sábado, novembro 28, 2009

água potável e suas conexões

Cocaína, especiarias e hormônios são achados na água potável do estado de Washington, EUA

Que tal essa surpresa? Uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de Washington encontrou traços de especiarias culinárias e condimentos nas águas do estreito de Puget. Richard Keil, professor associado da Universidade de Washington, comanda o programa Sound Citizen, que investiga até que ponto a vida em terra afeta as águas. Keil e sua equipe rastrearam “pulsos” de ingredientes alimentícios que entram nas águas durante os feriados.

Por exemplo, tomilho e sálvia costumam registrar picos durante o Dia de Ação de Graças, a canela durante o inverno, chocolate e baunilha nos finais de semana (provavelmente traços de alimentos consumidos em festas), e ingredientes usados para waffles disparam no feriado de 4 de julho.

O estudo do estreito de Puget é um dos diversos esforços em curso para investigar os ingredientes inesperados que encontram lugar no suprimento mundial de água. Reportagem da National Geographic.

Em todo o mundo, os cientistas vêm encontrando traços de substâncias – de açúcar e especiarias a heroína, passando por combustível para foguetes e anticoncepcionais – que podem ter consequências imprevistas para a vida humana e a fauna.

Mares de baunilha?
Quando as especiarias e condimentos são levados de um lar norte-americano pelo esgoto, vão para um centro de tratamento, e a maior parte de seu volume é removido lá. Na área em torno do estreito de Puget, os pesquisadores da Universidade de Washington descobriram que os resíduos de especiais que não são removidos terminam por se despejar nas vias aquáticas que emanam do estreito e penetram a terra.

De todos os sabores identificados nessas vias, a baunilha artificial predomina, diz Keil. Por exemplo, a equipe encontrou em média seis miligramas de baunilha artificial por litro de água analisado. Os esgotos da região contêm mais de 14 miligramas de baunilha por litro. Isso equivaleria a despejar em uma piscina olímpica cerca de 10 vidrinhos de 120 ml de baunilha artificial.

Por enquanto, não existem indícios de que um estreito mais doce e mais temperado seja um problema. “Os salmões, que são capazes de farejar o aroma desses produtos, talvez estejam aproveitando seu ambiente temperado com baunilha”, disse Keil.

No geral, disse ele, o projeto de identificação de especiarias se provou uma boa maneira de educar as pessoas, especialmente as crianças, quanto ao fato de que “tudo que fazem se conectar às águas da região”.

Drogas ilegais
A conexão entre banheiro e cozinha e a costa também pode abrir caminho a algumas substâncias menos agradáveis, tais como drogas ilícitas, descobriram os especialistas. Depois que uma pessoa usa drogas como cocaína, heroína, maconha e ecstasy, os subprodutos ativos das substâncias são liberados nas águas do esgoto por meio da urina e fezes dos usuários.

Esses subprodutos, ou metabolitos, muitas vezes não são removidos completamente durante o tratamento de esgoto, ao menos na Europa, diz Sara Castiglioni, do Instituto Mario Negri de Pesquisa Farmacológica, em Milão, Itália.

Isso significa que as águas contaminadas por drogas podem penetrar o lençol freático e as águas de superfície, que servem coletivamente como importantes fontes de água potável para a maioria das pessoas.

Em um novo estudo sobre pesquisas anteriores, Castiglioni e seu colega Ettore Zuccato constataram que as drogas ilícitas têm presença “generalizada” nas águas de superfície de algumas das áreas povoadas europeias.

Por exemplo, em um estudo de 2008, cientistas descobriram um subproduto de cocaína em 22 das 24 amostras de água potável testadas em uma usina espanhola de tratamento, a despeito do rigoroso processo de filtragem. Embora ínfimos, esses resíduos podem ser tóxicos para os animais de água fresca, de acordo com o estudo, que será publicado pela revista Philosophical Transactions of the Royal Society A.

Por isso, “não pode ser excluída a possibilidade de risco para a saúde humana e ambiental”, alerta o estudo.

Produtos farmacêuticos
Os cientistas também estão descobrindo mais sobre a presença de produtos como compostos farmacêuticos legais e itens de tratamento pessoal, de antibióticos e morfina a filtro solar, em volume cada vez maior nas nossas águas.

Pesquisas anteriores revelaram, por exemplo, que até 20 quilos de produtos farmacêuticos fluem pelas águas do rio Po, na Itália, a cada dia.

Como no caso das drogas ilícitas, traços desses produtos muitas vezes escapam à filtragem nas usinas de tratamento de esgotos. Os produtos também são encontrados em muitas vias aquáticas dos Estados Unidos, e estudos indicam que certas drogas podem prejudicar o meio ambiente -embora não haja indícios até o momento de que prejudiquem pessoas, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental (EPA) norte-americana.

Contaminantes
As atuais normas da EPA dispõem que mais de 90 contaminantes sejam filtrados e eliminados dos sistemas de água potável, diz Cynthia Dougherty, diretora do serviço de água da agência.

Vírus e outros microrganismos são filtrados, e o mesmo se aplica a substâncias inorgânicas como chumbo, cianeto, cobre e mercúrio. Os poluentes gerados pelo uso de fertilizantes, como nitrato e nitrito, são removidos, igualmente.

Além disso, a agência estuda regularmente os novos produtos químicos que podem requerer regulamentação. No momento, há interesse quanto ao perclorato, um produto químico tanto natural quanto artificial usado em fogos de artifício e combustível de foguetes, disse Dougherty.

Tradução: Paulo Migliacci ME

Reportagem da National Geographic, no Notícias Terra

EcoDebate, 27/11/2009

segunda-feira, novembro 23, 2009

morto (neoliberalismo) vivo

  • O neoliberalismo está "vivinho da silva"

O recente colapso da economia mundial, causado predominantemente pela falta de regulação dos mercados financeiros, provocou uma erosão na credibilidade do neoliberalismo. No entanto, segue exercendo uma forte influência na maioria dos economistas e dirigentes de empresas, sobretudo pela ausência de uma doutrina alternativa. Por que a contínua invocação dos mantras neoliberais quando as promessas desta teoria foram contraditadas pela realidade em quase todas as ocasiões? O artigo é de Walden Bello.

Manila, Nov (IPS) – O recente colapso da economia mundial, causado predominantemente pela falta de regulação dos mercados financeiros, provocou uma erosão na credibilidade do neoliberalismo. No entanto, segue exercendo uma forte influência na maioria dos economistas e dirigentes de empresas, sobretudo pela ausência de uma doutrina alternativa.

Por que a contínua invocação dos mantras neoliberais quando as promessas desta teoria foram contraditadas pela realidade em quase todas as ocasiões?

O neoliberalismo é uma perspectiva que advoga a favor do mercado como o principal regulador da atividade econômica, enquanto busca limitar ao mínimo a intervenção do Estado.

Em tempos recentes, o neoliberalismo foi identificado com a própria ciência econômica, dada sua hegemonia como um paradigma dentro da disciplina, que induz à exclusão de outros enfoques.

Dado que a economia é vista em muitos setores como uma ciência irrefutável, quase como a física (é a única ciência social para a qual há um Prêmio Nobel), o neoliberalismo teve uma tremenda e penetrante influência não só em âmbitos acadêmicos, mas também nos meios políticos. Enquanto a Universidade de Chicago, lar do guru neoliberal Milton Friedman, se converteu em fonte de sabedoria acadêmica, em círculos tecnocráticos o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial foram vistos como instituições-chave que levaram esta teoria à política com uma série de prescrições que eram aplicáveis a todas as economias.

É surpreendente comprovar como só recentemente o liberalismo se transformou em um paradigma hegemônico. Até meados dos anos 70, as orientações econômicas keynesianas, que promoviam uma boa dose de intervenção estatal como necessária para a estabilidade e um crescimento econômico constante, eram a ortodoxia. No chamado Terceiro Mundo, o desenvolvimentismo, que prescrevia os princípios keynesianos para as economias que estavam insuficientemente penetradas e transformadas pelo capitalismo, era o enfoque predominante. Havia um tipo conservador de desenvolvimentismo e outro progressista, mas ambos viam o Estado como o mecanismo central do desenvolvimento.

Creio que há três razões pelas quais o neoliberalismo, apesar de seus fracassos, segue sendo dominante.

Em primeiro lugar, em certos países em desenvolvimento como Filipinas, a corrupção continua sendo considerada geralmente como uma explicação para o subdesenvolvimento. Deriva daí o argumento segundo o qual o Estado é a fonte da corrupção e o incremento do papel do Estado na economia, inclusive como regulador, seja visto com ceticismo. O discurso neoliberal concorda perfeitamente com esta teoria da corrupção, minimizando o papel do Estado na vida econômica e sustentando que tornar as relações de mercado dominantes nas transações às custas do Estado reduzirá as oportunidades para a corrupção tanto dos agentes econômicos quanto dos estatais.

Por exemplo, para muitos filipinos o Estado corrupto foi e segue sendo o principal obstáculo para a melhoria do nível de vida. A corrupção estatal é vista como o maior impedimento para o desenvolvimento econômico sustentável. A corrupção, por óbvio, deve ser condenada por razões morais e políticas, mas a suposta relação entre corrupção e subdesenvolvimento tem, de fato, pouca base.

Em segundo lugar, apesar da profunda crise do neoliberalismo, não surgiu ainda nenhum paradigma ou discurso alternativo convincente nem local nem internacionalmente. Não há nada parecido com o desafio que os princípios keynesianos colocaram ao fundamentalismo do mercado durante a Grande Depressão dos anos 30 do século passado. Os desafios apresentados por economistas estelares como Paul Krugman, Joseph Stiglitz e Dani Rodrik continuam enquadrados dentro dos limites da economia neoclássica.

Em terceiro lugar, a economia neoliberal segue projetando-se com a imagem de uma “ciência irrefutável” em razão de ter introduzido meticulosamente a tecnologia matemática. Como seqüela da recente crise financeira, esta extrema aplicação da matemática foi objeto de críticas dentro da própria profissão. Alguns economistas sustentam que o predomínio da metodologia sobre a substância converteu-se na finalidade da prática econômica e, consequentemente, a disciplina perdeu contato com as tendências e os problemas do mundo real.

Vale a pena notar que John Maynar Keynes, que era uma mente matemática, se opôs à “matematização” da disciplina precisamente pelo falso sentido de solidez que dava à economia. Como registrou seu biógrafo Robert Skidelsky, “Keynes era notoriamente cético acerca da econometria” e os números “eram para ele simplesmente pistas, indicações, gatilhos para a imaginação”, ao invés de expressões de certezas sobre fatos passados e futuros.

Superar o neoliberalismo, portanto, requer ir além da veneração dos números que, freqüentemente, cobrem a realidade, e ir além também do suposto cientificismo neoliberal.

(*) Walden Bello, é deputado da República das Filipinas e analista do centro de estudos Focus on the Global South (Bangkok)

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16246

domingo, novembro 15, 2009

o simbólico e o Real (1)

Reflexões

O resgate das utopias transformadoras, da esperança de que um outro mundo é possível, me parece um caminho essencialmente anterior e interior, uma re-conquista imprescindível ao ser, uma recuperação contínua e necessária de sentimentos, referenciais enriquecedores ao conhecimento, precisos, que hoje, parecem esquecidos ou destruídos no decorrer do dia-a-dia acelerado, não mais durante os longos anos de vida. O que parece natural não é mais. Quando pensamos que já experimentamos de tudo, caímos nas armadilhas dos processos personalísticos, da acomodação, da ignorância permitida, e deixamos de encontrar o novo do novo, o encantamento afetivo, a permanência do real do relacionamento humano, o re-conhecimento do outro, o respeito mútuo pelas diferenças. Manter o divino interior vai ficando para depois ou para outro momento que seja o ideal, na preparação, o planejamento demora, o risco da solução que procuramos é imensurável e o resultado que nos damos é mesquinho. A banalização dos sentimentos é sistematicamente repetida, nos colocamos à mercê de prioridades e importâncias pouco significantes para a realização da felicidade e nos afastamos da evolução espiritual, do divino que abrigaríamos ao nos conhecermos melhor e ao Outro (ser e Natureza).

A efetividade da matéria objetivada na hipereconomização do mundo e a metástase do conhecimento relacionam-se diretamente a capitalização da natureza, a morte da simbologia humana e dos referentes da emoção cada vez mais racionalizada, tudo converte o ser em suas representações, em peças sem identidade ou significado, objetos de arquétipos pré-configurados na medida de uma sociedade individualista, personificada nos modismos, pela invasão tecnológica na vida e valores culturais esgarçados na correnteza violenta do império do Objeto globalizado. Os discursos e mentes vagam ausentes de ideais ou utopias humanizadoras sobre falsos fundamentos ideológicos afastando-se da ordem necessária e suficiente ao desenvolvimento dos seres e saberes, da ordem natural das coisas do mundo, do meio ambiente envolvente.

Sem uma consciência de justiça ou visão para uma transformação objetivamente social vamos ficando permanentemente em um simulacro de vida, terror e desespero, onde o inconsciente coletivo bóia submetido às simulações do racionalismo científico a serviço do interesse da dinâmica da acumulação do capital que domina o consumo e o uso dos recursos naturais além do limite do equilíbrio do planeta, segundo as necessidades e dependências criadas por uma hiper-realidade caótica que desloca a ordem simbólica, um jogo de espelhos desprovido de ética e movido pelos mecanismos de mercado tidos como lei; "um excesso de objetividade num jogo de simulações entre o modelo e o real dirigido por desígnios de uma razão sem sentidos nem referentes".

quinta-feira, novembro 05, 2009

o Andrógino Divino

Desvendando o Matrix
(Autor desconhecido por mim) - 2 Nov 2009

O filme Matrix começa com Trinity, a iniciadora, em conexão com o mundo real através de uma linha telefônica, no Heart O' The City Hotel. Essa linha do ponto de vista simbólico, equivale à vibração do Anahata, ou Chacra Cardíaco, que permite-nos, uma vez ativado, sintonizar nossa consciência com nosso átomo primordial. No atual estado evolutivo da humanidade, esse Chacra só pode ser dinamizado pelo elemento feminino.

O número que vemos em exposição na tela do console manipulado pelo personagem Trinity, é 506, equivale ao Arcano 11, (5+0+6 = 11), ou seja a lâmina da força. Nesta lâmina do Taro, vemos uma mulher abrindo com as mãos nuas, a boca de um leão. No filme, Trinity representa a Shakti, a força que penetrando no Chacra cardíaco do iniciado, promove a consciência.

O ser que está na Senda Iniciática, representado pelo personagem principal, utiliza um pseudônimo, o equivalente ao nome secreto empregado em algumas escolas. Neo, lido anagramaticamente, equivale a Noé, One (um), ou Eon, que em grego significa ciclo, era ou período, simbolizando a ligação desse personagem com um novo começo, algo novo, uma nova era.

Ele, Neo, recebe a primeira instrução de sua iniciadora, Trinity, que lhe diz como se estalasse os dedos, “Acorde, Neo”, da mesma maneira que os iniciadores repetem isso aos discípulos, durante toda a sua jornada na Senda.

O personagem principal do filme, como todos os outros que se iluminaram antes dele, procurava a resposta nas palavras de Trinity:

“É a pergunta que nos impulsiona”.

Quando finalmente trava contato, com Morfeu, seu Mestre, este diz a Neo, que “há duas formas de sair daí, uma é pelo andaime, outra é levado por eles”, ou seja, uma vez que o indivíduo desperta para as Leis ocultas que determinam os acontecimentos nos planos da manifestação elevando sua consciência a um nível superior as pessoas comuns, só há duas maneiras dele continuar seu desenvolvimento, uma é subindo, outra é capturado pelas forças, que representam os processos personalísticos que nos controlam.

Neo hesita, devido a seu medo e desconfiança, gerados pelo sentimento de auto-preservação e acaba capturado pelos elementos personalísticos.

Mas tarde, vemos Neo, de volta a sua vida comum, supostamente liberto, sendo levado ao encontro de Morfeu, para sua iniciação. Porém, antes dele entrar no vestíbulo onde o Mestre o espera, Trinity a iniciada que o guia, como uma Ariadne que guiou Teseu no labirinto de Creta, lhe dá um conselho semelhante ao que é dado a todo discípulo em prova; “Seja sincero. Ele sabe mais do que você imagina”. Só então, ela lhe abre a porta da sala onde o Mestre lhe espera.

Durante o diálogo que se segue, Morfeu observa que ele, Neo, é; “Um homem que aceita o que vê”. Entendemos melhor essa afirmação quando consideramos que o nome “real” do personagem Neo no filme, é Thomas A. Anderson, Thomas é equivalente a Tomás ou Tomé, demonstrando o relacionamento do personagem a São Tomé, o apóstolo que precisava ver para crer.

Vale notar, que o sistema iniciático adotado por Morfeu, relaciona-se, na sua forma extremamente simples e objetiva, a iniciação mental, praticada nas escolas em sintonia com o atual estado de consciência da humanidade, focado no mental concreto, e que, portanto não trabalham mais com o sistema de iniciação astral, ou fenomênico, utilizada em escolas mais primitivas.

Morfeu, ensina sobre A Matrix - (Ma = m = Maya, que significa ilusão em sânscrito e Trix = Tri = Três). Matrix tem o mesmo significado das tradicionais Três Mayas, Três Véus, ou Três Ilusões, a ilusão física, a ilusão psíquica e a ilusão espiritual, que segundo o hinduismo ocultam a realidade.

Ele, o Mestre, apresenta seus ensinamentos na forma de questões do tipo “Você deseja saber o que ela é?”, ao receber resposta afirmativa de Neo, continua “A Matrix, está em todo lugar. A nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela, ou quando liga sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho, quando vai a igreja, quando paga seus impostos. É o mundo colocado diante dos seus olhos para que não veja a verdade...”.

Ao questionamento seguinte do discípulo (Neo), sobre o que é a verdade, ele continua implacavelmente, dizendo que a verdade é “Que você é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar. Uma prisão para sua mente. Infelizmente é impossível dizer o que é a Matrix (ou a Maya). Você tem de ver por si mesmo”, nesse momento então ele oferece a Neo, uma pílula azul, para conservar o sonho, a Maya e outra vermelha para mudar sua percepção da realidade. A cor da primeira pílula, o azul é associado ao conservadorismo, no mesmo sentido do sangue real, ou azul das antigas monarquias européias. A cor da segunda é vermelha, relacionada às transformações revolucionárias violentas, associado a mudanças radicais. Morfeu, o Mestre, tem a chave que abre as portas para o real, mas Neo, o discípulo, tem que fazer a escolha.

Durante a iniciação ele morrerá para um mundo de sonhos e nascerá para o mundo real, despertando plenamente para a verdadeira natureza, do mundo físico, do mundo psíquico, e do mundo espiritual, compreendendo dessa forma a tríplice natureza unitária da realidade. Para entendermos melhor o que ocorre com Neo a partir daí, é importante considerarmos o que é dito no Bhagvad-gita, por Sri Krisna, quando se dirige a seu discípulo Arjuna e lhe diz “Ó Arjuna, o Senhor Supremo está situado no coração de todo mundo, e dirige as divagações (os sonhos) de todas as entidades vivas, que estão sentadas como numa máquina, feita de energia material”. (Bhagavad-Gita Como Ele É, texto 61, capítulo 18, pág. 706. - A.C.B. Swami Prabhupada).

No filme, já no mundo real, a bordo do Nabucondonosor, observamos a analogia da lei que afirma que são necessários sete discípulos, para formar um Mestre, temos os personagens; Trinity, Apoc, Switch, Dozer, Tank, Mouse e Cypher, como os sete discípulos, tendo como representante da consciência do Mestre, a figura do líder Morfeu, ou Morpheus (Personagem mitológico, deus do sono grego).

Na nave, ou arca, chamada no filme de Nabucondonosor, percebemos referencia o ano 2069 (2+0+6+9 = 17), correspondente ao Arcano 17, a Estrela, símbolo relacionado a egrégora da Obra, em que estão empenhados esses divinos rebeldes.

Avançando um pouco mais, vemos que na segunda parte da iniciação de Neo, Morfeu lhe informa que no começo do século 21, número que no Taro iniciático de JHS, corresponde à lâmina do Louco, os homens criaram a A.I. (Inteligência Artificial), um tipo de consciência singular, que gerou uma raça inteira de máquinas, ou de seres mecanizados. Bem semelhante ao que acontece em nossos dias, onde os seres humanos, vão sendo “robotizados”, num processo de massificação que antigamente era chamado costume, mas que na atualidade tem o nome de moda. Tornando-se cada vez mais inconscientes, num mundo dominado por padrões de comportamento.

Segundo Morfeu, encantados com sua própria grandeza, os homens celebravam sua realização, porém na guerra que adveio após tal sucesso, eles queimarão o céu, ou seja, fecharão as portas para as energias solares, positivas, transformando o mundo num deserto tecnológico de trevas, sem Deus, onde os seres mecânicos se tornaram os senhores.

Da era de ouro, porém, só restou Sião, “a última cidade humana”, Sião ou Sinai, é na tradição israelita o Monte sagrado onde Moisés teria recebido as Tábuas da Lei do próprio Deus.

Segundo o personagem Tank, Sião fica localizada nas entranhas da Terra, próximo ao seu núcleo incandescente, o Sol Central do planeta. Relacionando-se claramente assim, aos mistérios dos Mundos Subterrâneos, especificamente a cidade subterrânea de Shamballa (Sião = S = Shangrilla, Shamballa das tradições transhimalaianas). Shamballa, é um núcleo de integração de consciências espirituais elevadíssimas, que vibra no interior da terra, representado alegoricamente como uma cidade. Dessa forma, Sião representaria o lugar onde realmente somos o que somos e do qual fomos enviados a face da terra, onde conforme diz o personagem Tank, será festejado o fim da guerra maniqueísta entre os filhos da Luz e os filhos das trevas, representados pelos homens e pelas máquinas.

Só o líder, ou o Mestre, de cada nave, ou Arca, recebe as senhas, ou as chaves, para penetrar em Sião, assim Morfeu, é também um pontífice (Pontifex = construtor de ponte), construindo a ponte entre o mundo ilusório e o mundo real, entre Matrix e Sião.

Já na terceira fase do processo iniciático (treinamento) que Morfeu submete seu discípulo, ele declara a Neo:

“Quero libertar sua mente, Neo. Mas só posso te mostrar a porta. Você tem de atravessá-la”.

Apesar do personagem de Morfeu declarar no filme, que os seres humanos não estão prontos para “acordar”, isso não faz das pessoas adormecidas inimigas. Suas palavras contundentes expõem o que é dito nos Vedas, quando os sábios afirmam que todos; pais, mães, irmãos, avôs, avós, amigos, namorados, cônjuges, etc. são “soldados ilusórios”, que promovem nosso apego a Maya, pois enquanto adormecidos, os seres humanos fazem parte do “sistema ilusório”, portanto possuem em sua estrutura processos personalísticos que eles mesmos desconhecem, mas que tomam conta de sua consciência em algumas ocasiões, para defender seus preconceitos e manter sua existência ilusória. Esses processos personalísticos que nos prendem a ilusão, são representados no filme pelos agentes da Matrix, programas sensitivos que entram e saem em qualquer software conectado ao sistema deles. Fazendo eco as palavras dos sábios nos Vedas, Morfeu diz, que “Qualquer um ainda não libertado, é um agente em potencial da Matrix. Eles são todos e não são ninguém”. Os processos personalísticos relacionam-se aos sete pecados capitais, “... eles são os porteiros, protegem todas as portas e tem todas as chaves”.

Às vezes os seres humanos, são vencidos por esses agentes da Matrix, alguns até pactuam com eles, como é o caso de Cypher. Ele é aquele que viu a verdade, despertou para a realidade mais prefere a ilusão e a mentira. Ele, Cypher, diz ter percebido após nove anos (número equivalente aos degraus da escada de Jacó, que simbolicamente leva o homem do mundo terreno ao mundo espiritual), que “A ignorância é maravilhosa”. Dessa forma, pensam os magos negros, aqueles que fazem opção por Avidya, pela ignorância, que voltam as costas à Luz e mergulham voluntariamente na escuridão.

Os que assim procedem, sempre acusam aos que lhes mostraram o caminho, de fraquezas e incapacidade, que eles mesmos possuem. Corroídos pelo ódio, pela luxúria e pela inveja, afirmam terem sido enganados, por seus Mestres, que quando fazem realmente jus a esse nome, tentaram sempre, guiá-los na Boa Senda. Cypher representa o traidor, que trai a sua própria natureza humana, ao submeter-se ao domínio das máquinas. Ele oferece a si mesmo, como pasto para as forças negativas que passa a servir, em troca de prazeres ilusórios. Age assim no intuito de satisfazer seus impulsos baixos, suas Nidhanas.

O iniciado, seguidor dos Mestres da Grande Fraternidade Branca, até que se torne verdadeiramente um Adepto, enquanto estiver encarnado, sentirá os apelos de seus veículos inferiores. Isso ocorre porque nesse estado, ainda possui elementos básicos em sua composição ainda por equilibrar e que por isso mesmo exigem satisfação. Apesar disso ele não os nega, mas os transmuta, canalizando-os para realizações reais que o libertem cada vez mais da ilusão da Maya, tornando-os elementos impulsionadores de sua evolução. Num determinado ponto do filme, inclusive, um dos membros da tripulação, Mouse, fala com Neo sobre isso, dizendo-lhe, que “Negar os nossos impulsos é negar aquilo que faz de nós humanos”. Ciente disso, o verdadeiro iniciado é extremamente consciente de seus impulsos, não os recalcando hipocritamente para as regiões do subconsciente, onde irão se acumulando, como esqueletos no armário, de onde continuarão a atuar sem nenhum controle, disciplina ou educação, até invadirem como uma enchente de um rio bravio, a consciência, dominando-a e arrastando-a as maiores perversões. Por isso o verdadeiro iniciado sabe que deve, como nos ensinou nossa Grã-Mestrina Helena Jeferson de Souza, vigiar seus sentidos, para através de um sistema iniciático sério, de uma disciplina superior, não recalcar, mas trabalhar, transformar suas Nidhanas, ou tendências negativas, em Skandhas, ou características positivas.

Num determinado nível dessa etapa da iniciação de Neo, Morfeu o conduz até o Oráculo, vemos que a entrada do elevador é guardada por um cego, que vê. Ele, o cego, que responde ao sinal que Morfeu lhe faz com a cabeça, representa os iniciados, guardiões da Luz, cegos para o mundo ilusório, mas iluminado para a realidade. Já dentro do elevador o Mestre, diz então a Neo, para tentar “Não pensar em termos de certo e errado”, pois para os que chegam ao Oráculo, certo e errado, bem e mal, feio e bonito, todos os pares de opostos se anulam. Às portas do Oráculo, Morfeu, o Mestre diz ao seu discípulo, “Só posso te mostrar a porta. Você tem de atravessá-la”, indicando assim que cada passo do discípulo em prova é dado por sua própria conta, pois na Senda da Iluminação ninguém caminhará, ou tomará as decisões por ele.

Porém, quando Neo coloca a mão na maçaneta da porta, esta lhe é aberta, mais uma vez por uma sacerdotisa. Essa atuação constante do elemento feminino demonstra a necessidade da interação dinâmica de ambas as polaridades humanas, de acordo com certas regras esotéricas.

Assim macho e fêmea, interagem ciclicamente no processo iniciático de crescimento espiritual, através do entrelaçamento das forças de Fohat e Kundaline. Ao integrarem-se dessa forma, ambas as energias dão origem ao Andrógino Divino, um ser verdadeiramente equilibrado, mas que conserva as características do corpo que ocupa, se masculino, vive e relaciona-se como homem, se feminino, vive e relaciona-se como mulher, podendo em alguns casos fazer opção pelo Brahmacharya, ou voto de castidade. O resultado da integração dinâmica das polaridades cósmicas é totalmente diferente das expressões caóticas homossexuais ou bissexuais, dois tipos que representam seres decaídos, em oposição ao Andrógino Divino, que é a perfeição evolutiva humana.

Já dentro da sala do Oráculo, Neo encontra várias crianças, especialmente um menino, uma espécie de pequeno monge, do qual aprende alguns mistérios, sobre esse mundo ilusório, num episódio que lembra bem aquela passagem bíblica, onde o Cristo bíblico, ensina que aquele que não se tornar como estas crianças, não entrará no reino dos céus. Dentro do Oráculo, uma cozinha, onde a Pitonisa, ou profetisa (novamente uma mulher), manipulando um forno moderno, quebra as expectativas do discípulo. A cozinha nos faz lembrar o laboratório dos alquimistas e o forno o Athanor, ou forno utilizado pelos alquimistas, Adeptos da Arte Real.

Num determinado ponto de sua conversa ela, a Pitonisa, cita-lhe o celebre axioma socrático, “Conhece-te a ti mesmo”, que via-se as portas do oráculo de Delfos, o qual essa etapa do filme representa. Só que as portas do Oráculo de Delfos, as palavras citadas no filme, estavam escritas em grego e de forma mais integral exortava, “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses”.

A mulher que representa a Pitonisa do Oráculo lhe afirma de forma metafórica, que “Ser o escolhido é como estar apaixonado. Ninguém pode te dizer se você está. Você simplesmente sabe. Não tem dúvida, nenhuma”. Assim ao lhe falar sobre o escolhido, ela descreve o processo de iluminação avatárica, pois este não é uma coisa que se busca e que se consegue, ou que fica-se esperando, ele simplesmente é, como algo que simplesmente acontece, e nesse ponto do filme, Neo, não é o escolhido. A Pitonisa, afirma que ele tem o dom, isso diríamos nós todos tem, mas ele parece que “está esperando por algo”. Quando Neo lhe indaga, a respeito do que poderia estar esperando ela lhe responde “Sua próxima vida talvez”. Dessa forma, Neo age como a maioria das pessoas que iniciam-se na Senda, e que protela para a próxima vida a iluminação, esperando, pensando que; afinal ela não é para agora, quem sabe mais tarde...

Ao sair do Oráculo, Neo, encontra-se com Morfeu e este lhe adverte, “o que foi dito era para você e apenas para você”, assim é com tudo que é comunicado nas verdadeiras iniciações Assúricas, com aquilo que é falado do iniciador para o iniciando, de boca-para-ouvido, de maneira sutil e discreta, quase que imperceptivelmente.

Quando, porém, os agentes de Matrix, capturam Morfeu, um representante dos processos internos personalísticos, intelectualiza a existência humana e de forma convincente, compara o seu desenvolvimento humano sobre a terra, que na maioria das vezes, foi totalmente controlado pela personalidade caótica, ou seja, por esses mesmos processos internos, ao o de um vírus. Dessa maneira, o agente se coloca como a cura para o mal, que segundo ele é representado pela maior de todas as criações de Deus na Terra, o Ser Humano, ignorando em seu discurso, o desenvolvimento do Espírito Humano, capaz dos maiores gestos de sacrifício, altruísmo e fraternidade, única esperança para o planeta. Esse Espírito Humano, quando plenamente desenvolvido, subjuga a natureza animal e mecânica e converte o Homem na expressão de Deus na face da Terra. Esse espírito humano, quer o chamemos, Deus, Bramam, Ala, Jeová, Tao, opõe-se aos processos mecânicos, instintivos e animalescos, que controlam os seres ainda inconscientes, atuando de forma a libertar a Centelha Divina, promovendo o nascimento do Avatar, ou como é expresso no filme do Escolhido. Vemos isso, quando Neo toma a decisão de sacrificar-se, dando-se em holocausto pelo seu amigo e Mestre Morfeu.

Apesar de conhecermos intelectualmente o exposto acima, as esclarecedoras palavras de Morfeu, após ser resgatado devem ser consideradas; “Cedo ou tarde, você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho”.

Num determinado ponto do fim do filme a personagem Trinity, reproduz um dos mais antigos mitos da humanidade, ao trazer Neo de volta a vida, fazendo com que ele obtenha sucesso na última e derradeira iniciação conhecida por nós como Morte.

Quase no final do filme, vemos através das palavras do personagem principal, que o Avatar não significa um fim, mas um começo, de algo novo, ilimitado, sem fronteiras, um novo ciclo, livre de Maya, sem ilusão, onde tudo é possível ao ser desperto. Ele dirigi-se a Matrix, a estrutura geradora da ilusão, declarando-se decidido a “...mostrar a essas pessoas o que Matrix não quer que elas vejam. Vou mostrar a elas um mundo sem você. Um mundo sem regras, sem controles. Um mundo onde tudo é possível”.

Sua última frase, dirigida a Matrix, a Maya, a Ilusão, ou melhor dizendo, dirigindo-se àquilo que torna possível esse processo de auto-hipnose, nossa personalidade, pode ser considerada como dirigida a cada um de nós. Ele fala calmamente sobre a decisão que deixa a cada um dos espectadores, “Para onde vamos daqui, é uma escolha que deixo para você”.

O filme termina, com Neo saindo do chão e voando, reproduzindo o arquétipo da ascensão, ou da subida aos céus, que simboliza a realização plena do iniciado, já tornado um verdadeiro Adepto, por fazendo parte agora de outro processo evolutivo, relativo ao desenvolvimento dos deuses.

quarta-feira, outubro 28, 2009

conquistado e merecido

O amor entre pais e filhos

por Contardo Calligaris

Não é algo "natural"; como outros amores, tem razões para surgir, acabar ou se tornar ódio

DOIS PROJETOS de lei se propõem a legislar em matéria de amor entre pais e filhos (conforme reportagem de Johanna Nublat, na Folha de 20/9). Ambos se baseiam na premissa de que, entre pais e filhos, há obrigações não só materiais, mas também afetivas.

Pelo projeto (4.294/08) do deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT), os pais devem aos filhos menores a presença e o amor que são indispensáveis para que os jovens vinguem sem carências e feridas que nunca cicatrizariam direito. Reciprocamente, os filhos devem aos pais idosos a presença e o amor sem os quais a vida, na velhice, poderia perder seu sentido.
Concordo: para ser "bom pai" não basta pagar mesada ou pensão, e, para ser "bom filho", não basta pagar o salário de quem faz companhia à velha mãe ou ao velho pai.

O projeto do deputado Bezerra institui o princípio de uma indenização por dano moral, que poderia ser exigida por pais e filhos que tenham sido abandonados afetivamente. Curiosamente, volta-se ao mesmo lugar de onde se queria fugir: "Você pensou que era suficiente pagar? Acha que não me devia também afeto, atenção, cuidados? Pois bem, pague mais".

Fora esse paradoxo, a dificuldade está na avaliação do que constitui "abandono" afetivo.

Em sua maioria, os neuróticos (ou seja, a gente), mesmo quando conheceram os cuidados assíduos de pai, mãe, avós etc., queixam-se de uma falta de amor invalidante, que os teria deixado para sempre carentes, tristes e inseguros.

Inversamente, numa veia humorística, conheço adultos que, para evitar o almoço de domingo na casa da mãe, pagariam antecipadamente uma indenização. "Mãe, a gente não vai, mas mando os R$ 300 da multa, tudo bem?". A um preço módico, eles protegeriam assim seu casamento dos venenosos comentários maternos sobre as insuficiências da nora.

O outro projeto de lei (700/07), do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), trata só do abandono afetivo das crianças e quer que, aos filhos menores, seja garantida a "assistência moral", que inclui "a orientação quanto às principais escolhas e oportunidades profissionais, educacionais e culturais" e "solidariedade e apoio nos momentos de intenso sofrimento ou dificuldade". Esse projeto não propõe apenas indenizações financeiras para quem foi abandonado, mas transforma o "abandono" num crime, punível com a detenção, de um a seis meses.

De novo, concordo com a "justificação" do projeto: "A pensão alimentícia não esgota os deveres dos pais em relação a seus filhos [...]. Os pais têm o DEVER [sic] de acompanhar a formação dos filhos, orientá-los nos momentos mais importantes, prestar-lhes solidariedade e apoio nas situações de sofrimento e, na medida do possível, fazerem-se presentes quando o menor reclama espontaneamente a sua companhia".

Mas o que dizer sobre os pais dos filhos que saqueiam a casa para comprar drogas? Se eles expulsarem os filhos, irão presos?

E imaginemos uma situação nem tão rara: a de um pai que, um dia, aprende que o filho ou a filha é homossexual, não entende, não aceita e se fecha no mutismo como se quisesse se esquecer da própria existência do filho ou da filha. Esse pai iria preso? Não seria melhor que ele encontrasse um profissional com quem conversar? E, se for aprovado o projeto do deputado Bezerra, o filho que não cuidasse desse tipo de pai na velhice deveria uma indenização ao genitor?

Considerando os dois projetos, a impressão com a qual fico é que a tentação de transformar em norma legal o que seria uma relação minimamente "certa" entre pais e filhos é também (se não sobretudo) uma maneira de negar a seguinte realidade, que é incômoda e que nos choca: contrariamente ao que gostaríamos de acreditar, o amor entre pais e filhos não é incondicional, mas é parecido com os outros amores de nossa vida, tem razões para surgir, para acabar ou mesmo para se tornar ódio.

Filhos e pais não se amam "naturalmente". Claro, a extrema dependência nos primeiros anos da vida humana parece impor o amor entre filhos e pais. E, por exemplo, a mortalidade dos pais faz com que os filhos lhes apareçam, na velhice, como única justificativa de sua vida. Mas essas são apenas circunstâncias que instituem, em nossa cultura, a ilusão de que o amor recíproco entre pais e filhos seja "natural".

Não é assim. O amor entre pais e filhos não é garantido, nem por lei; de ambos os lados, ele pode ser, isso sim, conquistado e merecido.

Ou não.

quinta-feira, outubro 22, 2009

contando estórias (5)

Atalhos de sentimentos

Querendo encontrar a habibti Ludmila, Horácio seguiu para o show que rolava na praça Tereza Batista, no Pelourinho. Ele ensaiou um texto para entregar a ela, esperava vê-la dançar o chorinho do grupo Mandaia, e sabe que ela não estaria nem aí em ter que colar os pedacinhos depois que tudo acontecesse. Imaginou ela imersa num frenesi, numa catarse musical descolada pela guitarra de Armandinho Macedo. Pela necessidade de expor seu animal esquecido, explorar os timbres dos seus instrumentos e gestos impossíveis, tendo seu interior logo tomado pelo fogo continuaria ganhando presentes de palavras escritas por Horácio durante o carnaval que viveriam, poemas rasgados que seriam entregues no seu endereço, que dizemos hoje e-mail. Eles vestem-se de estímulos intensos permitindo o encontro sem preocupações com o cárcere do racional.

Horácio chegou a um estado que até sua intuição balança fora de prumo. Está à mercê de atitudes irracionais, freando e acelerando. A poesia o transformou num adolescente de cara pintada, suas dimensões o atrapalham, tudo em volta parece tropeçar nele, e ele culpa o resto do mundo por se sentir diferente de tudo e todos. Essa é uma circunstância que o deixa em evidente vulnerabilidade, um tanto tenso ignora o pior, mas isso o deixa pensativo a respeito do que fazer para sair desse mundo desgovernado. De uma certeza ele parece ter, não sabe como se portar ao lado de Ludmila, se vê um molusco desajeitado, um besouro cascudo com fome de verde, quer soltar seu cão para que atravesse a rua correndo o risco de ser atropelado.

Uma idéia intrusa lhe convida insistentemente: decorar um texto deixar-se preencher por um personagem shakespeariano, e apresentar-se na medida de sua volúpia para Ludmila. Quer subir no palco, mas sem pintura, sem guarda-roupa característico de personagem, nada mais precisaria para se realizar. Seria o próprio poeta amante, a se dedicar a usar uma das mais fatais armas da conquista, a poesia. Horácio pensou que também ouviria da platéia um contraponto: “... não vai funcionar, mulher gosta de uma boa pegada, em dado momento ela quer mais é ‘aquilo’, o que ela não tem lhe atrai”. Essa afirmação teve um tamanho certo de provocação, fundamento, como dizem os paraenses e perturbou Horácio pela ênfase no popular, quando os outros caíram na gargalhada de pilha.

Jamir, um conhecido, que estava próximo dessa prosa, já conturbada pelo burburinho da galera dá sua visão e enquadra o caso: “ela precisa de um macho, passei cinco anos de terapia para entender o que significa isso”.

Para Horácio, Ludmila quer mais é ser ouvida, sair um pouco de sua vida normal, quase defeituosa, parar no acostamento para ser acolhida, levada por aventuras nesse momento de caos, para que possa desabar na poesia da vida permitindo-lhe “explodir” em suas vontades não realizadas, permanecer viva e fluir em seus caminhos easy rider.

Na saída do show, uma rápida despedida. Horácio chama Ludmila que já se afastava, e ela ao abraçá-lo diz cuidadosamente no seu ouvido: “tchau meu ‘amiguinho’”. Horácio recebe a palavra carregada de significado, todo verbo com uma sutil vontade de dizer mais, embora já note o sentido do seu lugar no caminho dela se definindo, sua vontade do poeta renegado devia parar por ali, e que não seja o bastante atrevido para levá-la nos braços adiante. Roubá-la para outro mundo. Seu primeiro plano com ela: dançar olhando em seus olhos claros, verdes no mínimo e castanhos no melhor ângulo de proximidade.

Horácio responde: até “amor adolescente” – referindo-se a maneira como ela distinguiu pela sua experiência o que está passando, seus “amores paralelos” - seu “amor clandestino” e o seu “amor adolescente” -, amores que estariam invadindo a sua vida sem cuidar de resultados.

Ludmila agora deixa à mostra a estrela que Horácio lhe presenteou, e chama a atenção dele revelando ter gostado da pedra depositada em prata italiana sobre seu busto. Uma peça com um certo significado para eles. Imagina Horácio que caiu bem no pescoço dela, um lindo objeto e adequado aquela mulher que ele continua amando mesmo que “a distância e o tempo digam não”, há uma razão permitindo entre eles que aproximem os atalhos do coração.

sexta-feira, outubro 09, 2009

sobre o tradicional

Os moedeiros falsos - Paul Singer, 6 de Abril de 2009.

Este é um livro a respeito da globalização, em sua modalidade neoliberal, que vem se impondo nas últimas décadas na maior parte do mundo e mais recentemente também no Brasil. José Luis Fiori examina criticamente as políticas exigidas pela globalização e o pensamento doutrinário que as racionaliza e justifica. Nada é mais importante e urgente.

As políticas de globalização, também conhecidas como de "ajuste estrutural", redesenham por completo os limites entre o público e o privado, reformulam o papel do Estado na economia e na sociedade e modificam o relacionamento econômico entre os cidadãos de nações diferentes. Elas são justificadas como imposição da modernidade e do progresso econômico e social, embora representem um recuo histórico a meados do século passado. Fiori se lança ao combate a estas políticas, com o denodo de quem sabe que nada contra a corrente.
"Os Moedeiros Falsos" é composto por oito ensaios, sete entrevistas e três conferências, todas feitas entre julho de 1994 e agosto de 1997. O primeiro ensaio, que dá nome ao livro, foi publicado em 3 de julho de 1994 e inspirou-se obviamente no lançamento do Plano Real e na ascensão vitoriosa da candidatura de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Este ensaio enquadra o Plano e o candidato no movimento mais geral de inserção do Brasil e do resto da América Latina no campo hegemônico do neoliberalismo. Fiori mobiliza seu largo conhecimento histórico para dar o sentido maior dos embates então vividos pelo país.

Não esconde que a figura do atual presidente o fascina como dublê de intelectual e político. Grande parte dos ensaios e entrevistas ocupam-se dele. Fiori conhece bem a obra de FHC e utiliza a teorização da dependência e da vocação política da burguesia brasileira pelo sociólogo para explicar a trajetória política recente de FHC, o senador, o ministro e o presidente. A explicação faz sentido. Em meados dos 60, FHC descobriu que a burguesia brasileira, e por extensão dos países subdesenvolvidos, procura viabilizar a industrialização não pelo enfrentamento da competição dos capitais do mundo desenvolvido, mas mediante a associação com eles.

Nesta teorização, de clara inspiração marxista, FHC critica e desvenda o desenvolvimento associado. Mas, 25 anos depois, o sociólogo tornou-se um dos principais líderes políticos do Brasil. Cumpria posicionar-se diante da crise econômica e política, que tomava a forma de superinflação incontrolável e ruptura potencial entre a classe dominante e o aparelho de estado, então objeto de saque e desmonte por parte de Collor e companhia.
E Fiori aponta a continuidade oculta entre a teorização de FHC e o seu posicionamento posterior: "E frente a esse desafio tomou sua primeira e fundamental decisão: resolveu acompanhar a posição do seu velho objeto de estudo, o empresariado brasileiro, e assumiu como fato irrecusável as atuais relações de poder e dependência internacionais. Deixou o seu idealismo reformista e ficou com seu realismo analítico abdicando dos 'nexos científicos' para propor-se como 'condottiere' da sua burguesia industrial, capaz de reconduzi-la a seu destino manifesto de sócia-menor e dependente do mesmo capitalismo associado..." (pág. 17).

Há sempre certa presunção na tentativa de desvendar motivações alheias. Se Fernando Henrique Cardoso abandonou ou não seu idealismo reformista, jamais saberemos. Mas é inegável que resolveu ligar seu destino ao da burguesia brasileira (e internacional) e que obrigou o PSDB a acompanhá-lo neste caminho, fazendo-o abandonar o percurso anterior de "centro-esquerda", em que posturas e interesses antiburgueses ocupavam certo espaço.
Neste sentido, Fiori pôs o dedo na ferida. E é preciso notar que aproximar-se do empresariado era mais fácil no período anterior, em que a resistência ao regime militar reunia no mesmo barco a esquerda e setores importantes da burguesia. Mas Fernando Henrique Cardoso fez sua opção, como bem mostra o livro de Fiori, quando a burguesia já tinha aderido ao neoliberalismo, colocando-se em confronto direto com todos os setores populares, inclusive com a parte do empresariado que não queria ou não podia se internacionalizar.
As análises de Fiori percorrem com a mesma desenvoltura e competência a história econômica e política e a evolução das doutrinas econômicas, mostrando o permanente entrelaçamento entre prática e teoria. É interessante observar como a história é indispensável ao labor crítico e como, pelo contrário, é inteiramente dispensável ao pensamento apologético da tendência dominante.

O neoliberalismo e seu núcleo duro -o pensamento neoclássico- tomam por base a natureza humana e o comportamento racional dos agentes. Não sentem necessidade de demonstrar empiricamente que os mercados, entregues à sua própria dinâmica, sempre otimizam a alocação dos recursos e liquidam todos as mercadorias oferecidas. Conseguem demonstrá-lo mediante um recurso conceitual: tudo o que não se vende simplesmente não atingiu o preço desejado pelo vendedor. E todas necessidades não satisfeitas resultam de opções racionais dos sujeitos, que preferiram utilizar seus recursos para outras finalidades.
Com estes pressupostos é possível sustentar "cientificamente" que o desemprego, por exemplo, é sempre voluntário. Os desempregados o são porque não aceitam o salário que os empregadores podem lhes pagar, dada a produtividade potencial dos primeiros. E os pobres, desde que não tenham sido roubados ou escravizados, devem sua condição apenas às suas próprias opções. Portanto, numa economia "livre", em que cada indivíduo é dono de seu destino, o desemprego e a pobreza não são males sociais, mas resultados inevitáveis do acaso e das opções individuais.

Para quem acredita nestas proposições, a análise histórica é, na melhor das hipóteses, secundária. Mas, para quem não está convertido a elas e quer entender de que modo estruturas econômicas, políticas e jurídicas produzem hierarquias de poder e desníveis socioeconômicos, a análise histórica é imprescindível. E Fiori mostra bem como a tentativa anterior de aplicar o liberalismo na íntegra levou a crises, que fizeram a tentativa malograr. Seguiram-se décadas de depressão e uma guerra mundial, ao fim das quais o capitalismo entrou em seus "anos dourados", quando o crescimento atingiu o seu ápice, o desemprego quase desapareceu e construiu-se o "welfare state", "a mais ambiciosa e bem-sucedida construção republicana de solidariedade e proteção social" (pág. 88).

Em vários capítulos, Fiori aborda a crise e o fim dos "anos dourados", que originam a atual era de hegemonia neoliberal. Esta análise é crucial e está longe de ser completada. Fiori aponta os fatos essenciais: a liquidação do sistema internacional de pagamentos armado em Bretton Woods, nos 70, a desregulamentação financeira e a supremacia ganha pelo capital internacionalizado, o verdadeiro novo poder que emerge da globalização.

O atual confronto entre o grande capital internacionalizado e cada um dos estados nacionais só se explica por toda uma série de mudanças "políticas" -a tolerância do euromercado, a queda das barreiras tarifárias, o fortalecimento do FMI e do Banco Mundial, como executores dos ajustes estruturais- que foram implementadas num período -os anos 80- em que a social-democracia governava a França, a Espanha e numerosos outros países europeus. E em que ditaduras militares iam sendo substituídas por democracias em grande parte dos países hoje chamados de "emergentes".

Fiori dedica uma de suas páginas mais brilhantes à confusão ideológica que reinava até há pouco nas fileiras da social-democracia, dividida entre a necessidade de parecer confiável aos detentores do capital globalizável e os interesses objetivos de sua base social. É importante assinalar que esta confusão está começando a ser superada, o que permitiu o recente renascimento da social-democracia na Itália, Reino Unido e França. Pode parecer pouco, mas a denúncia do desemprego como "horror econômico" e o reconhecimento de que cabe aos governos eliminá-lo é essencial para escapar da tirania do "pensamento único" neoliberal.
Um dos elementos que Fiori maneja com sagacidade é o "tempo". Ele sabe muito bem que
o tempo é inteiramente abstraído das análises neoclássicas do equilíbrio: forças exógenas perturbam o equilíbrio de mercado e aí -"desde que nenhum agente extra-econômico, como governo, sindicatos etc., interfira"- os agentes executam uma série de tentativas, rejeitando as erradas e aproveitando as certas, até conseguirem definir novos comportamentos ótimos; deste ponto em diante, a conduta otimizadora é sempre reiterada, o que reconstitui o equilíbrio. Não se faz a pergunta embaraçosa: quanto tempo leva esta procura do ótimo? Será que as vítimas das tentativas erradas se dispõem a esperar todo este tempo, até que a otimização se complete?

A questão é crucial para viabilizar politicamente os ajustes estruturais. E Fiori aponta repetidamente que é considerável, para dizer o mínimo, o tempo que os efeitos benéficos levam para se fazerem sentir. "No caso das experiências bem-comportadas, as etapas de estabilização e reformas tomaram de três a quatro anos cada uma, e até uma década para a retomada efetiva do crescimento. Neste quadro, como é óbvio, fica difícil obter credibilidade para políticas neoliberais junto ao empresariado, seu aliado indispensável e, pior ainda, junto aos trabalhadores" (pág. 19). Convém notar que a maior parte das experiências não é bem-comportada e não somente pela resistência ou rebeldia dos excluídos, mas também pelas vicissitudes dos mercados financeiros literalmente desnorteados porque desregulamentados.

Por isso, o projeto de ajuste estrutural de certa maneira pressupõe uma longa permanência no poder da coligação neoliberal, o que parece ser pouco compatível com a democracia, para dizer o mínimo. Ao apontar para esta contingência, ainda em julho de 1994, Fiori antecipa brilhantemente a campanha pela reeleição, que domina o cenário político neste último ano. Em sua melhor tirada, diz: "A dolarização inicial da economia será sempre um artifício inócuo se não estiver assegurada por condições de poder inalteráveis por um período considerável de tempo. Deste ponto de vista, aliás, o Plano Real não foi concebido para eleger FHC; FHC é que foi concebido para viabilizar no Brasil a coalizão de poder capaz de dar sustentação e permanência ao programa de estabilização do FMI e viabilidade política ao que falta ser feito das reformas preconizadas pelo Banco Mundial" (pág. 14).
Convém assinalar, finalmente, que muitas análises em "Os Moedeiros Falsos" prevêem a atual crise financeira mundial em curso. Fiori mostra o tempo todo como os planos de estabilização apoiados em âncora cambial dependem crescentemente da disponibilidade de capitais externos, que de forma alguma estava e está garantida. O Plano Real não apresenta qualquer originalidade a este respeito e sua vulnerabilidade à especulação financeira está bem retratada.

A única restrição que se pode fazer a este livro, sob todos os aspectos brilhante, esclarecedor e oportuno, é a pouca atenção que dá à discussão de alternativas ao neoliberalismo. José Luis Fiori parece recusar-se a teorizar a este respeito, enquanto as condições políticas para inverter a hegemonia neoliberal ainda não estiverem à vista. Mas, para que possam surgir, é imprescindível a formulação de alternativas historicamente convincentes. Fiori parece resignado a uma luta de resistência contra a ofensiva do grande capital. Sem uma utopia alternativa à do neoliberalismo, esta luta não tem perspectiva.

Paul Singer é professor de economia na USP e autor, entre outros livros, de "Um Governo de Esquerda para Todos" (Brasiliense).

quarta-feira, outubro 07, 2009

economia e meio ambiente

‘Separar economia do meio ambiente é não entender nada’.
(Entrevista especial com José Eli da Veiga)

Ao refletir sobre a convenção de Copenhagen que se aproxima, sobre o debate em torno da emissão de gases tóxicos e sobre as relações políticas entre os países desenvolvidos e emergentes em torno do tema, o professor José Eli da Veiga concedeu uma entrevista especial à IHU On-Line, por telefone.
O professor da USP considera que o Brasil poderia ter aproveitado melhor a situação favorável que teve diante da crise econômica “se tivéssemos hoje um sistema de ciência e tecnologia na rota do que precisa ser feito. Nós estaríamos aproveitando isso justamente para nos tornarmos em pouco tempo mais competitivos na linha da sustentabilidade, que é o elemento decisivo neste século”.
Eli da Veiga também fala sobre o que significa para o Brasil a pré-candidatura de Marina Silva à presidência, considerando que ela, além de encarnar o que é o futuro em função do ecodesenvolvimento, é, ainda, do ponto de vista pragmático, uma grande solução para o Brasil no impasse político e institucional em função das alianças com o Congresso.
Segundo ele, “a diferença programática entre o tucanato e os petistas é muito pequena; é a questão da ênfase no papel do Estado. E o grande problema é que ambos são prisioneiros, são chantageados pelas oligarquias que souberam se organizar para chantagear o Lula do mesmo jeito que fizeram com Fernando Henrique. A perspectiva para o Brasil teria que ser de romper com esse esquema de uma hora ganha um, outra hora ganha outro, mas estão sempre presos a Sarneys, a Renans e a outros até piores. O rompimento disso seria, por exemplo, algum governo que pudesse aproximar o PT do PSDB numa coalizão. E acho que a única possibilidade que existe é da Marina”.
José Eli da Veiga é professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), onde coordena o Núcleo de Economia Socioambiental (NESA). Além de artigos em periódicos científicos nacionais e estrangeiros, e diversos capítulos de obras coletivas, publicou 13 livros, entre os quais: A Emergência Socioambiental (São Paulo: Ed. Senac, 2007); Meio Ambiente & Desenvolvimento (São Paulo: Ed. Senac, 2006); e Desenvolvimento Sustentável – O desafio do século XXI (Rio de Janeiro: Garamond, 2005). É colaborador da coluna de opinião do jornal Valor Econômico.

IHU On-Line – Pensando em Copenhague, quais as expectativas que podemos ter em relação ao encontro? Quais as novidades que ele pode trazer em relação ao Protocolo de Kyoto, por exemplo?
José Eli da Veiga – Com certeza será melhor que o Protocolo de Kyoto. Mas o problema não é esse; é saber se ele será efetivo, porque o Protocolo de Kyoto foi um desastre. Pode até ser que Copenhague seja um pouco melhor, mas continue sendo um desastre. Há esse risco. As coisas evoluíram positivamente, sobretudo, depois da eleição de Barack Obama. Mas não só por causa de mudanças na China, que estão diretamente relacionadas com a questão Obama, ou por causa das eleições na Austrália e no Japão. Há uma série de fatos novos, sobretudo neste último ano, que são muito promissores. Todavia, não houve tempo ainda, justamente porque esses fatos são muito recentes, para que a grande questão, que é ainda a resistência dos países emergentes, se resolva. Os países emergentes, inclusive o Brasil, ainda estão em uma situação um pouco dúbia em relação a isso. Diferente do movimento um pouco mais consistente dos países desenvolvidos. Eu prefiro falar em primeiro, segundo e terceiro mundo. Os países emergentes são em número maior do que se imagina e já constituem o segundo mundo em relação ao primeiro mundo desenvolvido e, depois, em relação a centenas de países que quase não emitem gases tóxicos e que serão as principais vítimas do aquecimento, que são o terceiro mundo. No primeiro mundo, a evolução foi muito positiva. Por exemplo, no caso dos Estados Unidos, que é chave, a lei ainda não foi votada no Senado. E está uma discussão sobre se ela será votada antes de Copenhague. Isso muda tudo. O grau de liderança que os Estados Unidos podem ou não ter, mesmo com uma lei que eles vão aprovar e que não é muito ambiciosa em termos de metas, muda completamente se tiverem aprovado ou não a lei. Depois, se o segundo mundo, os países emergentes, continuarem reticentes, manifestando uma tendência um pouco melhor agora, mas parecida com a que tiveram na época de Kyoto, todos os países desenvolvidos que já estão na rota – por exemplo, toda a Europa, o Japão, a Austrália etc. – necessariamente terão que apelar para a ideia do que será chamado de protecionismo. Terão que criar uma série de barreiras à importação de produtos de países que não estão tomando as devidas cautelas em relação ao clima. Isso vai gerar conflitos. O ideal seria que, em Copenhague, eles fossem bem claros em dizer o seguinte: houve um acordo sobre tais e tais questões, então vamos fechar sobre isso, porque é muito chato anunciar um fracasso. Mas isso ainda será pouco. É preciso que mantenham abertas as negociações para, antes de 2012, sair uma espécie de Copenhague em linha, ou Copenhagen II. Daí dará tempo para que fique clara a situação dos Estados Unidos (se vai ter lei, se não vai ter, qual será) e para que os países do segundo mundo, os emergentes (Brasil, Índia, China etc.) tenham tido tempo para continuar nessa evolução, que é muito recente.
IHU On-Line – Qual a importância da Convenção de Copenhagen, em sua opinião?
José Eli da Veiga – A importância que eu dou para Copenhague não é tão grande. A transição ao baixo carbono está em curso faz tempo e independe de Copenhagen. Os países que mais rapidamente perceberam que em vez de um problema, uma restrição, isso é uma grande oportunidade para uma nova etapa do capitalismo, já estão há muito tempo investindo em ciência, tecnologia e inovação. Assim, eles possuindo essas tecnologias que poderão ser a solução, terão as oportunidades de negócio. Isso está ocorrendo e vai continuar ocorrendo, seja qual for o resultado de Copenhague. E os países emergentes, como o Brasil, que ficaram nessa linha obtusa de resistência, não investindo em ciência e tecnologia com prioridade, não terão essas tecnologias e continuarão tendo que discutir essa questão de como vão comprar tecnologia dos outros através da tal transferência de tecnologia. Existe um movimento subjetivo, que são esses acordos internacionais e, particularmente, esse da convenção em Copenhagen. E isso é muito importante pelo seguinte: caso eles tomem decisões ambiciosas lá, acelera o processo. Mas se não tomarem essas decisões e, mesmo que seja um fracasso, a transição ao baixo carbono vai continuar e, nesse caso, mantendo a divisão do mundo atual, em vez de ser uma oportunidade para uma mudança.
Essa mudança seria a seguinte: os países desenvolvidos, que detêm maior capacidade científica e tecnológica, deveriam fazer acordos de cooperação, principalmente com os países emergentes. Isso quer dizer que não haveria mais transferência de tecnologia, mas as tecnologias seriam buscadas em conjunto, em acordos bilaterais de cooperação, e alguns já estão ocorrendo, por exemplo, os Estados Unidos e a China já fizeram. Isso me faz relativizar a importância da Conferência de Copenhague. E um fracasso em Copenhague será muito pior para nós, do Brasil, do que será para eles, para quem no fundo não muda muito. Na verdade, o que está ocorrendo é uma tremenda corrida pelas tecnologias, que poderão levar à superação da era fóssil. E outra vez serão os mesmos países que fizeram a revolução industrial que vão levar a melhor nessa. E os países emergentes agiram de uma forma totalmente errada até agora, perdendo a oportunidade de mudar esse jogo.
IHU On-Line – Como o senhor vê a situação específica do Brasil neste cenário?
José Eli da Veiga – Está mudando positivamente. O chanceler Celso Amorim deu uma entrevista recentemente que mostra uma mudança bem grande. Eles começaram a acordar um pouco. Até escrevi um artigo recentemente em que pergunto “será que a ficha está caindo?”.
IHU On-Line – Mas e a visão do presidente Lula, que sinaliza muitas vezes um favorecimento do desenvolvimento econômico em detrimento da questão ambiental?
José Eli da Veiga – Nessa questão do clima especificamente, infelizmente, o presidente está parecendo uma biruta de aeroporto. Cada declaração que ele faz dá numa direção; depende de quem foi o último que falou com ele, se foi o Carlos Minc, o Celso Amorim ou se foi um desses trogloditas do Ministério de Minas e Energia ou da Petrobrás. No governo, todos os setores que são muito ligados aos negócios com fósseis puxam para trás. Mas tem alguns setores que tentam ir para a frente. Um dos que deveriam tentar ir junto para a frente é o Ministério de Ciência e Tecnologia, mas infelizmente, é o contrário, ele está fazendo o jogo dos fósseis. Então, junta o Ministério de Ciência e Tecnologia e o Ministério de Minas e Energia, sua empresa de planejamento energético, mais a Petrobrás, e puxam o Lula para cá. Daí tem o Ministério do Meio Ambiente e, agora, também o Itamaraty, que, de repente, sacou que estava errado, e está mudando muito, jogando o presidente para a frente. E como ele ainda não tem uma convicção, cada declaração que ele faz vai para um lado.
IHU On-Line – Que relações podemos estabelecer entre a crise financeira mundial e a redução na emissão de gases tóxicos na atmosfera?
José Eli da Veiga – Você usou a expressão crise financeira. Na verdade, a questão da crise financeira, em si, afetaria principalmente porque iam faltar recursos para, por exemplo, alguns investimentos favoráveis a uma transição ao baixo carbono, que estariam mais ou menos planejados, e se inviabilizaram por razões de falta de recursos, inclusive de redução de crédito. O que houve de principal é que, como a crise financeira acabou se tornando uma crise econômica, que já começa a ser superada, tivemos um saldo benéfico, porque essas recessões todas contiveram as emissões. Mas não é assim que queremos conter as emissões, não é a custa de desemprego e de aumento da pobreza. Então, como, no fundo, aparentemente, a superação dessa crise está sendo mais rápida do que previam, agora a discussão está no mesmo plano que estava antes. É importante ressaltar que nenhum economista pode achar que usa uma ciência que o permite fazer qualquer tipo de previsão. Mas de uma coisa podemos ter certeza: haverá outra crise tão grave como essa e não vai demorar muito. Toda a questão é de aproveitar o período entre as duas crises para estabelecer essas instituições. E a única lição que podemos tirar é que nós teríamos aproveitado muito mais a situação que foi relativamente favorável para o Brasil – porque não tínhamos a tal bolha imobiliária, porque os procedimentos de regulamentação dos bancos aqui eram um pouco mais rígidos do que em outros países e, com isso, o choque foi menor, embora tenha tido um baque grande -, se tivéssemos hoje um sistema de ciência e tecnologia na rota do que precisa ser feito. Nós estaríamos aproveitando isso justamente para nos tornarmos em pouco tempo mais competitivos na linha da sustentabilidade, que é o elemento decisivo neste século. Nesse sentido, não é um problema nem de falar do governo, que é só uma parte disso. As elites brasileiras, em geral, estão absolutamente cegas. Elas estão fazendo a mesma coisa que fizeram no século XIX com a questão fundiária, e no século XX com a educação. Não há foco no Brasil em relação à ciência, à tecnologia e à inovação. E isso é um atraso. O Brasil não será um país desenvolvido neste século se continuar nessa perspectiva.
IHU On-Line – O que representa para o Brasil a possibilidade da candidatura de Marina Silva à presidência do país? O que isso significa do ponto de vista político e social?
José Eli da Veiga – Já significou muita coisa, porque mudou tudo. Primeiro, porque, em muitos pontos do governo, o Ministério do Meio Ambiente – no caso, o Carlos Minc – estava imaginando que já tinha perdido e passou a ganhar. Deu-se uma reversão muito grande no governo. E já começou a mudar também a perspectiva dos candidatos ditos mais competitivos. Agora, os chamados programas de Dilma e Serra terão que dar uma prioridade muito maior para essa questão do que davam. Isso já são ganhos contabilizados. O que está por vir vai depender muito. É muito difícil fazer uma previsão de como será o decorrer dessa campanha. Mas a pré-candidatura dela trouxe de cara duas coisas importantíssimas: primeiro, oxigenou o debate que estava parecendo trocar seis por meia dúzia. No fundo, a diferença programática entre o tucanato e os petistas é muito pequena; é a questão da ênfase no papel do Estado. E o grande problema é que ambos são prisioneiros, são chantageados pelas oligarquias que souberam se organizar para chantagear o Lula do mesmo jeito que fizeram com Fernando Henrique. A perspectiva para o Brasil teria que ser de romper com esse esquema de uma hora ganha um, outra hora ganha outro, mas estão sempre presos a Sarneys, a Renans e a outros até piores. O rompimento disso seria, por exemplo, algum governo que pudesse aproximar o PT do PSDB numa coalizão. E acho que a única possibilidade que existe é da Marina. Além de ela encarnar o que é o futuro em função do ecodesenvolvimento, ela é ainda, do ponto de vista pragmático, uma grande solução para o Brasil no seguinte impasse político e institucional: seja que ganhe o Lula ou que ganhem os tucanos com os “demos” lá, os governos serão outra vez a mesma repetição do que foi o Fernando Henrique e o Lula no sentido de que são prisioneiros de ter que fazer aliança no Congresso com tudo o que há de mais atrasado no país.
IHU On-Line – Além da questão ecológica, que novidades Marina Silva poderia trazer ao Brasil do ponto de vista da economia?
José Eli da Veiga – Não dá mais para fazer essa separação. As pessoas que continuam a separar economia e meio ambiente não entenderam nada. Há duas questões no mundo hoje em termos de décadas e em termos de século XXI e, ou o Brasil se insere nisso ou está perdido. Essas duas questões são: o aquecimento global e a ressurreição da China. O Brasil tem que ser competitivo, mas, ao mesmo tempo, com sustentabilidade ambiental. Essa equação é econômica. É disso que os candidatos com cabeça mais “cepalina”, como é o caso do Serra e da Dilma, não conseguem entender. Eles estão atrasados. Então a novidade é essa. Esse negócio de dizer que a Marina terá só pauta ambiental é besteirol, porque o que estamos querendo é discutir na prática o que significa uma expressão que já tem 30 anos: desenvolvimento sustentável. Eu prefiro ecodesenvolvimento. Mas eles não têm resposta para o que é desenvolvimento sustentável. E se alguns assessores deles até tiverem, quando eles usarem isso na campanha será artificial, porque não partirá de convicção pessoal.
Fonte: Ecodebate, 05/10/2009. Publicado pelo IHU On-line [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

sábado, outubro 03, 2009

quando

Mãos e Anéis

Turmalina rosa em prata retorcida
Fenda sincera e colo de insônias
Sorte que me abandona aos jogos
Deito livros de estórias na tua rua

Nenhuma estação me abriu assim
Sou mãos abertas pedindo ajuda
Sem aguentar as dores do corpo
Nem as emoções que perduram

Arrasto meus dedos nos muros
Quero escrever a poesia nas unhas
Quebro o perfume da sua presença
Vem e castiga-me infinitamente


quinta-feira, outubro 01, 2009

contando estórias (4)

Jogos e flores fugidias

Horácio caiu da cama. Outra vivência que virou um iceberg e se transformou em um desafio, ele teria que refletir sobre uma das suas evidentes fraquezas – a entrega -, um exercício que parecia fácil, mas que por sua intensidade derramou-se sobre o resto do dia em uma preocupação aflitiva. Tudo seria uma questão de entender a mensagem que recebera ao fim de mais uma caminhada, uma intuição clara, todavia também um aviso, algo que ele até suspeitava vir a qualquer momento no vento, e ele nem deu o primeiro passo, afastou de sua sensível visão qualquer perigo, pois o medo não influenciava sua vida, talvez por não suportar uma certa ordem, um padrão, mas, ele nem tinha conta do real significado dessa vivência até chegar em casa, os seus medos lhe venceriam, por enquanto. O som do coração conspirava e batia desafinado lhe ajudando em sua reflexão prematura.

Há alguns meses ele nem desconfiaria de que retornaria a esse árido terreno, tendo que respirar o ar quente, corredeira de carrapichos, rios rachados e nuvens ralas a lhe apontar direções. Na ausência de perspectivas em lhe aparecer sequer um pequeno oásis, lá ia seu longo olhar no horizonte virando quilômetros de terra seca, nada de avistar qualquer sentimento que servisse ou valesse a pena preencher o seu coração de estudante. O lugar que lhe acolheria mais próximo, ele conhecia, estava acostumado, tinha certeza que duraria, não tinha poesia, mas lhe parecia seguro.

Após horas de caminhada avistou um olho d’água, apressou-se e chegou a um estreito córrego, mais adiante parou e curvou-se pescando algumas flores que flutuavam a beira do que ele chamou de riacho, isso cresceu uns metros mais a frente enchendo um pequeno rio, ele assoviou imitando pássaros, dançou, e continuou com suas migalhas de alegria, contemplando o rastro do sol cair na água doce. No outro lado da margem Horácio percebeu uma agitação que para ele seria apenas mais uma aglomeração de jovens tomando banho, pelados, e outros brincando de jogar pedrinhas achatadas para que contassem quantas vezes elas saltitavam na tensão do espelho líquido. Para ele um passatempo esquecido desde a sua grande infância e adolescência, menos interessante que pescar flores, pétalas de poesia, sabendo que depois elas murchariam e iriam, leves, dobradas em livros em essências mais fortes, independentes dele, e continuariam se juntado a outras sem ligar para a fria correnteza que já lhe tomava meia perna de calça. Horácio sentiu que sua alegria se afastava com a breve partida daqueles jovens que avistara no riacho, atores vigorosos, amantes da farta natureza humana, então, retirou-se cabisbaixo envolvido no calor que restava da emoção das brincadeiras que ainda ressoavam em sua memória, nos últimos raios da tarde. Ele já não era mais assim, disposto ao risco de experienciar tantos sentimentos, movimentos mais fortes que o seu coração poderia suportar. Já pensava duas vezes em atravessar o novo rio, participar dos jogos inevitáveis da vida, das aventuras loucas que o rio lhe apresentava. Sua sorte estava de férias, teria de buscar alguma ajuda para compartilhar a viagem.

Essa sem dúvida foi a experiência mais rápida e fecunda que Horácio já teve numa entrada de primavera. A simplicidade do encontro e a complexidade com que se dissipou o aroma das pétalas em fuga, mais uma tentativa de entrega, um diálogo afetivo interrompido, uma comunicação só permitida pela sua identidade preservada. O significado desse movimento não se rompia, e a energia transferida ou recebida se manteria no seu movimento como o próprio sentimento guardado. A reação de Horácio seria circunstancial, se dando em função do que teve de calar dentro dele por mais uma estação. Ele mexeu em águas profundas aparentemente superficiais, remoinho de emoções fortes, mergulhara no caos, e agora procurava não se entregar a uma correnteza muitas vezes sem fundo e sem volta. A ponte mais próxima servia, antes que se afogasse próximo da beira. Agarrou-se na terceira margem, na certeza de ver um outro dia amanhecendo. Apesar de ter feito muito, a vida continuava constante.


na tela ou dvd

  • 12 Horas até o Amanhecer
  • 1408
  • 1922
  • 21 Gramas
  • 30 Minutos ou Menos
  • 8 Minutos
  • A Árvore da Vida
  • A Bússola de Ouro
  • A Chave Mestra
  • A Cura
  • A Endemoniada
  • A Espada e o Dragão
  • A Fita Branca
  • A Força de Um Sorriso
  • A Grande Ilusão
  • A Idade da Reflexão
  • A Ilha do Medo
  • A Intérprete
  • A Invenção de Hugo Cabret
  • A Janela Secreta
  • A Lista
  • A Lista de Schindler
  • A Livraria
  • A Loucura do Rei George
  • A Partida
  • A Pele
  • A Pele do Desejo
  • A Poeira do Tempo
  • A Praia
  • A Prostituta e a Baleia
  • A Prova
  • A Rainha
  • A Razão de Meu Afeto
  • A Ressaca
  • A Revelação
  • A Sombra e a Escuridão
  • A Suprema Felicidade
  • A Tempestade
  • A Trilha
  • A Troca
  • A Última Ceia
  • A Vantagem de Ser Invisível
  • A Vida de Gale
  • A Vida dos Outros
  • A Vida em uma Noite
  • A Vida Que Segue
  • Adaptation
  • Africa dos Meus Sonhos
  • Ágora
  • Alice Não Mora Mais Aqui
  • Amarcord
  • Amargo Pesadelo
  • Amigas com Dinheiro
  • Amor e outras drogas
  • Amores Possíveis
  • Ano Bissexto
  • Antes do Anoitecer
  • Antes que o Diabo Saiba que Voce está Morto
  • Apenas uma vez
  • Apocalipto
  • Arkansas
  • As Horas
  • As Idades de Lulu
  • As Invasões Bárbaras
  • Às Segundas ao Sol
  • Assassinato em Gosford Park
  • Ausência de Malícia
  • Australia
  • Avatar
  • Babel
  • Bastardos Inglórios
  • Battlestar Galactica
  • Bird Box
  • Biutiful
  • Bom Dia Vietnan
  • Boneco de Neve
  • Brasil Despedaçado
  • Budapeste
  • Butch Cassidy and the Sundance Kid
  • Caçada Final
  • Caçador de Recompensa
  • Cão de Briga
  • Carne Trêmula
  • Casablanca
  • Chamas da vingança
  • Chocolate
  • Circle
  • Cirkus Columbia
  • Close
  • Closer
  • Código 46
  • Coincidências do Amor
  • Coisas Belas e Sujas
  • Colateral
  • Com os Olhos Bem Fechados
  • Comer, Rezar, Amar
  • Como Enlouquecer Seu Chefe
  • Condessa de Sangue
  • Conduta de Risco
  • Contragolpe
  • Cópias De Volta À Vida
  • Coração Selvagem
  • Corre Lola Corre
  • Crash - no Limite
  • Crime de Amor
  • Dança com Lobos
  • Déjà Vu
  • Desert Flower
  • Destacamento Blood
  • Deus e o Diabo na Terra do Sol
  • Dia de Treinamento
  • Diamante 13
  • Diamante de Sangue
  • Diário de Motocicleta
  • Diário de uma Paixão
  • Disputa em Família
  • Dizem por Aí...
  • Django
  • Dois Papas
  • Dois Vendedores Numa Fria
  • Dr. Jivago
  • Duplicidade
  • Durante a Tormenta
  • Eduardo Mãos de Tesoura
  • Ele não está tão a fim de você
  • Em Nome do Jogo
  • Encontrando Forrester
  • Ensaio sobre a Cegueira
  • Entre Dois Amores
  • Entre o Céu e o Inferno
  • Escritores da Liberdade
  • Esperando um Milagre
  • Estrada para a Perdição
  • Excalibur
  • Fay Grim
  • Filhos da Liberdade
  • Flores de Aço
  • Flores do Outro Mundo
  • Fogo Contra Fogo
  • Fora de Rumo
  • Fuso Horário do Amor
  • Game of Thrones
  • Garota da Vitrine
  • Gata em Teto de Zinco Quente
  • Gigolo Americano
  • Goethe
  • Gran Torino
  • Guerra ao Terror
  • Guerrilha Sem Face
  • Hair
  • Hannah And Her Sisters
  • Henry's Crime
  • Hidden Life
  • História de Um Casamento
  • Horizonte Profundo
  • Hors de Prix (Amar não tem preço)
  • I Am Mother
  • Inferno na Torre
  • Invasores
  • Irmão Sol Irmã Lua
  • Jamón, Jamón
  • Janela Indiscreta
  • Jesus Cristo Superstar
  • Jogo Limpo
  • Jogos Patrióticos
  • Juno
  • King Kong
  • La Dolce Vitta
  • La Piel que Habito
  • Ladrões de Bicicleta
  • Land of the Blind
  • Las 13 Rosas
  • Latitude Zero
  • Lavanderia
  • Le Divorce (À Francesa)
  • Leningrado
  • Letra e Música
  • Lost Zweig
  • Lucy
  • Mar Adentro
  • Marco Zero
  • Marley e Eu
  • Maudie Sua Vida e Sua Arte
  • Meia Noite em Paris
  • Memórias de uma Gueixa
  • Menina de Ouro
  • Meninos não Choram
  • Milagre em Sta Anna
  • Mistério na Vila
  • Morangos Silvestres
  • Morto ao Chegar
  • Mudo
  • Muito Mais Que Um Crime
  • Negócio de Família
  • Nina
  • Ninguém Sabe Que Estou Aqui
  • Nossas Noites
  • Nosso Tipo de Mulher
  • Nothing Like the Holidays
  • Nove Rainhas
  • O Amante Bilingue
  • O Americano
  • O Americano Tranquilo
  • O Amor Acontece
  • O Amor Não Tira Férias
  • O Amor nos Tempos do Cólera
  • O Amor Pede Passagem
  • O Artista
  • O Caçador de Pipas
  • O Céu que nos Protege
  • O Círculo
  • O Circulo Vermelho
  • O Clã das Adagas Voadoras
  • O Concerto
  • O Contador
  • O Contador de Histórias
  • O Corte
  • O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante
  • O Curioso Caso de Benjamin Button
  • O Destino Bate a Sua Porta
  • O Dia em que A Terra Parou
  • O Diabo de Cada Dia
  • O Dilema das Redes
  • O Dossiê de Odessa
  • O Escritor Fantasma
  • O Fabuloso Destino de Amelie Poulan
  • O Feitiço da Lua
  • O Fim da Escuridão
  • O Fugitivo
  • O Gangster
  • O Gladiador
  • O Grande Golpe
  • O Guerreiro Genghis Khan
  • O Homem de Lugar Nenhum
  • O Iluminado
  • O Ilusionista
  • O Impossível
  • O Irlandês
  • O Jardineiro Fiel
  • O Leitor
  • O Livro de Eli
  • O Menino do Pijama Listrado
  • O Mestre da Vida
  • O Mínimo Para Viver
  • O Nome da Rosa
  • O Paciente Inglês
  • O Pagamento
  • O Pagamento Final
  • O Piano
  • O Poço
  • O Poder e a Lei
  • O Porteiro
  • O Preço da Coragem
  • O Protetor
  • O Que é Isso, Companheiro?
  • O Solista
  • O Som do Coração (August Rush)
  • O Tempo e Horas
  • O Troco
  • O Último Vôo
  • O Visitante
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  • Olhos de Serpente
  • Onde a Terra Acaba
  • Onde os Fracos Não Têm Vez
  • Operação Fronteira
  • Operação Valquíria
  • Os Agentes do Destino
  • Os Esquecidos
  • Os Falsários
  • Os homens que não amavam as mulheres
  • Os Outros
  • Os Românticos
  • Os Tres Dias do Condor
  • Ovos de Ouro
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