Violação de direitos humanos na exploração de urânio na Bahia
[por Zoraide Vilasboas,
para o EcoDebate]
O “Relatório da Missão Caetité: Violações de Direitos Humanos no Ciclo do Nuclear”, que denuncia a situação de injustiça ambiental na exploração de urânio na Bahia, será apresentado amanhã (25/11) às 14 horas, no Instituto de Geociências da UFBA, em Salvador, pela socióloga Marijane Lisboa da Plataforma Dhesca Brasil (Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais).
O “Relatório da Missão Caetité: Violações de Direitos Humanos no Ciclo do Nuclear”, que denuncia a situação de injustiça ambiental na exploração de urânio na Bahia, será apresentado amanhã (25/11) às 14 horas, no Instituto de Geociências da UFBA, em Salvador, pela socióloga Marijane Lisboa da Plataforma Dhesca Brasil (Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais).
A Missão Caetité pesquisou os danos sócio ambientais e econômicos
causados pela unidade mínero-industrial da Indústrias Nucleares do Brasil
(INB), que há 11 anos opera a única mineração de urânio ativa na América
Latina, a 750 km
da capital baiana, onde produz concentrado de urânio, principal matéria prima
do fabrico do combustível que abastece as usinas atômicas de Angra 1 e 2 (RJ).
Durante mais de dois anos, a Relatoria para o Direito Humano ao
Meio Ambiente da Plataforma Dhesca investigou as denúncias de insegurança
técnico-operacional nas instalações da INB e de desastres e crimes ambientais,
como a contaminação da água e do meio ambiente de uso comum de populações
rurais de Caetité, Lagoa Real e Livramento. Investigou também o índice
crescente de mortes por câncer na região; os conflitos pelo uso da água; a
desinformação da população sobre os riscos à saúde associados à contaminação
radioativa e a omissão das autoridades envolvidas.
“conspiração da
ignorância”
A Relatoria Dhesca constatou a falta de transparência em todas as
atividades nucleares desde a mineração, o fabrico de material radioativo, o
funcionamento das usinas até a destinação final do lixo atômico. E levanta a
suspeita de que novo programa nuclear militar paralelo seja o verdadeiro
propulsor da retomada do Programa Nuclear Brasileiro, que usa o carimbo da
segurança nacional para tentar impedir o acesso às informações sobre as
atividades atômicas.
Ao avaliar a atuação dos órgãos de fiscalização nas três esferas
administrativas, a Plataforma se deparou com uma realidade preocupante,
identificada como uma “conspiração da ignorância” que tenta negar os danos
causados pela exploração do urânio. Segundo o relatório, a conivência dos
poderes públicos com o sigilo imposto pelo setor nuclear e a omissão das
autoridades com as irregularidades observadas, resulta na falta de assistência
aos trabalhadores e às populações afetadas pela INB.
A Plataforma apontou as ameaças à saúde dos trabalhadores e da
população como os aspectos mais graves e que exigem urgentes soluções e
apresenta recomendações às autoridades competentes, relativas ao monitoramento
da saúde dos trabalhadores e da população, a proteção do meio ambiente, à
segurança da água, reparação por danos materiais e imateriais, acesso à justiça
e ao licenciamento ambiental das atividades de mineração e processamento de
urânio. Também defende a necessidade de uma auditoria independente para avaliar
todos os aspectos referentes ao funcionamento da INB, reivindicada pelas
populações da região desde o ano 2001.
violação dos
direitos humanos
Realizada por Marijane Lisboa, José Guilherme Zagallo (relatores)
e Cecília Mello (assessora), a investigação da Dhesca Brasil incluiu viagens a
Caetité (2009) e Salvador (2010), visitas à comunidades rurais, o exame de
farta documentação, entrevistas com comunitários e reuniões com autoridades
públicas nas três esferas de governo, responsáveis pela proteção da saúde e do
meio ambiente e pela gestão das águas na Bahia.
A Plataforma atua com apoio da ONU e da Procuradoria Federal dos
Direitos do Cidadão e cumpre importante papel no monitoramento, mediação e
promoção de Direitos Humanos. Sobre Caetité, concluiu: “a violação dos direitos
humanos ambientais se encontra associada e se expressa por meio da violação do
direito humano à saúde, à moradia, à água potável, à atividade econômica e aos
direitos políticos de acesso à informação, manifestação e participação nas
decisões, dada a inseparabilidade das interações entre todos estes aspectos e o
meio ambiente, que constitui o seu fundamento material.”
O lançamento é promovido pela Pós-Graduação em Geografia, Mestrado
em Economia/Projeto GeografAR da UFBA e Rede Brasileira de Justiça Ambiental,
dentro do programa “Geografando nas Sextas: o Campo Baiano em Debate”. O evento
tem o apoio da Associação Movimento Paulo Jackson –Ética, Justiça, Cidadania;
Associação dos Engenheiros Agrônomos da Bahia – AEABA; CESE; Comissão Paroquial
de Meio Ambiente de Caetité; CREA-BA; CPT-Ba; Gambá; Greenpeace; Instituto Búzios;
Instituto Quilombista; Jubileu Brasil Sul; O Lixo somos nós?; Sindae;
Suport-Ba.
Zoraide
Vilasboas é jornalista da Coordenação de Comunicação da ASSOCIAÇÃO
MOVIMENTO PAULO JACKSON-Ética,Justiça,Cidadania
Fonte: EcoDebate, 24/11/2011
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