Cultos econômicos impenetráveis
por Paul
Krugman
Brad DeLong aponta para repetidas citações de economistas de
Chicago afirmando que todo o economista que propuser o estímulo fiscal –
Christy, Larry, eu – é necessariamente corrupto. E ainda há pessoas que perdem
a calma por causa dos meus insultos contra elas!
A força que impulsiona estes comentários – ao menos numa primeira
instância – é a crença dos economistas de Chicago segundo a qual “ninguém”
defendeu que a política fiscal pode ser expansionista desde a revolução das
expectativas racionais dos anos 70 – algo bastante falso. Na verdade, o que
ocorreu nos anos 70 foi o seguinte: os economistas de Chicago pararam de ler
autores que não compartilhassem totalmente de suas próprias crenças, o que
significou que eles perderam a retomada do modelo econômico
keynesiano (isso mesmo, um estudo de Greg
Mankiw), e tudo o mais que veio
na esteira desta retomada.
No meu caso, quando o possível papel desempenhado pela política
fiscal começou a ser mencionado, meus pensamentos se voltaram imediatamente
para Obstfeld-Rogoff. Este tipo de coisa – que teve muita
influência na macroeconomia internacional – tinha como base um modelo de plena
equivalência ricardiana. Independentemente disto, aumentos temporários nas
compras do governo causavam aumentos temporários na demanda agregada.
Não pretendo defender que esta seja a única maneira inteligente de
se pensar tais questões; o bom e velho modelo IS/LM é na verdade uma ferramenta
de análise surpreendentemente poderosa. Mas o modelo O-R era bastante completo,
e mostrava que, ainda assim, a política fiscal poderia afetar a demanda. Nenhum
economista que tenha lido Obstfeld-Rogoff – ou que tenha uma vaga noção da obra
desta dupla e de tantos outros pensadores trabalhando no domínio do novo
keynesianismo – poderia ter feito comentários iguais aos de Fama, Cochrane e
Lucas.
Assim sendo, toda esta controvérsia demonstra apenas o grau de
insularidade em que vivem os economistas de Chicago; a escola deles se
converteu num culto impenetrável, fechado a todas as informações vindas de
fontes pagãs.
Ora, é claro que, depois de terem tentado fazer valer seus
conceitos mesmo diante de pessoas que estavam muito à sua frente – até em
termos da elaboração de caprichados modelos econômicos -, eles se veem agora
numa posição que os obriga a serem ainda mais impenetráveis para salvar o
respeito próprio.
Fonte: Estadão | Economia & Negócios | Blogs,
02/01/2012
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