quinta-feira, maio 07, 2009
riquezas
domingo, maio 03, 2009
liberais: neoclássicos e keynesianos
"Não há vitória do keynesianismo nem abandono da ideologia liberal", diz Fiori
CLAUDIA ANTUNES
Editora de Mundo da Folha de S.Paulo -
Desde "Poder e Dinheiro" (editora Vozes), de 1998, o cientista político José Luís Fiori se destacou como um estudioso das mudanças recentes do sistema capitalista mundial, com ênfase nos fatores políticos e econômicos que puseram fim à chamada "época de ouro", os 30 anos depois da Segunda Guerra Mundial.
Seu último livro, "O mito do colapso do poder americano" (editora Boitempo), contesta a tese de que a crise econômica originada nos mercados financeiros americanos signifique o declínio da superpotência.
Nesta entrevista por e-mail, Fiori, professor de economia política da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), analisa o momento histórico da ascensão ao poder de Margaret Thatcher, há 30 anos, e diz que a nem a crise atual nem a adoção pelos EUA e países europeus de medidas de intervenção nos mercados para conter a crise significam o abandono do ultraliberalismo associado à ex-premiê britânica.
FOLHA - A eleição de Thatcher é considerada a fronteira entre a era keynesiana e a chamada neoliberal. Ela foi de fato líder dessa mudança?
JOSÉ LUIS FIORI - O epicentro da crise dos anos 70 foi nos EUA. As principais decisões que mudaram a história político-econômica da segunda metade do século 20 também foram tomadas nos EUA. Algumas, antes da eleição de Thatcher.
A inflexão neoliberal no campo acadêmico e político começou nos EUA, já no fim dos anos 60, durante o primeiro governo Nixon [1969-1972]. Os principais responsáveis pela sua política financeira internacional --George Shultz, William Simon e Paul Volcker-- já defendiam o abandono da paridade cambial estabelecida pelo sistema de Bretton Woods e a livre circulação de capitais.
Todos eles viam nessa decisão uma forma de restabelecer o poder mundial das finanças e da moeda norte-americanas, ameaçado pelos déficits comerciais e pela pressão sobre as reservas de ouro dos EUA.
Em 1979, a política de estabilização de Paul Volcker, no governo democrata de Jimmy Carter [1977-1980], foi o verdadeiro ponto de virada na política econômica norte-americana.
Na própria Inglaterra, a virada neoliberal da política econômica também começou antes da eleição de Thatcher, durante o governo trabalhista do premiê James Callaghan [1976-1979], depois da crise cambial de 1976.
O governo trabalhista se dividiu entre os que defendiam uma "estratégia alternativa" de radicalização das políticas de controle de viés mais keynesiano, liderados por Tony Benn, e a ala, vitoriosa, dos que defenderam a ida da Grã Bretanha ao FMI e a adoção de uma política ortodoxa e conservadora que foi assumida pelo governo de Callaghan, em sintonia com o governo social-democrata alemão de Helmut Schmidt [1974-1982], que já havia aderido à mesma ortodoxia muito antes da chegada ao poder de Helmut Kohl [1982-1988]. Apesar de tudo isso, não há a dúvida de que Thatcher que foi transformada pela história na porta-estandarte da "restauração conservadora" do fim do século 20, assim como de todas as políticas e reformas neoliberais preconizadas durante aquele período.
Acho que cabe uma pergunta sem resposta para reflexão dos que se dedicam à análise da história econômica e da política internacional: como entender o fato de que, mesmo depois do que alguns analistas chamam de "fim da hegemonia britânica", seguiu-se considerando a [John Maynard] Keynes [economista britânico] e não a [Harry Dexter] White [assessor econômico de Franklin Roosevelt] a figura forte na criação do Sistema de Breton Woods; que se atribua a [Winston] Churchill [1940-45; 1951-55], mais do que a [Harry] Truman [1945-1953], a paternidade da Guerra Fria; que tenham sido os ingleses e não os norte-americanos os pais do euromercado de dólares, que está na origem do fim de Bretton Woods e da globalização financeira; que seja Margareth Thatcher, e não Ronald Reagan, o símbolo da era neoliberal; que tenham sido os ingleses e não os americanos que tenham liderado os demais países no movimento de estatização bancária para enfrentar a crise financeira de 2008, por cima dos próprios princípios ortodoxos e liberais; e que, finalmente, tenha sido o primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, quem anunciou na reunião do G20, em Londres, o fim do Consenso de Washington? Para não falar, numa outra clave, do motivo por que Tony Blair [1997-2007], mais do que Bill Clinton [1993-2000], tenha ficado associado ao anúncio, no ano 2000, da solução anglo-saxônica do enigma do genoma humano?
FOLHA - Qual seria o marco zero do thatcherismo em sua versão internacionalizada? Alguns estudiosos sugerem o abandono, pelos EUA, do padrão ouro? Qual é a sua opinião?
FIORI - O abandono americano do padrão dólar/ouro e o fim do Sistema de Bretton Woods, em 1973, foi um momento importante da virada econômica que deixou para trás a economia política do imediato pós-guerra. Mas é preciso levar em conta o conjunto das mudanças que alteraram a trajetória do sistema mundial, além da questão monetária.
Também em 1973 ocorreu o primeiro choque do preço do petróleo, que jogou por terra a base energética do "milagre econômico" pós-Segunda Guerra e encharcou o sistema financeiro mundial com os petrodólares. Naquele ano, os EUA reconheceram sua derrota na Guerra do Vietnã, depois de iniciar sua reaproximação diplomática com a China.
É impossível dizer hoje, com certeza, o que foi mais importante para as transformações mundiais das últimas décadas do século 20, se o fim do padrão ouro, por exemplo, ou o inicio da parceria China-EUA.
O que você chama de "marco zero do thatcherismo" é uma soma de decisões e acontecimentos anteriores e posteriores à eleição de Thatcher, que envolveram alterações na distribuição do poder mundial que foram a um só tempo causa e consequência da própria mudança do sistema monetário internacional.
Basta dizer que o próprio abandono americano do padrão ouro foi uma estratégia consciente de poder, que enfraqueceu os países mais fracos e fortaleceu os países mais fortes, dentro do sistema mundial, mas sobretudo fortaleceu o poder global dos EUA, cuja elite governante nunca teve duvidas sobre o função estratégica de sua moeda.
FOLHA - A tese mais comum entre os analistas de esquerda é que o thatcherismo foi a reação conservadora a uma crise de sobreprodução nos países capitalistas centrais. Ela teria vindo não para desregulamentar, mas para regulamentar a favor do capital. O senhor concorda?
FIORI - Dizer que a reação conservadora dos anos 80 foi determinada por uma crise de sobreprodução e pela necessidade de regulamentar a favor do capital é no mínimo uma simplificação grosseira. Todas as grandes crises econômicas internacionais sempre tiveram e têm algo a ver, do ponto de vista puramente econômico,com algum grau de sobreacumulação e subconsumo, em algum ponto do sistema econômico mundial.
Mas isso não explica a especificidade de cada crise. É impossível acreditar que a gigantesca transformação mundial depois da década de 1970 foi apenas resposta a mais uma crise de sobreprodução nos países capitalistas centrais.
As crises têm um papel central na análise marxista do capitalismo. Mas elas também acabaram ocupando um papel às vezes que favorece distorções no imaginário da esquerda: toda nova crise capitalista seria sempre anúncio do fim do capitalismo.
O problema é que depois que as crises passam, como o capitalismo não terminou e a revolução não aconteceu, a maioria desses analistas acaba encontrando uma nova explicação funcional para a crise. A crise não era terminal, era apenas uma solução oportuna para um problema estrutural do capital, inventada pelo próprio capital e sua classe dirigente.
Isso já aconteceu com a crise econômica de 1870, e voltou a acontecer com as crises de 1930 e 1970, e está acontecendo de novo com a crise de 2008. Talvez fosse hora de parar de repetir o mesmo erro e aprender um pouco com a história.
FOLHA - A crise econômica atual trouxe de novo ao primeiro plano as teses do economista John Maynard Keynes. Trata-se de abandono completo do liberalismo?
FIORI - Não há hoje, no campo da política econômica, uma vitória teórica do keynesianismo nem um abandono da ideologia liberal. Todas as medidas que vêm sendo tomadas para enfrentar a crise são uma reação emergencial e pragmática frente à ameaça de colapso do poder dos Estados, das moedas e dos bancos, e, como consequência, da produção e do emprego.
Foi uma mudança de política imposta pela força dos fatos e não por uma nova convicção teórica ou ideológica dos governantes mundiais. É como se estivéssemos assistindo à inversão automática da famosa frase de Thatcher: "There is no alternative".
Só que o novo consenso nasceu de forma abrupta e sem nenhum entusiasmo ou mobilização política, ao contrário do que aconteceu com a virada liberal-conservadora dos anos 80.
É verdade que as teorias de origem neoclássica e as políticas ortodoxas saíram do primeiro plano. Mas elas permanecem atuantes em todos as frentes de resistência às políticas em curso. Além disso, as novas políticas não significam a morte da ideologia econômica liberal porque, ao contrário do que pensa o senso comum, o keynesianismo também é liberal.
Keynes era um liberal, e sua teoria recupera algumas teses essenciais do ultraliberalismo econômico dos fisiocratas do século 18 e do próprio liberalismo de Adam Smith. Os fisiocratas franceses consideravam indispensável um "tirano esclarecido" para o bom funcionamento das sociedades de mercado. E o próprio Smith defendia a necessidade do Estado para assegurar o funcionamento da sua mão invisível, sempre que fosse necessário proteger os capitais nacionais ou realizar investimentos de infraestrutura que não fossem cobertos pelo capital privado.
Talvez por isso os trabalhistas e os social-democratas europeus tenham trocado com tanta naturalidade as teses keynesianas pelas politicas neoliberais na década de 70, assim como estão se convertendo de novo ao ideário keynesiano.
Do meu ponto de vista, os neoclássicos e os keynesianos pertencem à mesma família ideológica liberal, e, em política econômica, defendem estratégias que podem ser complementares e que muito provavelmente são indissociáveis dentro do capitalismo. Na verdade, são retóricas e políticas econômicas que atendem a interesses e a funções diferentes, mas intercambiáveis, dependendo do tempo e do lugar.
sábado, maio 02, 2009
saúde pública: gripe A vírus H1N1
Gripe suína (2)
By José SaramagoContinuemos. No ano passado, uma comissão convocada pelo Pew Research Center publicou um relatório sobre a “produção animal em granjas industriais, onde se chamava a atenção para o grave perigo de que a contínua circulação de vírus, característica das enormes varas ou rebanhos, aumentasse as possibilidades de aparecimento de novos vírus por processos de mutação ou de recombinação que poderiam gerar vírus mais eficientes na transmissão entre humanos”. A comissão alertou também para o facto de que o uso promíscuo de antibióticos nas fábricas porcinas – mais barato que em ambientes humanos – estava proporcionando o auge de infecções estafilocócicas resistentes, ao mesmo tempo que as descargas residuais geravam manifestações de escherichia coli e de pfiesteria (o protozoário que matou milhares de peixes nos estuários da Carolina do Norte e contagiou dezenas de pescadores).
Qualquer melhoria na ecologia deste novo agente patogénico teria que enfrentar-se ao monstruoso poder dos grandes conglomerados empresariais avícolas e ganadeiros, como Smithfield Farms (suíno e vacum) e Tyson (frangos). A comissão falou de uma obstrução sistemática das suas investigações por parte das grandes empresas, incluídas umas nada recatadas ameaças de suprimir o financiamento dos investigadores que cooperaram com a comissão. Trata-se de uma indústria muito globalizada e com influências políticas. Assim como o gigante avícola Charoen Pokphand, radicado em Bangkok, foi capaz de desbaratar as investigações sobre o seu papel na propagação da gripe aviária no Sudeste asiático, o mais provável é que a epidemiologia forense do surto da gripe suína esbarre contra a pétrea muralha da indústria do porco. Isso não quer dizer que não venha a encontrar-se nunca um dedo acusador: já corre na imprensa mexicana o rumor de um epicentro da gripe situado numa gigantesca filial de Smithfield no estado de Veracruz. Mas o mais importante é o bosque, não as árvores: a fracassada estratégia antipandémica da Organização Mundial de Saúde, o progressivo deterioramento da saúde pública mundial, a mordaça aplicada pelas grandes transnacionais farmacêuticas a medicamentos vitais e a catástrofe planetária que é uma produção pecuária industralizada e ecologicamente sem discernimento.
Como se observa, os contágios são muito mais complicados que entrar um vírus presumivelmente mortal nos pulmões de um cidadão apanhado na teia dos interesses materiais e da falta de escrúpulos das grandes empresas. Tudo está contagiando tudo. A primeira morte, há longo tempo, foi a da honradez. Mas poderá, realmente, pedir-se honradez a uma transnacional? Quem nos acode?
valor da água
sexta-feira, maio 01, 2009
las venas abiertas
loco por ti latinoamerica
Un continente sin teoría
José Luis Fiori * - 26/04/2009
En el siglo XIX, el pensamiento social europeo dedicó poquísima atención al continente americano. Incluso los socialistas y marxistas que discutieron la “cuestión colonial”, al final del siglo, sólo estaban preocupados por Asia y África. Nunca tuvieron interés teórico y político en los nuevos Estados americanos que alcanzaron su independencia aunque se mantuvieron bajo la tutela diplomática y financiera de Gran Bretaña. Fue solamente en el inicio del siglo XX que la teoría marxista del imperialismo se dedicó al estudio específico de la internacionalización del capital y de su papel en el desarrollo capitalista a escala global.
Asimismo, su objeto siguió siendo la competencia y la guerra entre los europeos, y la mayor parte de los autores marxistas todavía compartían cierta visión evolucionista procedente de Marx sobre el futuro económico de los países atrasados, seguros de que “los países más desarrollados industrialmente muestran, a los menos desarrollados, la imagen de lo que será su propio futuro”.
Fue sólo después de la década de los 20 que la III Internacional Comunista transformó el imperialismo en un adversario estratégico y en un obstáculo al desarrollo de las fuerzas productivas en los países “coloniales y semicoloniales”. De cualquier forma, el objeto central de todos los análisis y propuestas revolucionarias fue siempre para China, Egipto, Indonesia, mucho más que para la América Latina. En la primera mitad del siglo XX, los Estados Unidos ya se habían transformado en una gran potencia imperialista, y el resto de América Latina fue incluida por la III Internacional, después de 1940, en la misma estrategia general de las “revoluciones nacionales”, o de las “revoluciones democrático burguesas”, contra la alianza de las fuerzas imperialistas con las oligarquías agrarias feudales y a favor de la industrialización nacional de los países periféricos.
Un poco más adelante, en la década de 1950, la tesis de la “revolución democrático burguesa” y su defensa del desarrollo industrial fue reforzada por la “economía política de la CEPAL” (Comisión Económica para la América Latina) que analizaba la economía latinoamericana en el contexto de una división internacional del trabajo entre países “centrales” y países “periféricos”. La CEPAL criticaba la tesis de las “ventajas comparativas” de la teoría del comercio internacional de David Ricardo, y consideraba que las relaciones comerciales entre las dos “franjas” del sistema económico mundial perjudicaban el desarrollo industrial de los países periféricos. Se trataba de una crítica económica heterodoxa, de filiación keynesiana, aunque desde el punto de vista práctico terminó confluyendo con las propuestas “nacional-desarrollistas”, hegemónicas en el continente después de la II Guerra Mundial. En la década de los 60, entretanto, la Revolución Cubana, la crisis económica y la multiplicación de los golpes militares en toda América Latina provocaron un desencanto generalizado con la estrategia “democrático-burguesa” y con la propuesta “cepaliana” de la industrialización por “sustitución de importaciones”.
Su crítica intelectual dio origen a las tres grandes vertientes de la “teoría de la dependencia”, que tal vez haya sido la última tentativa de teorización latinoamericana del siglo XX. La primera vertiente – de filiación marxista – consideraba el desarrollo de los países centrales y del imperialismo como un obstáculo insuperable para el desarrollo capitalista periférico. Por eso hablaban del “desarrollo del subdesarrollo” y defendían la necesidad de una revolución socialista inmediata, incluso como estrategia de desarrollo económico. La segunda vertiente – de filiación “cepaliana”– también identificaba obstáculos para la industrialización del continente, pero consideraba posible superarlos a través de una serie de “reformas estructurales” que se transformaron en tema central de la agenda política latinoamericana durante toda la década de los 60. En realidad, la propia teoría de la CEPAL sobre la relación “centroperiferia” ya no daba cuenta de la relación de los Estados Unidos con su “territorio económico supranacional”, que era diferente de lo que había ocurrido con Gran Bretaña.
Finalmente, la tercera vertiente de la teoría de la dependencia – de filiación a un mismo tiempo marxista y cepaliana – fue la que tuvo más larga vida y arrojó resultados más sorprendentes. Por tres razones fundamentales: primero, porque defendía la viabilidad del capitalismo latinoamericano; segundo, porque defendía una estrategia de desarrollo “dependiente y asociado” con los países centrales; y tercero, porque salieron de estas corrientes algunos de los principales dirigentes políticos e intelectuales de la “restauración neoliberal” de los años 90. Como si hubiese ocurrido un apagón mental, viejos marxistas, nacionalistas y desarrollistas abandonaron sus teorías latinoamericanistas y adhirieron a la visión del sistema mundial y del capitalismo propia del liberalismo europeo del siglo XVIII.
En esta línea de pensamiento, todavía en 2009, un importante intelectual de esta corriente de ideas defendía – por sobre todo lo que pasó en el mundo, desde el inicio del siglo XXI – que “no existe más geopolítica ni imperialismo en el nuevo mundo poscolonial, de la globalización, del sistema político y de la democracia global… [y que] la estrategia clásica de la geopolítica de garantizar acceso exclusivo a los recursos naturales en la periferia del capitalismo ya no tiene sentido no solo por sus costos, sino también porque todas las fronteras ya están definidas…”(1). Ingenuidades aparte, los liberales nunca tuvieron una teoría original con respecto a América Latina. Ni precisan de ella. La repetición recurrente de algunos tópicos cosmopolitas fue más que suficiente para sostener su visión de la economía mundial y legitimar su acción política y económica idéntica en todos los países. Aunque en el caso de los intelectuales progresistas del continente, es una mala noticia saber que no existe ya una teoría capaz de leer e interpretar la historia del continente y fundamentar una estrategia coherente de construcción del futuro, congruente con la inmensa heterogeneidad del continente latinoamericano.
NOTA: (1) Bresser Pereira, L.C. “O mundo menos sombrío. Política e economia nas relações internacionais entre os grandes países”, en Jornal de Resenhas. Marzo de 2009, Nº 1. Discurso Editorial, Sâo Paulo, pp: 6 y 7.
(*) José Luis Fiori, profesor de economía y ciencia política en la Universidad pública de Río de Janeiro, es miembro del Consejo Editorial de SINPERMISO.
segunda-feira, abril 27, 2009
mercado da água (III)
Os olhos dos capitais no mercado da água
Afranio Campos - 26/04/2009
O fato da crise financeira mundial se dá em uma dimensão nunca antes vista, numa dinâmica extremamente rápida, se tornou preocupante, tanto para grandes investidores privados, via setor financeiro-bancário, como para o mercado real ou produtivo; o que diferencia a situação atual da crise de 1929. Com a globalização tudo se interliga, de forma integrada e aceleradamente, o que “empurrou” os Estados nacionais e seus governos a colaborar entre si, através de um processo de discussão no tratamento das grandes questões econômicas e financeiras sob pressão da sociedade forçando a abrir espaços para o conhecimento do mundo e a intervenção concreta em problemas que antes não eram vistos ou eram relegados ao segundo plano, ou sem se dar a devida importância; abriu-se a caixa preta da "questão ambiental" para quem quer que seja, em sua grave situação.
Os recursos hídricos, que há algum tempo já faz parte da agenda dos governos enquanto bem econômico, antes, um direito da humanidade, bem de uso comum, bem ambiental, bem essencial à vida; esse recursos, estão no centro das discussões sobre dominialidade, precificação, onde a sua tutela por parte do Estado se configurou como essencial na confiabilidade do modelo. A definição de instrumentos de gestão passa a sustentar-se sobre a teoria econômica tradicional e a valoração do tipo de uso, consumo e poluição dos recursos hídricos vem objetivando a sua preservação e formas de uso racionalmente sustentável que estabeleçam uma possível harmonia e eficiência do emprego desses recursos com o meio ambiente. O quadro que se firma torna-se cada vez mais favorável a consolidação desse mercado ainda que efetivamente não se enquadre nos padrões da economia de mercado.
A busca de mercados rentáveis e seguros a médio-longo prazos despertaram o interesse dos investidores especulativos em tempos de crise financeira. E o que parece obvio, não só para os mortais, mas fica patente para os “capitais à deriva” no mundo, é que eles partiram em busca de um outro tesouro no fim do arco-íris: os recursos hídricos, ou melhor, a água. Os olhos de cifrões estão voltados para o recente e imberbe mercado da água. Água, bem já escasso na maioria dos paises, em conseqüência do modelo de desenvolvimento e consumo excessivo adotados na extração dos recursos naturais, que foram utilizados em demasia, e inadequadamente, até a completa exaustão, diferentemente dos países que naturalmente possuem recursos hídricos ainda abundantes. Particularmente, no caso de países como o Brasil, só na última década vem empregando esforços na regulamentação da exploração do meio ambiente e dos usos múltiplos dos seus recursos hídricos: através da criação de leis, da ação das agências reguladoras ou na aplicação de investimentos vultosos na formação do mercado da água.
Destarte, esse é justamente o tipo de mercado que parece contrariar os pressupostos da teoria econômica, apesar do Estado proporcionar legal e financeiramente sua ordenação, seja como gestor de políticas públicas e na implantação de projetos em tecnologias limpas para o setor, seja através das outorgas (concessões, permissões etc), delegatários agindo em parceria, usuários, representantes da comunidade das bacias (Parlamento das Águas). Entretanto, o que no mercado tradicional, o preço, se constitui como o termometro das preferências dos consumidores, e o fator importante na equação da valoração econômica dos recursos hídricos, nesse caso, se torna mais uma variável do modelo, embora sem o destaque costumeiro dos fundamentos da teoria neclássica:
"Está fora do interesse dos investidores assumir diretamente a responsabilidade por entregar a água e taxar o consumidor final. Isso porque, em geral, os governos subsidiam as tarifas, já que a água é um bem vital. 'O governo precisa da água, então pagará qualquer valor para quem a tornar disponível', avalia Tara[1]. 'Porém, a água em si continuará sob controle do governo. Então, o preço da água em si não é o melhor investimento'.
Aqui, corre-se o grande risco desse empenho social e do Estado cair na desmoralização, ou até na grande perda dos frutos oriundos do processo de criação do mercado da água, representado por uma possível corrupção dos princípios originais, ou com a captura dessa estrutura por parte do lobby “privativista” dos grandes capitais, sobretudo sustentados pelos conhecidos fundamentos das leis de mercado de produtos e serviços.
O Estado ao criar as agências de água balizadas por regras pré-estabelecidas em critérios da economia de mercado, para o setor, tem buscado há mais de uma década (Política de Meio Ambiente e Política dos Recursos Hídricos) a obtenção de resultados que assegurem seu papel na estruturação do mercado da água, mercado esse, reconhecidamente singular diante das leis econômicas tradicionais; até então, as Agências de Água não tem demonstrado a eficiência esperada na consecução de seus objetivos: apresentam-se deficitárias diante da necessidade dos vultosos investimentos exigidos, bem como no controle efetivo dos conflitos sócio-ambientais entre os usuários dos recursos hídricos, o que ocorre em função da sua natureza de bem difuso, bem de múltiplo uso, etc.
Aparentemente, reconhece-se que o momento é bastante propício para capitais aventureiros se voltarem para o mercado da água, afinal, ao se criar a experiência de um “mercado misto” da água, isto é, nem privado nem público, sob a égide dos fundamentos das leis econômicas do mercado privado, e por outro lado tutelado pelo Estado através de leis específicas que dão credibilidade ao seu funcionamento, abriu-se um laboratório para o ensaio de algo inovador, sendo operacionalizado sobre princípios claros da preservação ambiental por intermédio das agencias reguladoras; a diferença para nós, é que talvez possa funcionar por mais algum tempo com seus objetivos ético-sócio-ambientais historicamente distintos dos mercados lucrativos, agora transacionando os recursos hídricos através de preços públicos; e que ainda logramos pensar, continuar intocado pelo inevitável "toque de midas" capitalista.
Uma questão fica para o debate: o que poderá evitar a socialização das externalidades negativas ou prejuízos sócio-ambientais, sem privatizar totalmente os benefícios?
[1] Kimberly Tara, da empresa que gerencia investimentos FourWinds Capital Management.
[2] Ciência e saúde, Planeta. Investidores já estão de olho no mercado da água. Veja On-line. 19 de março de 2008. http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia-saude/investidores-ja-estao-olho-mercado-agua-333262.shtml
quinta-feira, abril 23, 2009
mercado da água (II)
quarta-feira, abril 22, 2009
mercado da água (I)
17/03/2009 - 00h01
Modelo de livre mercado para exploração de água destrói cidade chilena
NYT Alexei Barrionuevo - Em Quillagua (Chile)
Durante as últimas quatro décadas aqui em Quillagua, uma cidade registrada nos livros de recordes como o local mais seco da terra, os moradores algumas vezes enxergaram gotas de chuva sobre as montanhas à distância. Mas elas nunca atingiram o solo, tendo se evaporado como uma miragem ainda no ar. O que a cidade tinha era um rio, que alimentava um autêntico oásis no deserto de Atacama. Mas, segundo os moradores, as companhias mineradoras poluíram e compraram uma quantidade tão grande da água que durante vários meses por ano o rio transforma-se em apenas um filete imprestável.

Caminhão-tanque abastece caixa d'água usada por moradores de Quillagua, Chile Quillagua é uma das várias pequenas cidades que estão sendo engolidas em meio à cada vez mais intensa guerra pela água no país. De acordo com os especialistas, em nenhum outro lugar o sistema de compra e venda de água é mais permissivo do que no Chile, onde os direitos à água constituem-se em propriedade privada, e não em um recurso público, e podem ser comercializados como mercadorias, em um ambiente caracterizado por pouca fiscalização governamental e escassas salvaguardas do meio ambiente.
Em algumas áreas a propriedade privada é tão concentrada que uma única companhia de eletricidade da Espanha, a Endesa, comprou até 80% dos direitos à água em uma enorme região no sul do país, provocando uma onda de protestos. E no norte, os produtores rurais estão competindo com companhias de mineração pelo aproveitamento dos rios e exploração das escassas reservas de água, deixando cidades como estas completamente secas e definhando. "Parece que tudo está contra nós", lamenta Bartolome Vicentelo, 79, que no passado cultivava alimentos e pescava camarões no Rio Lova, que abastece Quillagua. A população caiu para cerca de um quinto do que era duas décadas atrás. Tanta gente saiu da cidade que hoje só restam 120 pessoas aqui.
Alguns economistas elogiam o sistema de comercialização de direitos à água no Chile, que foi criado em 1981, durante a ditadura militar, afirmando que se trata de um modelo de eficiência do livre mercado que permite que a água seja utilizada pelos projetos de maior valor econômico.
Mas outros acadêmicos e ambientalistas argumentam que o sistema do Chile é insustentável porque promove a especulação, coloca o meio ambiente em risco e permite que interesses menores sejam esmagados por forças poderosas, como a indústria mineradora chilena.
"O modelo chileno foi longe demais no rumo da regulação descontrolada", afirma Carl J. Bauer, especialistas nos mercados de água do Chile que leciona na Universidade do Arizona. "É um modelo que não levou em conta o interesse público". A Austrália e o oeste dos Estados Unidos têm sistemas um pouco semelhantes a este, mas, segundo Bauer, existe neles regulação ambiental e resolução de conflitos mais fortes do que no Chile. O Chile é um exemplo notável da polêmica sobre a crise da água em todo o mundo. Temores quanto à carência de água prejudicam a expansão econômica chilena em áreas de recursos naturais como a de cobre, de frutas e de pescados - todas elas conhecidas por necessitarem de muita água em um país que tem reservas aqüíferas limitadas.
"O dilema que estamos enfrentando é determinar se podemos continuar nos desenvolvendo com a mesma quantidade de água que possuímos hoje", explica Rodrigo Weisner, diretor do setor de recursos hídricos do Ministério de Obras Públicas. "Não existe um consenso político a respeito de como lidarmos com o desafio de explorarmos os recursos que temos - incluindo as maiores reservas de cobre do mundo - em um país que possui o deserto mais árido do planeta", afirma Weisner.
Fernando Dougnac, um advogado ambiental de Santiago, diz que o equilíbrio é especialmente difícil porque "o mercado é capaz de promover a regulação para que haja mais eficiência econômica, mas não promove mais eficiência sócio-econômica". Ultimamente, a abordagem do país quanto à questão dos direitos à água tem exibido algumas falhas. "Na cidade de Copiapo, no deserto de Atacama, a comercialização descontrolada e uma seca de dois anos fez com que a quantidade real de água contida no rio acabasse sendo muito menor do que aquela contida nas quotas de exploração da água", afirma Dougnac.
Quillagua é mencionada no livro Guiness de recordes mundiais como o "local mais seco da terra" há 37 anos, mas ela mesmo assim prosperou devido ao Rio Loa, chegando a ter uma população de 800 habitantes na década de 1940. Um trem de longo curso parava aqui - atualmente a estação está abandonada - e a escola municipal tinha capacidade para quase 120 alunos (hoje em dia há apenas 16 estudantes).
Segundo Raul Molina, geógrafo da Universidade do Chile, a prosperidade começou a desaparecer em 1987, quando o governo militar reduziu em mais de dois terços a quantidade de água para a cidade. Mas os maiores golpes ocorreram em 1997 e 2000, quando dois episódios de contaminação arruinaram o rio, impedindo que a sua água pudesse ser utilizada para a irrigação de culturas agrícolas ou para o fornecimento ao gado durante os críticos meses de verão. Um estudo inicial conduzido por um acadêmico resultou na conclusão de que a contaminação de 1997 foi provavelmente provocada por um projeto de mineração de cobre administrado pela Codelco, a gigantesca mineradora estatal. Depois do incidente o governo chileno contratou especialistas alemães, que afirmaram que a contaminação tinha uma origem natural.
Em 2000, o Serviço de Pecuária e Agricultura, que integra o Ministério da Agricultura do Chile, refutou essa conclusão, e afirmou em um relatório que a responsabilidade pela contaminação era de pessoas e não da natureza. Foram encontrados metais pesados e outras substâncias associadas ao processamento de minérios que mataram os camarões do rio e fizeram com que a sua água não pudesse ser consumida pelo gado (faz décadas que a água potável para os moradores é transportada de outras regiões).
A Codelco, a maior companhia mineradora de cobre do mundo, rejeita qualquer responsabilidade. Pablo Orozco, um porta-voz da companhia, diz que a água do rio é ruim há anos, e que chuvas pesadas ocorridas na época dos episódios de contaminação provocaram uma enchente de curto período no curso d'água, o que fez com que sedimentos e outras substâncias fossem arrastados para a água. Mas a natureza do debate é em grande parte acadêmica porque, sem água apropriada para irrigar as culturas, muitos moradores não veem motivo para continuar resistindo às ofertas externas de compra dos direitos à água da cidade. Uma companhia mineradora, a Soquimich, ou SQM, acabou comprando cerca de 75% dos direitos à água de Quillagua. A maioria dos moradores se mudou; aqueles que permaneceram na cidade tem em média 50 anos de idade.
"Quillagua não será capaz de resistir por muito mais tempo", adverte Alejandro Sanchez, 77, apontando com uma bengala para um campo completamente seco e desprovido de vegetação, onde antigamente ele plantava milho e alfafa. Em 2007, a agência nacional de água passou a investigar alegações de que a Soquimich estaria extraindo mais água do Rio Loa do que teria direito. As autoridades dizem que o inquérito ainda está em andamento, embora a companhia sustente que nunca retirou água além da quantidade que lhe foi designada. Mas no início do ano passado, a agência regional de água passou a fazer monitoramento por satélite do Rio Loa. Após não ter registrado fluxo algum em 2007, Quillagua de repente recebeu pequenas quantidades de água no ano passado, e novamente em janeiro deste ano.
Segundo Claudio Lam, diretor regional da agência chilena de água, isso fez com que as autoridades suspeitassem que as companhias estivessem drenando mais água do que o permitido.
Mesmo assim, a água que chegou à cidade no verão ainda não é suficiente para possibilitar o cultivo de lavouras, afirma Victor Palape, chefe dos índios aimara de Quillagua. A cidade só sobrevive devido aos caminhões pipa que chegam diariamente, e que são parcialmente financiados pela Codelco e pela Soquimich, as duas companhias que os moradores culpam pelos seus problemas.
terça-feira, abril 14, 2009
momento
Os episódios recentes demonstram apenas o “processo de conta gotas" (Tavares) em que a crise vem sendo postergada, administrada. É sabido que nenhum arauto desse sistema sabe exatamente aonde isso tudo vai dar, inclusive porque os paradigmas históricos, inclusive do "ecologismo", continuam a procurar “associar à ofensiva destruidora contra os povos esses mesmos povos e suas organizações”. A propalada "gestão da crise", a questão dos preços do petróleo e o desenvolvimento dos biocombustíveis, a questão da “escassez” (de qualidade) da água, o “ouro azul” do século XXI, um direito humano, bem universal; apenas definida como “necessidade humana” pelo V Fórum Mundial da Água recém realizado em Instambul sob a pressão exercida pelo poderoso lobby privado do setor hídrico, que desconsiderou, mesmo em meio a presente crise econômica, que o peso de tal decisão atrasará em uma década o acesso à água potável para cerca de um bilhão de seres humanos, que ainda vivem sem ela, embora, seja de fato um bem essencial à vida na Terra.
A exportação da água virtual através do comércio de grãos e frutas para a China, União Européia e EUA, revela que onde a fome tem presença marcante também falta o uso adequado desse bem ambiental, e que o capital transformou através da criação dos mercados da água em um bem econômico (recurso hídrico). Tem um sentido fundamental toda a manobra dos governos do G7 frente a situação atual da economia mundial, em um quadro de crise gerada pela grande bolha originada de “capitais podres” e derivativos americanos, quando tangencia o problema da relação entre o tsunami da crise financeira e a questão climática global, que na verdade é propriamente ecossistêmica, partes que estão intrinsecamente relacionadas ao todo que não é somente uma expressão ou soma das partes e que não devem ser tratadas isoladamente, separadas, em qualquer tempo, pois, há um (des)equilíbrio vital por existir um inter-retro-relacionamento entre elas.
É de se questionar qualquer defesa desse quadro atual do capitalismo financeiro, transnacional, que se sustenta em fundamentos caducos ou "renovados" sobre um arcabouço teórico por demais testado e pouco criativo, que não engana mais ninguém (ou não?) em suas "repetições" e falsas crises de identidade que se reinventa, mas que não dura muito tempo em mostrar, a cada desmatamento, crime ambiental ou exploração do próprio homem, a sua direção: destruição da natureza e do ser humano. Fato é, que estamos frente a um momento de sérias mudanças (necessárias), não só de paradigmas relacionados ao que chamamos econômico, financeiro, mas, sobretudo, quanto à "teia da vida que não só humana", senão, da preservação da vida, em um sentido holístico, da percepção do "desenraizamento” da emoção humana, do ser da terra e da água, do ecossistema onde se insere o próprio homem.
Estamos no limiar de uma significativa ruptura de paradigmas, independente do que alguns iluminados achem, ou professem em suas "crenças" ou referências ideológicas.
O capitalismo já deu provas que tem limitações, e nos condiciona (a maioria da humanidade) a "sobreviver" como animais; seguindo as premissas darwinianas para "justificar a existência da concorrência e fazer da economia de mercado uma lei natural". Lembrando Engels: "Darwin não sabia que amarga sátira da humanidade, e especialmente de seus concidadãos, ele escrevia quando demonstrava que a livre concorrência, a luta pela vida, celebrada pelos economistas como a mais alta conquista da história, era o estado normal do reino animal".
pássaros
Os poemas...
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Mario Quintana - Esconderijos do Tempo
domingo, abril 12, 2009
vivência (permanente)
Permanecer
Até onde nosso olhar se estende
Inesperada dança viva de entregas
Ainda que pareça simples e singela
Vamos em passos que se aprende
Mãos entreabrem visões distintas
Nossos rostos se mostram profundos
Risos nascem de nossa cara criança
Por alguns minutos recriamos tudo
Somos transformação seguida em vida
Queremos limpar o musgo das unhas
Brilhar livres às ìntimas galáxias
sexta-feira, abril 10, 2009
nu
Banho de rio
Amanhã, o movimento das águas será outro. As esperanças interiores são nítidas no ciclo da água. O que se enxerga de maneira diferente está lá, a um nariz de começar a querer o que a mudança oferece, e acontecer de ser como o rio. Entrar nele é o que ele sugere, molhar-se do fio do cabelo ao dedão do pé, se aproximar mais da margem desconhecida, caber dentro e fora dos limites, evitar estar só no querer, não esperar a hora que se vai, flutuar no banho ao seguir o fluxo corrente inteiro no respirar, daí chegar mais perto do outro lado sem previsão do efeito dessa renovação. Isso é como se trouxesse uma corredeira para dentro de si (a rocha tornar-se a bacia de águas suavizando-se, e as pedras, também conseguem encontrar umas as outras moldando-se arredondadas), e vivenciar ser o rio indo para o mar.
Veja o plano: sinta o toque, se dobre na emoção, seja isso logo cedo; sinta-se na carícia da textura das águas, seja parte do cio da terra, com algum cuidado ou mesmo tímido ar de afeto, aproxime-se, mas, seja algo de verdade próximo disso. Agora, como água corrente seguindo o aconchego do leito, já não será o mesmo. Que se descubra o outro, sem sentir os próprios pés no chão! Aceitando inovar-se inteiramente no que se ganha em alegria pelo presente trazido no sentimento do mesmo rio diferente. Afinal, temos uma certa correnteza que nem damos mesmo conta.
Às coisas dizem em sinais silenciosos, muitas vezes ignorados, que há uma esperança permanente de voltarmos àquelas paisagens como se ainda fossem as mesmas. Mesmo com os motivos que temos, como recuperar a chance colocada no passado? O que jamais podemos fazer mesmo após o descanso da viagem. O que mudou não continua sob a sombra das árvores que recuaram na curva do rio lá atrás, segue sempre com a gente. O truque é achar a hora de plantar as sementes esquecidas na mão, no coração. Assim, chegamos a outra margem do rio.
Há uma força que equilibra essa viagem, ela se banha na energia que consumimos do rio. Ela é recriada constantemente nessa experiência transparente, quando cada casca se quebra pelos raios de um sol sem repouso (nem sempre de graça), expondo nossa alma intensa que queima ao renascer no denso sentido que instiga a experiência da vida, e nos faz subir nos ares de sua criação desenhando o alfabeto das trocas, nos esperados abraços e nas lembranças de carinho. Aqui expandimos em uma chuva doce batida no chão, indo como o orvalho dormir sobre ramos de tulipas nas bordas do horizonte. E como guerreiros após o êxtase da vitória caímos em sono na cama do mar dos símbolos.
na tela ou dvd
- 12 Horas até o Amanhecer
- 1408
- 1922
- 21 Gramas
- 30 Minutos ou Menos
- 8 Minutos
- A Árvore da Vida
- A Bússola de Ouro
- A Chave Mestra
- A Cura
- A Endemoniada
- A Espada e o Dragão
- A Fita Branca
- A Força de Um Sorriso
- A Grande Ilusão
- A Idade da Reflexão
- A Ilha do Medo
- A Intérprete
- A Invenção de Hugo Cabret
- A Janela Secreta
- A Lista
- A Lista de Schindler
- A Livraria
- A Loucura do Rei George
- A Partida
- A Pele
- A Pele do Desejo
- A Poeira do Tempo
- A Praia
- A Prostituta e a Baleia
- A Prova
- A Rainha
- A Razão de Meu Afeto
- A Ressaca
- A Revelação
- A Sombra e a Escuridão
- A Suprema Felicidade
- A Tempestade
- A Trilha
- A Troca
- A Última Ceia
- A Vantagem de Ser Invisível
- A Vida de Gale
- A Vida dos Outros
- A Vida em uma Noite
- A Vida Que Segue
- Adaptation
- Africa dos Meus Sonhos
- Ágora
- Alice Não Mora Mais Aqui
- Amarcord
- Amargo Pesadelo
- Amigas com Dinheiro
- Amor e outras drogas
- Amores Possíveis
- Ano Bissexto
- Antes do Anoitecer
- Antes que o Diabo Saiba que Voce está Morto
- Apenas uma vez
- Apocalipto
- Arkansas
- As Horas
- As Idades de Lulu
- As Invasões Bárbaras
- Às Segundas ao Sol
- Assassinato em Gosford Park
- Ausência de Malícia
- Australia
- Avatar
- Babel
- Bastardos Inglórios
- Battlestar Galactica
- Bird Box
- Biutiful
- Bom Dia Vietnan
- Boneco de Neve
- Brasil Despedaçado
- Budapeste
- Butch Cassidy and the Sundance Kid
- Caçada Final
- Caçador de Recompensa
- Cão de Briga
- Carne Trêmula
- Casablanca
- Chamas da vingança
- Chocolate
- Circle
- Cirkus Columbia
- Close
- Closer
- Código 46
- Coincidências do Amor
- Coisas Belas e Sujas
- Colateral
- Com os Olhos Bem Fechados
- Comer, Rezar, Amar
- Como Enlouquecer Seu Chefe
- Condessa de Sangue
- Conduta de Risco
- Contragolpe
- Cópias De Volta À Vida
- Coração Selvagem
- Corre Lola Corre
- Crash - no Limite
- Crime de Amor
- Dança com Lobos
- Déjà Vu
- Desert Flower
- Destacamento Blood
- Deus e o Diabo na Terra do Sol
- Dia de Treinamento
- Diamante 13
- Diamante de Sangue
- Diário de Motocicleta
- Diário de uma Paixão
- Disputa em Família
- Dizem por Aí...
- Django
- Dois Papas
- Dois Vendedores Numa Fria
- Dr. Jivago
- Duplicidade
- Durante a Tormenta
- Eduardo Mãos de Tesoura
- Ele não está tão a fim de você
- Em Nome do Jogo
- Encontrando Forrester
- Ensaio sobre a Cegueira
- Entre Dois Amores
- Entre o Céu e o Inferno
- Escritores da Liberdade
- Esperando um Milagre
- Estrada para a Perdição
- Excalibur
- Fay Grim
- Filhos da Liberdade
- Flores de Aço
- Flores do Outro Mundo
- Fogo Contra Fogo
- Fora de Rumo
- Fuso Horário do Amor
- Game of Thrones
- Garota da Vitrine
- Gata em Teto de Zinco Quente
- Gigolo Americano
- Goethe
- Gran Torino
- Guerra ao Terror
- Guerrilha Sem Face
- Hair
- Hannah And Her Sisters
- Henry's Crime
- Hidden Life
- História de Um Casamento
- Horizonte Profundo
- Hors de Prix (Amar não tem preço)
- I Am Mother
- Inferno na Torre
- Invasores
- Irmão Sol Irmã Lua
- Jamón, Jamón
- Janela Indiscreta
- Jesus Cristo Superstar
- Jogo Limpo
- Jogos Patrióticos
- Juno
- King Kong
- La Dolce Vitta
- La Piel que Habito
- Ladrões de Bicicleta
- Land of the Blind
- Las 13 Rosas
- Latitude Zero
- Lavanderia
- Le Divorce (À Francesa)
- Leningrado
- Letra e Música
- Lost Zweig
- Lucy
- Mar Adentro
- Marco Zero
- Marley e Eu
- Maudie Sua Vida e Sua Arte
- Meia Noite em Paris
- Memórias de uma Gueixa
- Menina de Ouro
- Meninos não Choram
- Milagre em Sta Anna
- Mistério na Vila
- Morangos Silvestres
- Morto ao Chegar
- Mudo
- Muito Mais Que Um Crime
- Negócio de Família
- Nina
- Ninguém Sabe Que Estou Aqui
- Nossas Noites
- Nosso Tipo de Mulher
- Nothing Like the Holidays
- Nove Rainhas
- O Amante Bilingue
- O Americano
- O Americano Tranquilo
- O Amor Acontece
- O Amor Não Tira Férias
- O Amor nos Tempos do Cólera
- O Amor Pede Passagem
- O Artista
- O Caçador de Pipas
- O Céu que nos Protege
- O Círculo
- O Circulo Vermelho
- O Clã das Adagas Voadoras
- O Concerto
- O Contador
- O Contador de Histórias
- O Corte
- O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante
- O Curioso Caso de Benjamin Button
- O Destino Bate a Sua Porta
- O Dia em que A Terra Parou
- O Diabo de Cada Dia
- O Dilema das Redes
- O Dossiê de Odessa
- O Escritor Fantasma
- O Fabuloso Destino de Amelie Poulan
- O Feitiço da Lua
- O Fim da Escuridão
- O Fugitivo
- O Gangster
- O Gladiador
- O Grande Golpe
- O Guerreiro Genghis Khan
- O Homem de Lugar Nenhum
- O Iluminado
- O Ilusionista
- O Impossível
- O Irlandês
- O Jardineiro Fiel
- O Leitor
- O Livro de Eli
- O Menino do Pijama Listrado
- O Mestre da Vida
- O Mínimo Para Viver
- O Nome da Rosa
- O Paciente Inglês
- O Pagamento
- O Pagamento Final
- O Piano
- O Poço
- O Poder e a Lei
- O Porteiro
- O Preço da Coragem
- O Protetor
- O Que é Isso, Companheiro?
- O Solista
- O Som do Coração (August Rush)
- O Tempo e Horas
- O Troco
- O Último Vôo
- O Visitante
- Old Guard
- Olhos de Serpente
- Onde a Terra Acaba
- Onde os Fracos Não Têm Vez
- Operação Fronteira
- Operação Valquíria
- Os Agentes do Destino
- Os Esquecidos
- Os Falsários
- Os homens que não amavam as mulheres
- Os Outros
- Os Românticos
- Os Tres Dias do Condor
- Ovos de Ouro
- P.S. Eu te Amo
- Pão Preto
- Parejas
- Partoral Americana
- Password, uma mirada en la oscuridad
- Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
- Perdita Durango
- Platoon
- Poetas da Liberdade
- Polar
- Por Quem os Sinos Dobram
- Por Um Sentido na Vida
- Quantum of Solace
- Queime depois de Ler
- Quero Ficar com Polly
- Razão e Sensibilidade
- Rebeldia Indomável
- Rock Star
- Ronin
- Salvador Puig Antich
- Saneamento Básico
- Sangue Negro
- Scoop O Grande Furo
- Sem Destino
- Sem Medo de Morrer
- Sem Reservas
- Sem Saída
- Separados pelo Casamento
- Sete Vidas
- Sexo, Mentiras e Vídeo Tapes
- Silence
- Slumdog Millionaire
- Sobre Meninos e Lobos
- Solas
- Sombras de Goya
- Spread
- Sultões do Sul
- Super 8
- Tacones Lejanos
- Taxi Driver
- Terapia do Amor
- Terra em Transe
- Território Restrito
- The Bourne Supremacy
- The Bourne Ultimatum
- The Post
- Tinha que Ser Você
- Todo Poderoso
- Toi Moi Les Autres
- Tomates Verdes Fritos
- Tootsie
- Torrente, o Braço Errado da Lei
- Trama Internacional
- Tudo Sobre Minha Mãe
- Últimas Ordens
- Um Bom Ano
- Um Homem de Sorte
- Um Lugar Chamado Brick Lane
- Um Segredo Entre Nós
- Uma Vida Iluminada
- Valente
- Vanila Sky
- Veludo Azul
- Vestida para Matar
- Viagem do Coração
- Vicky Cristina Barcelona
- Vida Bandida
- Voando para Casa
- Volver
- Wachtman
- Zabriskie Point