquizofrenia na formação do economista. Esta visão não apenas impede a
interpretação das crises internacionais, mas muitas vezes se encontra na sua
origem. Tampouco permite explicar como um país como a Argentina que não segue
suas recomendações conseguiu minimizar os efeitos da crise internacional em
2009 e manter nove anos de crescimento, iniciado em 2003. Muito menos consegue
identificar os possíveis limites estruturais, como a limitada diversificação e
a persistente heterogeneidade da estrutura produtiva, que podem atentar contra
a sustentabilidade deste caminho. Problemas estruturais que reaparecem no
debate econômico e que constituem o sintoma de uma nova realidade à qual a
universidade deve responder com cabeça própria.
Acreditamos que é necessário
avançar rumo a uma verdadeira reformulação dos Planos de Estudo introduzindo
uma orientação que denominamos de Teoria Estrutural do Desenvolvimento (TED),
que procura ir além de um conjunto delimitado de conteúdos heterodoxos,
permitindo também a incorporação ao plantel docente de professores com
formações diferentes da dominante. Para isso propomos um tronco comum de três
anos e duas orientações para os dois últimos anos, uma em TEE e outra em TED,
cada uma com uma coerência própria. Ambas as orientações compartilhariam vários
cursos, possibilitando o debate entre ambas.
É de destacar que em nossa região
já existe desde os anos 1950 um conjunto coerente de contribuições que buscou
explicar os problemas estruturais que qualquer processo de desenvolvimento em
um país periférico coloca. É o caso dos trabalhos dos pioneiros do
desenvolvimento como Prebisch, Furtado, Hirschmann, Pinto, entrou outros. Nesta
orientação, se incorporam as contribuições dos pós-keynesianos,
regulacionistas, institucionalistas e evolucionistas, entre outros, que
permitem introduzir as dinâmicas da mudança estrutural, acumulação de capital e
os comportamentos em desequilíbrio nos fundamentos mesmos da formação do
economista.
Entendemos que é imprescindível
avançar nesta direção a fim de recuperar uma formação do economista, qualquer
que seja seu âmbito de inserção profissional, que lhe permita contribuir para o
desenvolvimento de nossos países e nossos povos, afastando-se para sempre da
aplicação irreflexiva de recomendações de política que desconhecem
especificidades históricas e estruturais da região.
Fonte: Carta Maior |
Economia, 17/09/2011
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