Estado italiano perde o controle do país
por Saul Leblon
Mercados esfolaram a Itália até o osso nesta 4ª
feira, num misto de pânico e oportunismo com o vazio político criado pela
demissão branca de Berlusconi, imposta pelo poder financeiro. Il Cavalieri
tornou-se disfuncional para a banca credora do país que tem a 3ª maior dívida
do mundo, depois do Japão e dos EUA.
E isso diz algo sobre a natureza excludente da
lógica que originou a crise mundial e comanda a sua 'convalescença'. Até mesmo
um neoliberal populista como o vulgar premiê, outrora adulado pela plutocracia
global, passou a ter dificuldade política para implantar todo o arrocho
requerido pelo BCE , o FMI e os credores.
Em troca da solvência de uma economia que precisa
rolar 300 bi de euros em 2012, os ajustes cobrados de Roma incluem a elevação
da idade de aposentadoria para as mulheres; cortes de gastos com a infância e a
velhice; novos impostos e privatizações em massa.
O pânico decorre do fato matemático de que a dívida
italiana --da ordem de 2 trilhões de euros--é quase seis vezes maior que a da
Grécia, por exemplo. Significa que a Itália é irresgatável pelos mecanismos à
disposição das lideranças do euro (um fundo de 400 bi de euros, cuja expansão
para 1 trilhão depende da adesão chinesa...).
É isso que permite aos credores fazer gato e sapato
de Berlusconi e do Estado italiano cobrando juros equivalentes aos que levaram
Portugal, Grécia e Irlanda à falência. Só uma guinada histórica daria um
cala-boca nos mercados.
Seria preciso o BCE abandonar a ortodoxia e
intervir pesado, comprando títulos. Ou seja, assumir um papel regulador das
finanças para disciplinar os ganhos e impor perdas aos rentistas com o manejo
de uma dupla ferramenta: mais liquidez e menos juros. Mas isso, os 'mercados
auto-reguláveis-- vocalizados por Angela Merkel-- esconjuram.
É forçoso fazer justiça.O verdadeiro nome da crise
européia não é 'Berlusconi', nem 'Papandreou' ou 'Zapatero', mas, sim,
supremacia das finanças desreguladas. Ou, rapto da democracia pelo dinheiro.
Fonte: Carta Maior | Blog das Frases,
09/11/2011
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