sábado, janeiro 07, 2012

leituras sobre a questão ambiental (1)

O despertar ecológico
A grande mudança que teve seu começo no final dos anos quarenta, junto à contribuição da teoria da informação, da cibernética e da termodinâmica. O passo mais importante foi dado anos mais tarde, com a biologia molecular e sua abertura das estruturas físico-químicas, uma abertura “para baixo” por meio da descoberta da estrutura química do código genético, o que foi considerado o primeiro ato da “revolução biológica”.[1] Essa abertura para baixo resultou numa importante mudança de uma abertura “para cima”, onde a polêmica entre reducionismo e vitalismo resultou numa compreensão de que não se pode reduzir os fenômenos vivos a meros fenômenos físico-químicos, como demonstrado, e que existe sistemas vivos, não matéria viva, simplesmente, mas, uma forma de organização particular.
A importância do significado paradigmático de “organização particular” veio paulatinamente quebrar alguns conceitos, permitindo se definir os mecanismos de combinação e interação constituintes da ciência da vida. A base para a abordagem dessa organização particular ou organização viva é a aceitação da concepção que vincula ordem e desordem. A vida aqui é entendida como um sistema de reorganização permanente baseado na dialógica da complexidade.
Só mais recentemente a ciência ecológica compreendeu a necessidade de conceber a comunidade dos seres vivos ou biocenose num espaço geofísico ou biótipo como uma unidade global a que chamamos de ecossistema. Uma sistemática onde todos os sistemas vivos encontram-se integrados e as suas partes não podem ser reduzidas a partes menores. Um processo onde equilíbrios são produzidos e reproduzidos com taxas de origem e morte. O principio é dinâmico, gigantesco, e engloba o conjunto da biosfera onde todas as unidades de interação são interconectadas numa vasta e complexa rede de relações. O ecossistema é uma miríade de processos, é uma totalidade complexa auto-organizada e “auto-organizante”.
Um sistema que evolui no interior da natureza e só extrai dela energia e a matéria para as suas necessidades e alimentação, uma premissa do “biologismo” tradicional deixava de ser a única consideração a ser levada em conta. Os sistemas vivos são sistemas abertos, que mantém trocas contínuas de energia, de matéria, de organização complexa (entropia negativa) e de informação com o seu meio, na permanente busca de preservação da vida. A relação integrativa entre dois sistemas abertos constitui uma totalidade na qual cada um é parte do outro, e “quanto mais um sistema vivo é autônomo, mais é dependente do ecossistema”. A autonomia expressa a complexidade e supõe a riqueza de relações de todas as espécies como o meio ambiente.
Neste axioma, o lugar da sociedade humana, que é a mais emancipada da natureza, com sua autonomia e o seu crescimento frente à natureza e as relações de complexidade da ordem sistêmica, fornece à sociedade uma riqueza e diversidade de objetos e produtos, assim como riqueza e diversidade da ordem social. A manutenção de sua autonomia e desenvolvimento se relaciona a um variado número de dependências: educativas, culturais e técnicas. Aqui verificamos dois sistemas superpostos e interdependentes, em sua dependência-independência ecológica: o ecossistema social e o ecossistema natural.
O homem não é uma entidade fechada na totalidade complexa, é um sistema aberto com relação de autonomia-dependência organizadora no coração de um ecossistema. A sociedade é parte de um todo que não é a soma das partes, ou seja, a complexidade do todo possui qualidades e propriedades não encontradas nas partes isoladas, e vice-versa; as partes possuem qualidades e propriedades que se extinguem sob a ação da força organizacional sistêmica. A complexidade da organização humana é própria das organizações biológicas e sociais.
As ações humanas alteram os equilíbrios, por isso, ao excluir o homem de seu meio ambiente, a abordagem disjuntiva situa o fundamento organizacional do ser social numa unidade de base não comunicante, excluindo-o de todas as interações em sua complexidade. O homem está na natureza e a natureza está no homem, interagindo num processo contínuo e descontínuo no paradoxo de ser elemento, fragmento e ao mesmo tempo totalidade.
O pensamento ecológico reconhece os méritos e os limites das ciências, considerando que não se pode isolar os seres, os organismos e os fenômenos do conjunto, do inter-retro-relacionamento[2] que concretamente constitui os ecossistemas. Tudo está em evolução, vem do passado, se realiza no presente se abrindo para o futuro. A humanidade carrega uma responsabilidade primordial diante da crise que se anuncia particularmente quanto aos recursos ambientais tidos como escassos, e nesse caso podemos citar a questão da água para os humanos como para todos os seres vivos.
A dominação e o controle, como projeto, de tudo que existe forma o eixo em torno do qual a civilização gravita, “toda humanidade é mobilizada pela exploração e transformação planejada das energias disponíveis”. São aspectos do mesmo fenômeno “o desequilíbrio ecológico e a planetarização de uma sociedade que se desenvolve sob a ideologia do individualismo e da pretensa igualdade de todos”. [3]
Em Da Nascente à Foz (Unger), a expressão “o deserto cresce” (Nietzsche), é uma reflexão da crescente aridez de uma época na qual a vida está sendo negada e que sustenta seu eixo na racionalização e controle do universo, a dominação de todas as coisas. Os vínculos sociais são rompidos, em todas as classes sociais; as relações humanas dissolvem-se na economia.
A lógica instrumental de dominação e exploração, em que o espaço ou ecossistema é visto como um reservatório inesgotável perde seu significado, contrapondo-se a outra lógica: a dos significados culturais e espirituais profundos, uma volta às raízes. O desequilíbrio do meio ambiente representa também um desequilíbrio do ser humano, que modifica completamente o ritmo da natureza. O momento é marcado pelo desenraizamento e pela errância, a necessidade de se buscar outros múltiplos níveis de encontro com as forças criadoras da origem.
O questionamento do reducionismo do pensamento unidimensional se dá além do debate teórico, da polêmica intelectual, se dá pelo direito da alteridade, pela sobrevivência dos nichos culturais e da sociabilidade que perpassa as comunidades de entes vivos da natureza. É uma nova dimensão do pensar e um modo de ser que nos interpela a todo o momento, numa época de crise e de transição, de desenraizamento. Numa perplexidade e procura pelos indícios oferecidos para a percepção de que o elo de ligação cosmo e pólis, o modo de morada, é ethos.
Numa cultura onde todas as coisas se apresentam como objetos de consumo e tudo é descartável ou substituível, os lugares da Terra, os recursos, os seres da natureza, as relações que o ser humano estabelece com o outro e com os outros seres também passam a ser passíveis de substituição; e numa rapidez cada vez maior. A realização de uma ascese, de uma consciência sobre a complexidade do Real, se manter aberto ao apelo do sagrado que é posto pelo universo, pela natureza e seus elementos componentes, parte e todo e todo da parte, põe o homem a “encontrar um novo chão, uma nova morada”.[4]
Isto porque, se no mundo contemporâneo há uma tendência a descobrirmos os erros derivados da adoção do paradigma antropocêntrico; mister se faz recobrarmos a origem do nosso ser num instante hermenêutico fenomenológico para encontramos as respostas ontológicas que são indispensáveis para podermos integralizar a compreensão comprobante da natureza enquanto elemento central da nova ordem que se instaura, além disso, cabe assinalar que não possuímos a linguagem, pois ela, é que nos possui.

Por causa disso, não podemos dissociar o direito ao desenvolvimento social e ambiental da necessidade individual de incorporar em nosso aparelho psíquico, através da educação ambiental, um novo paradigma ecocêntrico, de maneira a promover uma maior participação e engajamento da sociedade na efetivação das políticas publicas inerentes a questão da cobrança da água, da estruturação do mercado e precificação desse bem natural essencial a vida. 
É bem verdade, que a internalização dos custos ambientais da água é extremamente polêmica, não só porque traz incertezas quanto a sua eficiência, como também pela possibilidade de transferência desses custos para a sociedade através do aumento generalizado de todos os bens de consumo, vez que a água é, sem duvida o principal insumo na produção de alimentos pela agroindústria, como também, de todos os produtos processados pela indústria, e ainda pelo setor de serviços que a utiliza em todas as atividades de saneamento, limpeza e conservação.



[1] PENA-VEGA, Alfredo. Op. cit.
[2] BOFF, Leonardo. Op. cit.
[3] UNGER, Nancy Mangabeira. Op. cit.
[4] UNGER, Nancy Mangabeira. Op. cit.

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