quinta-feira, julho 02, 2009

mar de mineiro

Flor do Mal
Cacaso

Vem vadiar ao léu
talho sem dor não deixa sinal
vem provar do fel
nosso destino é tão desigual

Seja no meu lamento
um corpo sedento pra me abraçar
seja um braço atento que se levanta
pra me guiar
E ainda seja em todo o momento
sopro de vento chuva no mar
seja amor sangrento seja tormento
que já passou
e que vai chegar

Vem provar do mal
plante essa flor e rasgue esse véu
vem quebrar o pau
nosso destino não cai do céu

Vejo no seu futuro
um porto inseguro pra se atracar
vejo um tempo escuro que já passou
e que vai chegar
E ainda vejo um gesto duro
nome no muro grito no ar
vejo amor maduro no beijo puro
que vai nascer
mas não chego lá

a crítica

"Por mais incrível que possa parecer, [...] a maior parte dos especialistas em economia política tem apenas noções muito confusas sobre o verdadeiro objeto do seu saber." LUXEMBURGO, R. (1925). Introdução à economia política. São Paulo: Martins Fontes, 1977, p.35)

o conceito

O Economista na sociedade moderna

Por: Cristovam Buarque (*)

Nas últimas décadas os países em desenvolvimento, em especial o Brasil, passaram a ser administrados por economistas ou por uma lógica economicista dissociada do mundo real. O resultado foi a formação de um grupo considerado de economistas, verdadeiros tecnocratas, que passaram a ditar os rumos da economia brasileira, baseados apenas em modelos econométricos e estatísticos, sem levar em consideração os aspectos éticos, culturais e humanitários do conjunto da sociedade.

Os problemas sociais e aqueles vinculados diretamente à essência do processo humano deixaram de ter uma identidade própria, e foram apropriados pela realidade única do discurso economicista. E a sociedade, influenciada por anos de primazia do econômico, caiu na armadilha de considerar as dificuldades econômicas como sendo os únicos problemas do país. Desapareceram como problemas enfáticos a fome do povo brasileiro, o analfabetismo, o desemprego, a falta de acesso à cultura e de saúde.

Tornaram-se problemas graves a dívida externa, a inflação, a taxa de juros e a taxa de câmbio. Os economistas que são formados nas universidades brasileiras raciocinam, exclusivamente, com projeções numéricas, em torno de quanto vai ser a inflação do próximo mês, se os juros devem subir ou descer, sobre o tamanho da dívida externa. Os economistas atuais perderam de vista a dimensão social do povo brasileiro.

Hoje, infelizmente, não se discute nas faculdades de economia a fome do povo brasileiro, que é o principal problema nacional. O desemprego que atinge níveis alarmantes e joga na rua da amargura milhares de pais de famílias e jovens é visto no discurso economicista como um mal necessário para conter a taxa de inflação. A maior safra agrícola do Brasil é vista com êxito, independentemente da fome de 50 milhões de brasileiros que ela não ajuda a solucionar, porquê é mais rentável exportá-la para alimentar animais que fornecerão sofisticações gastronômicas para poucos.

A indústria de equipamentos médicos pode ser um elemento dinâmico, independentemente do fato de ajudar ou não a reduzir o problema das doenças. Uma multidão de esfomeados, por falta de salários, nada representa para o economista, se o equilíbrio de preços se mantém, ao nível da renda disponível. O desabastecimento não existe, se os necessitados ficam fora das filas de poder de compra.

O conceito de valor é elaborado sem incluir o efeito de depredação sobre o meio ambiente. O valor de uma obra literária é representado apenas pelo número de exemplares vendidos. Buscando quantificar e limitar a esta quantificação o valor das coisas, o economista funciona como um elemento abstrato, que encobre a realidade, dentro de uma determinada lógica e com um determinado propósito.

Em todos os países, os economistas tecnocratas assumiram um distanciamento aparente da realidade política que lhes serviu de base para viabilizar suas estratégias. Não duvidaram em utilizar a repressão policial, a tortura, a abolição de toda liberdade, como instrumentos de política econômica, com uma dupla falta de ética: durante as ditaduras, em relação aos valores básicos do humanismo; e nos momentos de retomada da democracia, negando seus comprometimentos autoritários com os militares dos quais eram cúmplices. O problema não é que os economistas não tenham aprendido as lições recebidas nos cursos, o problema é que aprenderam da mesma forma que um químico aprende o que deve misturar para obter bicarbonato de sódio, não se perguntando por que, para que, a que custo.

Ao estudar a ciência como algo alienado das realidades de seus países, o economista perdeu a perspectiva de entender a essência do processo econômico e a realidade em mutação na qual este processo se situa. Os economistas transformam-se, assim, em uma espécie de "sapiências endeusadas" com a função de elaborar as argumentações que justificam os dogmas vigentes. Ainda mais grave é que, quando a realidade não se apresenta como as teorias previam, eles manipulam os dados criando uma realidade nova, desvinculada do real.

Este problema não é característica apenas dos economistas, mas de toda a rede que forma a moderna burocracia em cada país do mundo. O que diferencia e agrava a situação dos economistas, em relação a outros burocratas, como aqueles das forças armadas, dos sistemas de saúde etc., é que, modernamente, os economistas têm tido a possibilidade de exercer um papel ativo de liderança na definição do rumo da sociedade e da civilização.

No auge da elevação do preço do petróleo, um alto funcionário do governo da Arábia Saudita declarou que o maior problema de seu país era que toda vez que perfuravam um poço procurando água só encontravam petróleo. Como os demais países petroleiros do Oriente Médio, a Arábia Saudita vivia o drama do rei Midas, da Frigia, que, por ter liberado Sileno, recebeu como prêmio o poder de transformar em ouro tudo o que tocasse. Deslumbrado com as possibilidades, o rei Midas só percebeu as conseqüências negativas quando foi ter sua primeira refeição depois do novo poder.

Os economistas modernos trabalham ainda sem o conhecimento do mito de Midas ou sem a experiência do funcionário saudita. É este desconhecimento que faz com que depois da morte do último dos elefantes o mundo acordará mais rico, porque os donos dos armazéns terão mais marfim para comercializar, ou seja, diante da irracionalidade em que a realidade econômica funciona, o economista vê-se forçado a criar mitos, que façam os homens julgarem racionais comportamentos claramente absurdos.

Apesar de todas as suas limitações e fragilidades, a ciência econômica, e com ela o economista, é um dos campos das ciências sociais que maior contribuição pode vir a dar a uma compreensão do fenômeno das relações entre os homens, e destes com a natureza. Para isso, é necessário que a ciência econômica se desvincule dos preconceitos dogmáticos e da alienação em relação à realidade. Os economistas que se consideram cientistas exatos e defensores de uma economia positiva devem olhar a realidade natural e social cambiante e, a partir dela, formular modelos que de fato sirvam a uma racionalidade na combinação produtiva dos homens, entre eles e com a natureza.

Esta nova ciência e este novo economista, devem ser capazes de desvendar o que há por trás do véu de premissas definidas ideologicamente, e buscar a essência da economia. Ao mesmo tempo, será preciso prever que esta busca não pode se limitar a uma visão mecanicista, positivista ou materialista-histórica. Deve estar aberta ao sentimento da magia do processo econômico. A magia por trás de objetivos e métodos inexplicáveis, como o próprio desejo e lutas libertárias, ou o uso do trabalho para concretizar este desejo. A magia de processos organizativos que canalizam esforços que significam tempo em vidas, seja para levar o homem à lua, construir pirâmides, realizar um desfile de escola de samba, ou aumentar o consumo. A magia capaz de montar a logística estatal para enfrentar uma guerra e a logística privada que viabiliza o abastecimento de megalópoles. A magia dos milhares de anos, milhões de horas de trabalho físico e intelectual de centenas de milhares de outras pessoas que, ao longo da história, se unem, se articulam, se complementam com base em leis que não se conhecem e que jamais serão inteligíveis, se ficarmos presos a preconceitos e não formos capazes da modéstia de saber que há uma mágica, no limite de nosso conhecimento.

(*) Cristovam Buarque é Doutor em economia, ex-reitor da Universidade de Brasília e ex-Governador do Distrito Federal

quarta-feira, julho 01, 2009

de Die Massnahme

"Canção do Mercador"
--Bertolt Brecht-

Como saber o que é arroz?
O que é arroz, que eu não conheço?
Não tenho idéia do que seja
Nem mesmo sei de alguém que o saiba.
Do arroz? Do arroz só sei o preço.

A existência feita detalhe

"Falamos das tendências dos preços para baixar ou subir e nem sempre percebemos que estamos refletindo a inumanidade de um movimento autônomo de objetos, um movimento de coisas que carrega os homens tal como a correnteza carrega toras de madeira. Num mundo governado pela produção de mercadorias, o produto controla o produtor, os objetos têm mais força do que os homens. Os objetos tornam-se um 'destino', o daemom ex machina."*

* Extraído do livro A Necessidade da Arte de Ernest Fischer, 1976.

sábado, junho 27, 2009

natureza

A Flor e a Fera

Chamam de romântico...
Ainda mais apaixonado.
Todo sentimento que balança
Um tanto fora do comum
Então, esse amor pela flor.

Se fico longe... penso nela.
Se acordo sem... chamo.
Se sinto falta... planto, rego até vê-la...
É difícil essa fera em mim, natureza!
O prazer é singular, transpira...
Bate no peito a pausa que demora.

O que acontece de estranho,
Ao enfiar as mãos pelos pés
Passar do coração à cabeça
Dar no paraíso sem saber onde!
Conhecê-la melhor dentro do tempo
E despetalar seu cheiro em peças.

Vejo como é bom estar vivo,
E que nem é certo dizer jamais.
Assim mesmo digo na pele...
Eu amo a flor, tenho amor a paz.
Sinto-me feliz ao seu lado,
Insuportável natureza em mim.

sexta-feira, junho 19, 2009

fala sério

Uns "traços" do Picasso?

Nem tenho muito tempo para escrever mais que alguns parágrafos, mas, uma coceirinha no juízo é inquietante; isso exige mais, e enquanto está na memória de trabalho volátil vou digitar o que sinto sobre o que seja importante, para não esquecer repentinamente atendo ao impulso de registrar minhas idéias transitivas nesse instante.

Enquanto fico nas linhas iniciais desse texto chegam pelo e-mail dezenas de mensagens que podem esperar por uma rápida seleção objetiva para uma leitura futura, a depender de seu conteúdo, afinal o que se recebe de spam ou lixo inútil, “desinformativo”, dá uma montanha! Assim como muitos artigos, livros e outras criações (teatrais, musicais e plásticas) promovidas e publicadas como artísticas ou científicas. Até os plágios estão sendo editados!!!! Fala sério.

Aqui estão minhas perquirições, que ficarão gravadas: Uma criação artística ou cientifica fruto da mente humana tem que valor? Esse valor é porque tal arte ou matéria de conteúdo científico é não reprodutível ou não passível de cópia (plágio)? Como qualquer produto lançado no mercado? O valor intrínseco de uma obra artística ou cientifica é antecedido de uma historia particular e insubstituível, de seu criador, de um dado conhecimento específico, de seu talento, de uma “profissão intransferível”, de um dom, como se a obra em questão fosse a “ponta do iceberg” de todo um trabalho acumulado e então exercido para a sua criação. Ou seja, o trabalho da criação incorpora um valor incalculável! Sem contar que pensarmos em tempo necessário empregado, nesse caso, é ainda mais complicado. Os traços de Picasso para o nascimento da Pomba da Paz seria um ato de criação intrasferivel e não reproduzível, ainda que realizado em alguns minutos? O que dizer da importância de sua obra para o conhecimento (no caso das artes) ou para a inimaginável perspectiva que se abriu para as percepções das ações nas artes, com a expansão dos limites potenciais da criação e produção da mente humana? Sem esquecer que existem muitos aspectos em sua dimensão cultural, política e social da criação artística e cientifica para as sociedades e as suas relações de poder, que não podemos analisar de maneira simplória o seu simbolismo ou valor para a alma humana.

Como calcular ou expressar realmente o valor de uma criação singular, seja no campo da arte ou das demais ciências? De um quadro de Pollock ou da “pomba da paz” de Picasso. Seriam apenas uns rabiscos que passaram a ter um valor de mercado por ser apenas fruto de um momento de criação de um artista genial? Isso seria passível de uma qualificação material sem vinculo nenhum com o tempo de estudo e da base de conhecimento, então, expresso no trabalho bem aplicado do seu criador? Justificar um valor apenas econômico pelo tempo empregado ou a quantidade de tinta ou rabiscos feitos, não seria essa avaliação “desqualificadora” do valor da obra ou só um julgamento apressado para imputar uma importância econômica menor à uma obra inigualável, não reproduzível para o mercado? Ignorando por completo o seu valor como arte, sob o ponto de vista cultural? Afinal, tem criação e criação. Por exemplo, no âmbito das ciências há teses de apenas trinta páginas que são tão importantes ou mais, em seu valor cientifico, quanto outras de maior “peso material”.

segunda-feira, junho 15, 2009

brevidade

Uma volta pela gravidade amorosa

Hoje, parei para lhe reparar pelo prisma solar da tarde, num olhar diferente do trivial, como se percebesse atravessando a janela da razão e seguindo aos poucos os raios da emoção adormecida, e saí de mim sustentado nos traços de partículas de poeira em suspensão, quase invisível, quase inexistente, não fosse a claridade que transpunha as suas curvas, dobras das pernas, cabelos e vínculos imateriais com a paisagem poente. O plano de cores saía do céu cobrindo as folhas ao redor grafitando um véu, ora refazendo o parapeito da janela, ora acentuando os riscos do assoalho e suas ripas inteiriças, polidas, exalando um aroma remoto de jasmim; assim era o pendulo de luz invasora, no entorno de minha visão da sua imagem transitiva na minha imaginação sem gravidade.

Cada qual com seu cada qual... Vivemos assim, ainda mais próprios nas ações e independentes da opção do que somos. Um farto sorriso de código dava a senha da nossa passagem de ida e volta, e as nossas palavras estalavam na química corporal, na pronta magia das retinas que aproximava um sussurro: “Que seja amor”.

Girávamos, peões sem fio, soltando a leveza da alma em conquista por incêndios sem pedidos de socorro. Experimentar do melhor vinho, e do que se pede num momento tão especial, um ritual de dança da chuva, sem querer previsão, só para molhar o coração semi-árido.

Também, havia um estio mútuo de sensações, um silêncio demorado, até chegar a esse ponto... Os meneios assanhavam os espelhos da vontade interior acordando as dezenas de digitais ainda frias, nos embarcando numa viajem cega e egoísta por esses sentimentos, ao estarmos juntos por escolha de uma solução melhor, de um instante do outro, ignorando todo o resto no percurso, cruzando os pés pelas mãos e outras preciosidades sem mais.

Sem nenhuma dúvida sobramos nas corredeiras tortuosas da permissão, ainda mais desarrumados. Após um ensaio pouco afinado penetramos nossas galáxias internas, quando acabamos calados alinhavando os presentes trocados sem notar a chegada do futuro. Paramos defronte de uma estação de intenso movimento sem querer evitar os verdadeiros instintos. Repetimos de tudo no tempo restante imitando-nos numa mímica improvisada, como se pudéssemos ser mais verdadeiros sem as palavras, e de qualquer outra maneira tudo pareceria estranhamente antigo, como seria se fizéssemos o óbvio. O verbo móvel do corpo dizia tudo do seu jeito dançando a música que só nós ouvíamos, ainda que faltasse alguma nota ofuscada pelo barulho vindo de fora. Uma hora depois descobrimos nossa perfeita sintonia.

Nem é preciso explicar o que sentimos. O impulso saltou da ausência da língua, a presença abreviou-se no outro, nada podia conter o espontâneo, que se revelou no criar de situações indizíveis, no construir de figuras nas nuvens usando o nada, algo fluiu, água na peneira, na sonoridade da nossa voz, no respirar profundo e sereno que veio em seguida. O sabor absoluto dos gestos dados estava no traço dos umbigos mudos. Tudo se tornou uma promessa indubitável, ainda que não dita ou presumida, apenas reconhecida pelo outro naturalmente aceito.

Concordamos por um sinal afirmativo, arquétipos em acordo, transpiramos e renascemos através de passos em harmonia, buscando sentir o calor e a presença da esperança chegando em navios de cascos maduros, aliados da energia afetuosa envolvente das estrelas por guia. Sabemos o que alimenta e move cada célula num raio de segundo em nossas veias; depois desse encontro mantivemos uma comunicação que ainda nos regula na ida e, nos traz suavemente de volta os benefícios da experiência amorosa, no melhor sentido da nossa inevitável brevidade.

quinta-feira, junho 11, 2009

nosso paradoxo

De olho na crise da água

Emir Sader (Cientista político, jornalista e escritor)

Antes que a globalização liberal invadisse o mundo, tratando de fazer de tudo mercadoria, de fazer com que tudo tenha preço, se venda e se compre, usávamos o exemplo da água para diferenciar, nas aulas, o que tem valor de uso, mas não valor de troca, porque as pessoas têm acesso livre a elas. Quem diria que poucas décadas de liberalismo tenham feito da água uma razão tal de cobiça econômica, que um ex-vice-presidente do Banco Mundial previu, ainda antes de entrarmos no nosso século que “as guerras do Século 21 serão travadas por causa da água''.

A América Latina é um dos cenários dessa luta e, desse ponto de vista, não se pode prever que estejamos fora dos roteiros da cobiça bélica dos grandes conglomerados e governos imperiais no Século 21. Podemos dizer que primeira batalha pela água se deu por aqui, na Bolívia, quando o Banco Mundial exigiu, para a renovação de um empréstimo de 25 milhões de dólares, a condição de que fossem privatizados os serviços de água do país mais pobre da América do Sul. Quando foi privatizado o serviço hídrico da cidade de Cochabamba à poderosa empresa estadunidense Bechtel, o preço da água aumentou brutalmente já nos dois primeiros meses. Como resposta, dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de Cochabamba para manifestar seu protesto pelo aumento dos preços e os cortes feitos pela empresa com os devedores. O movimento desembocou em uma greve geral que paralisou a cidade, o que obrigou a Bechtel a fazer as malas e fugir da Bolívia, embora não por muito tempo. Regressou com uma demanda de 25 milhões de dólares contra o governo boliviano, exigindo o pagamento de indenizações por perda de lucros.

Outras zonas do continente são cenário de lutas similares, entre elas a Argentina, o Uruguai – em que o povo decidiu em plebiscito simultâneo às eleições presidenciais impedir qualquer forma de privatização dos serviços de água –, o Chile, a Guatemala, o México, que vivem movimentos similares na América Latina.

Nosso continente vive o paradoxo de desfrutar de grande abundância de mananciais de água doce – 20% do resíduo líquido mundial provêm somente do Amazonas –, nosso território abriga quatro dos 25 rios mais caudalosos do mundo – Amazonas, Paraná, Orinoco e Magdalena –, além de alguns dos maiores lagos.


Deveríamos, então, ter uma das mais elevadas distribuições de água doce per capita do mundo, mas algumas zonas do continente sofrem secas tão duras que 25% do continente é considerado árido ou semi-árido.


O Brasil é o melhor exemplo desse paradoxo, porque temos mais água do que qualquer outro país, dispondo da quinta parte dos recursos de água do planeta, mas enormes zonas estão incluídas nessas regiões áridas e semi-áridas. Mas, além disso, uma cidade como São Paulo enfrenta racionamento de água, porque seu abastecimento de água depende de fontes que estão cada vez mais longe das cidades e o custo do transporte supera a capacidade aquisitiva de uma parte grande de habitantes.


Os recursos de água doce da América Latina sofrem grandes problemas de contaminação. O país mais contaminado de todo o continente é o Brasil, apesar de possuirmos o recorde de recursos de água doce. O Brasil permite a contaminação química e industrial maciça, da mesma forma que aos derramamentos de mercúrio originários das minas de ouro. Só somos superados por algumas regiões da Europa do Leste e pela China nos níveis de contaminação aquática.


A demanda mundial de água doce se duplica a cada 20 anos, a um ritmo duas vezes superior à taxa de crescimento da população. Os maiores contaminadores de água são as grandes indústrias de alta tecnologia e a agricultura industrial, e não as casas particulares. Os sistemas de irrigação agrícola consomem entre 65 e 70% da água, principalmente para produzir alimentos para exportação; 20 a 25% são dedicados a fins industriais, entre eles a produção de chips de silício de alta tecnologia e, os 10% restantes de água são para uso doméstico. Mantendo-se essas tendências, a demanda de água superará os recursos terrestres em 56 por cento.


De olho na crise da água na América Latina, muitas empresas privadas européias buscam assumir os serviços de abastecimento público de países da região, incluído o Brasil. Em geral são filiais locais das três principais corporações de serviços de água: as empresas francesas Suez e Vivendi e a alemã RWE-Thames, que juntas fornecem serviços de água corrente e saneamento a 300 milhões de clientes em mais de 130 paises do mundo. Seguindo o Uruguai, seria um bom tema para que os brasileiros se pronunciem em plebiscito, antes que a privatização da água seja uma realidade irreversível.

Fonte: Revista Eco 21, ano XV, Nº 101, março/2005.

cidadania

Caneta ou ferramenta?

FREI BETTO


Quantos advogados você conhece? Uns tantos, certamente. Mas na hora de socorrer o seu computador pifado, consertar o vazamento da pia da cozinha ou traduzir-lhe o manual de funcionamento do novo televisor que você lê, lê e não entende, a quem recorre?

O Brasil é uma nação de bacharéis. Como abrigamos a mais longa escravidão das três Américas (350 anos), ainda guardamos, do período colonial, resquícios elitistas, como julgar que profissões técnicas são para incompetentes que não chegam a doutor... Boa profissão é a que domina a caneta, e não a ferramenta.

Você sabia que de cada 100 brasileiros (as) no mercado de trabalho, 72,4% (ou exatos 71,5 milhões de pessoas), nunca fizeram um curso profissionalizante? Entre os desempregados, 66,4% (5,3 milhões de pessoas) nunca passaram por um curso de educação profissional. O dado é do IBGE, divulgado no último 22 de maio.

O mais grave é o poder público, como diria aquele deputado, estar "pouco se lixando" para a qualificação de nossos trabalhadores. Segundo o IBGE, em 2007 apenas 22,4% dos alunos de cursos profissionalizantes estavam matriculados em escolas públicas.

Dos que buscam tais cursos, 53% dependem de ofertas de ONGs, sindicatos e instituições particulares. O famoso Sistema S (como Senai, Senac, Sebrae), que recebe robustas verbas do governo, forma apenas 20% dos interessados em qualificação.

Mesmo os cursos existentes nem sempre primam pela qualidade. Entre os matriculados, 80,9% freqüentavam cursos que não exigiam escolaridade prévia. O que explica o alto número de analfabetos virtuais em profissões técnicas. Consertam a geladeira, mas são incapazes de redigir um bilhete explicando a causa do defeito.

Na mesma pesquisa, o IBGE constatou que são analfabetos 13,5 milhões de brasileiros (9,5% da população) com mais de 15 anos de idade. E de 1,8 milhão que freqüentavam salas de aula, 810 mil (45%) admitiram não saber ler nem escrever um simples recado.

A falta de motivação é a principal causa de desinteresse por cursos profissionalizantes. O Brasil é o reino do improviso. O auxiliar de eletricista aprende na prática, assim como o de cozinha acredita que, amanhã, a intimidade com o fogão fará dele um chef. Muitos (14,1%) admitiram não poder pagar um curso dessa natureza. E 8,9% se queixaram da falta de escola na região.

Dos alunos em cursos profissionalizantes, 17,6% freqüentavam cursos técnicos de nível médio. E apenas 1,5% cursos de graduação tecnológica equivalente ao nível superior. O mais procurado é o curso de informática (41,7%), seguido de comércio e gestão (14%) e indústria e manutenção (11,25). Ao todo, 215 mil estudantes, o que representa um índice muito baixo dadas as dimensões do país e de suas necessidades.

Esse quadro explica, em parte, a razão do nosso subdesenvolvimento – ou eterna situação de país emergente. O MEC promete que, até o fim de 2010, o Brasil passará de 185 mil para 500 mil vagas em cursos profissionalizantes. As escolas, hoje 140, serão 354.

Um das causas dessa realidade preocupante foi a lei de n° 1988, proposta pelo presidente FHC e aprovada pelo Congresso, que proibiu a União de criar novas escolas técnicas federais. Felizmente, Lula a revogou em 2005.

Falta ao atual governo corrigir outro erro crasso: o EJA (Educação de Jovens e Adultos, que substituiu o antigo supletivo), embora acolha trabalhadores em suas aulas, não propõe educação profissionalizante. Isso explica o alto índice de evasão – 42,7% dos matriculados não concluem o curso, sobretudo no Nordeste (56%).

Muitas vezes o horário de aulas coincide com o do trabalho (o que induz à evasão de quase 30% dos alunos), e a metodologia de ensino ignora Paulo Freire e os recentes avanços da educação popular.

O Brasil precisa trocar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) pelo PAD, Programa de Aceleração do Desenvolvimento, sobretudo humano. Sem recursos humanos qualificados, uma nação está fadada a sempre depender do mercado externo e, portanto, do jogo cruel da especulação internacional, da flutuação de divisas conversíveis e das concessões aos importadores que jamais abrem mão de suas políticas protecionistas.

Sem educação o Brasil não tem solução. Nem salvação.


Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Paulo Freire e Ricardo Kotscho, de "Essa escola chamada vida" (Ática), entre outros livros, e um dos fundadores do movimento Todos pela Educação.

domingo, junho 07, 2009

prefácio

mundialização do capital*

François Chesnais

(...)

A expressão “mundialização do capital” é que corresponde mais exatamente à substância do termo inglês “globalização”, que traduz a capacidade estratégica de todo grande grupo oligopolista, voltado para a produção manufatureira ou para as principais atividades de serviços, de adotar, por conta própria, um enfoque e conduta “globais”. O mesmo vale, na esfera financeira, para as chamadas operações de arbitragem. A integração internacional dos mercados financeiros resulta, sim, da liberalização e desregulamentação que levaram à abertura dos mercados nacionais e permitiram sua interligação em tempo real. Mas baseia-se, sobretudo, em operações de arbitragem feitas pelos mais importantes e mais internacionalizados gestionários de carteiras de ativos, cujo resultado decide a integração ou exclusão em relação às “benesses das finanças de mercado”. Como veio lembrar a crise mexicana de 1994-1995, basta pouca coisa para que um lugar financeiramente “atraente” deixe de sê-lo em questão de dias e, de certa forma, fuja da órbita da mundialização financeira.

As operações feitas com finalidade lucrativa, para “frutificar” um capital, são por definição (sem que seja uma tautologia) “seletivas”. Não é todo o planeta que interessa ao capital, mas somente partes dele, mesmo que suas operações sejam poluidoras a nível mundial, no plano da ecologia como em outros. Ligar o termo “mundialização” ao conceito de capital significa dar-se conta de que, graças ao seu fortalecimento e às políticas de liberalização que ganhou de presente em 1979-1981 e cuja imposição foi depois continuadamente ampliada, o capital recuperou a possibilidade de voltar a escolher, em total liberdade, quais os países do Pacto de Bangdum eram fortes. Mas, como sugerem os elementos de análise apresentados (neste livro), os critérios de seletividade modificaram-se, igualmente, em relação àqueles que predominavam na época do imperialismo clássico. A modificação de critérios leva à chamada “desconexão forçada”, acompanhada por formas dramáticas de retrocesso econômico, político, social e humano. Hoje em dia, muitos países, certas regiões dentro de países, e até áreas continentais inteiras (na África, na Ásia e mesmo na América Latina) não são mais alcançadas pelo movimento de mundialização do capital, a não ser sob a forma contraditória de sua própria marginalização. Esta deve ser estritamente compreendida, como mecanismo complementar e análogo ao da “exclusão” da esfera de atividade produtiva, que atinge, dentro de cada país, uma parte da população, tanto nos países industrializados como nos países em desenvolvimento.

(...)

* CHESNAIS, François. A Mundialização do Capital. São Paulo: Xamã, 1996.

Riscos e medos

"Existem apenas duas maneiras de ver a vida. Uma é pensar que não existem milagres e a outra é que tudo é um milagre". Albert Einstein

Ao ler a frase genial do gênio da Física fiquei arrepiado. Existe milagre para um cientista, e ainda por cima de reconhecida inteligência acima da média?
É, nada como um pensamento simples e natural, mas, que diz muito para quem simplesmente nem imagina o que seja milagre! Ou não acredita na possibilidade de acontecimentos incríveis na atualidade.
Deve ser porque a vida se tornou um apendice das relações criadas pelo mecanicismo do pensamento racionalista econômico. Vive-se o que se pode consumir, e acaba-se a vida nesse ciclo; consome-se mais do meio ambiente do que ele pode reverter em vida. O ecossistema planetário está exigindo uma resposta urgente, por um pequeno "milagre". E o ser humano não pode se negar ou se ausentar dessa responsabilidade. Se não fôr por meio de suas ações, certamente um outro "fenômeno natural" acudirá ao Planeta. O milagre da vida sempre se realizou.
Olhar o modo de vida que levamos só tem provado isso, trazendo então como efeito colateral os medos. O maior medo está no risco (para a vida de todos os seres) que cada vez aumenta, aceleradamente; tem-se até uma teoria que procura equacionar o seu crescimento na tentativa de por um bom termo, através do método científico, e com isso achar uma função de equilíbrio! Substituindo vida por tecnologia. Ao mesmo tempo, as incertezas se concentram ao lado da escalada das violências de uma civilização doentia.
Preservar a vida ao resgatar utopias (por meio de novos paradigmas) para um futuro melhor (da natureza, de nossos filhos e descendentes - tudo está interligado no universo), talvez seja o melhor que devamos ser e fazer hoje, isso ainda faz parte de nosso legado histórico. Cuidar das "feridas" (que causam os medos) provocadas pelo modo de vida que levamos. 
Superar os medos e possivelmente conquistar um mundo melhor, é possível!
Sem sonhos, sem milagres, sem vida.

sábado, maio 30, 2009

la economía española

El modelo productivo

Publicado en Sistema Digital el 29 de mayo de 2009

Quienes hemos criticado desde hace años el modelo de crecimiento de la economía española hemos de estar satisfechos por la voluntad de cambio expresada por el gobierno de José Luis Rodríguez Zapatero.
    Es verdad que lo que hizo el presidente en el debate sobre el estado de la Nación fue apuntar el inició de una nueva estrategia. Se limitó a manifestar sus intenciones ("la transformación del modelo productivo es la clave para retomar una senda de prosperidad sostenible.") y a establecer algunos puntos de partida a partir de los que se propone ponerlas en práctica y de los que me parece que hay que destacar tres principales: la creación de un nuevo entorno para la actividad económica, la reconducción de la actividad y "del volumen exagerado" del sector inmobiliario y la identificación y potenciación de  nuevos sectores. Y como añadido de eso, mencionó los tres instrumentos a partir de los que el gobierno piensa que puede contribuir a poner en marcha el cambio: financiación, una norma jurídica específica y una propuesta de acuerdo político.
    Yo creo que en la situación en la que se encuentra hoy día nuestra economía esa apuesta del presidente es imprescindible y que merecería un apoyo social amplio y sincero porque limitarnos a seguir el mismo camino seguido hasta ahora puede llevarnos a medio plazo, e incluso una vez que pase la crisis, a un callejón sin salida y a condiciones mucho peores incluso que las que ahora tenemos en su pleno desarrollo.
    Lo que ocurre es que para que esa propuesta sea viable hacen falta algunas cosas más que las buenas intenciones, o incluso que los recursos legales y financieros que se han anunciado.
    Quizá lo primero sería ponernos de acuerdo sobre lo que entendemos exactamente por modelo productivo y sobre sus elementos que se desean o se pueden modificar.
    A veces da la impresión de que lo que en realidad se busca es hacer sostenible el actual estado de cosas, es decir, lograr que se siga reproduciendo aunque sin tantos sobresaltos. Es la sensación que se tiene cuando al mismo tiempo que se habla de cambio de modelo, las ayudas y los incentivos que se ponen sobre la mesa van a los mismos sectores de siempre y dejando que los mismos sujetos lleven la iniciativa y se sigan beneficiando de manera privilegiada de las medidas que se adoptan.
¿Consideramos ya como irreversible la desindustrialización de nuestra economía? ¿Aceptamos ya para siempre que renunciamos a nuestros activos y que el modelo a seguir ha de ser el que se basa en la venta de su práctica totalidad al capital extranjero?
    El Presidente se refirió, yo creo que correctamente, a la necesidad de buscar otros sectores (aunque alguno de los que citó, como el de la moda, debería sonar muy raro en los planes de un gobierno que se ha autoproclamado feminista) pero el cambio de modelo no puede consistir solamente en la sustitución de un tipo de actividad por otro.
    El modelo tiene que ver sobre todo con el tipo de uso que se haga en cualquier actividad y no solo con los que tienen que ver con el medio ambiente. Y ese uso es el resultado del diferente poder que tienen los distintos sujetos económicos, por lo que para hablar de cambio de modelo hay que hablar de si se va a dejar intacta la correlación de fuerzas o si se va a tratar de empoderar de otro modo y cómo a los sectores más débiles modificando a su favor normas como las que ahora hay en relación con el mercado laboral. Es lo que hacen, pero en el sentido contrario de favorecer a los intereses de la patronal, quienes proponen despidos más fáciles, acabar con la negociación colectiva o establecer un único tipo de contrato.
    ¿Queremos ahora ser más competitivos pero a base de salarios bajos, como constantemente están proponiendo la patronal o el Banco de España? 
    También tiene que ver, como el propio presidente reconoció, con la financiación. Pero sería imposible que el cambio, y mucho menos el propio modelo, se financie solo con un gasto público que se encuentra tan lejos de los estándares de nuestro entorno y de cuyo aumento a medio plazo no solo no se habla sino que incluso se dice que en cuanto se pueda volverá a contenerse. 
Y aunque seguramente el gasto público será imprescindible, es evidente que no será suficiente y que habrá que contar con un sistema financiero comprometido con este cambio, algo realmente impensable mientras predomine su actual ordenación y la lógica que lo guía. Y aún menos, si se lleva a cabo el plan que parece preparar el gobierno para facilitar la concentración bancaria en el sector privado y la jibarización de el de las cajas.
Un modelo productivo también es un modelo de distribución de la renta. En economía no ocurre lo que pasa en la repostería, que primero se hace la tarta y luego se reparte, sino que es justamente al mismo tiempo que se produce que ya se está distribuyendo. Por eso es trascendente que, al mencionar los inconvenientes del modelo actual, el presidente no haga referencia explícita a sus negativos efectos sobre la distribución de la renta y la riqueza.
Si se va a cambiar el modelo se va a afectar inevitablemente al reparto y por tanto se tiene que poner sobre la mesa a qué esquema distributivo se quiere llegar y, sobre todo, qué medios se van a utilizar para lograrlo.
Hablar de cambiar el modelo productivo y no mencionar este problema de la desigualdad que el actual está incrementando no es solo una gran ingenuidad. 
La manera en que se ha desenvuelto nuestra economía en los años recientes es la que ha provocado una concentración de la riqueza sin igual y la que ha llevado a que la participación de los salarios en el reparto de la "tarta" de las rentas sea la más baja desde los años sesenta. Solo en los años 2002-2005, gloriosos desde el punto de vista de crecimiento del PIB, la renta media correspondiente al 20% más pobre de los hogares de España se redujo en un 23’6%, mientras que la renta media del 10% más rico se incrementó más de un 15%.
¿Y cómo no hablar del endeudamiento de los hogares ocasionado por el actual modelo productivo, que ha pasado de ser el 66,5% de su renta disponible en 1994 al150,4% en 2007? ¿se va a mantener esa tónica tan beneficiosa para la banca (cuyo negocio es precisamente que la gente y las empresas se endeuden) o se va a tratar de cambiar? Y si se quiere cambiar, ¿cómo se va a lograr, cómo se va a doblegar el poder de los bancos y cómo se va a conseguir otra distribución de la renta que no obligue a los hogares a endeudarse de esta forma?
    El modelo productivo y su cambio también tiene que ver con las cuestiones fiscales. ¿Se va a mantener el actual discurso fiscal?, ¿se va a seguir considerando que reducir los impuestos es una política progresista, cuando al mismo tiempo se debilita la provisión de bienes sociales? ¿se va a ir, como se ha apuntado en algunos documentos doctrinarios, a promover amnistías fiscales, a seguir facilitando, como desgraciadamente ha hecho el gobierno, que los residentes en paraísos fiscales dispongan de condiciones tan privilegiadas como inaceptables desde el punto de vista de la justifica fiscal, o que las ganancias del capital que reciben principalmente los que ya de por sí son más ricos tributen mucho menos que las del trabajo?
    Por otro lado, para poner en marcha la estrategia de sostenibilidad (económica, social y medioambiental) a la que aspira el gobierno harían falta nuevos instrumentos de registro y medida de la actividad económica, salvo que se quiera conducir el coche del cambio productivo sin tablero de mandos o con los ojos tapados. No vale el Producto Interior Bruto, ni valen las cuentas que no recogen nuestra producción de residuos, ni la actividad no monetaria que, sin embargo, es una pieza clave de la sostenibilidad, o el grado de eficiencia con que usamos los recursos, entre otras muchas.
    No nos conviene engañarnos. Si lo que se desea es realmente un cambio de modelo productivo tenemos que hablar de todas estas cosas. Lo otro es sencillamente limitarse a encontrar algunos nuevos yacimientos de negocio para que los mismos de siempre sigan poniéndose las botas aunque en actividades distintas y con un barniz de responsabilidad social corporativa por encima.
    La primera apuesta, la sincera, es difícil. Obliga también a modificar las conductas, a corregir inercias y comodidades y a acabar con privilegios inaceptables, lo que provocará lógicas y fuertes resistencias. Si el gobierno la plantea con inteligencia y con claridad, hablándole a los ciudadanos con credibilidad y promocionando un nuevo tipo de participación y complicidad social podrá dar pasos de gigante. Si es conservador y quiere cambiar todo dejando todo como está, se quedará solo a la hora de afrontar un reto tan importante.

Fonte: Ganas de Escribir, de Juan Torres López.

sexta-feira, maio 29, 2009

a academia

O Suicídio da Universidade

Monclar Valverde*

 Nos últimos anos, temos observado que os campos e métodos da pesquisa universitária têm sido cada vez mais pautados pelas agências de financiamento, comandadas pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior) e dirigidas pelo governo federal. Tudo, na rotina universitária, passa por essas agências, que operam como uma espécie de FMI do mundo acadêmico: a definição das linhas de pesquisa e das próprias “areas de concentração”, os seminários internos de pesquisa, os colóquios e simpósios (nacionais e “internacionais”), as publicações, as disciplinas ministradas e até mesmo a ocupação do espaço físico.

Tal situação gera uma mentalidade de gincana, em que predomina, do ponto de vista institucional, o “eventismo” (a multiplicação virótica de “eventos científicos”, cada vez mais inchados e improdutivos) e, do ponto de vista da produção individual, a publicação requentada de artigos antigos ou a mera colcha de retalhos de citações e auto-citações, produzidos, muitas vezes, por pessoas que não têm rigorosamente nada a dizer, mas são obrigados a “tornar públicas suas reflexões”, para continuar a receber suas bolsas e dotações suplementares.

Muitos dos chamados “grupos de pesquisa” se organizam como pequenas seitas, em que recém-doutores embevecidos com seus títulos, sentem-se autorizados (e quiçá obrigados) a forjar continuamente novos conceitos e metodos, mesmo que ainda não tenham conseguido dar conta das idéias que pretendem superar. Basta analisar a bibliografia adotada pelos participantes de um desses grupos para se ter idéia de sua homogeneidade intelectual e do centralismo “metodológico” exercido por boa parte das supostas lideranças acadêmicas.

O teor das pesquisas, teses e dissertações é um problema à parte: anos após o famoso “caso Sokal”, vemos multiplicarem-se aqui, especialmente nas áreas de artes, letras e ciências humanas, verdadeiros casos de delírio intelectual, sempre justificados pelo progresso intrínseco da “produção do conhecimento”, mas incapazes de distinguir a ousadia do mero deslumbramento. Quando não é este o caso, trata-se de exercícios de empirismo bem intencionado e politicamente correto, a favor de qualquer tipo de “inclusão social” ditada pelas ONGs ou pelo Estado (que se parece cada vez mais com uma ONG). Os trabalhos de qualidade são raros. Os que possuem, além da qualidade, elegância e sobriedade são raríssimos.

Chega a ser constrangedor verificar o zelo com que todo um exército de pesquisadores (com seus batalhões de bolsistas, da Iniciação Científica ao Pós-Doutorado) preenche, incansável, todos os relatórios que lhe pedem, respeitando prazos arbitrários e se submetendo a formulários nem sempre muito inteligentes. Esses operários do saber passam a maior parte do seu tempo atualizando o famigerado Currículo Lattes (triste homenagem ao grande César...) ou produzindo material ad hoc para preenchê-lo, sem deixar passar nem mesmo o bate-papo informal, devidamente transformado em “palestra” ou “trabalho de orientação”.

Os Programas de Pós-Graduação, por sua vez, vivem em função de um senhor virtual, sua majestade “o Relatório (da CAPES)”, procurando obsessivamente cumprir não só as exigências da agência, mas até mesmo as expectativas apenas insinuadas por ela. É possível mesmo dizer que muitos deles se programam a partir de tais expectativas, chegando a farejar no ar os temas que agradarão aos comitês científicos ou atenderão às prioridades proclamadas pelo governo vigente, em nome dos “interesses nacionais” ou “sociais”, conforme o caso.

No governo anterior, o tripé ensino-pesquisa-extensão favoreceu claramente a “pesquisa”, possibilitando a constituição de uma verdadeira aristocracia de professores - bolsistas, que soube muito bem defender seus interesses e barrar o caminho ao baixo clero universitário, relegado ao trabalho pesado das aulas e da administração acadêmica. No governo atual, a balança pende fortemente para o lado da extensão, entendida de modo assistencialista e até mesmo demagógico. No primeiro período, até a própria extensão foi travestida de pesquisa; no segundo, é a vez da pesquisa disfarçar-se em projetos de extensão. Nos dois contextos, o ensino viveu praticamente abandonado, como um primo pobre, solenemente abandonado às cotas e à educação à distância, apresentada como grande panacéia.

Contudo, há quem pondere que não deveríamos tratar a CAPES como um agente externo, pois, afinal, são os próprios professores- pesquisadores que compõem os seus quadros. Mas não passa despercebido a ninguém o fato de que a maioria dos chamados “representantes das áreas (de conhecimento) na CAPES”, muito rapidamente se transformam em representantes da CAPES nas diversas áreas de conhecimento, atuando como verdadeiros feitores, que não deixam de ser recompensados por sua conveniente subserviência. De qualquer modo, não há como negar que tais agentes, muitas vezes mais realistas que o rei, fazem parte da chamada “comunidade universitária”. Por isso, quando a Universidade chegar ao esgotamento total de sua força criativa, quando perder de vez seu melhor material humano, quando transformar-se completamente numa fábrica de tabelas e relatórios e, de fato, “morrer”, teremos que admitir que isto não aconteceu por obra de forças hostis ou devido a causas naturais, mas por suicídio premeditado.

*Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996), com pós-doutorados em Teoria da Comunicação (Paris V, 2002) e Filosofia (UFPR, 2007). Possui graduação em Física pela Universidade Federal da Bahia (1975) e mestrado em História pela Universidade Estadual de Campinas (1986). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal da Bahia. Tem experiência nas áreas de Filosofia e Comunicação, com ênfase em Estética da Comunicação, atuando principalmente nos seguintes temas: sensibilidade, experiência estética, arte, sentido e comunicação. É também músico e pesquisador da canção popular. Em sua produção, destacam-se os cds Word Music (2003) e Cinema Imaginário (2004) e os livros Objetos de Papel (2000) e Estética da Comunicação (2007).

diapasão

O que revela os desejos que nos estruturam?

"A vida dá um jeito de nos parar, se vivemos correndo".


Uma mentira descoberta, um gole a mais de um bom vinho,

Uma briguinha banal, manter o amor escondido. Fazer sem o ter.

Um rabo de olho pra outro lugar, uma panacéia sem razão.

Sonhos não contados, mas interrompidos; desejos que só viagens os realizam.

Dançar uma música que toca o coração e vibrar como um diapasão

Ter um caso mal resolvido, sair sem se despedir dos amigos.

Deixar rolar sem ter escolhido, abaixar mais do que o devido.

Por o chapéu em um canto mais alto do que consigo. Consumir sem poder.

Ficar mais no dizer e nunca conseguir fazer. Estar no antes preciso disso...

Desculpas por deixar de conquistar um objetivo, criticar demais o amigo.

Pensar demais sempre o que não é preciso... e esperar um motivo.

Correr tanto para chegar e acreditar que tem algum sentido.


sábado, maio 23, 2009

laços

Estreitos

Os desafios brincam à vera ao cair a grave chuva
Vento e barranco dão nos ombros soterrando gira-sóis
As carências enfiam as contas na longa linha do tempo

Olhares dos sentidos no presente procuram mais metais
Entre ganhos e arranhões o suor se parte em sal e leite
O respirar do gozo se desmancha nos estreitos noturnos

Emoções em trânsito florescem um broto a cada sinal
Dada as imperfeições a arquitetura da vida é a que segue
E as palavras se arrumam em galhos de pimenteira

Quantos desvelam os sonhos aguçados desde sempre
Mas partes ficam dobradas no folhear sem serem lidas
E mudam-se os elementos conexos por votos e letras

sexta-feira, maio 22, 2009

temas recorrentes

“Como pode a Matemática, sendo produto
do pensamento humano, independente da experiência,
se adaptar tão admiravelmente aos objetos da realidade?”
Albert Einstein (1879-1955)

“Até que o sofrimento lhe ensine,
o homem não avaliará o valor da água”
(Lordes Byron, 1788-1824, poeta inglês)

“Quando a última árvore for cortada,
quando o último rio for poluído,
quando o último peixe for pescado,
aí sim, eles verão que dinheiro não se come...”
(Chefe Sioux)

sexta-feira, maio 15, 2009

debate aberto

América Latina, um continente sem teoria?

O professor Nildo Ouriques, da UFSC, contesta artigo de José Luís Fiori, publicado nesta página: "No Brasil, o debate acerca da dependência sempre foi mal compreendido. Contudo, este desconhecimento não é resultado do acaso, pois tem sido construído como um instrumento de dominação política e de legitimação do capitalismo dependente no país".

Em recente artigo – Um continente sem teoria – José Luis Fiori nos oferece uma brevíssima e curiosa história das idéias na América Latina destinada a espetar o liberalismo que sempre se contentou em repetir nos trópicos as teorias “cosmopolitas” que com freqüência colonial aqui se reproduzem. Contudo, neste breve artigo, Fiori adere ao esporte nacional preferido pela intelectualidade paulista: a crítica à interpretação marxista da dependência e o elogio velado “a escola paulista de sociologia”, especialmente aquela vinculada ao nome de Fernando Henrique Cardoso. 

No Brasil, o debate acerca da dependência sempre foi mal compreendido. Na verdade, é quase que desconhecido entre nós. Contudo, este desconhecimento não é resultado do acaso, pois tem sido construído como um instrumento de dominação política e de legitimação do capitalismo dependente no país. As ciências sociais paulistas – USP e UNICAMP especialmente, mas não exclusivamente – manufaturaram um consenso sobre a teoria da dependência que rendeu prestígio acadêmico e posições no aparelho de estado para alguns professores, mas é rigorosamente falso.

O principal “argumento” para a manufatura do consenso é agora repetido por Fiori, para quem a vertente marxista da dependência considerava “o desenvolvimento dos países centrais e o imperialismo um obstáculo intransponível para o desenvolvimento capitalista periférico. Por isto, falavam do “desenvolvimento do subdesenvolvimento” e defendiam a necessidade da revolução socialista imediata, inclusive como estratégia de desenvolvimento econômico”. (Cursiva nossa, NDO)

Sabemos que a fórmula “desenvolvimento do subdesenvolvimento” é uma criação do genial André Gunder Frank. O mineiro Ruy Mauro Marini, quem defendeu a necessidade de uma teoria marxista da dependência e deu importante contribuição nesta direção com seu magistral Dialética da dependência, escreveu que a formula frankiana era mesmo “impecável”. Portanto, posso concluir sem medo de errar que a crítica de Fiori – repetindo agora Fernando Henrique Cardoso, Guido Mantega e José Serra –esta dirigida basicamente contra Frank e Marini. Mas esta crítica é essencialmente injusta e não corresponde a história do debate.

André Gunder Frank (1929-2005) jamais disse a asneira de que o capitalismo era inviável na periferia do sistema mundial. Ao contrário, Frank, que pode ser considerado sem dúvida o precursor do debate marxista acerca da dependência, não somente desbancou as teses sobre a feudalidade na América Latina, como foi o principal crítico do capitalismo dependente que se desenvolvia aos olhos de todos. Neste contexto, a crítica recente é injusta porque o próprio Fiori teve o privilégio de assistir aos seminários de Frank no Chile e certamente ouviu não poucas vezes do próprio sua crítica tanto ao reformismo comunista quanto ao estagnacionismo que de certa forma seduziu muita gente antes do chamado “milagre brasileiro”. Mas nao era necessário participar das aulas de Gunder Frank para saber o óbvio sobre sua longa e ainda desconhecida obra; bastaria (re)ler 
Capitalism and underdevelopment in Latin América. Historical studies of Chile and Brazil para entender a posição de Frank e sua notável contribuição ao debate das idéias latino-americanas. 

É correto afirmar que em épocas passadas existiam aqueles que defendiam – reciclando idéias cepalinas tingidas de marxismo do Partidão (PCB) – que os “obstáculos externos” ao desenvolvimento representavam uma estratégia imperialista. Postulavam, portanto, que a “nação” deveria se opor ao “imperialismo” o que, obviamente, implicava em uma aliança de classe no interior do país dependente entre o proletariado e a burguesia considerada “nacional”. Mas precisamente contra estes, André Gunder Frank dirigiu suas baterias, destruindo a numa só vez o “mito do feudalismo na agricultura brasileira” e os “obstáculos externos” ao desenvolvimento. Foi uma crítica devastadora e ainda insuperável ao dualismo estruturalista da CEPAL e aliados. A fórmula “desenvolvimento do subdesenvolvimento” capta com precisão esta dinâmica. Ao contrário daqueles que afirmavam os “obstáculos” e/ou o “estagnacionismo” – presentes nos escritos de Furtado em 1965, por exemplo – Gunder Frank e Ruy Mauro Marini afirmavam que o desenvolvimento capitalista efetivamente ocorreria, mas sob a forma do subdesenvolvimento.

Na breve historia narrada por Fiori, existiria uma vertente da teoria da dependência – de filiação a um só tempo marxista e cepalina (!?) – que teve vida mais longa e logrou resultados melhores, num surpreendente e discreto elogio – tanto tardio quanto surrado – à FHC. Contudo, a tipologia construída por este e Enzo Faletto no Dependência e desenvolvimento na América Latina é obviamente de inspiração weberiana e o reconhecimento do conflito de classes no interior da nação que despertou tanta simpatia nos intelectuais progressistas não é, como sabemos, exclusividade de marxistas, porque também existem liberais que valoram a luta de classes sem vacilação, ainda que não tirem as mesmas conclusões que os marxistas. 

O “apagão mental” mencionado por Fiori foi produto de uma derrota política que, no Brasil, se consolidou com o golpe militar de 1964. No interior da luta pela democratização, os liberais progressistas fizeram sua parte, caluniando e falsificando a história do pensamento crítico, especialmente da versão marxista da dependência, sem recorrer aos textos de Frank e Marini, muitos ainda sem tradução ao português. O CEBRAP foi um instrumento valioso nesta operação ideológica, mas “respeitáveis figuras” do mundo acadêmico paulista – especialmente nas escolas de economia e sociologia da USP e UNICAMP – aproveitaram a correlação de forças permitida pela ditadura para extirpar a principal contribuição marxista sobre o capitalismo latino-americano da vida intelectual e universitária brasileira. Frank e Marini não foram apenas proscritos: foram também falsificados! Outro tanto ocorreu também com Theotonio dos Santos, autor do imperdível “Socialismo ou fascismo: o dilema latino-americano”, lamentavelmente ainda não traduzido ao português. 

Parte daquele “apagão mental” é produto da outrora útil distinção partidária entre tucanos e petistas que sempre ocultou algo importante, cada dia mais difícil de disfarçar: no terreno teórico, tanto uns quanto outros se alinhavam na manufaturação do consenso em favor da versão palatável dos estudos acerca da dependência, representada por Cardoso e Faletto. Não é apenas uma coincidência que a tese doutoral de Guido Mantega, finalmente vertida no livro que adultera completamente as teses de Frank e Marini, foi orientada por Fernando Henrique Cardoso. 

Finalmente a questão central. Vivemos num continente sem teoria? É pouco provável. O programa de pesquisa lançado por Frank e Marini não foi superado teoricamente, ainda que sofreu uma derrota política a partir de 1964 pela força do terror de estado. Mas as condições mudaram radicalmente no cenário latino-americano e aquela vertente crítica da dependência, de extração marxista, esta sendo resgatada com muita força em toda a América Latina impulsionada pelos governos do nacionalismo revolucionário existentes na Venezuela, Equador e Bolívia. Mas também no Brasil o interesse pela teoria marxista da dependência voltou e não é mais possível reforçar o coro dominante que anestesiou algumas gerações de estudantes e militantes socialistas. Enfim, se efetivamente queremos construir um projeto nacional-popular para o Brasil – que eu defendo socialista – a tarefa intelectual decisiva é a superação do “apagão mental” que tantas limitações impôs ao ambiente universitário e político brasileiro. 

Neste contexto, podemos ou nao compartilhar o ceticismo em relação as insuficiências teóricas nos programas destinados a superar a dependência e o subdesenvolvimento, mas não temos o direito de esquecer e menos ainda alterar os termos do debate de décadas passadas. Daí o caráter surpreendente do artigo de Fiori, pois ele reforça velhos preconceitos e não capta a nova correlação de forças que já esta criando uma nova América Latina sob o lema do “socialismo do século XXI”. Afinal, diante do “desenvolvimento do subdesenvolvimento”, não era o socialismo a única alternativa indicada por Frank e Marini?


Professor do Departamento de Economia e presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC. (www.iela.ufsc.br )

sexta-feira, maio 08, 2009

crescer por crescer? PIB e FIB

O debate sobre o PIB: "estamos fazendo a conta errrada"

"Crescer por crescer, é a filosofia da célula cancerosa" - Banner colocado por estudantes, na entrada de uma conferência sobre economia.

PIB, como todos devem saber, é o produto interno bruto. Para o comum dos mortais que não fazem contas macroeconômicas, trata-se da diferença entre aparecerem novas oportunidades de emprego (PIB em alta) ou ameaças de desemprego (PIB em baixa). Para o governo, é a diferença entre ganhar uma eleição e perdê-la. Para os jornalistas, é uma ótima oportunidade para darem a impressão de entenderem do que se trata. Para os que se preocupam com a destruição do meio-ambiente, é uma causa de desespero. Para o economista que assina o presente artigo, é uma oportunidade para desancar o que é uma contabilidade clamorosamente deformada.

Peguemos o exemplo de uma alternativa contábil, chamada FIB. Trata-se simplesmente um jogo de siglas, Felicidade Interna Bruta. Tem gente que prefere felicidade interna líquida, questão de gosto. O essencial é que inúmeras pessoas no mundo, e técnicos de primeira linha nacional e internacional, estão cansados de ver o comportamento econômico ser calculado sem levar em conta – ou muito parcialmente – os interesses da população e a sustentabilidade ambiental. Como pode-se dizer que a economia vai bem, ainda que o povo va mal? Então a economia serve para quê?

No Brasil a discussão entrou com força recentemente, em particular a partir do cálculo do IDH (Indicadores de Desenvolvimento Humano), que inclui, além do PIB, a avaliação da expectativa de vida (saúde) e do nível da educação. Mais recentemente, foram lançados dois livros básicos, Reconsiderar a riqueza, de Patrick Viveret, e Os novos indicadores de riqueza de Jean-Gadrey e Jany-Catrice. Há inúmeras outras iniciativas em curso, que envolvem desde o Indicadores de Qualidade do Desenvolvimento do IPEA, até os sistemas integrados de indicadores de qualidade de vida nas cidades na linha do Nossa São Paulo. O movimento FIB é mais uma contribuição para a mudança em curso. O essencial para nós, é o fato que estamos refazendo as nossas contas.
 

As limitações do PIB aparecem facilmente através de exemplos. Um paradoxo levantado por Viveret, por exemplo, é que quando o navio petroleiro Exxon Valdez naufragou nas costas do Alaska, foi necessário contratar inúmeras empresas para limpar as costas, o que elevou fortemente o PIB da região. Como pode a destruição ambiental aumentar o PIB? Simplesmente porque o PIB calcula o volume de atividades econômicas, e não se são úteis ou nocivas. O PIB mede o fluxo dos meios, não o atingimento dos fins. Na metodologia atual, a poluição aparece como sendo ótima para a economia, e o IBAMA vai aparecer como o vilão que a impede de avançar. As pessoas que jogam pneus e fogões velhos no rio Tieté, obrigando o Estado a contratar empresas para o desassoreamento da calha, contribuem para a produtividade do país. Isto é conta?

Mais importante ainda, é o fato do PIB não levar em conta a redução dos estoques de bens naturais do planeta. Quando um país explora o seu petróleo, isto é apresentado como eficiência econômica, pois aumenta o PIB. A expressão “produtores de petróleo” é interessante, pois nunca ninguém conseguiu produzir petróleo: é um estoque de bens naturais, e a sua extração, se der lugar a atividades importantes para a humanidade, é positiva, mas sempre devemos levar em conta que estamos reduzindo o estoque de bens naturais que entregaremos aos nossos filhos. A partir de 2003, por exemplo, não na conta do PIB mas na conta da poupança nacional, o Banco Mundial já não coloca a extração de petróleo como aumento da riqueza de um país, e sim como a sua descapitalização. Isto é elementar, e se uma empresa ou um governo apresentasse a sua contabilidade no fim de ano sem levar em conta a variação de estoques, veria as suas contas rejeitadas. Não levar em conta o consumo de bens não renováveis que estamos dilapidando deforma radicalmente a organização das nossas prioridades. Em termos técnicos, é uma contabilidade grosseiramente errada.
 

A diferença entre os meios e os fins na contabilidade aprece claramente nas opções de saúde. A Pastoral da Criança, por exemplo, desenvolve um amplo programa de saúde preventiva, atingindo milhões de crianças até 6 anos de idade através de uma rede de cerca de 450 mil voluntárias. São responsáveis, nas regiões onde trabalham, por 50% da redução da mortalidade infantil, e 80% da redução das hospitalizações. Com isto, menos crianças ficam doentes, o que significa que se consome menos medicamentos, que se usa menos serviços hospitalares, e que as famílias vivem mais felizes. Mas o resultado do ponto de vista das contas econômicas é completamente diferente: ao cair o consumo de medicamentos, o uso de ambulâncias, de hospitais e de horas de médicos, reduz-se também o PIB. Mas o objetivo é aumentar o PIB ou melhorar a saúde (e obem-estar) das famílias? 

Todos sabemos que a saúde preventiva é muito mais produtiva, em termos de custo-benefício, do que a saúde curativa-hospitalar. Mas se nos colocarmos do ponto de vista de uma empresa com fins lucrativos, que vive de vender medicamentos ou de cobrar diárias nos hospitais, é natural que prevaleça a visão do aumento do PIB, e do aumento do lucro. É a diferença entre os serviços de saúde e a indústria da doença. Na visão privatista, a falta de doentes significa falta de clientes. Nenhuma empresa dos gigantes chamados internacionalmente de “big pharma” investe seriamente em vacinas, e muito menos em vacinas de doenças de pobres. Ver este ângulo do problema é importante, pois nos faz perceber que a discussão não é inocente, e os que clamam pelo progresso identificado com o aumento do PIB querem, na realidade, maior dispêndio de meios, e não melhores resultados. Pois o PIB não mede resultados, mede o fluxo dos meios. 

É igualmente importante levar em consideração que o trabalho das 450 mil voluntárias da Pastoral da Criança não é contabilizado como contribuição para o PIB. Para o senso comum, isto parece uma atividade que não é propriamente econômica, como se fosse um bandaid social. Os gestores da Pastoral, no entanto, já aprenderam a corrigir a contabilidade oficial. Contabilizam a redução do gasto com medicamentos, que se traduz em dinheiro economizado na família, e que é liberado para outros gastos. Nesta contabilidade corrigida, o não-gasto aparece como aumento da renda familiar. As noites bem dormidas quando as crianças estão bem representam qualidade de vida, coisa muitíssimo positiva, e que é afinal o objetivo de todos os nossos esforços. O fato da mãe ou do pai não perderem dias de trabalho pela doença dos filhos também ajuda a economia. O Canadá, centrado na saúde pública e preventiva, gasta 3 mil dólares por pessoa em saúde, e está em primeiro lugar no mundo neste plano. Os Estados Unidos, com saúde curativa e dominantemente privada, gastam 6,5 mil, e estão longe atrás em termos de resultados. Mas ostentam orgulhosamente os 16% do PIB gastos em saúde, para mostrar quanto esforço fazem. Estamos medindo meios, esquecendo os resultados. Neste plano, quanto mais ineficientes os meios, maior o PIB.

Uma outra forma de aumentar o PIB é reduzir o acesso a bens gratuitos. Na Riviera de São Lourenço, perto de Santos, as pessoas não têm mais livre acesso à praia, a não ser através de uma séria de enfrentamentos constrangedores. O condomínio contribui muito para o PIB, pois as pessoas têm de gastar bastante para ter acesso ao que antes acessavam gratuitamente. Quando as praias são gratuitas, não aumentam o PIB. Hoje os painéis publicitários nos “oferecem” as maravilhosas praias e ondas da região, como se as tivessem produzido. A busca de se restringir a mobilidade, o espaço livre de passeio, o lazer gratuito oferecido pela natureza, gera o que hoje chamamos de “economia do pedágio”, de empresas que aumentam o PIB ao restringir o acesso aos bens. Temos uma vida mais pobre, e um PIB maior. 

Este ponto é particularmente grave no caso do acesso ao conhecimento. Trata-se de uma área onde há excelentes estudos recentes, como A Era do Acesso, de Jeremy Rifkin; The Future of Ideas, de Lawrence Lessig; O imaterial, de André Gorz, ou ainda Wikinomics, de Don Tapscott. Um grupo de pesquisadores da USP Leste, com Pablo Ortellado e outros professores, estudou o acesso dos estudantes aos livros acadêmicos: o volume de livros exigidos é proibitivo para o bolso dos estudantes (80% de famílias de até 5 salários mínimos), 30% dos títulos recomendados estão esgotados. Na era do conhecimento, as nossas universidades de linha de frente trabalham com xerox de capítulos isolados do conjunto da obra, autênticos ovnis científicos, quando o MIT, principal centro de pesquisas dos Estados Unidos, disponibiliza os cursos na íntegra gratuitamente online, no quadro do OpenCourseWare (OCW)(1). Hoje, os copyrights incidem sobre as obras até 90 anos após a morte do autor. E se fala naturalmente em “direitos do autor”, quanto se trata na realidade de direitos das editoras, dos intermediários. 

É impressionante investirmos por um lado imensos recursos públicos e privados na educação, e por outro lado empresas tentarem restringir o acesso aos textos. O objetivo, é assegurar lucro das editoras, aumentando o PIB, ou termos melhores resultados na formação, facilitando, e incentivando (em vez de cobrar) o aprendizado? Trata-se, aqui também, da economia do pedágio, de impedir a gratuidade que as novas tecnologias permitem (acesso online), a pretexto de proteger a remuneração dos produtores de conhecimento. 

Outra deformação deste tipo de conta é a não contabilização do tempo das pessoas. No nosso ensaio Democracia Econômica, inserimos um capítulo “Economia do Tempo”. Está disponível online, e gratuitamente. O essencial, é que o tempo é por excelência o nosso recurso não renovável. Quando uma empresa nos obriga a esperarmos na fila, faz um cálculo: a fila é custo do cliente, não se pode abusar demais. Mas o funcionário é custo da empresa, e portanto vale a pena abusar um pouco. Isto se chama externalização de custos. Imaginemos que o valor do tempo livre da população econômicamente ativa seja fixado em 5 reais. Ainda que a produção de automóveis represente um aumento do PIB, as horas perdidas no trânsito pelo encalacramento do trânsito poderiam ser contabilizadas, para os 5 milhões de pessoas que se deslocam diariamente para o trabalho em São Paulo, em 25 milhões de reais, isto calculando modestos 60 minutos por dia. A partir desta conta, passamos a olhar de outra forma a viabilidade econômica da construção de metrô e de outras infraestruturas de transporte coletivo. E são perdas que permitem equilibrar as opções pelo transporte individual: produzir carros realmente aumenta o PIB, mas é uma opção que só é válida enquanto apenas minorias têm acesso ao automóvel. Hoje São Paulo anda em primeira e segunda, gastando com o carro, com a gazolina, com o seguro, com as doenças respiratórias, com o tempo perdido. Os quatro primeiros itens aumentam o PIB. O último, o tempo perdido, não é contabilizado. Aumenta o PIB, reduz-se a mobilidade. Mas o carro afinal era para quê? 

Alternativas? Sem dúvida, e estão surgindo rapidamente. Não haverá o simples abandono do PIB, e sim a compreensão de que mede apenas um aspecto, muito limitado, que é o fluxo de uso de meios produtivos. Mede, de certa forma, a velocidade da máquina. Não mede para onde vamos, só nos diz que estamos indo depressa, ou devagar. Não responde aos problemas essenciais que queremos acompanhar: estamos produzindo o quê, com que custos, com que prejuizos (ou vantagens) ambientais, e para quem? Aumentarmos a velocidade sem saber para onde vamos não faz sentido. Contas incompletas são contas erradas. 

Como trabalhar as alternativas? Há os livros mencionados acima, o meu preferido é o de Jean Gadrey, foi editado pelo Senac. E pode ser utilizado um estudo meu sobre o tema, intitulado Informação para a Cidadania e o Desenvolvimento Sustentável. Porque não haverá cidadania sem uma informação adequada. O PIB, tão indecentemente exibido na mídia, e nas doutas previsões dos consultores, merece ser colocado no seu papel de ator coadjuvante. O objetivo é vivermos melhor. A economia é apenas um meio. É o nosso avanço para uma vida melhor que deve ser medido. 

* Ladislau Dowbor é doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor titular da PUC de São Paulo e consultor de diversas agências das Nações Unidas. É autor de “Democracia Econômica”, “A Reprodução Social: propostas para uma gestão descentralizada”, “O Mosaico Partido: a economia além das equações”, “Tecnologias do Conhecimento: os Desafios da Educação”, todos pela editora Vozes, além de “O que Acontece com o Trabalho?” (Ed. Senac) e co-organizador da coletânea “Economia Social no Brasil“ (ed. Senac) Seus numerosos trabalhos sobre planejamento econômico e social, inclusive o artigo Informação para a Cidadania mencionado acima, estão disponíveis no site http://dowbor.org – Contato: ladislau@dowbor.org

(1) O material do MIT pode ser acessado no site www.ocw.mit.edu; Em vez de tentar impedir a aplicação de novas tecnologias, como aliás é o caso das empresss de celular que lutam contra o wi-fi urbano e a comunicação quase gratuita via skype, as empresas devem pensar em se reconverter, e prestar serviços úteis ao mercado. A IBM ganhava dinheiro vendendo computadores, e quando este mercado se democratizou com o barateamento dos computadores pessoais migrou para a venda de softwares. Estes hoje devem se tornar gratuitos (a própria IBM optou pelo Linux), e a empresa passou a se viabilizar prestando serviços de apoio informático. Travar o acesso aumenta o PIB, mas empobrece a sociedade.

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