Obrigado OWS
por Paul
Krugman
Ontem visitei Zuccotti Park. Michael
Moore fez um breve discurso, transmitido boca a boca. Ouço que a direita afirma
que o movimento Ocupar Wall Street é anti semita; alguém esqueceu de contar à excelente
banda Klemzer.
Em geral, o que me impressionou foi que a manifestação em si não
tem nada de ameaçador: é uma multidão de modestas dimensões, de boa paz, em
geral composta de jovens (era uma tarde fria com bastante vento), mas com
muitas pessoas de meia idade também, nem todos desalinhados. Não era bem o tipo
de coisa que se consideraria capaz de abalar o grande debate nacional. E no
entanto abalou – o que só pode significar uma coisa: o imperador está nu, e
bastou uma única voz honesta para denunciar isto.
Quanto a como o imperador ficou nu, basta ler o artigo de Ari
Berman sobre os que
defendem a austeridade, e como eles dominam
Washington. O artigo diz que
existe um paradoxo fundamental na política americana dos últimos
dois anos: Como foi
possível que, numa profunda crise de desemprego – quando é dolorosamente óbvio
que não estão sendo criados empregos em número suficiente e que o público quer
principalmente que os políticos tratem de criá-los – o déficit se destacasse
como a questão mais premente deste país? E por que, quando a evidência global
indica claramente que as medidas de austeridade elevarão o desemprego e
comprometerão o crescimento, em vez de acelerá-lo, os defensores da austeridade
mantêm esta preeminência hoje?
É possível encontrar uma explicação no predomínio de uma classe
influente e agressiva que se diz defensora da austeridade – uma coalizão
supostamente centrista de políticos, estudiosos e especialistas, considerados
incontestavelmente os sábios guardiões da
política econômica americana.
É realmente notável como a reputação de sabedoria persiste
apesar de um malogro após o outro.
Abraçamos a “austeridade expansionista”, que foi ainda pior do
que Berman diz – não foram apenas grupos de especialistas como a CBPP (Center on Budget and Policy
Priorities) que abriram
buracos na doutrina, foi o Serviço de Pesquisa do Congresso e o FMI, isso
mesmo, o FMI.
Tivemos o prêmio de responsabilidade fiscal concedido ao palhaço
do Paul Ryan – e em geral, o abraço de Ryan quando ficou óbvio, em 2010, que
ele não era nem sério nem honesto.
E, evidentemente, tivemos a impossibilidade total dos dados
econômicos de terem o desempenho esperado – regimes de austeridade levam
universalmente a um elevado desemprego, a juros persistentemente baixos apesar
da crise da dívida supostamente iminente.
Não acho que Berman explique plenamente o predomínio dos
defensores da austeridade, mas fez um bom trabalho documentando-o. E aqui está
a coisa: este predomínio tem sido tão total que outras abordagens sequer foram
ouvidas. Portanto, fazer alguma coisa, qualquer coisa, que significasse um
importante avanço nesta retórica toda, teria uma repercussão impressionante.
Obrigado OWS.
Tradução por Anna Capovilla
Fonte: Estadão | Economia, 21/10/2011
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