Sinônimo Cabal?
por Afranio Campos
O têrmo
"globalitarização" ouvi pela primeira vez da boca do professor Milton
Santos, dava uma entrevista ao "isto é, uma vergonha" jornalista
Boris Casoy. Por sua declarada preferência pelo termo estava obvio que parecia avesso
à notória e simplista expressão globalização. O professor Milton Santos
não apenas exemplificou com fatos o que quis dizer através de seu neologismo
"globalitarização", como deixou claro que sua definição era objetivamente
feita sobre a recorrente violenta expansão militar, motivada pela indústria da
guerra, pelo domínio geopolítico, estratégico, o controle das riquezas oriundas
do petróleo e também das reservas de água doce, ganâncias, perpetrados pelo
clube das grandes corporações financeiras. A expressão
"globalitarização" passa a ser melhor adequada em referência a
realidade de um modelo que se perpetua através de crises cada vez mais
prolongadas, impondo ações de ocupação territorial sob falsos pretextos, persistente
nas relações do movimento da financeirização e das operações de mercado desregulados
(um paradigma da teoria econômica tradicional) em seus interesses de exploração
sem limites.
Essa relação
de significância cabal das duas expressões se traduz numa "globalização" caracterizada
pela degradação dos recursos humanos, naturais, sobre-exploração do meio
ambiente que alguns ainda preferem denominar internacionalização, e que é colocada
aqui como questão conceitualmente essencial, se realmente nos referimos a
exatamente dois conceitos permissíveis de identidade. Devemos levantar uma
provocação, uma abertura à compreensão, para que nos permita um desdobramento
em nosso vocabulário científico.
Quanto a
isso, tenho como base a leitura de um pequeno trecho do economista Carlos Matus
extraído de seu rico trabalho "Adeus Senhor Presidente" publicado em
1989 pela Editora Litteris que planto a iniciativa do debate:
“O mundo do
homem é do tamanho dos conceitos que conhece. Se para mim, não existe o
conceito de oponente, na minha realidade só há agentes econômicos. Se também
não domino o conceito de ação estratégica, só existirá para mim, na realidade,
a ação-comportamento que assimilei da teoria econômica. Por esse caminho, nego,
inadvertidamente, uma parte da realidade. Se conheço o mundo através do
vocabulário que, previamente, conheço, não existe meio de enriquecer minha
visão do mundo se não amplio o meu vocabulário. O congelamento de minha forma
de conhecer corre em paralelo com a estagnação dos conceitos que manejo (...) Se
paraliso minha capacidade de conhecer o mundo, paraliso meu vocabulário, se
congelo meu vocabulário, detenho minha capacidade de conhecer o mundo. E se
isto ocorre, voltarei repetidamente com as mesmas perguntas sobre o mundo em
que vivo e deixarei de interrogar-me sobre a potência do meu vocabulário. Ainda
mais, quando alguém usa "palavras novas" em um discurso teórico,
minha segurança intelectual me inclinará a considerá-las sinônimos das que já
conheço e acusarei este perturbador de inventar palavras novas para renomear velhos
conceitos. Assim, ao invés de responder ao seu discurso teórico alternativo,
dir-lhe-ei que não tem o direito de obrigar-me a usar o seu vocabulário. A
forma mais simples de congelar o vocabulário científico é considerar os novos
conceitos como sinônimos. ””.
Saudosamente
reverencio o querido Professor Milton Santos.
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