"Acesso à água desencadeará as grandes guerras do século." Boaventura de Sousa Santos
Se as guerras do século XX foram
motivadas pela exploração do petróleo, os conflitos do século XXI estarão
centrados no controle dos hídricos, previu o sociólogo português Boaventura de
Sousa Santos. “Quem controla a água controla a vida”, disse.
A reportagem é de Micael Vier B. e
publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de
Comunicação (ALC), 27-01-2012.
Boaventura apresentou palestra em São
Leopoldo, hoje, no Fórum Social Temático 2012, evento preparatório para a
Cúpula dos Povos da Rio + 20. Ele fez um apelo para que o tema da água motive a
agregação dos movimentos sociais, reunindo em torno dele povoados rurais e
urbanos, movimentos de mulheres e indígenas.
Ao sinalizar dois grandes paradigmas em
torno da temática, o sociólogo disse que enquanto comunidades consideram a água
um bem comum vinculado à sua história, identidade e espiritualidade, a tese
defendida pelo Banco Mundial submeteu a exploração da água às leis do mercado.
As dimensões do problema revelam que
17% da população mundial não possuem acesso à água potável, enquanto 40% dos
moradores do planeta não têm saneamento básico. Mesmo Manaus, cidade cercada
com a maior quantidade de água doce no mundo, apresenta problemas de coleta e
tratamento de esgoto.
Em países do continente africano,
afirmou Boaventura, o problema aflige diretamente a população feminina, na
medida em que muitas mulheres chegam a consumir seis horas diárias na busca por
alguns litros de água. “Essas pessoas realizam um esforço extraordinário para
garantir a sustentabilidade de suas famílias”, enfatizou.
Dados oferecidos na palestra indicam
que entre 40 a
90 milhões de pessoas foram deslocadas de suas propriedades no último século em
decorrência de grandes projetos de mineração e barragem, a exemplo do que
ocorre atualmente no Estado do Pará com a construção da Usina Hidrelétrica de
Belo Monte.
Como alternativa, Boaventura enalteceu
o surgimento de um novo conceito de segurança humana, pautado pela
democratização da água, pelo respeito ao valor atribuído a ela pelas diferentes
culturas e por um processo de implementação do que denominou de uma “cultura da
água”, a começar nas escolas.
Segundo o sociólogo, daqui a dez anos a
humanidade estará travando esse mesmo diálogo em torno do ar, que já começa a
ser explorado enquanto mercadoria, embora seja, assim como a água, uma falsa
mercadoria na medida em que não é produzido pelo homem, mas a ele concedido de
forma gratuita.
Fonte: Ecodebate,
30/01/2012 publicado pela IHU On-line,
parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
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