Paul
Krugman
Muller, Mendelsohn e Nordhaus apresentaram um novo estudo na American
Economic Review que deveria ser um fator importante na nossa maneira de debater
a ideologia econômica. É claro que isso não vai ocorrer, mas permitam-me expor
a ideia, seja como for.
Aquilo que MMN fazem é estimar o custo imposto à sociedade pela
poluição do ar, e distribuí-lo de acordo com cada indústria. Por sinal, os
custos calculados não incluem a ameaça de longo prazo da mudança climática; o
foco são os impactos quantificáveis da poluição na saúde e na produtividade,
sendo que os efeitos mais importantes envolvem a maneira com a qual os
poluentes – em especial as pequenas partículas – afetam a saúde humana, e são
usadas medições padronizadas de mortalidade e morbidez para transformar esta
informação em dólares.
Mesmo levando-se em consideração esta visão restrita dos
custos, eles descobrem que o custo da poluição do ar é grande, e se concentra
principalmente em algumas indústrias. Na verdade, há algumas indústrias cujo
dano infligido ao mundo sob a forma da poluição do ar supera o valor que estas
mesmas indústrias acrescentam ao mercado.
É importante ser claro quanto ao significado deste dado. Isto
não quer necessariamente dizer que devemos acabar com o uso da eletricidade
gerada a partir do carvão. O que diz, na verdade, é que os consumidores estão
pagando um preço baixo demais pela eletricidade gerada a partir do carvão, pois
o preço pago não leva em consideração os imensos custos externos associados à
sua geração. Se os consumidores fossem obrigados a pagar o custo total, eles
usariam muito menos energia gerada a partir do carvão – possivelmente nenhuma,
mas isto dependeria das alternativas.
Num certo nível, estamos falando de ciência econômica
elementar. Fatores externos como a poluição são uma das formas clássicas de
falha do mercado, e o primeiro semestre da faculdade de economia nos ensina que
esta falha deve ser remediada por meio de impostos aos poluidores ou
autorizações pagas de emissão que ajudem a promover uma correção do preço. O
que Muller e seus colegas estão fazendo é transformar em números esta proposta
básica – e os números se mostram bastante expressivos. Assim sendo, aqueles que
de fato acreditam na lógica do livre mercado deveriam ser favoráveis aos
impostos sobre a poluição, certo?
Hahahahahaha. A direita americana
contemporânea não acredita em fatores externos, nem em corrigir falhas do
mercado; sua fé determina que não há falhas do mercado, que o capitalismo sem
regulação está invariavelmente correto. Confrontados com as provas de que os
preços de mercado estão de fato errados, eles simplesmente atacam a ciência.
O que isto nos diz é que não estamos participando de um debate
envolvendo a economia. Nossos defensores do livre mercado não estão de fato
trabalhando com um modelo do funcionamento da economia; aquilo que orienta a
sua conduta é uma mistura de defesa covarde dos abastados contra os demais e fé
mística na ideia de que interesses egoístas levam necessariamente ao bem comum.
Eles estão errados, e o preço deste erro é pago a cada
inspiração.
Fonte: Estadão | Economia |
Blogs, 30/09/2011
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