O
secretário nacional de Economia Solidária, Paul
Singer, disse nesta quinta-feira (13) que a estratégia dos presidentes Lula e Dilma de se aliarem ao sistema
financeiro e ao latifúndio, "adversários da classe trabalhadora",
permite que se governe com tranqüilidade. "É algo que Chavez não tem na Venezuela, porque lá
ele fomenta a luta", apontou o professor de economia da Universidade de
São Paulo (USP), que fez questão de destacar que o venezuelano atua de maneira
democrática.
A
reportagem é de Marcel Gomes e publicada por Carta Maior, 14-10-2011.
Fundador e militante do PT, Singer fez essas declarações em palestra apresentada no ciclo de debates "De Jango a Lula: anotações sobre a experiência do movimento socialista no Brasil e suas perspectivas", organizado pela Casa das Cidades,em São Paulo. No próximo dia 24 de outubro, será a
vez do sociólogo Francisco de Oliveira, também professor da USP,
apresentar suas "anotações" sobre o tema.
Fundador e militante do PT, Singer fez essas declarações em palestra apresentada no ciclo de debates "De Jango a Lula: anotações sobre a experiência do movimento socialista no Brasil e suas perspectivas", organizado pela Casa das Cidades,
Em sua
fala, Singer rememorou a história conflituosa
da esquerda brasileira e a repressão sofrida por ela em vários momentos do
século XX, como no primeiro governo de Getúlio Vargas e na Ditadura Militar. Para ele, o
governo petista faz hoje as "transformações que são possíveis", pois
o partido não possui maioria no Congresso. "São transformações que o PT
sempre quis fazer, como desenvolvimento com distribuição de renda, uma coisa
que muitos de nós acreditava ser impossível acontecer no capitalismo
neoliberal, porque ele concentra a renda. Isso é digno de nota", celebrou.
Para justificar a atual política de alianças, ainda que reconhecendo certo incômodo, o economista lembrou o senador Eduardo Suplicy, que assistia à palestra. Então vereador, Suplicy foi presidente da Câmara de São Paulo no primeiro biênio da administração da prefeita Luiza Erundina (1989-1993), na época filiada ao PT, mas deixou a função quando o governo perdeu a maioria na casa. "Sabemos como foi difícil governar dessa maneira", disse Singer, que atuou como secretário de Planejamento de Erundina.
O economista afirmou ainda que convivência com o latifúndio tem uma natureza pragmática: as exportações da "agricultura capitalista" possui o papel estratégico de garantir os dólares necessários para equilibrar o balanço de pagamentos. Ele reconhece, porém, que essa política sacrifica milhões de brasileiros que permanecem sem acesso à terra. Com relação à aliança com o sistema financeiro, Singer afirmou que o governo Lula deu autonomia operacional ao Banco Central, mas de maneira informal. "Foi uma gambiarra, somos mestres nisso", ironizou.
Para justificar a atual política de alianças, ainda que reconhecendo certo incômodo, o economista lembrou o senador Eduardo Suplicy, que assistia à palestra. Então vereador, Suplicy foi presidente da Câmara de São Paulo no primeiro biênio da administração da prefeita Luiza Erundina (1989-1993), na época filiada ao PT, mas deixou a função quando o governo perdeu a maioria na casa. "Sabemos como foi difícil governar dessa maneira", disse Singer, que atuou como secretário de Planejamento de Erundina.
O economista afirmou ainda que convivência com o latifúndio tem uma natureza pragmática: as exportações da "agricultura capitalista" possui o papel estratégico de garantir os dólares necessários para equilibrar o balanço de pagamentos. Ele reconhece, porém, que essa política sacrifica milhões de brasileiros que permanecem sem acesso à terra. Com relação à aliança com o sistema financeiro, Singer afirmou que o governo Lula deu autonomia operacional ao Banco Central, mas de maneira informal. "Foi uma gambiarra, somos mestres nisso", ironizou.
Análise
histórica
Ao analisar
a história da esquerda brasileira, Paul
Singer afirmou que Getúlio Vargas foi um divisor
de águas.
Apesar de
toda repressão na década de 30, Vargas passou a receber apoio dos
sindicatos de trabalhadores e até de lideranças do partido comunista que haviam
sido presas por ele, como Luís
Carlos Prestes. Inicialmente sustentado por Vargas e pelo PTB, o governo de Eurico Gaspar Dutra, a partir
de 1945, assume um viés conservador, ganha apoio da UDN e executa políticas
econômicas liberais. "Foram cinco anos de repressão aos sindicatos e sem
aumento do salário mínimo, apesar de a inflação atingir entre 20% e 25% ao
ano", lembrou o economista.
Em 1951, o
início de um novo governo Vargas, agora de natureza democrática, traz para o
poder uma "certa esquerda", disse Singer,
representada pela escolha de um jovem ministro do Trabalho, João Goulart. "A primeira
coisa que ele fez foi dobrar o salário mínimo e retirar os interventores dos
sindicatos. Isso é minha própria memória. Eu era metalúrgico eletrotécnico e
participei da retomada do sindicato. Em 1953, todas as categorias industriais
importantes de São Paulo entraram em greve, e a Justiça do Trabalho decidiu a
favor dos trabalhadores", relembrou.
A queda e a
morte de Vargas, em 1954, não afastaram a esquerda do poder. Para Singer, a
enorme comoção popular deram força ao PTB nas eleições seguintes, que elegeu
João Goulart para vice-presidente - as eleições eram separadas - em 1956 e
1960. Sob Juscelino Kubitschek,
o valor do salário mínimo atingiria seu maior valor na história.
"Juscelino herdou um plano de aceleração da economia e o cumpriu. Fez a
nova capital, Brasília, num prazo curtíssimo. Não é pura demagogia dizer que
ele fez o Brasil avançar 50 anos em 5", afirmou Singer.
Com a
renúncia de Jânio Quadros e a ascensão de Jango ao poder, a
tensão política no Brasil se elevou. O Plano Trienal de Celso Furtado, ao buscar o
controle da inflação, levou a economia à recessão em 1963, enfraquecendo o
apoio do governo junto a população. O modelo parlamentarista, saída política
encontrada para evitar o golpe contra Jango, caiu após o plebiscito. As
revoluções comunistas e socialistas vitoriosas em diversos continentes
agudizaram o clima político. "A revolução cubana 'enlouqueceu' a esquerda
brasileira. Eu mesmo fiz parte de um comitê de apoio a Cuba", lembrou o
economista.
Do golpe
aos dias de hoje
Para Singer, ambiente de radicalismo, incentivado pelos fatos externos, acabou usado pelos militares como justificativa para o golpe, em 1964. Após um período em que a repressão não atingiria sua força máxima, outro fato importado influencia a conjuntura brasileira: o movimento estudantil de 1968, nascido na França. Segundo ele, número de estudantes universitários havia crescido muito no mundo após a Segunda Guerra, impulsionado por uma iniciativa do governo dos EUA de oferecer vagas para os veteranos nas universidades.
Para Singer, ambiente de radicalismo, incentivado pelos fatos externos, acabou usado pelos militares como justificativa para o golpe, em 1964. Após um período em que a repressão não atingiria sua força máxima, outro fato importado influencia a conjuntura brasileira: o movimento estudantil de 1968, nascido na França. Segundo ele, número de estudantes universitários havia crescido muito no mundo após a Segunda Guerra, impulsionado por uma iniciativa do governo dos EUA de oferecer vagas para os veteranos nas universidades.
Em todo o
mundo, os estudantes passaram a lutar pela democracia das instituições e pelo
pacifismo. Era uma nova esquerda que, ao contrário de sua vertente socialista
tradicional, focada na reorganização econômica, desejava rearranjar a vida
cotidiana. Essa nova vertente democrática, que agia contra o autoritarismo
stalinista, serviu de referência para a construção do PT, no início dos anos
80. "Somos fruto dessa revolução dos estudantes", disse Singer, ressaltando a
importância do movimento que agora ocupa ruas de Nova York, como Wall Street, e
de outras cidades norte-americanas.
Segundo o
economista, ao fracasso da experiência do socialismo científico proposto por
Marx e Engels é explicado por sua natureza "essencialmente
antidemocrática". Ele citou Cuba, onde há um "ministério dos
preços" que determina quando se deve cobrar e pagar por mercadorias, em
vez de relegar essa tarefa àqueles que estão comprando e vendendo mercadorias e
serviços. "O planejamento unificado não funcionou em Cuba e eles mesmos já
admitem isso publicamente. Hoje, os cubanos têm de viver com comida
estrangeira", afirmou.
A solução,
porém, não passa pela adoção estrita do modelo capitalista de produção, mas por
experiências socialistas já testadas com sucesso, como o cooperativismo.
"Essa é uma invenção socialista. A posse dos meios de produção é de todos,
há democracia na gestão, através de assembléias, e os ganhos são distribuídos
por critérios justos", afirmou o secretário nacional de Economia
Solidária, que, junto ao movimento social militante no tema, pleiteia status ministerial
para a pasta, hoje vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego.
Fonte: IHU | Notícias, 15/10/2011
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