por Afranio Campos
Pensando na
estória de estarmos conectados... Pensar em evitar ou querer ignorar esse fato deu para
começar esse artigo. É um grave erro para quem não se permite ou não se deixa começar
a conhecer, sentir essa relação de mão dupla, relação múltipla, presente na
própria necessidade humana da existência, de identidade, conquistada pelas conexões
de caráter social, gregário, de seres sencientes, que atam e desatam seus laços, ideológicos, políticos, afetivos, criativos, produtivos, de muitos vínculos, sonhos e caminhos.
Nada existe
verdadeiramente fora dessa dinâmica e manutenção das existências vinculadas, nada
é alheio a esse parâmetro comum, seus contrapontos, suas referências ou medidas,
comparativas, competitivas, motivadores de reflexões e transformação; o Um e o
Outro como versa a verdadeira e não repetível história, sempre se encontram.
Ignorar o vizinho não nos leva a desejada paz, como se sabe: “o mundo é pequeno”!
Apropriar-se dessa percepção e tornar-se um ator
consciente por um desenvolvimento com justiça, equidade, por uma evolução compartilhada da riqueza necessária
a uma consciência efetiva universal. Sem esse fundamento estamos isolados, tornamo-nos egoístas, zumbis perdidos na rede do caos globalizado do “santo mercado”,
sem limites no querer, consumidores do Outro, sem referência, sem o real significado
da vida comum nem dos desdobramentos das relações que mantém ou alteram a cada instante
os padrões das estruturas da sociedade, da sua cultura, do uso privado do conhecimento,
das forças produtivas exploradas, das relações humanas nos vários níveis em que ela se
realiza.
Mas, o ponto
aqui é a conectividade, o vínculo objetivo e (pouco para muitos) evidente, que em
geral até pode parecer obscuro, acima do mundo das coisas, inexistente,
complexo, sem pé nem cabeça. Engano. Como foi já dito antes, “o outro sou eu
mesmo!”. Todo sentimento tornou-se “líquido”, e as expressões dos gestos de dor,
necessidade, das consequências da guerra, da esperança e da violência cotidiana, são expostos a qualquer horário (imagens, nos filmes, pela mídia televisiva ou impressa) e insistentemente
banalizados por conta da brutal vulgarização massiva desses mesmos sentimentos postos à venda
por um bom preço pelos “adoradores” do "santo mercado".
Se permitir
abertura para percepção de tudo isso, possibilita a retomada do fio da consciência
transformadora saindo da zona de conforto e um olhar sobre o próprio desenraizamento
da natureza, o que nos levaria para longe da subliminar propagada abundância restrita aos que tem passe vip para
a festa privada dos endinheirados. Uma “modernidade” globalizada, muito técnica
e impessoal, oculta atualmente nas redes digitais dos capitais internacionais, só
vista nos números e estatísticas da democracia burguesa representativa,
condicionada ao "irracional" econômico dos “especialistas” sem ética.
Um Estado que acomoda a larga fresta das diferenças sociais distribuindo valores “compensatórios”
que calam temporariamente, enquanto por outro lado concedem, sem
constrangimento, a despeito de todos, os maiores privilégios aos interesses vis
do capital.
Se junta a
esse quadro o desconhecimento do verdadeiro papel visto no avanço tecnológico que
vai desempenhando grandes mudanças, as que presenciamos nas últimas décadas, mas
sem perguntar aonde nos levará efetivamente esse modelo cego para o futuro.
Agora mais do
que nunca, os novos desafios estão colocados para a produção de alimentos acessível às
populações das regiões carentes. Por um socorro que não seja tardio, a essa urgência
de milhões de seres a espera de serem atendidos com a fome que morre no corpo.
E sabe-se, por uma parcela dos bilhões que beneficiaram os banqueiros “que
passam o pires” os grandes problemas recorrentes (saneamento básico, escassez
de água, crise de alimentos, desemprego, habitação popular etc) já seriam no mínimo,
embora não o suficiente, uma ajuda substancial para evitar o moroso e palpável desastre
sócio ambiental que nos parece irreversível.
Os recentes
acontecimentos trazidos pela crise atual do capitalismo aumentou a pressão e o
óleo nas pretensões políticas que adotam soluções de austeridade econômica
maculando conquistas históricas dos trabalhadores e cidadãos em favor dos “parceiros”
do Estado do dinheiro. Os interesses dos grandes investidores demonstram e
provam suas tendências convenientes para onde convergirão apesar das contrariedades
existentes no interior do movimento dos capitais e os vínculos entre os
“gerentes” do Estado do dinheiro e os representantes políticos das corporações
que pensam controlar a sociedade em sua trajetória para a barbárie.
Fala-se em aumento
da produção de alimentos, biocombustíveis, biodiversidade, recursos escassos, aquecimento
global, impacto ambiental, substituição dos combustíveis fósseis por fontes de
energias alternativas e renováveis, desenvolvimento sustentável etc. um momento
oportuno para se tratar desses temas com resultados concretos e não apenas com
discurso, retórica, a essa altura do campeonato. Convenhamos, é tão óbvio que qualquer
das construções de uma possível saída passe longe de toda teoria tradicional
seja da economia, seja do legado científico mecanicista hipócrita, que esconde
as contradições legalizando as “externalidades” negativas, e abusa de suas funções
normativas na estratégia principal de justificação das relações de produção
capitalista. Todos nasceram no seio das instituições causadoras do próprio
desastre e são meros instrumentos da permanência das forças destrutivas em
escala da humanidade. No susto da crise exposta ao longo dos últimos anos todos
buscam um novo padrão de manutenção do poder.
A fome é um
dos flagelos com o qual convivemos desde muito tempo, e que se reforça por
gerações juntamente a outras dívidas sociais relevantes tão preocupantes quanto,
mesmo sob uma realidade de inúmeros avanços da tecnologia e da riqueza
acumulada (por poucos) como nunca antes visto na nossa história. O presente nos
pertence e deve ser bem cuidado, bem vivido, em toda potencialidade da arte
existente, um futuro perigoso bate às portas, e sabe-se que se aproxima o caos sem
prazo nem dimensões previstas. Escolhe-se o caminho mais fácil para poucos, embora
horroroso para todos.
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