Eu Sabotador de Mim?
Somos seres sociais. Vivemos num mundo de influências
recíprocas. Nunca estamos sós. Em momento algum. Mil olhos nos vigiam. Mil
ouvidos capturam nossa fala. Estamos conectados, irremediavelmente; mesmo que
não percebamos ou que não acreditemos.
Ao pensarmos em alguém nosso pensamento já o está
influenciando. E quando pensamos em nós mesmos? Influenciamos quem?
Vivemos mais preocupados com o mal que os outros possam nos
fazer do que com o bem que nos fazem.
Fomos treinados pela cultura a lutar contra o que está fora
de nós e tentamos mudar o mundo e as pessoas para nosso conforto; ignorando que
o grande adversário mora dentro de nós.
Nosso grande inimigo é o medo que gera todo tipo de
conflitos.
Medo dos outros:
Mesmo dizendo o contrário, cada um do seu jeito, temos medo
de sermos criticados e de como somos vistos. E, pelo injustificável receio das
opiniões alheias deixamos de ser felizes para estarmos sob tormentos
voluntários como moda, padrões e sistemas de crenças onde o sofrer traz
benefícios e vantagens para a vítima.
Para camuflar as dúvidas nos tornamos críticos mordazes dos
outros num processo de transferência de valores íntimos.
O mais grave é que fazemos isso com nós mesmos.
Somos nossos mais temíveis inimigos e algozes.
Para evitar a sabotagem aos nossos sonhos e desejos é preciso
desenvolver auto – consciência de que somos merecedores do melhor que a vida
oferece.
Adquirir consciência é despertar para resolver as próprias
dúvidas compreendendo as responsabilidades íntimas e coletivas.
Ao adquirirmos consciência de nós mesmos descobrimos que
somos complicados. Que temos problemas a resolver que não acabam mais.
É preciso, identificá-los um a um, e isolá-los, para que
possamos determinar qual a melhor maneira de cuidarmos deles.
O que rotulamos de problemas, são como feridas.
Feridos em alguma parte do corpo, podemos ter com relação ao
ferimento dois tipos de atitudes: deixar que o tempo se encarregue da cura ou
proceder a um curativo imediato para a reparação dos tecidos lesados.
A necessidade de cada um cuidar dos próprios problemas é
indiscutível, e não pode ser adiada, deve fazer parte das propostas diárias de
todo aquele que já despertou para a consciência de si, não se permitindo
cultivar conflitos mal resolvidos ou feridas da alma.
O auto – descobrimento deve ter como finalidade o bem-estar.
Mas, para começar há pré-requisitos:
Insatisfação pelo que se é, se possui ou como nos
encontramos; desejo sincero de mudança. Persistência; disposição para
aceitar-se e vencer; capacidade para desenvolver mais maturidade emocional.
Devemos estar insatisfeitos sempre: A insatisfação é a mola
mestra da evolução do ser humano. Só progredimos quando estamos insatisfeitos.
Há dois tipos ou duas polaridades de insatisfação: a positiva
e a negativa.
Na primeira tudo que já foi conquistado é valorizado; na
segunda não se valoriza o que se tem, até que se perca; e vive-se descontente.
Para buscarmos continuamente o bem-estar é preciso positivar
a insatisfação.
A polaridade oposta da insatisfação é : Acomodação.
A falta de maturidade condizente com nosso momento, nos faz
buscar a segurança estática, afetiva, emocional, profissional, financeira.
Daí; sempre que conseguimos uma certa tranqüilidade tendemos
a parar por aí, evitando riscos – e ao evitar riscos nos sabotamos.
Caímos no mesmismo, fazendo as coisas de forma rotineira e
previsível.
Passamos a violar nossos próprios códigos de conduta,
aceitamos situações exteriores desgastantes; e logo, estamos insatisfeitos,
negativamente.
O caminho para atingir o equilíbrio entre a insatisfação e a
acomodação é: Questionamento.
Devemos questionar sempre nossas posições. Mesmo quando tudo
pareça bem; principalmente quando tivermos certeza absoluta.
Levar o pensamento sobre auto- avaliações positivas para o
campo da dúvida é saudável e positivo.
Quando nos questionamos sobre nossas supostas qualidades:
“Será que…?” criamos incerteza saudável e abrimos as portas para mudanças.
Para que abramos as portas a novos desafios é preciso:
Aceitação de nós mesmos.
Nada a ver com acomodação. Aceitar as coisas como são no
momento facilita a vida, pois cria uma predisposição para buscar soluções de
forma mais racional.
Aceitar não quer dizer ficar estático.
É dar o primeiro passo para reagir e procurar soluções e
saídas para o que nos perturba.
A atitude de não aceitar é uma forma de criar sofrimento.
E sofrer, é uma escolha como outra qualquer, às vezes, até, é
apenas um tipo de interpretação.
Quem começa a se conhecer já sabe: Não devemos buscar
culpados externos.
Somos as matrizes das nossas dificuldades.
As situações, os acontecimentos e as outras pessoas são
apenas ferramentas naturais que atraímos para o nosso aperfeiçoamento – como
também o somos para os outros.
Quando a consciência começa a se ampliar, perdemos o medo;
nos enchemos de coragem e surge o desejo sincero de Mudança.
Esse ponto torna-se um marco; é como um renascer do
indivíduo.
Permite uma tranqüila avaliação de quem nós somos, e de como
estamos buscando os meios que nos tornem melhores no momento.
Querer verdadeiramente mudar permite que separemos dentre os
nossos valores aquilo que importa daquilo que é secundário; ou não nos
pertence. É como se a partir desse momento do pensar com lucidez, nos
recriássemos de forma clara.
O segredo está no pensamento.
Mas antes de começar a tentar pensar de forma mais criativa e
amorosa; recorde que: Há duas formas básicas de pensar.
Há os pensamentos conscientes, investigadores, que se formam
quando observamos, analisamos, comparamos.
E os já padronizados, fixados no inconsciente, e, nos quais
depositamos nossa fé; esse, é o nosso sistema de crenças.
É preciso agregar as conclusões dos pensamentos especulativos
que hoje percebemos como verdadeiros e interessantes, confrontando-os com os já
padronizados para reciclá-los, atualizá-los.
Dessa forma, a coragem de reivindicar nosso direito de ser
feliz; substituirá o medo de não merecer o privilégio da felicidade; e trará
consigo a paz nascida do esforço e da conquista; que reinará dentro de nós e em
torno de nós; para sempre.
Namastê
Américo Canhoto é Clínico
Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Usa a
Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação
– espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo
ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de
pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz
a: depressão, angústia crônica e pânico
Fonte: EcoDebate,
06/10/2011
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