Relatório francês denuncia 'novo apartheid no Oriente Médio'
por Eduardo Febbro - Direto de Paris
A dimensão estratégica do acesso à água
no conflito entre Israel e Palestina é uma das colunas vertebrais desse
sangrento antagonismo territorial. Um severo informe elaborado pelo parlamento
francês suscitou uma irada reação das autoridades israelenses, ao mesmo tempo
em que traz uma série de revelações sobre a forma pela qual Israel utiliza esse
recurso vital que é a água para subjugar os palestinos.
Elaborado pela Comissão de Relações Exteriores da
Assembleia Nacional francesa, o informe, intitulado “Sobre a geopolítica da
água”, descreve a gestão da água como “um novo apartheid no Oriente Médio”. Ao
apresentar o informe, o deputado socialista Jean Galvany também destacou que,
no que diz respeito ao acesso à água, “a prioridade é dos colonos em caso de seca,
e isso representa uma infração do direito internacional”. Galvany ressaltou
ainda que “os poços (de água) cavados espontaneamente pelos palestinos na
Cisjordânia são sistematicamente destruídos pelo Exército”. O deputado citou
ainda o caso de Gaza, onde, assegura, “as reservas de água foram alvo de
bombardeios em 2008-2009” .
O governo israelense reagiu com grande virulência
após a imprensa divulgar parte do informe parlamentar francês. Yigal Palmor,
porta-voz da chancelaria israelense, declarou que o deputado Jean Galvany havia
“introduzido uma terminologia extrema no documento, no último momento e sem
informar seus colegas”. Galvany negou as críticas israelenses, mas reconheceu
que o termo “apartheid” poderia suscitar fortes reações. No entanto, observou o
deputado “por causa da ausência de denúncias permite-se que se faça qualquer
coisa”. Por outro lado, o governo palestino celebrou a publicação de um informe
que mostra “o controle israelense sobre os recursos palestinos, sobre a água, e
sua utilização em favor dos colonos e dos israelenses”.
Cada parte defende seu direito neste intrincado
conflito onde a água é um dos elementos mais críticos. No último número da
revista Questions
Internationales, o analista Pierre Berthelot, pesquisador no Instituto
Francês de Análise Estratégica, escreveu que “os israelenses consideram a água
como um tema restrito á área militar, o que torna impossível os debates e os
projetos inovadores e equilibrados”. De fato, devido ao bloqueio do processo de
paz e, por conseguinte, ao trancamento de todas as negociações que o
acompanham, as discussões sobre o acesso e repartição da água estão em ponto
morto.
A única negociação que existe figura no marco dos
acordos de Oslo II firmados em 1995. Este acordo internacional, firmado
conjuntamente por Israel, palestinos, Estados Unidos, Rússia, Jordânia, Egito e
União Europeia, prevê um cálculo das necessidades palestinas da água para o
período 1995-1999. O acordo deveria ser renegociado em 200, mas por causa da
segunda intifada nos territórios palestinos acabou suspenso. Isso conduziu a
uma situação extremamente complexa na qual, cada vez que os palestinos têm que
perfurar para buscar água, dependem das autorizações de Israel, seja do
Exército, seja do governo, seja do Joint Water Comitee (comitê misto composto
por israelenses e palestinos).
Contudo, como assinalou ao vespertino Le Monde Stéphanie Oudot, do Departamento de Água e Saneamento da Agencia francesa de Desenvolvimento, “na prática são os israelenses que decidem e, em geral, a favor das solicitações israelenses e não palestinas”. Neste contexto, o informe parlamentar francês afirma que “os 450 mil colonos israelenses da Cisjordânia utilizam mais água que os 2,3 milhões de palestinos”. Os cálculos das ONGs israelenses e palestinas vão nesta direção: os palestinos consomem 70 milhões de metros cúbicos de água contra 222 milhões para os colonos israelenses.
Contudo, como assinalou ao vespertino Le Monde Stéphanie Oudot, do Departamento de Água e Saneamento da Agencia francesa de Desenvolvimento, “na prática são os israelenses que decidem e, em geral, a favor das solicitações israelenses e não palestinas”. Neste contexto, o informe parlamentar francês afirma que “os 450 mil colonos israelenses da Cisjordânia utilizam mais água que os 2,3 milhões de palestinos”. Os cálculos das ONGs israelenses e palestinas vão nesta direção: os palestinos consomem 70 milhões de metros cúbicos de água contra 222 milhões para os colonos israelenses.
O informe parlamentar francês levantou uma enorme
polêmica entre Paris e Tel Aviv. Talvez mais pela terminologia empregada,
considerada “viciada” pelo governo israelense, do que por seu próprio conteúdo.
Em 2009, um informe do Banco Mundial (Assessment of Restrictions on
Palestinian Water Sector Development) já havia denunciado o controle, por
parte de Israel, da água na Cisjordânia. O mesmo informe do Banco Mundial
apontou também a situação em Gaza, onde o acesso à água é ainda mais
problemático. Segundo o Banco Mundial, em Gaza, “só 5% ou 10% dos recursos
d’água correspondem às normas padrões de qualidade”.
Tradução: Katarina Peixoto
Finte: Carta Maior |
Internacional, 21/01/2012
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