sábado, novembro 22, 2008

além da economia

A cara antidemocrática do capitalismo

A liberalização financeira teve efeitos para muito além da economia. Há muito que se compreendeu que era uma arma poderosa contra a democracia. O movimento livre dos capitais cria o que alguns chamaram um “parlamento virtual” de investidores e credores que controlam de perto os programas governamentais e “votam” contra eles, se os consideram “irracionais”, quer dizer, se são em benefício do povo e não do poder privado concentrado.

quinta-feira, novembro 20, 2008

pensar diferente e fazer diferente

"Você não pode resolver o problema com o mesmo tipo de pensamento que criou o problema." Albert Einstein

segunda-feira, novembro 17, 2008

Aprender

DEPOIS DE ALGUM TEMPO 
por William Shakespeare

"Você aprende. Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa aprender que beijos não são contratos, e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e os olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão”.

"Depois de um tempo, você aprende que o sol queima, se ficar a ele exposto por muito tempo. E aprende que, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que, não importam quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando, e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá para o resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer, mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos, se compreendemos que os amigos mudam. Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com que você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso, devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos."

"Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm muita influência sobre nós, mas que nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, que o tempo é curto. Aprende que não importa aonde já chegou mas aonde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados."

"Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute, quando você cai, é uma das poucas pessoas que o ajudam a levantar-se. Aprende que a maturidade tem mais a ver com os tipos de experiências que se teve e o que se aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais de seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes, e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva, tem direito de estar com raiva, mas isso não lhe dá a você o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama mais do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ame com todas as forças, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar a si mesmo."

"E que, com a mesma severidade com que julga, será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que se possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe, depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor. E que você tem valor diante da vida, nossas dádivas são traidoras, e nos fazem perder o bem que podíamos conquistar se não fosse o medo de tentar!"


sexta-feira, novembro 14, 2008

caos sereno

O outro lado da face

Certa vez me disseram que eu era um “homem puro” (e naquele momento eu estava enfrentado uma "barra danada"), desprovido de maldade, ou melhor, de malícia na vida, e essa interpretação de meu “eu” pelo “outro” me acompanhou por um tempo. Me vi diferente, pois nem eu mesmo acredito nisso, certamente tenho todos os defeitos que podem estar presente, conscientemente ou não, em qualquer um por esse mundo maluco e bonito, vivemos em um (in)completo caos, caos com imposta ordem, que diferente do meu caos, consegue ir sereno em boa parte dos (contra)tempos que enfrentei e enfrento.

É claro que diante de uma situação assim, sentimentos flutuaram, na hora, minha reação retive em silêncio e confesso, foi de surpresa, fiquei agradecido em ouvir que era “puro” em meio a uma realidade em que ninguém se sente seguro ou confiante em expressar algo com essa significação frente ao que se pode encontrar pela frente, o outro estava sendo generoso em seu gesto afetuoso? Refleti: se virarmos seres aparentemente blindados, querendo estar protegidos, vestidos em couraças múltiplas, hipócritas, muitos até perdidos numa selva incontrolável e sem valores reais há muito, aonde chegaremos, aonde já chegamos? Atualmente o medo de qualquer coisa está contagiante, até mesmo do conhecido, não mais só do desconhecido, parece tomar conta do inconsciente coletivo. Insônia, pânico do medo, crises de solidão, processos dolorosos, depressão, por que será que acontece tudo isso?

A bem da verdade, meus segredos, fraquezas, ou seja o “bicho” que for, e que não são poucos, perduram me fazendo criar internamente alguns compartimentos secretos onde vou pelos dias afora observando-os e até tento entendê-los de vez em quando. Mas, o que me importa seriamente, é retirá-los desses compartimentos, as vezes consigo, e muitos deles resgatá-los para o presente, me beneficiando do aprendizado, ou então compreender como experiências que serviram de algo e esquecer. Dane-se, dizer isso ajuda, dane-se!

Nessa caminhada, refletir e seguir a voz que vem do coração é tudo pra mim. Como sou trabalhador da ciência e da arte, na minha vida plena e curta me mantive laborando bastante, não quero parar jamais, amei quem amei, mas mantenho cada um desses amores dentro de mim, como esquecer? Ainda amo com todo prazer que houver nessa vida, com isso fiz tudo que desejei, nem faço sem desejar o que gosto de fazer, é óbvio que quero caminhar junto com o outro, mas com mais qualidade, de vida, o que, penso não necessáriamente está condicionada as coisas materiais ou aos poderes decorrentes de qualquer tipo de riqueza arrogante, ainda que os resultados dêem na cara. O meu outro lado da face parece estar jovem e a salvo, e é tudo que tenho, ninguém merece. Ainda aprendo.

quinta-feira, novembro 13, 2008

melhor lugar

A Casa

 

Hoje vou te amar como minha casa

Imagino que tens a Rosa-dos-Ventos

Ao entrar me sinto o morador antigo

Que todas as horas possíveis passem

Versos e cartas brinquem em seu tecido

 

Descalços no toque das texturas e folhas

O tempo em gotas servirá a nossa sede

Em jogos de sentir sorriremos outra vez

De toda posição saberemos ser um todo

Ao dia pedindo a noite outro entardecer



quarta-feira, novembro 12, 2008

dream is over

Veia Aberta

 Procurei e achei um motivo, bateu na veia. Queria escrever umas lembranças, assim, qualquer nesga do que passasse pelas minhas idéias em conflito com uma solidão presa na modernidade. Só um estímulo era o suficiente, e lá estava eu com as mãos sobre o teclado enquanto escutava uma entrevista com um ex-ministro da ditadura militar no Brasil, o Delfin Neto, o cara é o mesmo “funcionário da técnica” do século passado. Assistia uma parte do documentário sobre “1968, o ano que não acabou”, e veio até meu olhar criterioso um outro estimulo que passou vibrando no corpo das palavras que crescia na tela do monitor correndo entre virgulas e exclamações, pontuando uma a uma frases que continuava falando de algo sem um conteúdo maior, diante da interpretação televisiva dos fatos, mostrada pela entrevista, e ainda nem escorria uma linha para me fazer claro.

 Época cheia de lufadas de ventos transformadores, que trouxeram mudanças tão importantes para todos, inclusive para os passivos e contra a sanha dos reacionários, sem se importar com perguntas se depois de tudo os resultados durariam, até quando? A prova veio forte, até agora se percebe seu estalo inicial de força político-social e cultural. Quem viveu intensamente viu as cores do vermelho, dos poetas, do teatro popular, da mpb, ah tropicália pra que te quero? De todos os processos o que beneficiou indiscriminadamente: a liberdade conquistada.

 Para quem quer que fosse, para as mentes de todos os matizes ideológicos mostrou-se o poder da escolha de um povo trabalhador quando se faz, de fato, valer seus direitos que muitas vezes nem se tem consciência que se tem; e o “proibido proibir” se fez além da música e foi às ruas chegando depois ao parlamento pelo voto direto, se concretizaram novas conquistas e a liberdade de expressão, em grande parte os ideais pousaram na nova Carta Cidadã de 1988.

 O que veio depois se desdobrou em esforços continuados por mais direitos que reforçaram as necessidades de uma sociedade carente de leis ordinárias, de redistribuição de renda e de um forte mercado interno, além de um Estado presente no social, regulador econômico, pautado em referencias de desenvolvimento globais. O Brasil navegou por crises perversas recheadas de diagnósticos, mas sem efetivação dos propósitos constitucionais, e um pendular de poderes conservadores ainda moldado em modelos arcaicos de gestão. Ainda são necessárias muitas mais sacudidelas nessa nata de especuladores viciados em lucros exorbitantes, navegar é preciso! Abaixo o castelo de cartas do capitalismo financeiro. Água, trabalho e moradia para todos.


Que tempo!

Água de chuva


Descobri que ainda não te conheço,

mesmo assim respiro a sua companhia.

Enquanto venta o tempo de acontecer

caio em pingos quentes sobre o leito.


Somos asas estendidas entre distancias,

quero essa viagem mais que o destino,

afasto nuvens até onde vejo a sua torre,

carregando a vida na bagagem em silêncio.


Deveria parar nos sinais que desconheço,

certo de alcançar o que solta minha língua.

Dispo-me sob uma luz reta e generosa,

o que me guia afora de denso labirinto.

sexta-feira, novembro 07, 2008

novos ventos

106 anos by Jose Saramago, publicado no O Caderno de Saramago

Essa mulher de cento e seis anos, Ann Nixon Cooper, que Obama citou no seu primeiro discurso como presidente eleito dos Estados Unidos, talvez venha a ocupar um lugar na galeria das personagens literárias favoritas dos leitores norte-americanos, ao lado daquela outra que, viajando num auto-carro, se recusou a levantar-se para dar o lugar a um branco. Não se tem escrito muito sobre o heroísmo das mulheres. Entre o que Obama nos contou sobre Anne Nixon Cooper não havia actos heróicos, salvo os do viver quotidiano, mas as lições do silêncio podem não ser menos poderosas que as da palavra. Cento e seis anos a ver passar o mundo, com as suas convulsões, os seus logros e os seus fracassos, a falta de piedade ou a alegria de estar vivo, apesar de tudo. Na noite passada essa mulher viu a imagem de um dos seus em mil cartazes e compreendeu, não podia deixar de compreendê-lo, que algo novo estava acontecendo. Ou então guardou simplesmente no coração a imagem repetida, à espera de que a sua alegria recebesse justificação e confirmação. Os velhos têm destas coisas, de repente abandonam os lugares-comuns e avançam contra a corrente, fazendo perguntas impertinentes e mantendo silêncios obstinados que arrefecem a festa. Ann Nixon Cooper sofreu escravidões várias, por negra, por mulher, por pobre. Viveu submetida, as leis teriam mudado no exterior, mas não nos seus diversos medos, porque olhava à sua volta e via mulheres maltratadas, usadas, humilhadas, assassinadas, sempre por homens. Via que cobravam menos que eles pelos mesmos trabalhos, que tinham de assumir responsabilidades domésticas que iam ficar na sombra, apesar de necessárias, via como lhes travavam os passos decididos, e não obstante continuam a caminhar, ou não se levantando num autocarro, contemo-lo uma vez mais, como aquela outra mulher negra, Rose Banks*, que fez história, também

Cento e seis anos a ver passar o mundo. Talvez o veja bonito, como a minha avó, pouco antes de morrer, velha e formosa, pobre. Talvez a mulher de quem Obama nos falou ontem sentisse a serenidade da alegria perfeita, talvez o saibamos um dia. Entretanto felicitemos o presidente eleito por tê-la tirado da sua casa, por ter-lhe prestado uma homenagem que ela provavelmente não necessitaria, mas nós, sim. À medida que Obama ia falando de Ann Nixon Copper, percebemos que a cada palavra o exemplo nos tornava melhores, mais humanos, à beira de uma fraternidade total. De nós depende fazer durar este sentimento.

*Ver o link do post no caderno de Saramago esclarecendo sobre Rosa Parkshttp://caderno.josesaramago.org/2008/11/09/rosa-parks/.

no agora


Não tem datas.
Não tem tempo.
Só tem acontecer
cheio de magnificência.
E no acontecer tem
a nossa capacidade de sermos felizes
e de fazermos felizes os que se aproximam de nós.
Se perdermos isto
é sinal que saímos do acontecer
e entramos no tempo,
feito de procupações e ressentimentos.
O tempo é uma invenção da mente humana;
o acontecer não,
ele é verdadeiro.
O tempo é algo que pensamos;
o acontecer só pode ser vivido.
Não há o que pensar
quando se vive plenamente
porque a vida acontece aqui,
no agora,
toda inteira.
Se pararmos de pensar besteiras
vemos que a realidade se desplega
deslumbrante e magnífica,
cheia de luz,
e nós como parte dela
nos iluminamos também.
A realidade acontece no agora,
e só no agora.
Qualquer outra coisa é elucubração,
delírio, fantasia, construção mental
que nos tira do real
e nos leva a imaginar o futuro
através das preocupações ditadas pelo medo,
ou nos leva a repensar o passado
através do ressentimento e da culpa,
todas formas que a mente utiliza
para levar-nos a trocar o real pelo imaginário.
A própria idéia de tempo
é fuga do real.
Venha para o presente.
Seja plenamente feliz,
plenamente luminoso,
plenamente iluminado,
nesta realidade luminosa.
Agora.

Leo Toniolo
psicoterapeuta

segunda-feira, novembro 03, 2008

valor da vida

Valor no viver

 

Que valor tem a sua vida?

Que vida tem valor sem viver?

Viver é bom com que valor?

O que dá valor a sua vida?

 

De que valor extrai sua vida?

Você dá valor a que na sua vida?

Que vida se tem sem valor?

O que significa o valor da vida?

 

Qual é a vida que você valoriza?

Que sentido tem o valor de viver?

Em que vida o valor tem valor?

Como viver e dar valor a vida?

 

Existe vida no valor da sua vida?

Viver é valorizar o viver da vida?

Há vida só dando vida ao valor?

Há valor no viver ao se viver a vida?


quinta-feira, outubro 30, 2008

A poesia segue


Pela pele

Sem acaso na escolha do que somos, portanto...
Passamos pela via de uma entrega sem senão,
Até avistarmos pirilampos no seio de nossa pele.

Entes, olhares de esmeraldas, fibras do coração...
Peneiramos com alma sementes em estremeço,
Uma noção rara de sermos um todo sendo meios.

Inteiros sendo meios repicando nossos sinos
Bailamos formas onde nada exige a matéria
Fomos convidados por nossa energia como guia.

Dançamos na alegria da nossa busca pelo outro,
O mesmo espelho presente nesse contato etéreo,
Ainda presente por um triz de amor descoberto.

terça-feira, outubro 28, 2008

memória viva

    Consideração do poema  
    (Carlos Drummond de Andrade)

Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Uma pedra no meio do caminho
ou apenas um rastro, não importa.
Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
de toda a precisão se incorporam
ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius
sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
Que Neruda me dê sua gravata
chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski.
São todos meus irmãos, não são jornais
nem deslizar de lancha entre camélias:
é toda a minha vida que joguei.

Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
– Há mortos? há mercados? há doenças?
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
por que falsa mesquinhez me rasgaria?
Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas.
O beijo ainda é um sinal, perdido embora,
da ausência de comércio,
boiando em tempos sujos.

Poeta do finito e da matéria,
cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
boca tão seca, mas ardor tão casto.
Dar tudo pela presença dos longínquos,
sentir que há ecos, poucos, mas cristal,
não rocha apenas, peixes circulando
sob o navio que leva esta mensagem,
e aves de bico longo conferindo
sua derrota, e dois ou três faróis,
últimos! esperança do mar negro.
Essa viagem é mortal, e começa-la.
Saber que há tudo. E mover-se em meio
a milhões e milhões de formas raras,
secretas, duras. Eis aí meu canto.

Ele é tão baixo que sequer o escuta
ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
que as pedras o absorvem. Está na mesa
aberta em livros, cartas e remédios.
Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,
o uniforme de colégio se transformam,
são ondas de carinho te envolvendo.

Como fugir ao mínimo objeto
ou recusar-se ao grande? Os temas passam,
eu sei que passarão, mas tu resistes,
e cresces como fogo, como casa,
como orvalho entre dedos,
na grama, que repousam.

Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.

Valor Ambiental

O Valor da Natureza

Gustavo Souto Maior*

Qual o valor dos serviços prestados pela Natureza ? A princípio é infinito. A economia mundial entraria rapidamente em colapso sem a existência de solos férteis, água de boa qualidade e ar limpo. Porém, "infinito" muito rapidamente pode se transformar em "zero" nas equações utilizadas por administradores públicos e em decisões políticas. Assim, valores mais consistentes e concretos são necessários para se evitar decisões econômicas não sustentáveis, que possam degradar os recursos naturais e os serviços que os ecossistemas geram.

Com esse objetivo, uma equipe de treze pesquisadores, a frente o cientista Robert Costanza, da Universidade de Maryland, estimou o valor econômico de 17 serviços que o meio ambiente pode proporcionar (regulação hídrica, de gases, climática e de distúrbios físicos, abastecimento d' água, controle de erosão e retenção de sedimentos, formação de solos, ciclo de nutrientes, tratamento de detritos, polinização, controle biológico, refúgios de fauna, produção de alimentos, matéria-prima, recursos genéticos, recreação e cultura), em 16 biomas espalhados pelo mundo. Informações dispersas em mais de uma centena de estudos de valoração econômica de bens e serviços ambientais foram agrupadas e analisadas, e ao final o resultado encontrado para o valor médio dos serviços proporcionados pela Natureza, nos ecossistemas pesquisados, foi de US$ 33 trilhões ao ano.

A tentativa de se estimar o valor corrente total dos serviços ambientais em questão tem uma série de limitações, admitidas por Costanza e seus colaboradores. Primeiro, vários biomas e diversas categorias de serviços ambientais ficaram de fora do trabalho, já que não são ainda adequadamente pesquisados e objeto de valoração econômica. O próprio Cerrado, cujos estudos de valoração econômica ainda são muito recentes, não foi considerado. Mais estudos sendo disponibilizados, o valor total aumenta.

Segundo, em muitos casos os valores encontrados são baseados em levantamentos da "disposição a pagar" da sociedade por serviços ambientais, levantamentos esses nos quais se firmam alguns dos métodos de valoração econômica do meio ambiente. Aqui, o perigo é que os cidadãos possam estar desinformados quanto à importância dos bens e serviços ambientais, e assim suas preferências não incorporarem adequadamente preocupações sociais, econômicas e ecológicas, entre outras, o que pode resultar em valores inconsistentes.

Pode-se questionar a tentativa de dar um valor à atmosfera, ou às rochas e ao solo no suporte aos ecossistemas, pois sem dúvida alguma o valor, nesses casos, é incomensurável. Entretanto, como bem aponta o estudo, é de fundamental importância investigar como modificações na quantidade e qualidade dos vários tipos de capital natural e de serviços ambientais podem acarretar impactos no bem-estar humano.

Levanta-se a questão de que a valoração de bens e serviços ambientais é tampouco correta, já que não podemos dar valor a bens "intangíveis", como a vida humana, paisagens, ou benefícios ecológicos de longo prazo. Porém, na verdade valoramos bens e serviços "intangíveis" todos os dias, ao estabelecermos, por exemplo, padrões para construção de estradas, pontes, e similares: nesse caso valoramos a vida humana, já que estamos gastando mais dinheiro em construções que salvarão vidas. A realidade é que a sociedade valora o meio ambiente todos os dias. Qualquer decisão quanto ao uso da terra envolve estimativas de valor, mesmo quando valores monetários não são utilizados.

Argumenta-se que devemos preservar os ecossistemas por razões morais, não lhes cabendo atribuir nenhum tipo de valor econômico. A preservação seria uma questão afeta aos direitos de todas as espécies, tendo a ver com as nossas obrigações morais para com as futuras gerações. Os bens e serviços ambientais seriam fins em si próprios, e não um instrumental para se obter determinado objetivo, no caso o desenvolvimento. Ora, se todos os bens têm direito à existência, presume-se que não é possível optar por um em detrimento de outro, estando, assim, todas as perdas moralmente condenadas. Porém, a realidade é que a sociedade tem que fazer opções. Sendo assim, ciente de que nem tudo pode ser salvo e mantido intacto, é essencial optar entre formas de intervenção que tenham a melhor relação custo/benefício. Nesse ponto é que a valoração econômica de bens e serviços ambientais pode prestar um relevante papel.

Deve-se ter em vista que o desenvolvimento econômico está intimamente ligado a aumentos no nível de bem-estar da sociedade, resultantes da produção e consumo de bens e serviços tradicionais, os quais dependem de diversas funções dos recursos naturais, como matérias-primas, capacidade de suporte de ecossistemas, assimilação de resíduos e biodiversidade. O meio ambiente faz parte da função de produção de grande quantidade de bens econômicos, cuja obtenção seria impossível sem o seu concurso.

Cabe destacar que a economia de bens e serviços ambientais possui características diferentes da economia tradicional. O uso dos recursos ambientais, por exemplo, gera custos e benefícios que pouco são apreendidos em um sistema de mercado, muito embora os recursos tenham valor econômico. Embora o valor econômico dos recursos ambientais não seja observável no mercado por meio de preços, o meio ambiente tem um valor, na medida em que seu uso altera o nível de produção e consumo da sociedade, já que o bem-estar das pessoas é medido tanto pelo consumo de bens e serviços tradicionais, como pelo consumo de bens de origem recreacional, política, cultural e ambiental.

Pelo fato de não serem quantificados e transacionados em mercados, os bens e serviços ambientais têm muito pouco peso nas decisões políticas. Esta negligência pode ter como conseqüência o comprometimento da sustentabilidade da vida na Terra, já que os ativos ambientais não possuem substitutos.

Apesar dos diversos problemas de ordem conceitual e empírica inerentes à produção de uma estimativa dessa ordem, o trabalho de Costanza pode ser importante para se estabelecer uma primeira aproximação da magnitude relativa dos ecossistemas globais, e para estimular debates e pesquisas em valoração de bens e serviços ambientais. Contudo, talvez o maior mérito do trabalho é a comparação que permitiu ser feita entre os valores existentes do Produto Interno Bruto global e o valor econômico médio dos serviços ambientais prestados pelos 16 biomas pesquisados: para o meio ambiente o resultado encontrado foi de US$ 33 trilhões anuais, enquanto que no mesmo ano o PIB global somava cerca de US$ 18 trilhões. Ou seja, o valor dos serviços ambientais era quase o dobro do encontrado para o PIB. Conclusão: os serviços ambientais têm uma posição destacada na contribuição para o bem-estar humano no nosso planeta.

A economia não pode continuar a ser vista como um sistema fechado e isolado, no qual existem fontes inesgotáveis de matéria-prima e energia para alimentar o sistema, onde o processo de produção converte todos os insumos em produtos sem deixar resíduos indesejáveis, e no consumo todos os produtos desaparecem como num passe de mágica, sem deixar vestígios. Ou seja, a economia não pode insistir em considerar o meio ambiente como mero coadjuvante.

*Gustavo Souto Maior é mestrando em Gestão Econômica.

chegou ao ponto

PRESIDENTE DA FRANÇA AFIRMA

"Morte da ditadura do mercado e refundação do capitalismo"

Ao anunciar a criação de um fundo soberano para investir nos setores estratégicos da indústria francesa, presidente Nicolas Sarkozy proclamou a morte da ditadura do mercado e defendeu a necessidade uma intervenção estatal em bloco, na União Européia. Segundo ele, crise atual é sem precendentes e "põe em perigo o próprio futuro da humanidade".

Data: 24/10/2008

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, proclamou ontem a “morte da ditadura do mercado”, defendeu a necessidade de uma “refundação do capitalismo” e propôs a criação de um fundo soberano francês para investir na indústria nacional. Além disso, convocou os líderes europeus para preparar a cúpula financeira mundial. A França preside atualmente a União Européia. Enquanto isso, nas Nações Unidos, o economista Joseph Stiglitz criticou a Casa Branca por organizar uma reunião de cúpula sobre a crise financeira global em Washington e não na sede da ONU. Stiglitz, que foi convocado esta semana pelo presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel D’Escoto, para encabeçar um grupo de trabalho de alto nível para examinar o sistema financeiro global, disse que é crucial envolver a ONU nos aspectos de curto e longo prazo da crise.

Em um discurso feito ontem (23), Sarkozy defendeu a criação de fundos soberanos na Europa que permitiriam “dar uma resposta industrial à crise econômica”. A proposta foi recebida com reservas por vários países europeus e rechaçada pela Alemanha. O chefe de Estado francês assinalou ainda que, diante do risco da falta de crédito por causa da crise financeira, criará um instrumento “mediador do crédito” que estará a disposição das empresas francesas com dificuldade de acesso a recursos. O “fundo público de intervenção”, cuja criação permitiria investir nas empresas estratégicas da França, mobilizará cerca de 100 bilhões de euros, estimou o secretário de Emprego, Laurent Wauquiez.

Sarkozy insistiu na necessidade de impulsionar um “governo econômico” da União Européia, que formate de forma ativa a política do bloco diante da “morte da ditadura dos mercados com a crise financeira internacional”. Nesta sexta, Sarkozy afirmou que "o mundo está mal" e vive "uma crise sem precedentes" que “põe em perigo o próprio futuro da humanidade”.

água bruta

o andar da carruagem

Análise: Mudanças em aplicações explicam quedas nas bolsas

ROBERT PESTON da BBC News  -  27/10/2008 - 18h04

As quedas nas bolsas de valores nesta segunda-feira nos colocam a caminho de novos recordes mensais de desvalorização nos valores das ações.

Até agora neste mês, os papéis nos Estados Unidos e na Europa caíram em média mais de 25%. Na Ásia, o recuo foi um pouco maior.

A menos que ocorra uma reação repentina, a desvalorização mensal acumulada em outubro na maioria dos principais mercados do mundo será uma das maiores já testemunhadas por qualquer pessoa ainda viva.

No caso dos Estados Unidos, a queda neste mês provavelmente será a maior em 70 anos. Em outros mercados, onde o histórico das oscilações das bolsas começou a ser compilado mais tarde, as quedas devem ser as maiores desde o início dos registros, há cerca de 40 anos.

Mas qual o porquê disso? Há três coisas acontecendo.

Mudanças nas aplicações

Primeiramente, estamos vendo o fim das aplicações de dinheiro obtido com empréstimos baratos --com juros baixos e em iene ou dólares-- em mercados que rendiam mais, como os dos países emergentes, da Islândia ou, em certa medida, da Grã-Bretanha.

Os investidores estão liquidando ativos em toda a parte, da Coréia do Sul à Argentina e à Hungria, e estão segurando os recursos em moeda japonesa ou americana.

E como uma quantidade significativa desses investimentos veio do Japão, o iene tem se valorizado de forma espantosa.

A libra esterlina foi castigada em parte porque, quando esse tipo de investimento estava mais popular, a Grã-Bretanha recebeu uma parcela desproporcional desse dinheiro, já que as taxas de juros britânicas sempre foram um pouco maiores do que normalmente são em economias desenvolvidas.

Fundos hedge

O segundo motivo é a transformação dos bancos de investimento Goldman Sachs e Morgan Stanley em bancos de varejo, o que está secando os fundos hedge.

A mudanças dos bancos está levando os fundos a se livrar de ativos como ações, títulos corporativos e commodities. Isso, por sua vez, está levando à venda de mais ativos, já que a queda nos valores deles faz com que os credores exijam que os investidores que ainda apostam em aplicações como os fundos hedge aumentem suas garantias.

Reavaliação de risco

Finalmente, o último motivo é a reavaliação do risco provocada pela desaceleração econômica global.

Traduzindo: os investidores, nos últimos 14 meses, abandonaram a convicção maluca de que nada iria quebrar e foram para o extremo oposto --passando a acreditar que tudo vai quebrar.

Nenhuma das visões é racional. Mas a razão não tem muita influência nos momentos de pico de alta do mercado, quando a emoção que prevalece é a cobiça, e nos picos de baixa, quando o importante é o salve-se quem puder.

domingo, outubro 26, 2008

O Homem Duplicado

"Quanto mais te disfarçares, mais te parecerás a ti próprio". (José Saramago)

quinta-feira, outubro 23, 2008

Traços fluídos

Cerrados no céu

Se formos dois lápis coloridos lado a lado
Com os olhos cheios de desenhos infantis
Um sonho se rabisca por cima do travesseiro

Aqueles gestos pintariam os traços fluídos
Nos tornando preciosos dados em mãos dadas
Quando coração febril penetrando no infinito

Primaveras cobertas de flores no íntimo
Quase diz algo respirando letras no ouvido
Como o garoto que tem a lua como motivo

Livres na emoção líquida nessa hora vã
Viramos arco íris em sonetos molhados
Por uma margem do céu e cerrados em desejos

terça-feira, outubro 21, 2008

Mundus

O texto que se segue, foi extraído do livro Infância e História: destruição da experiência e origem da história, de Giorgio Agamben. Ele me trouxe reflexões interessantes, deixo aqui no desejo de que contribua pela leitura, em suas percepções e significações do real e do imaginário, do conhecimento e da experiência, do sujeito e do espírito.  Um abraço.

Fantasia e experiência

Nada pode dar idéia da dimensão da mudança ocorrida no significado da experiência como a reviravolta que ela produz no estatuto da imaginação. Dado que a imaginação, hoje eliminada do conhecimento como sendo "irreal", era para a antiguidade o médium por excelência do conhecimento. Enquanto mediadora entre sentido e intelecto, que torna possível, no fantasma, a união de forma sensível e intelecto possível, ela ocupa, na cultura antiga e medieval, exatamente o mesmo lugar que a nossa cultura confere à experiência. Longe de ser algo irreal, o mundus imaginabilis tem a sua plena realidade entre o mundus sensibilis e o mundus intellegibilis, e é, aliás, a condição de sua comunicação, ou seja, do conhecimento. E, a partir do momento em que é a fantasia que, segundo a antiguidade, forma as imagens dos sonhos, explica-se a relação particular que, no mundo antigo, o sonho mantém com a realidade (como na adivinhação per somnia) e com o conhecimento eficaz (como na terapia médica per incubazione). Isto ainda é verdadeiro nas culturas primitivas. Devereux relata que os mohave (nisto não dissímeis das outras culturas xamânicas) crêem que os poderes xamânicos e o conhecimento dos mitos, assim como das técnicas e dos cantos que a eles se referem, são adquiridos no sonho. E não só: se viessem a ser adquiridos em estado de vigília, permaneciam estéreis e ineficazes até que fossem sonhados:  "assim um xamã, que me permitira anotar e aprender os seus cantos terapêuticos rituais, explicou-me que eu não teria igualmente poder de curar, pois não havia potencializado e ativado os seus cantos através do aprendizado onírico".

segunda-feira, outubro 20, 2008

acidente integral

PAUL VIRILIO

“O crash atual representa o acidente integral por natureza”

Há trinta anos o filósofo Paul Virilio analisa as catástrofes como a conseqüência inelutável do progresso técnico. Ele vê na crise financeira o exemplo mais acabado de sua tese, na qual as vítimas não são mais os mortos, mas os milhares de desabrigados que perdem suas casas.

Data: 19/10/2008

Há trinta anos o filósofo Paul Virilio analisa as catástrofes como a conseqüência inelutável do progresso técnico. Ele vê na crise financeira o exemplo mais acabado de sua tese, na qual as vítimas não são mais os mortos, mas os milhares de desabrigados que perdem suas casas. Em entrevista ao jornal francês "Le Monde", Virilio diz que "nossas proezas técnicas são grandes promessas catastróficas". 

(Entrevista do urbanista e filósofo francês Paul Virilio, concedida a Gérard Courtois e Michel Guerrin, e publicada no Le Monde de 18 de outubro de 2008)

Em 2002, sob o título “O que acontece”, você apresentou à Fundação Cartier uma exposição sobre o acidente na história contemporânea: Chernobyl, 11 de setembro, tsunami...Uma fórmula de Hannah Arendt guiava sua demonstração: “O progresso e a catástrofe são as duas faces de uma mesma moeda”. Com o crash das bolsas, onde estamos?

Paul Virilio: De fato, em 1979, no momento do acidente da central nuclear de Three Mile Island, nos EUA, eu evoquei um “acidente original” - desses que nós mesmos fabricamos. Eu dizia que nossas proezas técnicas são grandes promessas catastróficas. Antes, os acidentes eram locais. Com Chernobyl, passamos aos acidentes globais, às conseqüências inscritas na duração. O crash atual representa o acidente integral por excelência. Seus efeitos se difundem ao longe, e ele integra a representação dos outros acidentes. 

Faz trinta anos que se produz o impasse sobre o fenômeno de aceleração da História e que essa aceleração é a fonte de multiplicação dos grandes acidentes. “A acumulação põe fim à impressão de acaso”, dizia Freud a propósito da morte. Sua palavra-chave aqui é acaso. Esses acidentes não são casuais. Nos satisfazemos neste momento em estudar o crash das bolsas sob o ângulo econômico ou político, com suas conseqüências sociais. Mas não se pode compreender o que se passa se não se põe sob investigação uma economia política da velocidade, gerada pelo progresso das técnicas, e se não a relaciona ao caráter acidental da História. 

Vamos dar só um exemplo: dizemos que tempo é dinheiro. Eu acrescento que a velocidade – a Bolsa o prova -, é o poder. Nós passamos de uma aceleração da História a uma aceleração do real. É isso o progresso. O progresso é um sacrifício consentido. 

Não estudamos os acidentes suficientemente?

Paul Virilio: A historiografia dominante se limita a analisar os fatos de longa duração. Eu defendo, ao contrário, uma história acidental, feita unicamente de rupturas. O historiador François Hartog fala do “presentismo” dominante. É preciso ir além. Nós vivemos no “instantaneísmo”.

Para compreender os acidentes, é preciso estudá-los, mas também os expor. O acidente é uma invenção, um trabalho criativo. Quem, melhor que os artistas, poder fazer sentir a dimensão trágica do progresso? Daí a exposição “O que acontece” - nela eu abordava o crash da bolsa -, que prefigurava um museu ou um observatório dos grandes acidentes a que chamo de meus votos. Não para causar medo, mas para enfrentar. 

Como definir, para além de seu aspecto de surpresa, o acidente das bolsas?

Paul Virilio: Como para todo acontecimento contemporâneo, é preciso levar em conta uma série de sincronizações em nível mundial. Sincronizações de hábitos, de costumes, de maneiras de reagir, mas também das emoções. Passamos de um comunismo de classe a uma mundialização instantânea e simultânea dos afetos e dos medos – e não mais das opiniões. Foi o caso do World Trade Center ou com o tsunami.

Com este crash da bolsa é a mesma coisa. Depois de uma curta fase técnica – quebra de bancos, queda de preços -, passamos a um período de “histericização” exagerada das reações. Fala-se de “loucura dos mercados”, de reações “irracionais”, quase de fascinação pelo fim do mundo. Os terroristas compreenderam muito bem esse fenômeno e jogam com ele. 

Você crê como certo que o capitalismo se aproxima do seu fim?

Paul Virilio: Penso antes que é o fim que se aproxima do capitalismo. Eu sou urbanista. O crash mostra que a terra é pequena demais para o progresso, para a velocidade da História. Daí a repetição dos acidentes. Nós vivemos com a convicção de que temos um passado e um futuro. Ora, o passado não passa; ele se tornou monstruoso, ao ponto em que não o tomamos mais como referência. Quanto ao futuro, ele é limitado pela questão ecológica, o fim programado dos recursos naturais, com o petróleo. Resta, portanto, o presente a habitar. Mas o escritor Octavio Paz dizia: “O instante é inabitável, como o futuro”. Nós estamos vivendo isso, inclusive os banqueiros. 

É aqui e agora que isso está em jogo. Um novo aspecto se criou. Não é a finitude que é triste, é a realidade. É preciso aceitá-la. O crash nos ensina que é preciso vivê-lo na sua grandeza própria, num mundo acabado. Nós temos uma obrigação de inteligência de fazer isso. 

A finança não inventou um mundo virtual?

Paul Virilio: A velocidade fazia com que se ganhasse dinheiro, a finança quis impor o valor-tempo ao valor-espaço. Mas o virtual também faz parte da realidade. E além do mais, o soi-disant mundo virtual, no qual se pode englobar paraísos fiscais, é o do exotismo, que eu assimilo ao do colonialismo; é o mito de um outro planeta habitável. 

À diferença dos outros acidentes, o crash da bolsa permanece hermético à maioria do público. Isso é grave?

Paul Virilio: Não compreendemos, mas intuímos e isso é suficiente. É preciso intuir o que acontece. Evidentemente, a incompreensão reforça o medo. Mas, ao mesmo tempo, não temos mais tempo de ter medo. O mais inquietante é a aparição de uma dissuasão civil, individual, íntima, que ganha todos os domínios da vida. Somos dissuadidos de fazer tal ou tal coisa como indivíduos. Desde o 11 de Setembro fomos tomados por um medo civil, em função da industrialização do acidente. Para verificar a solidez dos automóveis, efetuamos os testes de colisão. O crash da bolsa é um teste de colisão de natureza grandiosa. Até o divórcio se industrializa. Poderia se introduzir uma cotação nos divórcios, como para medir se o casal e a família se tornaram ilusões. 

Pode-se falar de moral do crash, no sentido em que ele também pune aqueles que ganham fortunas?

Paul Virilio: Eu não sou um justiceiro. Compreendo os críticos que dizem que alguns obtiveram lucros indecentes. Eu não nego os estragos da acumulação de riquezas. Mas criticar essa aceleração dos lucros e da História, essa “avareza galopante”, como dizia Eugène Sue, permanecer no quadro materialista do lucro é uma análise redutora, insuficiente. 

O que está em jogo é mais sofisticado e grave. Nós passamos por algo de uma outra natureza. Essa economia da riqueza se tornou uma economia da velocidade. É de resto o problema da esquerda. Eles aplicam os velhos esquemas, proclamam a morte do capitalismo, esperando mais justiça social. Esse diagnóstico é um pouco apressado. Temos realmente um grande bebê no colo...Se o Estado não assume a medida desse futurismo do instante, poderíamos ao contrário ver chegar um capitalismo sem limites. 

Você disse que “A Airbus, ao inventar um avião de 800 lugares, criou 800 mortos potenciais”. Mas o crash das bolsas não causou mortes...

Paul Virilio: Não é a peste, não há milhões de vítimas, não é tampouco o 11 de Setembro. E não é a mortalidade que conta agora, afora alguns suicídios. As vítimas são outras. De onde parte a crise atual? Dos subprimes, das casas à venda a crédito em condições impossíveis. Do solo. As vítimas são algumas centenas de milhares de pessoas que perderam suas casas. A noção de sedentariedade já está posta em causa com os imigrantes, deportados, refugiados, o deslocamento das empresas, etc. O fenômeno vai se acentuar. Até 2040, um milhão de pessoas serão forçadas a se mudarem do lugar em que vivem. Eis aí as vítimas. Nós estamos na noção dostop/eject. Paramos e ejetamos. 

Você acredita no caos?

Paul Virilio: Depois do sistema financeiro haver se destabilizado, o crash ameaça desestabilizar o Estado, a última garantia de uma vida coletiva. Neste momento ele tenta tranquilizar. Mas se a Bolsa continua a cair, é o Estado que irá à falência, e porá as nações no caos. Não se trata de catastrofismo de minha parte. Eu não acredito no pior, não acredito no caos; é absurdo, é arrogância intelectual, mas não se deve se impedir de pensar. Diante do medo absoluto, eu oponho a esperança absoluta. Churchill dizia que o otimista é alguém que vê uma oportunidade em cada calamidade. 

* Paul Virilio é urbanista, filósofo, ensaísta, ex-diretor da Escola de Arquitetura de Paris, autor de A Arte do Motor, Velocidade e Política, A Bomba Informática e A Estratégia da Decepção.

Tradução: Katarina Peixoto

domingo, outubro 19, 2008

9a Bienal do Livro

9a Bienal do Livro

17 A 26 DE ABRIL 2009

CENTRO DE CONVENÇÕES DA BAHIA - BA


O Café Literário é a sala de visitas da Bienal do Livro da Bahia. Palco de bate-papos descontraídos entre autores, celebridades e o público sobre temas como humor, preferências culturais, hábitos de consumo...
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A Visitação Escolar é uma experiência bem-sucedida que proporciona a visita especial de alunos de escolas públicas e particulares à Bienal, aproximando-os do mundo dos livros e incentivando seu contato com diversos autores...
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Programação Cultural Jovem Um espaço bem-humorado e descontraído, voltado especialmente para adolescentes e jovens adultos. Escritores e personalidades de diferentes áreas - artistas, músicos e educadores - conversam sobre relacionamentos, conflito em família, vícios, futuro profissional, educação, meio ambiente, vida digital, etc.

quarta-feira, outubro 15, 2008

o pulo do gato morto

Bolsas: o gato morreu

Fernando Canzian*              -           15/10/2008

WASHINGTON - Há pouco mais de seis meses ainda pairavam algumas dúvidas sobre o destino das Bolsas de Valores mundiais e da economia real. A crise já estava quase fazendo aniversário, mas não havia ganho ainda as dimensões atuais.

Na época, um novo corte na taxa de juro do Fed (o banco central dos EUA) para 2,25% ao ano fez as Bolsas saltarem. O comportamento do mercado cheirava ao que os operadores norte-americanos chamam de "dead cat bounce", ou o pulo do gato morto.

A expressão ilustra o momento em que o mercado acionário consegue a sua última recuperação antes de sucumbir de vez. É como se alguém jogasse um gato já morto de cima de um prédio. Ao cair no chão, o bicho dá um último pulo e cai novamente, morto como jazia desde o início.

Ao que parece, depois de muitos estertores, desfribiladores e injeções de adrenalina na economia norte-americana e mundial, o gato finalmente sucumbiu. Até prova em contrário, está morto.

O juro básico americano está hoje em 1,5% ao ano e medidas trilionárias foram tomadas nos últimos dias para ressuscitar o sistema financeiro. Não adiantou. Bola cantada, a crise de crédito já avançou sobre a economia real. O que a Bolsa faz agora é apenas "precificar" a recessão.

O Departamento de Comércio norte-americano divulgou que asvendas nos EUA recuaram 1,2% em setembro, na comparação com o ano anterior. Foi o terceiro mês de queda consecutiva no indicador, que veio com uma baixa duas vezes maior do que o esperado. No Estado de Nova York, o principal termômetro de vendas atingiu seu menor nível desde 2001.

Os mercados já vinham sentido o cheiro cada vez mais forte da recessão que se aproxima. Agora, desabam de vez. A queda e a paralisação da Bolsa no Brasil refletiu com contundência uma expectativa cada vez mais pessimista nos EUA.

Redes de pizzarias e fabricantes de automóveis, supermercados e redes de móveis, todos começam a acumular por aqui cada vez mais resultados negativos.

O Tesouro e o Fed estão totalmente cientes da gravidade da situação. Tanto que detalhes do encontro com os banqueiros que terão participações de seus bancos compradas pelo governo revelam que eles não tiveram outra opção. Foi goela abaixo.

Mesmo entre os bancos que se posicionaram contra, o Tesouro os obrigou a estatizar parte significativa do negócio. A idéia é injetar não apenas dinheiro, mas confiança em uma economia que aponta cada vez mais para baixo.

Mais uma vez, o mantra dessa crise: ela é uma crise de crédito, de falta de crédito para bancos e consumidores que carregam endividamentos recordes. Uma crise de crédito cujo socorro aos endividados virá de mais endividamento, desta vez, do governo federal --fechando todo o ciclo de endividamento.

Vai levar um bom tempo para ouvirmos esse gato miar de novo.


*Fernando Canzian
, 42, é repórter especial da
 Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras. 

terça-feira, outubro 14, 2008

"Quizá..." do Nobel de Economia

"Por suerte para la economía mundial, lo que están haciendo Gordon Brown y sus ministros sí tiene sentido. Y quizá nos hayan mostrado el camino para superar esta crisis." Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, 2008.

domingo, outubro 12, 2008

Situação

"La crisis va a desenvolverse de tal modo que las primeras y realmente brutales manifestaciones de la crisis climática mundial que hemos visto van a combinarse con la crisis del capital en cuanto tal."  François Chesnais

Um novo tipo de crise

Na minha opinião, nesta nova etapa, a crise vai desenvolver-se de tal modo que as primeiras e realmente brutais manifestações da crise climática mundial vão combinar-se com a crise do capital enquanto tal. Entramos numa fase em que se coloca realmente uma crise da humanidade, dentro de complexas relações nas quais se incluem também os acontecimentos bélicos, mas o mais importante é que, mesmo excluindo a explosão de uma guerra de grande amplitude que, no presente momento, só podia ser uma guerra atômica, estamos confrontados com um novo tipo de crise, com uma combinação desta crise econômica, que começou, com uma situação na qual a natureza, tratada sem a menor contemplação e atacada pelo homem no marco do capitalismo, reage agora de forma brutal. Isto é uma coisa quase excluída das nossas discussões, mas que vai impor-se como um fato central.

Por exemplo, muito recentemente, lendo o trabalho de um sociólogo francês, fiquei a saber que os glaciares andinos dos quais flui a água com que se abastecem La Paz e El Alto estão esgotados em mais de 80%, e estima-se que dentro de 15 anos La Paz e El Alto não vão ter água... e, no entanto, isto é algo que nunca foi tratado, nunca se discutiu um fato de tamanha magnitude que pode fazer com que a luta de classes na Bolívia, tal como a conhecemos, mude substancialmente - por exemplo fazendo com que a tal controversa mudança da capital para Sucre se imponha como uma coisa "natural", porque acabou a água em La Paz.

Estamos entrando num período desse tipo e o problema é que quase não se fala disso, enquanto que nos ambientes revolucionários continuam a discutir-se coisas que neste momento são minúcias, questões completamente mesquinhas em comparação com os desafios que temos pela frente.

na tela ou dvd

  • 12 Horas até o Amanhecer
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  • A Invenção de Hugo Cabret
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