O despertar ecológico
A grande
mudança que teve seu começo no final dos anos quarenta, junto à contribuição da
teoria da informação, da cibernética e da termodinâmica. O passo mais
importante foi dado anos mais tarde, com a biologia molecular e sua abertura
das estruturas físico-químicas, uma abertura “para baixo” por meio da
descoberta da estrutura química do código genético, o que foi considerado o
primeiro ato da “revolução biológica”.[1]
Essa abertura para baixo resultou numa importante mudança de uma abertura
“para cima”, onde a polêmica entre reducionismo e vitalismo resultou numa
compreensão de que não se pode reduzir os fenômenos vivos a meros fenômenos
físico-químicos, como demonstrado, e que existe sistemas vivos, não matéria
viva, simplesmente, mas, uma forma de organização particular.
A
importância do significado paradigmático de “organização particular” veio
paulatinamente quebrar alguns conceitos, permitindo se definir os mecanismos de
combinação e interação constituintes da ciência da vida. A base para a
abordagem dessa organização particular ou organização viva é a aceitação da
concepção que vincula ordem e desordem. A vida aqui é entendida como um sistema
de reorganização permanente baseado na dialógica da complexidade.
Só mais
recentemente a ciência ecológica compreendeu a necessidade de conceber a
comunidade dos seres vivos ou biocenose num espaço geofísico ou biótipo como
uma unidade global a que chamamos de ecossistema. Uma sistemática onde todos os
sistemas vivos encontram-se integrados e as suas partes não podem ser reduzidas
a partes menores. Um processo onde equilíbrios são produzidos e reproduzidos
com taxas de origem e morte. O principio é dinâmico, gigantesco, e engloba o
conjunto da biosfera onde todas as unidades de interação são interconectadas
numa vasta e complexa rede de relações. O ecossistema é uma miríade de
processos, é uma totalidade complexa auto-organizada e “auto-organizante”.
Um
sistema que evolui no interior da natureza e só extrai dela energia e a matéria
para as suas necessidades e alimentação, uma premissa do “biologismo”
tradicional deixava de ser a única consideração a ser levada em conta. Os sistemas vivos
são sistemas abertos, que mantém trocas contínuas de energia, de matéria, de
organização complexa (entropia negativa) e de informação com o seu meio, na
permanente busca de preservação da vida. A relação integrativa entre dois
sistemas abertos constitui uma totalidade na qual cada um é parte do outro, e
“quanto mais um sistema vivo é autônomo, mais é dependente do ecossistema”. A
autonomia expressa a complexidade e supõe a riqueza de relações de todas as
espécies como o meio ambiente.
Neste
axioma, o lugar da sociedade humana, que é a mais emancipada da natureza, com
sua autonomia e o seu crescimento frente à natureza e as relações de
complexidade da ordem sistêmica, fornece à sociedade uma riqueza e diversidade
de objetos e produtos, assim como riqueza e diversidade da ordem social. A
manutenção de sua autonomia e desenvolvimento se relaciona a um variado número
de dependências: educativas, culturais e técnicas. Aqui verificamos dois
sistemas superpostos e interdependentes, em sua dependência-independência
ecológica: o ecossistema social e o ecossistema natural.
O homem
não é uma entidade fechada na totalidade complexa, é um sistema aberto com
relação de autonomia-dependência organizadora no coração de um ecossistema. A
sociedade é parte de um todo que não é a soma das partes, ou seja, a
complexidade do todo possui qualidades e propriedades não encontradas nas
partes isoladas, e vice-versa; as partes possuem qualidades e propriedades que
se extinguem sob a ação da força organizacional sistêmica. A complexidade da
organização humana é própria das organizações biológicas e sociais.
As
ações humanas alteram os equilíbrios, por isso, ao excluir o homem de seu meio
ambiente, a abordagem disjuntiva situa o fundamento organizacional do ser
social numa unidade de base não comunicante, excluindo-o de todas as interações
em sua complexidade. O homem está na natureza e a natureza está no homem,
interagindo num processo contínuo e descontínuo no paradoxo de ser elemento,
fragmento e ao mesmo tempo totalidade.
O
pensamento ecológico reconhece os méritos e os limites das ciências,
considerando que não se pode isolar os seres, os organismos e os fenômenos do
conjunto, do inter-retro-relacionamento[2]
que concretamente constitui os ecossistemas. Tudo está em evolução, vem
do passado, se realiza no presente se abrindo para o futuro. A humanidade
carrega uma responsabilidade primordial diante da crise que se anuncia
particularmente quanto aos recursos ambientais tidos como escassos, e nesse
caso podemos citar a questão da água para os humanos como para todos os seres
vivos.
A
dominação e o controle, como projeto, de tudo que existe forma o eixo em torno
do qual a civilização gravita, “toda humanidade é mobilizada pela exploração e
transformação planejada das energias disponíveis”. São aspectos do mesmo
fenômeno “o desequilíbrio ecológico e a planetarização de uma sociedade que se
desenvolve sob a ideologia do individualismo e da pretensa igualdade de todos”.
[3]
A
lógica instrumental de dominação e exploração, em que o espaço ou ecossistema é
visto como um reservatório inesgotável perde seu significado, contrapondo-se a
outra lógica: a dos significados culturais e espirituais profundos, uma volta
às raízes. O desequilíbrio do meio ambiente representa também um desequilíbrio
do ser humano, que modifica completamente o ritmo da natureza. O momento é
marcado pelo desenraizamento e pela errância, a necessidade de se buscar outros
múltiplos níveis de encontro com as forças criadoras da origem.
O
questionamento do reducionismo do pensamento unidimensional se dá além do
debate teórico, da polêmica intelectual, se dá pelo direito da alteridade, pela
sobrevivência dos nichos culturais e da sociabilidade que perpassa as
comunidades de entes vivos da natureza. É uma nova dimensão do pensar e um modo
de ser que nos interpela a todo o momento, numa época de crise e de transição,
de desenraizamento. Numa perplexidade e procura pelos indícios oferecidos para
a percepção de que o elo de ligação cosmo e pólis,
o modo de morada, é ethos.
Numa
cultura onde todas as coisas se apresentam como objetos de consumo e tudo é
descartável ou substituível, os lugares da Terra, os recursos, os seres da
natureza, as relações que o ser humano estabelece com o outro e com os outros
seres também passam a ser passíveis de substituição; e numa rapidez cada vez
maior. A realização de uma ascese, de uma consciência sobre a complexidade do
Real, se manter aberto ao apelo do sagrado que é posto pelo universo, pela
natureza e seus elementos componentes, parte e todo e todo da parte, põe o homem
a “encontrar um novo chão, uma nova morada”.[4]
Isto
porque, se no mundo contemporâneo há uma tendência a descobrirmos os erros
derivados da adoção do paradigma antropocêntrico; mister se faz recobrarmos a
origem do nosso ser num instante hermenêutico fenomenológico para encontramos
as respostas ontológicas que são indispensáveis para podermos integralizar a
compreensão comprobante da natureza enquanto elemento central da nova ordem que
se instaura, além disso, cabe assinalar que não possuímos a linguagem, pois
ela, é que nos possui.
Por causa disso, não podemos dissociar o direito ao
desenvolvimento social e ambiental da necessidade individual de incorporar em
nosso aparelho psíquico, através da educação ambiental, um novo paradigma
ecocêntrico, de maneira a promover uma maior participação e engajamento da
sociedade na efetivação das políticas publicas inerentes a questão da cobrança
da água, da estruturação do mercado e precificação desse bem natural essencial
a vida.
É bem verdade, que a internalização dos custos ambientais da água é extremamente polêmica, não só porque traz incertezas quanto a sua eficiência, como também pela possibilidade de transferência desses custos para a sociedade através do aumento generalizado de todos os bens de consumo, vez que a água é, sem duvida o principal insumo na produção de alimentos pela agroindústria, como também, de todos os produtos processados pela indústria, e ainda pelo setor de serviços que a utiliza em todas as atividades de saneamento, limpeza e conservação.
É bem verdade, que a internalização dos custos ambientais da água é extremamente polêmica, não só porque traz incertezas quanto a sua eficiência, como também pela possibilidade de transferência desses custos para a sociedade através do aumento generalizado de todos os bens de consumo, vez que a água é, sem duvida o principal insumo na produção de alimentos pela agroindústria, como também, de todos os produtos processados pela indústria, e ainda pelo setor de serviços que a utiliza em todas as atividades de saneamento, limpeza e conservação.
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